Introdução
Era uma vez uma pequena povoação de
pescadores, situada a leste do knua do reino de Mota-Ain. Banhada, a
norte, pelo Taci-Feto, o "marmulher", a sul, por uma imensa planície,
onde abundavam coíIões, pântanos e charcos, cujas águas não vazavam para
o mar. Na parte leste, cercada por altas montanhas de Fatu-Cama,
Fatu-Ahi e a oeste pelas aldeias de agricultores de campos de arroz.
Desde a primitiva aldeia piscatória, tornou-se Feitoria, Prezidio,
Praça, Vila e, finalmente, Cidade.
Foi no mês de setembro do ano do
Senhor, 1863. Dilly, a "Barasa" dos "Firaku" e a "Farasa" dos "Kaladi."
A pequena povoação possuía um dos melhores portos da ilha, o qual estava
situado numa lindíssima baía, defendido por restinga de coral. No porto
de Díli invernavam beiros, barcaças dos ataúros, da gente de "Licusaen",
dos Galolen de Manatuto, coroe oras de Alor, Kissar, Wetar, navios de
outros países dos confins do mundo!
A essa primitiva povoação aportaram,
em tempos imemoriais, embarcações chinesas, árabes, javanesas e outras
que vinham do reino de Ternate e Tidor em demanda do "lenho cheiroso", a
madeira de sândalo branco.
Séculos mais tarde, não sabemos
exatamente quando, chegara uma embarcação de portugueses, proveniente de
Solor, que fundeou na baía. Esses estrangeiros, que os nativos chamavam
"malae", entraram em contacto com o rey de Motael que concedeu aos
comerciantes de sândalo a autorização para se estabelecerem nas praias
de Mota-Aín, erigindo uma feitoria, que depois se transformaria num
preztdío, Com o decorrer dos anos, esse presídio tomar-se-ia uma
cidadela, que, a partir de 1769, ficaria a ser conhecida pelo histórico
nome de Praça de Dilly.
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Foi lá que se estabeleceu o governador José António de Meneses depois de
ter deixado a Praça de Lífau, a 11 de agosto do ano de 1769, e depois de
ter aportado no porto de Dilly no dia 10 de outubro do mesmo ano. Para a
Praça de Díli mudar-se-ia o superior das Missões das ilhas de Solor e
Timor.
A pequena "cidadela" cresceu em área
para o oriente, com o bairro de Bidau, e para ocidente, com o bairro de
Colmera. Com o decorrer dos anos, a sede do reino de Mota-Ain foi sendo
integrada na Praça. Secaram-se os pântanos e abriram-se os caminhos até
às colinas de Lahane e de Taibessi. Surgiu assim a aldeia de Dilly que,
depois de obras de saneamento efetuadas pelo Governador José Maria
Marques, foi elevada à categoria de Vila em 1858.
Quinze anos decorridos, o governo de
Lisboa decide elevar a antiga Praça de Díli à categoria de Cidade em 17
de setembro de 1863. Ostentando o pomposo nome de cidade, Díli tornou-se
realmente cidade na década de cinquenta do século XX pelo
desenvolvimento que então sofrera.
A este propósito, é nossa intenção
deixar aos leitores três impressões de pessoas que chegavam a Díli.
No dia 22 de setembro de 1946,
chegaram, pela primeira vez a Díli, cinco missionários salesianos.
Depois do desembarque, foram de carro até à residência do Bispo, no alto
de Lahane. Um dos recém-chegados, intrigado, perguntou a Dom Jaime:
"Onde está a cidade de Díli? É que nos disseram que estávamos na cidade
de Díli, mas viajando do porto até aqui, não vimos nenhuma cidade! É só
uma planície coberta de capim e com muitas árvores ..." O Bispo, de
imediato, retorquiu: "Cidade? Acabais mesmo de a atravessar ... "
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Treze anos depois, chegavam de avião, ao campo de aviação de Díli, o
governador Themudo Barata, esposa e filhos. Já no Palácio de Lahane, um
dos filhos pergunta ao pai: "Onde está a cidade de Díli?"
Nos primórdios da nova era, a da
independência, o Padre Vítor Melícias, OFM, Comissário nomeado pelo
Governo de António Guterres para Timor-Leste, sobrevoando Díli
destruída, exclama: "Cidade? Não tem ar de uma cidade. Parece mais uma
vila das nossas terras." (isto aconteceu a 6 de outubro de 1999, quando
regressei a Díli, viajando no mesmo avião de Darwin até Comoro).
Hoje, em 2013, aquela antiga povoação
costeira do reino de Mota-Ain, frequentada por pescadores das mais
diversas nações e povos, pode ufanar-se de ter um título: a primeira e a
única Cidade de Timor-Leste!
No dia 17 de setembro de 2013, a
Cidade de Díli completou 150 anos desde o ano da sua elevação à
categoria de cidade. De facto, com o Decreto de 17 de setembro de 1863,
o governo de Lisboa desintegra do governo do estado da Índia o
território de Timor, que passa a formar uma provincia ultramarina, e
eleva a vila de Díli à categoria de cidade, capital da Província e sede
do Governo.(1) Em 10 de janeiro de 1864, entra em vigor o decreto de 17
de setembro com a assinatura do documento que cria a Câmara Municipal.
Díli é a capital da República
Democrática de Timor-Leste e é tam-bém a capital do distrito com o mesmo
nome. Ali estão sediadas importantes instituições da Nação timorense: a
Presidência da República, a / 14 / sede do
Governo, o Parlamento Nacional, os Tribunais, Bancos, Uni-versidades,
Embaixadas das nações amigas, etc. Em Díli, estão, igualmente, sediadas
a sede da Diocese e outras instituições religiosas, como o Seminário
maior, o Seminário menor e o Instituto das Ciências Religiosas. Na
cidade encontramos, ainda, casas comerciais, a sede da Federação de
Futebol, um aeroporto internacional, na zona de Comoro, e um porto
marítimo.
Díli é, de facto, uma cidade
cosmopolita, cheia de vida e de esperança!
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(1) - Cf. VAZ, Joaquim Ferraro - Moeda de Timor, p. 47. |