Henrique J. C. de Oliveira, Relatório do Inquérito Linguístico realizado na Gafanha do Carmo, Aveiro, 1967.

A POVOAÇÃO

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Fig. 1 Igreja da Gafanha do Carmo em 1967.

Freguesia do concelho de Ílhavo, a Gafanha do Carmo, também conhecida por Gafanha dos Caseiros, encontra-se a treze quilómetros de Aveiro, situada junto ao canal de Mira e tendo a nascente as dunas da Gafanha.

Povoação relativamente pequena, com cerca de 350 fogos (no recenseamento de 1960 encontram-se registados 330) e 1326 habitantes, o seu casario estende-se ao longo da estrada, principal via de acesso. É servida por carreiras diárias de camionetas.

Possui igreja própria, que pensam demolir para dar lugar a uma nova e mais ampla, casa paroquial, e duas escolas, uma com dois pisos, do plano dos centenários, e outra, mais antiga, com uma só sala.

Não tendo designação própria, os seus habitantes são conhecidos por Gafanhões, nome bastante amplo e que se aplica aos naturais de toda a região.

Os habitantes da Gafanha do Carmo, como aliás os das povoações circunvizinhas, dedicam-se essencialmente à vida agrícola, sobretudo a geração mais velha, uma vez que os mais novos se entregam também à vida piscatória. Podemos talvez dizer, para nos tornarmos mais precisos, que o povo desta região tem uma vida mista, dedicando-se quer à pesca, quer à agricultura.

Também não é difícil encontrar-se um habitante da região que, dedicando-se à agricultura, não tenha o seu barco moliceiro, com o qual apanha o tão necessário moliço que irá fertilizar as áridas terras da Gafanha, e que lhe permite ainda deslocar-se de um para outro lado. Um exemplo do que acabo de afirmar temo-lo precisamente no meu informador, o Ti Melro, outrora possuidor do seu barquito, do qual se podem ainda ver os últimos vestígios na fotografia que tirei quando o casal andava entregue aos cuidados da terra. Não restando mais do que a proa, aquele moliceiro, que outrora percorria airoso e veloz as águas da ria, serve, nos últimos dias da sua vida, de cerca para os porcos.

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Fig. 2 Traseiras da casa do Ti Manuel Melro. Na metade direita, a proa de um barco moliceiro, agora convertido na cerca para os porcos. Reparar no material de construção do edifício.

 

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