No S. P. M. |
A manhã do dia 9 de Novembro foi toda ocupada a andar de jeepão por Luanda, de um lado para o outro, a tratar de problemas relacionados com a Companhia. Entretanto, aproveitei as deslocações para ir ao edifício do SPM abastecer-me de aerogramas, a fim de poder manter a corres-pondência convosco.
O S.P.M. (Serviço Postal Militar) está instalado num edifício de vários andares, numa zona moderna da cidade. Tem na proximidade alguns quartéis e edifícios públicos, entre os quais o da emissora oficial de Angola.
Identifiquei-me e pedi um maço de quinhentos aerogramas, perante a surpresa do cabo que me atendeu:
— Quinhentos aerogramas? São para si ou para levar para a Companhia?
— Necessito também de maços de aerogramas para levar para a Companhia. Mas quinhentos, pelo menos, são para mim, e não é muito.
— Essa quantidade vai ser para a comissão inteira...
— Se chegar para metade, será uma grande sorte.
— Mas como? Só se o meu alferes passar a vida a escrever!
— Não vai dar para muito. De cada vez que escrevo para casa, envio um maço volumoso de aerogramas. Tenho o hábito de ocupar os tempos livres a escrever e efectuo o relato de quase tudo quanto observo... Evidentemente, quando me dão tempo para isso. De mais a mais, tenho quase a certeza que muitos dos meus aerogramas vão ser também utilizados pelos meus colegas. Por isso, gosto de ter comigo uma grande quantidade, para poder distribuí-los quando mos pedem.
— Assim já dá para perceber. Mesmo a escrever muito, não conseguirá gastá-los todos...
— Não creio que me durem dois meses. Com aquilo que escrevo e com os pedidos frequentes do pessoal, não os devo ter por muito tempo.
Após uma breve conversa, recolhi na viatura a quantidade que pedi mais os maços de aerogramas para distribuir pelo pessoal e prossegui as actividades que me tinham sido atribuídas. Não deu para poder regressar ao Grafanil a tempo de almoçar na messe. Acabei por aproveitar um restaurante num posto da Shell, que o condutor me aconselhou. Convidei-o para almoçar na minha companhia. Aceitou com todo o prazer. Não trazia dinheiro... e sabe sempre bem almoçar fora do quartel, especialmente quando é um superior a pagar.
Não vale a pena registar os serviços que tive de efectuar durante o dia. Para que conste, terminado o serviço e regressado à vida civil, aproveitei o final da tarde para me ir encontrar com o Comandante da Polícia de Viação de Luanda, amigo íntimo de um familiar nosso da metrópole. Soube da minha passagem por Luanda. Contactou-me e convidou-me para jantar com ele.
À hora marcada, cerca das dezanove horas, estava em Luanda. Pouco depois, era recebido em casa pelo Capitão S. C. e pela esposa. Jantámos no restaurante Versalhes e passámos um serão de agradável conversa. De tudo se falou um pouco: da metrópole, que eu acabara de deixar e de que me pediram novidades; da viagem; da cidade e das impressões recebidas; das expectativas futuras.
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