Um aspecto que ressalta da análise dos dados recolhidos pelas percentagens
relativamente reduzidas é o que diz respeito à formação dos docentes. Embora
estes dados tenham já sido analisados simultaneamente com os relativos à
apresentação dos diferentes recursos educativos, importa agora apresentar um
quadro com a síntese de todos valores obtidos e extrair as respectivas ilações.
O
quadro 48 fornece-nos a síntese dos elementos já analisados sobre as
principais áreas de formação abrangidas pelo inquérito aos docentes. Se
alguns aspectos são de importância reduzida e, como tal, menosprezáveis,
outros há que são de elevada importância para o ensino actual e deveriam
constituir uma preocupação de actualização por parte dos docentes.
O
primeiro aspecto relevante presente no quadro 48 é o que diz respeito à formação
e actualização dos docentes na área dos recursos audiovisuais. De um total de
349 inquiridos, verifica-se que a percentagem de professores que indicaram nunca
ter recebido qualquer formação audiovisual é ainda bastante elevada, alcançando
44,1%. Poderá isto significar que ou os professores não estão ainda
sensibilizados para a importância dos recursos audiovisuais no processo de
ensino-aprendizagem ou que esta área não tem sido suficientemente contemplada
pelas acções de formação e actualização dos profissionais do ensino.
Dentro
dos recursos audiovisuais de mais fácil utilização e com um certo impacto
junto dos nossos alunos, como é o caso dos diaporamas e das gravações em vídeo,
as percentagens de professores que indicaram nunca ter recebido qualquer tipo de
formação atinge valores bastante elevados: 60,5% para os diaporamas e 72,5%
para a utilização e exploração didáctica de gravações em vídeo.
|
SIM
|
%
|
NÃO
|
%
|
Formação Audiovisual recebida
|
195
|
55,9
|
154
|
44,1
|
DIAPORAMAS: Utilização e criação
|
138
|
39,5
|
211
|
60,5
|
VÍDEO: Realização/montagem
|
48
|
13,8
|
301
|
86,2
|
VÍDEO: Utilização e exploração
didáctica
|
96
|
27,5
|
253
|
72,5
|
COMPUTADOR: Processamento de texto
|
179
|
51,3
|
170
|
48,7
|
COMPUTADOR: Utilização de
programas de desenho
|
54
|
15,5
|
295
|
84,5
|
COMPUTADOR: Folhas de cálculo
|
64
|
18,3
|
285
|
81,7
|
COMPUTADOR: Programação
(Linguagens de)
|
23
|
6,6
|
326
|
93,4
|
COMPUTADOR: Edição Electrónica
(DTP)
|
12
|
3,4
|
337
|
96,6
|
COMPUTADOR: Utilização de
software didáctico
|
54
|
15,5
|
295
|
84,5
|
COMPUTADOR: Utilização de aplicações
multimédia
|
14
|
4,0
|
335
|
96,0
|
Quadro 48: Formação recebida
pelos docentes e áreas de formação, independentemente dos níveis de ensino.
Se os 86,2% em relação à realização e
montagem de programas didácticos em vídeo não nos causa qualquer surpresa,
dado que esta actividade envolve um elevado número de aspectos que nem sempre
estão ao alcance da maioria dos docentes, o mesmo já não poderemos dizer
relativamente à exploração didáctica de videogramas já existentes. 72,5% de
professores que nunca utilizaram o videogravador em situação de aula
afigura-se-nos um valor excessivamente elevado, cujas causas deveriam se
objecto de análise num trabalho específico, centrado exclusivamente na utilização
do videogravador como recurso pedagógico e abrangendo um significativo número
de docentes de diferentes regiões do País.
Verificámos
através do primeiro inquérito aos conselhos directivos de todas as escolas do
distrito de Aveiro que o videogravador é um dos sete recursos existentes a 100%
nos estabelecimentos de ensino a partir do 2º ciclo do ensino básico. Se esta
mesma situação se não verificar em todos os distritos do País, pelo menos o
videogravador deverá manter-se dentro dos recursos com percentagem elevada de
dotação. Assim sendo, como explicar uma tão reduzida percentagem de utilização
do videogravador pelos docentes, como a que obtivemos em relação ao distrito
de Aveiro? Será uma consequência da falta de salas minimamente preparadas para
uma utilização eficaz do videogravador? Inexistência de gravações adequadas
nas escolas? Falta de uma mediateca? Ou dever-se-á apenas a causas relacionadas
com os próprios docentes?
Em relação
às novas tecnologias, verificámos já que estas têm uma difícil penetração
no ensino, especialmente quando se trata de meios tecnológicos mais avançados
e recentes, como é o caso do CD-I e restantes sistemas multimédia. Se a sua
entrada só muito dificilmente se verifica na escola portuguesa, não será de
admirar que acabem por passar quase ignoradas de uma boa percentagem dos
docentes. Todavia, em relação ao computador, verifica-se que, mesmo em relação
à sua utilização como meio de processamento de texto, 48,5% dos professores
indicou ainda não ter recebido qualquer formação, o que significa que, apesar
do computador ser já, actualmente, um recurso bastante vulgarizado, quase
metade da classe docente ainda não teve um contacto efectivo com ele.
Parece
poder concluir-se dos dados por nós recolhidos que alguns aspectos deverão ser
tidos em conta a nível do ensino: em primeiro lugar, importa que as escolas
portuguesas sejam minimamente dotadas com os recursos actualmente mais
importantes para um ensino atraente e evoluído, de molde a evitar-se um
desfasamento abissal entre a escola oficial e a escola paralela; em segundo
lugar, que a distribuição desses recursos se processe de uma maneira mais
racional, em função das necessidades reais das nossas escolas e evitando-se as
dissimetrias por nós encontradas, como sejam, por exemplo, escolas sem qualquer
apetrechamento ao lado de outras com elevado número dos mesmos recursos. Não
é que o elevado número do mesmo recurso seja um aspecto negativo, pois é
sempre vantajosa a existência de aparelhos acima das necessidades de uma
escola; o que é negativo é a sua total ausência em algumas escolas. O que
pretendemos dizer é que a quantidade de material deve estar de acordo com as
características das escolas e com as suas necessidades de utilização. Por
outro lado, deverá evitar transformar-se as escolas em depósitos de recursos
que, no momento em que são fornecidos, constituem já recursos tecnologicamente
ultrapassados e com reduzida ou nenhuma utilidade, não passando de material
obsoleto e digno de figurar em museus.
Mas se as
escolas deverão ser devidamente apetrechadas com material adequado e actual,
deverá nelas existir também uma adequada organização e gestão que permita
rentabilizar esses recursos para a educação. Esta organização rentável e
eficiente passará pela existência de salas minimamente preparadas para a
utilização dos modernos recursos audiovisuais, pela existência de professores
simultaneamente responsáveis por esses recursos e dinamizadores, capazes de
sensibilizar os restantes professores para a sua importância como meios de
aprendizagem, e pela existência de mediatecas, que permitam uma gestão eficaz
do software existente, evitando-se que esteja disperso pela escola e
quase ignorado, tornando-se difícil a sua utilização por professores e
alunos.
Para
que todos os aspectos acabados de
referir possam obter o máximo de eficácia, torna-se indispensável que,
nas acções de formação que actualmente se realizam, geralmente frequentadas
pelos professores com o objectivo quase exclusivo de obter créditos para a
transição de escalão, não sejam esquecidos os recursos educativos, não só
os de natureza audiovisual mas, inclusive, as novas tecnologias, de modo a uma
sensibilização dos docentes para a sua importância e vantagens em todo o
processo de ensino-aprendizagem, não só para a situação exclusiva da situação
da aula, mas também para todo o conjunto de actividades visando a sua preparação,
sem o que a escola portuguesa não poderá acompanhar a evolução cada vez mais
acelerada que se verifica na modernas sociedades ocidentais, em que o professor
não é mais um simples transmissor de conhecimentos, mas antes e cada vez mais
um facilitador da aprendizagem. Esta função será tanto mais eficaz quanto
maior for o seu grau de actualização perante as novas tecnologias e formas de
conhecimento, que, não raras vezes, são já trazidas pelos nossos alunos da
escola paralela.
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