Cartas de um miliciano é um romance epistolar formado por um elevado número de cartas, agrupadas em volumes que abrangem, geralmente, um período de tempo correspondente a cerca de dois meses. É através da correspondência do narrador para os pais e os amigos que vamos tomando conhecimento das experiências e aventuras vividas quase no dia a dia. Iniciadas da maneira habitual de todas as cartas, em breve, por força das evocações, o narrador passa espontaneamente de um discurso de tipo epistolar para um registo próprio da narrativa, dando lugar às situações vividas e aos diálogos de todos os intervenientes na acção. Frequentemente, a partir das situações imprevistas, o narrador remete-nos para o seu mundo interior, dando-nos a conhecer as suas reflexões e os seus estados de alma, dando assim pleno cumprimento à promessa feita no dia da partida para Angola: «Uma coisa desde já prometo: ter-me-ão frequentemente junto de vós através das minhas palavras escritas. Prometo-vos que, a partir de agora e sempre que tiver momentos livres, vos darei conta de tudo quanto vir, pensar e sentir ao longo deste desterro forçado por terras de Angola.» Salvo raras excepções, cada carta constitui uma micro-unidade narrativa completa, o que permite ao leitor diversas formas de leitura: seguida, tal como se faz com qualquer romance; aleatória, lendo as cartas independentemente da sua cronologia.
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