Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, SDB, Díli, a cidade que não era, 1ª ed., Porto, Porto Editora, 2014, 144 pp.

 

Introdução

Era uma vez uma pequena povoação de pescadores, situada a leste do knua do reino de Mota-Ain. Banhada, a norte, pelo Taci-Feto, o "marmulher", a sul, por uma imensa planície, onde abundavam coíIões, pântanos e charcos, cujas águas não vazavam para o mar. Na parte leste, cercada por altas montanhas de Fatu-Cama, Fatu-Ahi e a oeste pelas aldeias de agricultores de campos de arroz. Desde a primitiva aldeia piscatória, tornou-se Feitoria, Prezidio, Praça, Vila e, finalmente, Cidade.

Foi no mês de setembro do ano do Senhor, 1863. Dilly, a "Barasa" dos "Firaku" e a "Farasa" dos "Kaladi." A pequena povoação possuía um dos melhores portos da ilha, o qual estava situado numa lindíssima baía, defendido por restinga de coral. No porto de Díli invernavam beiros, barcaças dos ataúros, da gente de "Licusaen", dos Galolen de Manatuto, coroe oras de Alor, Kissar, Wetar, navios de outros países dos confins do mundo!

A essa primitiva povoação aportaram, em tempos imemoriais, embarcações chinesas, árabes, javanesas e outras que vinham do reino de Ternate e Tidor em demanda do "lenho cheiroso", a madeira de sândalo branco.

Séculos mais tarde, não sabemos exatamente quando, chegara uma embarcação de portugueses, proveniente de Solor, que fundeou na baía. Esses estrangeiros, que os nativos chamavam "malae", entraram em contacto com o rey de Motael que concedeu aos comerciantes de sândalo a autorização para se estabelecerem nas praias de Mota-Aín, erigindo uma feitoria, que depois se transformaria num preztdío, Com o decorrer dos anos, esse presídio tomar-se-ia uma cidadela, que, a partir de 1769, ficaria a ser conhecida pelo histórico nome de Praça de Dilly.
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Foi lá que se estabeleceu o governador José António de Meneses depois de ter deixado a Praça de Lífau, a 11 de agosto do ano de 1769, e depois de ter aportado no porto de Dilly no dia 10 de outubro do mesmo ano. Para a Praça de Díli mudar-se-ia o superior das Missões das ilhas de Solor e Timor.

A pequena "cidadela" cresceu em área para o oriente, com o bairro de Bidau, e para ocidente, com o bairro de Colmera. Com o decorrer dos anos, a sede do reino de Mota-Ain foi sendo integrada na Praça. Secaram-se os pântanos e abriram-se os caminhos até às colinas de Lahane e de Taibessi. Surgiu assim a aldeia de Dilly que, depois de obras de saneamento efetuadas pelo Governador José Maria Marques, foi elevada à categoria de Vila em 1858.

Quinze anos decorridos, o governo de Lisboa decide elevar a antiga Praça de Díli à categoria de Cidade em 17 de setembro de 1863. Ostentando o pomposo nome de cidade, Díli tornou-se realmente cidade na década de cinquenta do século XX pelo desenvolvimento que então sofrera.

A este propósito, é nossa intenção deixar aos leitores três impressões de pessoas que chegavam a Díli.

No dia 22 de setembro de 1946, chegaram, pela primeira vez a Díli, cinco missionários salesianos. Depois do desembarque, foram de carro até à residência do Bispo, no alto de Lahane. Um dos recém-chegados, intrigado, perguntou a Dom Jaime: "Onde está a cidade de Díli? É que nos disseram que estávamos na cidade de Díli, mas viajando do porto até aqui, não vimos nenhuma cidade! É só uma planície coberta de capim e com muitas árvores ..." O Bispo, de imediato, retorquiu: "Cidade? Acabais mesmo de a atravessar ... "
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Treze anos depois, chegavam de avião, ao campo de aviação de Díli, o governador Themudo Barata, esposa e filhos. Já no Palácio de Lahane, um dos filhos pergunta ao pai: "Onde está a cidade de Díli?"

Nos primórdios da nova era, a da independência, o Padre Vítor Melícias, OFM, Comissário nomeado pelo Governo de António Guterres para Timor-Leste, sobrevoando Díli destruída, exclama: "Cidade? Não tem ar de uma cidade. Parece mais uma vila das nossas terras." (isto aconteceu a 6 de outubro de 1999, quando regressei a Díli, viajando no mesmo avião de Darwin até Comoro).

Hoje, em 2013, aquela antiga povoação costeira do reino de Mota-Ain, frequentada por pescadores das mais diversas nações e povos, pode ufanar-se de ter um título: a primeira e a única Cidade de Timor-Leste!

No dia 17 de setembro de 2013, a Cidade de Díli completou 150 anos desde o ano da sua elevação à categoria de cidade. De facto, com o Decreto de 17 de setembro de 1863, o governo de Lisboa desintegra do governo do estado da Índia o território de Timor, que passa a formar uma provincia ultramarina, e eleva a vila de Díli à categoria de cidade, capital da Província e sede do Governo.(1) Em 10 de janeiro de 1864, entra em vigor o decreto de 17 de setembro com a assinatura do documento que cria a Câmara Municipal.

Díli é a capital da República Democrática de Timor-Leste e é tam-bém a capital do distrito com o mesmo nome. Ali estão sediadas importantes instituições da Nação timorense: a Presidência da República, a / 14 / sede do Governo, o Parlamento Nacional, os Tribunais, Bancos, Uni-versidades, Embaixadas das nações amigas, etc. Em Díli, estão, igualmente, sediadas a sede da Diocese e outras instituições religiosas, como o Seminário maior, o Seminário menor e o Instituto das Ciências Religiosas. Na cidade encontramos, ainda, casas comerciais, a sede da Federação de Futebol, um aeroporto internacional, na zona de Comoro, e um porto marítimo.

Díli é, de facto, uma cidade cosmopolita, cheia de vida e de esperança!

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(1) - Cf. VAZ, Joaquim Ferraro - Moeda de Timor, p. 47.

 

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27-.09-2014