Figuras da região em Defesa do Património

Alberto Souto

Aqui, às portas de Aveiro, no lugar do Bonsucesso, freguesia de Aradas, a 23 de Julho de 1888, abriram-se à luz da vida os olhos de Alberto Souto, filho de Manel Germano Simões Ratola e de Rufiina Amália da Gama Souto.

Contava apenas três anos de idade, quando se viu privado da companhia da mãe. Sua madrinha, viúva do jurisconsulto Dr. Agostinho Melício, foi para ele, em todos os sentidos, uma segunda mãe. E a biblioteca da Quinta da Boa Vista, nas ladeiras de Verdemilho, com obras literárias de vários autores e ramos científicos, que haviam feito as delícias do ilustre casal Melício, deram ao pequeno Alberto Souto a oportunidade dos primeiros contactos com o mundo das Letras e das Ciências que, mais tarde, quando aluno do Seminário, seriam incentivados por mestres como D. João de Lima Vidal e Eugénio de Castro, sem dúvida factor decisivo na sua propensão poética, na oratória e no amor à Natureza, tantas vezes demonstrados ao longo de uma vida de inteira dedicação à terra e gentes desta Região.

Tendo abandonado a carreira eclesiástica,  licenciar-se-ia em Direito, bastante mais tarde, depois de algumas interrupções a que a vida política o forçou.

Entre 1911 e 1915, foi deputado às Constituintes pelo Círculo de Aveiro, lutando pela autonomia do Liceu, pela melhoria da rede de estradas de todo o Distrito, que ele tantas vezes palmilhou em pesquisas de carácter científico, pela concretização e ampliação da rede telefónica... batendo-se, ainda, apaixonadamente, pelos mais variados problemas de índole sócio-económica do seu círculo eleitoral.

Como advogado, a sua carreira mereceu a maior consideração a quantos — colegas ou clientes — com ele tiveram de tratar. Todavia, nunca foi essa a principal preocupação de AIberto Souto. Dedicação, autêntico e verdadeiro amor, encontrou-o ele, um pouco por toda a parte, nas Terras e Gentes de Aveiro. E quando delas se vê afastado (para a Suíça), por motivos de saúde, essa ausência queima-lhe o coração em saudade apaixonada. Revive, então, longe de Aveiro, as belezas da Ria retalhada de canais de águas verde-azuladas, onde parecem reflectir-se as verdes matas do Arestal, do Caramulo e do Buçaco, tocando o azul claro do Céu, no horizonte distante, confinado à planura que se estende de Ovar até Mira. Pequenas montanhas de sal parecem-lhe castelos, que as velas dos moliceiros e mercantéis contornam para um assalto bélico. Mas o ambiente é de paz! E apaixonado pela História e pela Geografia, desenvolve, então, na saudade da sua terra longínqua, as primeiras páginas de estudos etnográficos, geológicos e geoqráficos.

De novo em Aveiro, desmultiplica-se na vida pública, nas investigações científicas no campo da Arqueologia, Geografia, Etnografia e noutros ramos, nomeadamente nas Ciências Humanas, colaborando com alguns dos melhores mestres nacionais e estrangeiros.

A sua actividade jornalística, dispersa por muitas publicações de relevado interesse, atingiu o auge com o jornal «A Liberdade», que durante anos entre os Aveirenses dirigiu.

Em 1925, foi nomeado Director do Museu Regional, cargo que desempenhou durante 33 anos de serviços que a imprensa regional constantemente classificava de «relevantes». E, em 1927, foi, também, nomeado Director da Biblioteca Pública. A sua actividade alargou-se ainda a Altos Estudos, tendo recebido valiosas condecorações, homenagens, elogios.

Da sua vasta obra em defesa da Região de Aveiro, são de salientar: «As pescarias da Terra Nova na Economia Portuguesa»; «As origens da Ria de Aveiro»; «Etnografia da Região do Vouga — sobre a criação de um Instituto de Estudos e de um Museu Etnográfico com sede em Aveiro»; «A estação Arqueológica de Cacia »; «Arqueologia Pré-Histórica do Distrito de Aveiro»; «Geologia e Geografia do Distrito de Aveiro»; «Aveiro» (vol. 16 da Colecção «Arte em Portugal »... havendo ainda inéditos seus à espera da luz da impressão!

Profundamente conhecedor das características do seu meio, poucos têm sabido, como ele, tratar os problemas da gente da Beira-Mar. Das Conferências preferidas — e muitas foram! — ficaram, como testemunhos mais eloquentes, «O Homem e o Bairro», «Talábriga» e «A Festa das Beiras». O seu nome anda associado aos maiores empreendimentos de carácter económico e Associações Culturais, para defesa e promoção da Terra que o viu nascer.

A sua última actividade pública desenvolveu-a entre 1957--1961, como Presidente da Câmara, de que Aveiro, sem dúvida, colheu benefícios. E os Aveirenses têm-lhe prestado homenagens diversas, entre as quais a estátua sita no terreiro do Mosteiro de Jesus — Museu a que ele deu o melhor da sua dedicação.

Todavia, por vezes, alguns se esquecem, voluntariamente, de uma vida inteira ao serviço desta terra, procurando para si louros que a outros pertencem.

Da nossa parte, aqui fica uma singela gratidão de quantos o admiram, mesmo sem terem privado com esse verdadeiro político — o que faz quanto pode e sabe para o desenvolvimento e defesa da sua «polis» (cidade).

AMARO NEVES 


Aditamento bibliográfico consultável no espaço «Aveiro e Cultura» − Alberto Souto


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