1 - O VOUGA E OS TERRENOS ONDE CORRE
Parte das terrenos da bacia hidrográfica do rio Vouga são
formados pela Meseta Ibérica e neles predominam os
terrenos Graníticos, Arcaico e Pré-Câmbrico e por
terrenos de depósitos marinhos e fluviais de diversas
espécies distribuídas por manchas do Mesozóico, Cenozóico
e, mais recentemente, no litoral, do Quaternário.
Na Serra da Lapa, perto do marco geodésico denominado «Facho
da Lapa», a cerca de 950 metros de altitude, nasce o
rio Vouga, quase no limite ocidental da Meseta Ibérica.
A sua nascente dista pouco mais de 900 metros da estrada
Aguiar da Beira -
Moimenta da Beira, no ponto em que esta corta a povoação
da Lapa.
Caminhando em direcção da ria de Aveiro banha várias
terras conhecidas ou passa perto de outras de igual
importância.
S. Pedro do Sul situa-se na sua margem direita, na foz do rio
Sul, um dos seus afluentes mais importantes.
Mais para jusante, a escassos quilómetros, encontram-se as
Termas de S. Pedro do Sul, famosas pelas suas águas
sulfurosas, procuradas pelo nosso primeiro rei e
utilizadas já pelos Romanos.
Aqui já o Vouga desceu para a cota 140, ou seja, em cerca de
54 kms, o seu leito baixou 810 metros. Oliveira de
Frades, Pinheiro de Lafões, Ribeiradio são povoações
conhecidas situadas na estrada de Aveiro - Viseu, na
margem esquerda.
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Perto de Ribeiradio, cerca da cota 50, projecta-se a
construção de uma grande barragem que irá
servir de albufeira regularizadora dos caudais do
rio Vouga permitindo encaixar grandes caudais de
cheia, retê-los no Inverno, e largá-los para
jusante em época do ano que não perturbe as
sementeiros dos férteis campos do Baixo Vouga e
da zona lagunar.
A partir da ponte de Paradela, entre a cota 30 e 40, começam
a surgir, até à ponte de Sernada, pequenas veigas
marginais que os povos ribeirinhos protegeram com
arvoredo da acção erosiva das águas e cultivaram ou
arborizaram.
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Da ponte de Sernada, onde o rio corre abaixo da cota 10, começa
para jusante o Baixo Vouga com os férteis campos
marginais alargando-se cada vez mais atingindo o seu máximo
em frente da povoação da Taboeira com cerca de 3000
metros de largura.
Para jusante da ponte do caminho de ferro Lisboa-Porto
espraiam-se os campos do Vouga lagunar, que se estendem
de Sarrazola, na margem esquerda, até Ovar, já fora da
bacia hidrográfica do Vouga.
Da análise do perfil longitudinal do Vouga podemos, pois,
dividi-lo numa zona encaixada em montanhas entre a sua
nascente e Paradela, uma zona intermédia entre a ponte
de Paradela e a ponte de Sernada, e a zona do Baixo
Vouga entre esta ponte e a ria de Aveiro.
Nesta zona podemos distinguir uma mais seca, de Sernada a
Cacia, e uma mais húmida que engloba todos os terrenos
que bordejam a ria de Aveiro para nascente.
II - OS AFLUENTES DO VOUGA
Tratando-se de uma corrente de pequena bacia hidrográfica
dos afluentes do Vouga têm necessariamente de ser
pequenas linhas de
água.
De montante para jusante temos, na sua margem direita,
mencionando só os principais, o rio Mel, o rio Sul, que
desagua perto de S. Pedro do Sul, o rio Varoso, o rio
Teixeira, o rio Arões, onde os Serviços Hidráulicos
empreenderam várias pequenas obras de retenção de águas
para rega, o rio Mau e o rio Caima.
Na sua margem esquerda o rio Troço, o de Ribamá, o MarneI,
o rio Águeda com o seu grande afluente, o Alfusqueiro,
designação imprópria, pois o Alfusqueiro é mais
importante que o rio Águeda, e deveria chamar-se ou
rio Águeda, por banhar esta vila, ou Alfusqueiro até
à sua foz e o rio Águeda, que nasce na serra do
Caramulo, e que se junta ao Alfusqueiro na ponte de
Bolfiar, deveria possuir outra designação. Como grande
afluente do Águeda deverá mencionar-se também o rio Cértima
que, espraiando-se na Pateira de Fermentelos vem
desaguar no Águeda na ponte de Requeixo.
Oficialmente, por razões de ordem administrativa e por se
inserirem num todo que tem como centro a ria de Aveiro,
incluem-se no organismo oficial que fiscaliza as
correntes da bacia hidrográfica do rio Vouga aquelas
que vão desaguar à ria de Aveiro, com excepção da vala
da Fervença, na zona de Mira, que vai desaguar ao
extremo sul da ria de Aveiro. Assim estão sob a jurisdição
da Secção Hidráulica de Aveiro os rios Caster, Gonde,
Fontela, Antuã e seus afluentes UI e Ínsua, e Jardim
para só mencionar os mais importantes, todos a norte de
Aveiro e o rio Boco a sul da capital do distrito.
Também se incluem na sua jurisdição as correntes a sul da
barrinha de Esmoriz.
Pelo seu caudal, pela sua extensão e pelas potencialidades
energéticas que encerram, os mais importantes são o
rio Sul, o Caima, o Alfusqueiro, o Águeda, o Antuã e o
MarneI.
No estudo do «Aproveitamento Hidráulico da Bacia do Rio
Vouga», que a Direcção Geral dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos
encomendou à COBA (Consultores para Obras, Barragens
e Planeamento, S A. R. L.) esta organização prevê o
aproveitamento do rio Vouga e seus afluentes, bem como
do rio Antuã para fins hidroeléctricos, de regularização
de caudais, abastecimento de água às populações, à
indústria e irrigação dos campos do Baixo Vouga e
Águeda.
Embora a bacia hidrográfica do Vouga possua miradouros
donde se abarcam paisagens que dificilmente se esquecem,
quero aqui chamar a atenção para um acidente geológico
do qual resulta uma das belezas mais impressionantes do
distrito e quiçá do País. Está relacionada com um
dos rios mencionados. Trata-se da queda da Mizarela, na
Serra da Freita, entre os concelhos de Arouca e Vale
de Cambra.
O rio Caima nasce nesta Serra, na zona de Albergaria das
Cabras, e a poucos quilómetros da sua nascente, junto
do povoação de Mizarela, existe um afundamento no
terreno, que passa bruscamente da cota 900, para cota
muito inferior. Serpenteando numa zona planáltica chega
a um ponto em que lhe falta o pé e então precipita-se
bruscamente no espaço, enovelado num cordão
algodoado, esparrinhando aqui e ali a rocha nua e
saltando na base rija a caminho do mar.
Atendendo a que se trata de uma corrente relativamente
pequena, a que a cachoeira fica a escassos quilómetros
da nascente, convém que o local seja visitado em
Inverno chuvoso ou em Verão em que o rio leve apreciável
caudal.
III - A ÁGUA
a) Irrigação
Os organismos vivos necessitam de água indispensável à
sua existência.
Por isso, uma linha de água deve ser aproveitada
integralmente, pois a água está a tornar-se uma das
matérias-primas mais importantes de que necessita o
homem. Só quando nos falta a água é que lhe damos o
valor, como aconteceu no Verão de 1976, em que em
muitas regiões do País a própria água potável,
necessária à bebida e ao fabrico das refeições, se
tornou escassa. Anos seguidos de quase ausência de
chuvas vieram pôr em relevo a importância fundamental
da água na nossa vida.
Habituados como estávamos a tê-la em abundância, a
desbaratá-la, quando se pôs o problema de não a
termos para beber veio-nos de repente à ideia a sua
importância fundamental.
Há, pois, que aproveitar as águas das bacias hidrográficas
e não só aproveitá-las, preservá-las de agentes químicos
e orgânicos que as possam poluir.
O aproveitamento das águas faz-se sob múltiplos aspectos.
Aproveita-se a água para irrigação dos campos, para
produção de energia eléctrica, para abastecimentos
de águas, para diluição de esgotos, para abastecer fábricas,
etc.
Na bacia
hidrográfica do Vouga
os Serviços
Hidráulicos têm executado dezenas de pequenos
projectos
para irrigação de terrenos.
Essa irrigação pode fazer-se por gravidade, construindo
um açude numa corrente e derivando as águas represadas
por meio de levadas ou, então, elevando as águas de
uma linha de água por meio de bombagem para tanques
donde são distribuídas por gravidade ou por tubos.
No primeiro caso podemos mencionar o interessante projecto do
regadio de Souto Mau e Lourizela. No rio Arões, numa
garganta apertada desta corrente, perto de Souto Mau e
junto da estrada Vale de Cambra - S. Pedro do Sul, foi
construída uma barragem em betão de 17 metros de
altura. Dessa barragem parte uma conduta que abastece
uma levada em betão armado que conduz a água para
Souto Mau.
Um repartidor lança parte da Água no rio Arões, a jusante
da barragem, que vai ser derivada a cerca de 2 km. para
Lourizela por um açude também construído pelos Serviços
Hidráulicos.
Como exemplo do segundo caso temos o Regadio de Travassô.
Dois grupos de bombas eléctricas elevam as águas do rio Águeda
em condutas de aço para dois grandes tanques construídos
no alto de Travassô. Daqui as águas são conduzidas
por meio de tubos de polietileno para bocas de rega
donde sai a água para irrigar os terrenos.
Muitos outros aproveitamentos se pontuam na bacia hidrográfica
do Vouga onde obras semelhantes foram executadas.
b) - Abastecimento de águas
O aumento constante da população, se exige que a produção
de alimentos vegetais se eleve para acudir às carências
crescentes das pessoas, exige, por outro lado, que estas
sejam abastecidas de águas próprias para beber. Estas
águas vão buscar-se ou ao subsolo ou aos rios,
construindo nestes embalses que barrem a sua caminhada
permanente para o mar e a armazenem para em seguida ser
derivada para nossas casas.
Da mesma maneira, a indústria necessita de enormes
quantidades de água para beber, para lavagens, para
aplicação na transformação da matéria-prima em
produtos acabados.
O problema está a atingir proporções mundiais pois
verifica-se hoje que com o aumento extraordinário da
população, o desenvolvimento do urbanismo e a expansão
industrial e agrícola, as reservas de água diminuem
extraordinariamente, pensando-se já seriamente em lançar
mão das águas do mar e no aproveitamento dos «icebergs»
para suprir as carências de água potável em terra.
c) Poluição
É já antiga, diremos mesmo contemporânea com o
aparecimento do homem, a poluição das águas. A
lavagem
de roupas e das vísceras dos animais nos rios, e a
canalização dos esgotos domésticos para as correntes,
marcam o início da poluição das águas. Mais tarde,
com o desenvolvimento dos centros populacionais, a poluição
aumentou com a canalização dos esgotos para os rios.
Hoje, com o formidável desenvolvimento do urbanismo e da indústria,
o problema atinge aspectos de grande gravidade.
As grandes cidades lançam os esgotos por tratar para a
corrente mais próxima poluindo as suas águas com as
substâncias orgânicas putrefactas. Por um lado,
perde-se para a agricultura a substância orgânica que
é evacuada para o rio e que poderia ser aproveitada em
estações de tratamento de esgotos apropriadas; por
outro, polui-se a água que escasseia cada vez mais e
que a jusante do seu lançamento para o rio não pode
ser aproveitada quer para a agricultura, quer para a indústria.
Mas é na indústria que o problema atinge mais acuidade. A
indústria necessita de grandes volumes de água para
poder trabalhar e, de uma maneira geral, essas águas,
no ciclo final do circuito industrial, são lançadas,
carregadas de substâncias químicas poluentes, na
corrente mais próxima, inutilizando as suas águas do
ponto de vista potável e tornando-as muitas vezes impróprias
para a vida da fauna piscícola. Produtos químicos que
matam o peixe, quer actuando directamente no seu
organismo, quer extraindo à água o oxigénio necessário
à sua respiração, misturam-se nas águas residuais e
poluem as águas superficiais, diminuindo assim os
volumes de águas naturais que podem ser utilizadas pelo
homem.
Trata-se de um problema de grande transcendência económica,
social, de saúde e até político, atendendo à
dificuldade em dar solução às diversas componentes do
mesmo, mas estamos certos que a seu tempo terá a devida
solução.
Torna-se,
portanto, necessário preservar e aproveitar as águas
das nossas correntes e daí podermos afirmar que a
bacia do rio Vouga é uma das maiores riquezas, pois é
ela que, quer retendo no seu subsolo as águas das
chuvas, quer conduzindo-as ao longo das correntes
naturais para serem aproveitadas sob múltiplos aspectos
pelo homem, oferece a matéria-prima fundamental para
a sobrevivência dos seres vivos que nela vivem - a água.
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