JORNAL
N.º 7

MARÇO
 1992  Ano IV


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

SUMÁRIO

 

Editorial
Montra

 

Divulgação

 

Mea Culpa

 

Crónica
Projectos

 

Notícias
Desporto

 

Orientação
Profissional

 

Passatempos
Humor

 

Fac-símile
da 1ª página

 
 

 












A DESACTIVAÇÃO DA ESCOLA

Mea Culpa

No meu último número saiu um erro grave de informação. Passou despercebido, senão à totalidade dos meus leitores, pelo menos à quase totalidade e, inclusive, a quem me redigiu e o colocou na minha primeira página. Felizmente que, mais tarde, o seu redactor releu cuidadosa e reflectidamente as minhas páginas, tendo-se dado conta do erro cometido.

Falsidade e erro são muito afastados da minha vontade. E se, por ventura, alguma coisa sair menos fora da verdade, saibam os meus leitores que isso ocorrerá muito contra os meus desejos. Quero nas minhas folhas apenas a verdade, a informação útil, um pouco de cultura, a produção escrita daqueles que vivem e se formam dentro das mesmas paredes em que nasci, e momentos de agradável leitura na companhia de todos vós.

Mas... estou-me desviando dos objectivos iniciais que me levaram a apresentar-vos estas linhas. E tu, querido leitor, começas já a impacientar-te e a perguntar-te o que te quererá este jornal, tanto mais que a tua curiosidade vai aumentando e a tua paciência diminuindo, pois nunca mais vês o erro corrigido. É que... custa um pouco aceitar a realidade de que somos falíveis e que podemos cometer erros! É por isso que te estou a demorar um pouco.

Mas a verdade, ainda que por vezes nos custe a aceitar, tal como o azeite, deve vir sempre ao de cima. A verdade e a honestidade! Dois valores importantíssimos e por vezes tão esquecidos! Vamos lá esclarecer a verdade.

Pois é, na primeira página do meu número anterior saiu involuntariamente um erro de informação. Como título, em letras bem gordas, um dos meus redactores escreveu «Querem fazer à nossa Escola o que em tempos quiseram fazer à estátua de José Estêvão.»

Caro leitor, se leste com atenção o artigo «Breve notícia histórica do Liceu», pudeste verificar que a frase anterior não corresponde ao conteúdo da notícia histórica. A propósito, leste mesmo com atenção esse artigo? Se não leste, terei agora o cuidado de to fazer ler ou, pelo menos, de te fazer recordar parte desse artigo. Se tens o número anterior à mão, relê atentamente a segunda coluna da página dois. Diz-se aí que «entretanto, quando se ultimavam os trabalhos da estátua, uma polémica surge por tentativa de nova mudança das instalações do Liceu...» Da leitura deste parágrafo, que aqui não vale a pena transcrever na íntegra, que podes concluir? Certamente que estarás já a ver o erro cometido. A frase da primeira página deveria ter sido, para estar conforme à verdade: «Querem uma vez mais fazer à nossa escola o que já em tempos lhe quiseram fazer». Significa isto, portanto, que, em finais do século XIX, quiseram desviar o edifício do Liceu para funções diferentes daquelas para que foi efectivamente edificado. Significa isto, pois, que a tentativa de desactivação da nossa Escola já não é novidade. Somente, naquela época, os brios do povo aveirense não permitiram que se fizesse um atentado ao património cultural da nossa cidade. Souberam respeitar a memória do ilustre criador da nossa Escola: José Estêvão.

Já agora, que voltámos uma vez mais a falar do problema vivido pela nossa escola, vou tomar a liberdade de abusar talvez um pouco da tua paciência. Vou-te mostrar, caro leitor, e espero que me perdoes se te tomo um pouco mais do teu precioso tempo, até que ponto os aveirenses reagiram à ideia da mudança do liceu do local onde agora se encontra e onde, a nosso ver, deverá continuar a honrar o fim para que foi construído.

Se alguma vez tiveres a oportunidade de consultar o Livro Comemorativo do 1º Centenário, organizado em 1951 por José Pereira Tavares, além de muitas informações históricas, verás como o nosso actual patrono, Homem Cristo, no jornal Povo de Aveiro, reagiu à ideia de mudança. Em 27 de Novembro de 1887, no número 312, 1ª série, escrevia ele (e passo a citar os excertos, retirados da página 23 do livro atrás citado): «— O Liceu está perfeitamente no sítio em que se encontra. Representa um melhoramento de primeira ordem. É um documento vivo e permanente do maior patriota que tivemos. É uma tradição gloriosa que será mais do que um erro, porque será um crime, não acatarmos e pouparmos. Motivos de sobra para que aquele edifício fique para o fim, grandioso e belo, a que os seus fundadores o destinaram.»

E, durante três meses, o nosso patrono, Homem Cristo, em cada número do jornal, publicou um artigo sobre o assunto.

Também a Comissão da Estátua de José Estêvão, que hoje todos nós podemos admirar ao lado da nossa escola e de braço bem erguido para a Senhora Câmara, quem sabe se não a admoestar aqueles que lá vão ditando os destinos da nossa cidade para que não sejam injustos e respeitem a sua memória, também essa Comissão, dizíamos, tomou posição face ao problema do Liceu. E, em 18 de Dezembro de 1887, clamava energicamente, fazendo ouvir o seu protesto. Seria interessante também aqui transcrever esse protesto, protesto bem longo e carregado de razão. Talvez que as suas palavras chegassem aos que agora governam os nossos destinos e se fizessem ouvir melhor que estas que agora te estou a fazer ler. Mas a sua extensão tornaria o meu MEA CULPA demasiado pesado. Por isso, caro leitor, terás de te contentar, aliás, teremos todos nós de nos contentarmos apenas com um pequeníssimo excerto dessas vigorosas palavras. Por ele poderás já fazer uma pequena ideia do quão grande será a ofensa que hoje querem retomar. Vamos então ao pequeno excerto. Por ele poderás ficar com uma ideia de todo o conteúdo: «...os abaixo assinados [o português vai actualizado, tal como já fizemos para a transcrição anterior], membros da Comissão que promove os meios de elevar nesta cidade uma estátua em mármore do grande orador português José Estêvão de Magalhães, vem perante V. Exª representar contra a resolução de se tirar o liceu do majestoso edifício em que está funcionando. Como V. Exª sabe tão bem como nós, o liceu actual é um título de gratidão que possui a cidade de Aveiro para com o seu filho dilecto e querido. Ninguém ignora a dedicação que teve José Estêvão por aquele edifício e por aquela instituição e o amor que toda a vida lhe votou. Ir-se desviar hoje do seu primitivo destino, é matar as tradições gloriosas que lhe andam ligadas, é renegar o legado do mais puro e abençoado espírito que surgiu nesta terra, é desrespeitar uma casa, que já é um monumento, e praticar por consequência um vandalismo e uma profanação, que ao espírito ilustrado e patriótico de V. Exª há-de repugnar primeiro do que nenhum outro. »

O V. Exª da transcrição dizia respeito ao Presidente da Comissão Executiva da Junta Geral do Distrito daquela época. Mas, saltando do passado pare os nossos dias, poderá bem dirigir-se a todas as Excelências que hoje têm a maior responsabilidade nos destinos da nossa terra e do nosso País.

Esperemos que os descendentes dessa geração, ou seja, todos nós que agora aqui nos encontramos, saibamos uma vez mais fazer jus ao patriotismo de um homem e ao patriotismo dos vivos, não permitindo que o edifício da nossa Escola seja desvirtuado nas suas funções. E tão pouco que o Ministério se lembre de lhe dar outra função, que não seja a de continuar a ser o local para formação dos nossos filhos.

E aqui fica a correcção do erro cometido, esperando que a boa compreensão de todos vós me saiba desculpar. Já agora, saibam que quem me redigiu foi o mesmo que cometeu o erro. Espero, pois, que também o saibam desculpar. 
     
(Pelo jornal A FOLHA, Henrique J. C. de Oliveira)


O JORNAL “MOLICEIRO”E
A SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO

No número 38 do jornal da Escola Preparatória João Afonso de Aveiro, O MOLICEIRO de Janeiro de 1992 dedicou o seu editorial à desactivação da Secundária Homem Cristo, formulando um conjunto de questões e terminando com um apelo, que transcrevemos: «Escolas (Órgãos de Gestão, Professores, Funcionários, Alunos) e Associação de Pais, dêem as mãos. Todos juntos deveremos exigir ser ouvidos e participar na definição do futuro da rede escolar do nosso concelho».

POSIÇÃO DA SECª DE ESGUEIRA

A Escola Secundária de Esgueira, em reunião do Conselho Pedagógico de 22 de Janeiro de 1992, tomou posição relativamente à desactivação da Secundária Homem Cristo, tendo-nos feito chegar o ofício que passamos a transcrever:

«O Conselho Pedagógico, reunido em 22 de Janeiro de 1992, decidiu por unanimidade enviar à Escola Secundária Homem Cristo o seguinte documento:

Considerando que não precedeu à assinatura do referido acordo um diálogo esclarecedor, dando voz àqueles que, durante muitos anos, têm desempenhado papel técnico-pedagógico de relevo:

O Conselho Pedagógico desta Escola, reunido a 22 de Janeiro de 1992, exprime a sua solidariedade para com toda a Escola Secundária Homem Cristo e a sua indignação para com os órgãos que ratificaram o acordo, pela atitude de prepotência que o mesmo envolveu.»

O ofício termina com os cumprimentos e a assinatura da Presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária de Esgueira.

Página anterior    Primeira página     Página seguinte