Dezembro — A
ADERAV, ao ter conhecimento da cedência, por escritura pública,
de instalações para a Polícia Judiciária, no antigo Convento
de Santo António, deu conhecimento a toda a Imprensa da «sua
profunda mágoa pelo destino dado àquelas venerandas instalações,
certa de que, num país culturalmente evoluído, elas seriam, com
certeza, reservadas pelos seus responsáveis, para fins culturais».
— É lançado
um apelo a todos quantos têm «o dever de zelar pelos interesses
idas comunidades locais, para os atentados que se têm verificado
na Gafanha do Areão, Vagos, em destruição das Dunas daquela
região», de que podem resultar graves consequências futuras no
equilíbrio ecológico da Ria de Aveiro.
Janeiro — Em
6/1/1980, a Associação promove o seu primeiro «Itinerário
urbano», em que participaram cerca de três dezenas de
associados, orientado pelo distinto aveirense Sr. Eduardo
Cerqueira. A concentração deu-se no Largo de Camões (vulgo —
«Largo das 5 Bicas», outrora Largo do Espírito Santo), seguindo
pela Rua de Eça de Queirós e Combatentes da Grande Guerra,
(antiga Rua Direita), Praça de Marquês de Pombal (outrora «Terreiro»),
Rua de Coimbra (Costeira) e Ponte Praça. Pelo distinto Aveirense
e pelos participantes foram evocados alguns aspectos históricos
ida antiga «vila» muralhada e ida «cidade», bem como
apreciados «vestígios» mais relevantes do seu Património,
ainda hoje existentes.
— Do «Itinerário»
se tornou público o desapontamento de todos por não ser possível
visitar a Igreja das Carmelitas — classificada como «monumento
nacional» —, pois além de estar votada ao abandono e degradação,
continua fechada ao público, apesar de constar nos «roteiros turísticos»
da cidade. (Deste facto se fez eco também a TV do Porto, em «País,
País»). Ao mesmo tempo se chamava a atenção para obras de
conservação no fontanário das «Cinco Bicas», para um letreiro
luminoso cravado em prédio «Arte Nova» na Rua João Mendonça,
já classificado, e uma séria reflexão no Largo de Luís de Camões,
sobre a alteração do equilíbrio arquitectónico que se tem
vindo a acentuar, ameaçando a harmonia da praça para a qual foi
concebido o elegante fontanário, no último quartel de
oitocentos.
— É publicado
o «Boletim» n.º 1 de ADERAV, com o sumário
seguinte: Editorial, p/ Amaro Neves; Figuras da Região em Defesa
do Património — António Christo. p/ M.ª Fortes; Seminário de
Professores sobre Património Natural e Cultural, p/ Henrique J.
C. de Oliveira; Os primeiros actos da Câmara de Águeda, p/ A.
Barata Figueira; Casas Nobres de Aveiro, p/ Artur Jorge Almeida; O
Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, p/ Gabriela Gonçalves
e Amaro Neves; Noticiário - intervenção e índice de gravuras.
— A ADERAV
participa no Congresso Nacional de Associações de Defesa do
Património, durante três dias, juntamente com mais 52 associações,
cujos estatutos estão legalizados, e outras que, por não terem
ainda estatutos próprios, ali estiveram como «observadoras»,
resultando desse Congresso um conjunto de conclusões e recomendações
que será oportunamente divulgado entre nós, pela importância de
que se reveste.
Fevereiro — A
Direcção da Associação, entendendo interpretar o sentir de
todos os associados e Aveirenses em geral, insurge-se contra a
autorização, concedida pelo Secretário de Estado da Cultura, de
se proceder a demolição de prédios de acompanhamento, na Rua João
Mendonça — verdadeiro ex-libris da cidade — com ricos
exemplares de Arte Nova, para ampliação do Banco Nacional
Ultramarino, tanto mais que àquela entidade «deve competir a
defesa e não a destruição desse mesmo património». (Daqui
resultou valiosa colaboração da TV do Porto, a que não foi
alheia a sensibilidade do seu correspondente em Aveiro. A Imprensa
em geral acarinhou a posição da ADERAV e Rádio Renascença
dedicou ao assunto tratamento condigno).
— No dia 9, Hélder
Pacheco orientou uma sessão de trabalho especificamente sobre
Património Cultural Popular da Região de Aveiro», no anfiteatro
da Universidade, com sugestões e perspectivas de trabalho em
defesa e valorização de um património muitas vezes esquecido,
por vivermos entre as suas mais variadas manifestações, como
arquitectura (com relevo para a casa típica da Murtosa, o «palheiro»,
a casa rural nas suas curiosas interpretações...), artesanato
artístico, utilitário de bens de produção e de bens de
consumo, a acção transformadora do homem e do meio e as novas
componentes dum Património Cultural Popular. («País, País»,
da TV do Porto, pelo seu correspondente, deu significativo relevo
ao facto, salientando que um numeroso grupo de alunos da Escola
Preparatória de Esgueira fez distribuir aos presentes —
anfiteatro cheio — um trabalho por eles elaborado sabre «Arte
Nova» em Aveiro, pedindo que tudo fizessem para impedir que o «camartelo»
destruísse a harmonia de Rua João Mendonça.)
—
Intensificaram-se os contactos com Ovar, onde um grupo de «vareiros»,
consciente da necessidade de congregar esforços em defesa do «seu»
Património, solicitou, por várias vezes a presença da Direcção.
Daqui resultou um núcleo da ADERAV naquela vila, já com
objectivos determinados nesta primeira fase: inventariação de
azulejaria, recolha de elementos sobre a arte da xávega», estudo
do património construído, atenção à Ria, etc.
— A ADERAV
apela para que os responsáveis atendam ao clamor geral das populações
da Murtosa, Estarreja, Cacia... e Aveiro, «em face da grave poluição
que ameaça a qualidade de vida desta Região, pedindo uma
industrialização consciente e não poluente.
E, perante o
estado de abandono da Capela de S. Simão, no Bunheiro, confirmada
por deslocação da ADERAV, solicita à Câmara de Murtosa que
promova o restauro adequado, oferecendo esta Associação colaboração
técnica. («País, País», sempre atento, deu valiosa reportagem
sobre este assunto.) Ao mesmo tempo, congratulou-se com a posição
da Presidente da Câmara de Vagos, «no sentido de evitar a
destruição das características e escala urbana na «Praça da
República» e o interesse em proceder a obras de beneficiação
na Capela de S. Sebastião, de acordo com a traça original, bem
como com mais um alerta lançado, na Assembleia da República,
pelos deputados M.ª José Sampaio e Vital Moreira, do círculo de
Aveiro, em defesa do Património Natural e Cultural da nossa Região.
Março — Dia 1
— Assembleia geral para eleição dos novos corpos sociais. A
Direcção cessante tornou público que, finalmente, tinha sido
cedida uma sala, pelo Sr. Presidente da Câmara de Aveiro, para
sede da Associação, no edifício do Salão Cultural. Agradeceu
também à Imprensa toda a colaboração. Os novos corpos sociais
ficaram assim constituídos: Ass. Geral: Denis Ramos Padeiro, Rogério
Barroca, João Ribeiro; Cons. Fiscal: Renato Araújo, Paula
Cristina Correia, Henrique Oliveira; Direcção: Amaro Neves, João
Afonso Cristo, Élio Terrível, M.ª Ermelinda Campos, Artur Jorge
Almeida, José Areia e Rafael Neves da Silva.
— Dia 8 —
Tarde Cultural promovida pelo núcleo de Águeda, em que actuou a
«Orquestra Típica de Águeda», dirigida pelo maestro Américo
Fernandes e que foi, para quantos ali se deslocaram, «uma lição
extraordinária do esforço conjunto em defesa das formas mais
expressivas da linguagem musical popular — a que se seguiu vivo
diálogo entre executantes e ouvintes», estes maravilhados com a
riqueza do repertório e de execução que a Orquestra bem
demonstrou.
— A ADERAV foi
alertada pelo seu núcleo de Águeda e também por vários
elementos de Fermentelos, «para a gravidade da presente situação
na Pateira de Fermentelos, onde milhares e milhares de peixes
continuam a aparecer mortos». Em comunicado à Imprensa, a ADERAV
interroga-se sobre o futuro daquela região, depois de terem sido
feitos estudos rigorosos sobre ela pela Universidade de Aveiro.
Esta Associação «entende que é dever, por quem de direito, dar
imediata resposta para tão grave problema, para o que se propõe
elaborar», voluntariamente, segundo as especialidades dos seus
associados.
Como 1ª
proposta, sugere que na «Ribeira do Pano» se desenvolva «um
permanente trabalho de pesquisa, sensibilização das populações
e defesa do meio ambiente, por ser alfobre de variadas espécies
avícolas, especialmente aquáticas, que estão constantemente
ameaçadas e a que os técnicos da Universidade de Aveiro e todos
quantos o desejassem poderiam dar o seu esforço, desenvolvendo a
Cultura, o Turismo e a Região de Aveiro». (Rádio Renascença
deu grande relevo a esta posição da ADERAV, com comentários
muito oportunos).
— A Associação
congratulou-se com a deliberação da Câmara Municipal de Aveiro
e, depois, da Assembleia Municipal, tomada por unanimidade, de
manter inalterável o conjunto de fachadas da Rua João Mendonça,
em que se integram belos exemplares «Arte Nova». E chama a atenção
do valor que representa para a cidade todo o «conjunto
urbano-industrial commumente designado por Fábrica Jerónimo
Pereira Campos», com os respectivos escritórios — precioso
exemplar da tardia revolução industrial chegada até nós, que
bem pode e deve ser preservado para fins culturais e recreativos
da população Aveirense e dada a sua localização e excelentes
condições, parra mais sendo valioso testemunho duma das
actividades que mais engrandeceram Aveiro, ao longo dos séculos.
Neste mesmo
contexto, faz proposta de classificação do edifício situado na
Rua Capitão Pizarro, n.º 58, obra do célebre Arq.º
Korrodi — belo exemplo de Arquitectura Romântica de que
Aveiro pouco possuía de verdadeiramente significativo.
— A 22 a
ADERAV promove um colóquio sobre «S. Jacinto — Colónia de Garças
e Aves da Ria», no anfiteatro da Universidade, com filme e
slides, orientado pelo Eng.º Cunha Dias, que ao
assunto tem dedicado o melhor dos seus tempos livres. Seguiu-se
amplo diálogo em que se debateram as possíveis causas das alterações
verificadas na fauna avícola, especialmente no que respeita às
Garças, que, tendo nidificado em S. Jacinto às centenas — como
se comprova pela documentação ali exibida, desde 1976 que não
voltaram a nidificar naquela mata.
— Em
comunicado da Associação, com o título «A Ria de Aveiro cada
vez mais pobre», se apontam algumas das possíveis causas:
sondagens para a central termo-eléctrica que esteve prevista para
essa mesma região; movimento de aeronaves a baixa altitude; exercícios
militares realizados na mata; caçadores e malfeitores, curiosos e
campistas selvagens; deterioração das condições de vida na Ria
e suas consequentes alterações na fauna avícola, etc., apelando
aos responsáveis pela «Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto»,
Entidades Militares, Secretaria de Estado do Ambiente, Junta Autónoma
do Porto de Aveiro, e outras, para que sejam criadas condições
que permitam à Colónia de Garças voltar a instalar-se e a
nidificar naquela zona, voltando a restabelecer na Ria a «reconciliação
entre o Homem e a Natureza» (conforme acentuou o Eng.º Cunha
Dias) preocupação constante dos países culturalmente mais evoluídos,
já que tem vindo a crescer, nos últimos anos,
significativamente, nesta Região, o número de gaivotas, a
testemunhar a crescente degradação do meio ambiente.
— A ADERAV
congratulou-se com a espontânea tomada de posição das populações
da Murtosa, aquando da visita que ali fez D. Manuela
Eanes, dando-lhe conta da sua angústia relativamente ao futuro
daquela zona da Ria, cada vez mais ameaçada, bem como a questão
posta à Assembleia da República, pelo deputado Gomes Fernandes,
denunciando, também, a poluição do Baixo-Vouga;
Por outro lado,
esta Associação, pelo seu núcleo em Ovar, «interroga-se como
é possível permitir-se a construção de uma estrada na margem
Nascente da Ria» de que resultarão, com certeza, profundas
alterações no equilíbrio ecológico e Natural. Ovar, pelo seu núcleo
da ADERAV, apela a todas as entidades responsáveis para que
combatam energicamente a «proliferação de autocarros
abandonados na margem Poente, depois rapidamente transformados em
vivendas, com praias artificiais de areias privadas, atentando
contra tudo e contra todos.»
Este núcleo
convida todos os «vareiros» a uma reflexão sobre as profundas e
rápidas transformações arquitectónicas que se têm vindo a
verificar na Vila, como é exemplo o Largo dos Campos,
perguntando-se que futuro estará reservado para a pequena casa de
Júlio Dinis, profundamente ameaçada com construções que
alteram a harmonia e o equilíbrio daquela zona urbana.
Outros aspectos
relevantes do Património desta Região estão, desde há meses, a
ser defendidos e estudados, numa zona onde não há mãos a medir
para trabalhos com um núcleo de «vareiros» conscientes.
Abril — Dia 12
— Colóquio sobre «Problemas do Litoral Dunar», no anfiteatro
da Universidade, orientado pelo Dr. Armando Moura, investigador de
várias Universidades, e, actualmente, na direcção do «Centro
de Estudos do Ambiente», em Aveiro, que expôs aos presentes, a
nu, a realidade dum
litoral dunar em degradação, apontando como principais medidas a
tomar:
—
levantamento, estudo e recuperação do Litoral, de Espinho à
Serra da Boa Viagem, para resguardo da zona dunar do litoral da
Ria, em que a Reserva de S. Jacinto é apenas uma excepção e
ainda muito no plano teórico;
— educação
das escolas e população em geral para a salvaguarda do Património
Natural, de que estamos altamente dependentes;
—
estabelecimento de «parques» em determinadas zonas da Costa,
para se poder, depois, fazer a rotação com zonas deterioradas;
— redução de
áreas de recreio em zonas criteriosamente estabelecidas, dotadas,
então, de infra-estruturas apropriadas; respeito total entre a
propriedade pública e a particular, em zonas do Litoral Dunar;
etc.
Como casos
flagrantes das ameaças que pairam sobre nós, referiu, entre
outros, os acontecimentos de Inverno, em 1978 e 1979, pequenos
exemplos com um rosário de consequências a todos os níveis,
apontando como zonas mais degradadas o litoral da Barra, Costa
Nova, Vagueira... até Mira. (Deste mesmo problema, TV do Porto,
em «País, País», se fez mais uma vez eco, com reportagem da
Região degradada).
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