Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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Do
exposto ao longo dos capítulos de análise das informações recolhidas,
torna-se possível a elaboração de um quadro de síntese (quadro 46) com a
apresentação de todos os recursos tendo em conta a sua distribuição nas
diferentes escolas do distrito de Aveiro, bem como um quadro com a respectiva
frequência relativa de utilização pelos docentes, independentemente dos níveis
de ensino e tendo em conta as frequências MV+AV, ou seja, com a soma das
percentagens das respostas correspondentes à utilização «Muitas Vezes» e «Algumas
Vezes» (quadro 47). Para a elaboração do quadro 46, bem como para o seguinte, distribuímos os recursos de acordo com as suas características predominantes e tendo em conta diferentes níveis. Para o primeiro quadro, consideramos apenas três níveis de apetrechamento: Elevado, Médio e Reduzido. Para o quadro 47, consideramos cinco frequências de utilização: Elevada, Média, Reduzida, Quase Nula e Nula. Embora nos quadros não sejam atribuídas as legendas correspondentes a cada nível, estes distinguem-se pelo facto da sua compartimentação se fazer por meio de um traço duplo. Enquanto no quadro 46 apenas indicamos as percentagens na ordem das dezenas, no quadro 47 registamos as percentagens até às décimas, o que nos permite ter uma ideia rigorosa do posicionamento obtido relativamente à frequência de utilização dos diferentes recursos pelos docentes. Deste modo, torna-se possível indicar qual a ordem de importância de cada recurso no processo educativo, permitindo-nos afirmar se determinado recurso é de maior ou menor utilização.
Quadro 46: Recursos educativos existentes nas escolas do distrito de Aveiro em 1994/95 e respectiva percentagem de dotação. Para
a elaboração dos dois quadros, distribuímos os recursos de acordo com as suas
características predominantes. Intencionalmente entendemos não dever separar hardware
de software. Embora este procedimento seja passível de crítica,
consideramos irrelevante essa distinção para os nossos objectivos, tanto mais
que todos nós sabemos que hardware e software não têm qualquer
utilidade prática quando dissociados. De facto, de que serve uma escola estar
dotada com grande quantidade de registos sonoros, por exemplo, se não possuir
as máquinas que permitam efectuar a sua leitura? Do mesmo modo, de que servem
bons videogravadores e televisores se não se possuir qualquer cassete com
registos de vídeo? Ter um carro sem rodas ou as rodas sem o carro não nos leva
a lado nenhum, mesmo tratando-se de um simples carro de mão. Além dos três aspectos fundamentais ─ imagem, som ou ambos em simultâneo ─, distribuídos em três colunas, consideramos um quarto caso, abrangendo os sistemas informáticos ou informatizados, que se caracterizam pela interactividade permanente entre máquina e utilizador, por nós designados por «Novas Tecnologias».
Quadro 47: Frequências relativas de utilização dos recursos audiovisuais nas escolas do distrito de Aveiro, tendo em conta as frequências MV+AV na totalidade dos níveis de ensino. Na
«Novas Tecnologias» incluímos o computador, os sistemas multimédia e CD-I,
bem como um acessório bastante útil: o data-display; e, futuramente,
quando as nossas escolas estiverem dotadas com meios que permitam o acesso a
redes de informação, como é por exemplo o caso da Internet, então
este novo recurso educativo poderá vir a ser incluído nesta coluna. Da
leitura do quadro 46 podemos desde já concluir que apenas 7 dos 30 recursos
analisados constituem uma dotação a 100% de todas as escolas do distrito de
Aveiro, o que corresponde a uma reduzida percentagem de 23,3%. Desta reduzida
percentagem, há pelo menos dois recursos que fazem seguramente parte da dotação
de todas as escolas do País: o tradicional quadro negro e os mapas. Quanto aos
restantes, a probabilidade de também existirem a 100% é bastante elevada. Em
finais do século XX, recursos como retroprojectores, televisores,
videogravadores, computadores e fotocopiadores farão seguramente parte da dotação
de qualquer escola a partir do 2º ciclo do ensino básico. Se o computador, em
algumas escolas, não está ainda ao alcance de toda a população escolar, a
sua existência é, hoje em dia, tão ou mais indispensável do que a
tradicional máquina de escrever, a qual, de há alguns anos para cá, foi
substituída com enormes vantagens pelo computador. Do mesmo modo, os
tradicionais policopiadores, embora continuem ainda a prestar útil serviço em
muitas escolas e até já estejam substituídos por versões tecnologicamente
mais evoluídas, encontram-se actualmente complementados e por vezes até
substituídos pelos fotocopiadores, que fazem parte da actual dotação obrigatória
da secção de reprografia de uma escola. Tiradas
estas ilações relativamente aos recursos existentes a 100% em todas as
escolas, vejamos que conclusões poderão ser tiradas da análise dos quadros 46
e 47 e de tudo quanto foi anteriormente apresentado, seguindo uma sequência de
acordo com as características dos diferentes recursos, por nós distribuídas
pelas quatro colunas: recursos visuais, recursos sonoros, recursos
"audiovisuais" no sentido restrito do vocábulo e novas tecnologias. Dentro
dos recursos visuais e tendo em
conta apenas os quadros murais, verifica-se que o quadro tradicional continua
a ser o único recurso que faz parte da dotação de todas as escolas, ao
passo que o quadro branco, mais recente e com vantagens relativamente ao
anterior, apenas existe em 50% das escolas. Este quadro, com funções
rigorosamente idênticas ao tradicional, mas com grandes vantagens em relação
a ele, tem o inconveniente de onerar excessivamente as escolas. Por esta razão,
na quase totalidade das escolas por nós contactadas, é utilizado
essencialmente nas salas onde existem aparelhos sensíveis às poeiras
provocadas pelo giz utilizado com os quadros tradicionais. A reduzida expansão
do quadro branco advém-lhe do facto de exigir canetas especiais para a escrita,
cuja duração é bastante limitada e o preço muito superior ao do giz, o que
acarreta uma sobrecarga para o orçamento das escolas. O
quadro magnético e o flanelógrafo apenas existem em 30% das escolas do
distrito de Aveiro e a sua
utilização é quase nula, razão pela qual os exemplares existentes se
encontram, na sua grande maioria, como tivemos ocasião de verificar, arrumados
entre o material actualmente fora de uso. O
quadro de pregas e o quadro de fios são inexistentes na totalidade das escolas
e praticamente desconhecidos
da maioria dos professores. É
elucidativa a comparação dos quadros 46 e 47. Verifica-se que, salvo uma ou
outra excepção, os recursos que correspondem a uma dotação elevada são
geralmente aqueles a que os professores mais recorrem na sua acção educativa.
A utilização frequente leva à necessidade de dotação e esta parece
favorecer, por sua vez, a utilização. Se o quadro tradicional, mapas, retroprojector e fotocopiador,
por exemplo, fazem parte da dotação a 100% das escolas e correspondem a frequências
elevadas de utilização, em contrapartida, constitui excepção, por exemplo, o
episcópio. Embora exista a 80% nas escolas, a frequência de utilização é
reduzida, apenas atingindo os 12,9%. A reduzida frequência de utilização do
episcópio dever-se-á possivelmente aos grandes inconvenientes deste sistema de
projecção de imagens que, além de exigir o total escurecimento da sala e um
bom ecrã, tem a característica de deteriorar as imagens, quando estas se
encontram demasiado tempo sob a acção da fonte de luz, que vai permitir a
projecção da imagem por reflexão. Dentro
dos sistemas de projecção fixa que recorrem a suportes de imagem
transparentes, constituem uma dotação elevada o retroprojector (100%) e o
projector para diapositivos (90%). Enquanto o primeiro tem uma frequência
de utilização de 70,2%, o segundo apenas alcança os 42,1%. Relativamente ao
sistema de projecção de suportes sobre películas fotográficas, podemos
concluir da leitura dos dados recolhidos e dos dois quadros apresentados que o
recurso a diafilmes está praticamente extinto. Além de só os termos
encontrado em 4 escolas, constatámos, segundo o que nos foi dito in loco,
que nenhum professor os utiliza. Além do mais, a sua projecção é actualmente
impossível com os modernos projectores que fazem parte da dotação das
escolas, a menos que a película seja previamente seccionada nas diferentes
imagens que a compõem e estas montadas em caixilhos, passando então a
tratar-se de diapositivos. Deve-se isto ao facto de que as modernas máquinas de
projecção não vêm preparadas para este tipo de suporte. Só as mais antigas
e há muito desactivadas na maioria das escolas estão dotadas com acessórios
susceptíveis de permitir a projecção manual de diafilmes. Numa escola secundária
de Aveiro (refª 15), encontrámos um exemplar antigo de uma máquina de
projectar, dentro de uma maleta, que estava dotada com um pequeno motor eléctrico
que permitia efectuar a tracção da película, fazendo passar as imagens,
bastando para tal premir o botão de um interruptor em forma de pera. Embora,
segundo a funcionária encarregada do material audiovisual, ninguém utilize
esta máquina, que ela própria desconhecia o que era, acabámos por verificar
que se encontrava em perfeito estado de funcionamento, talvez por ser já uma peça
digna de figurar num museu e estar há muitos anos esquecida, tendo sido
substituída por modernos projectores de diapositivos. A consulta das respostas
dos docentes relativamente à frequência de utilização dos diafilmes confirma
também a nossa suposição de que há muito o diafilme está banido do ensino.
Efectivamente, só 2% dos inquiridos declararam utilizar raramente o diafilme. E
destes 2%, a probabilidade de alguma vez o terem utilizado é nula, como se pode
comprovar pelo confronto dos mapas 5 e 6. Só 4 escolas do distrito possuem
alguns exemplares de diafilmes[1]
e destas 4 escolas, a única onde foram efectuados os inquéritos aos docentes
apenas possui um exemplar. Dentro
dos recursos sonoros, apenas constituem dotação elevada, existindo na maioria
das escolas, o gravador de cassetes (90% das escolas) e o rádio (80%). O
gira-discos faz parte dos recursos dentro de uma dotação média (60%), ao
passo que o gravador de bobinas apenas existe em 30% das escolas do distrito. Destes
quatro recursos sonoros, apenas o gravador de cassetes apresenta uma frequência
de utilização média por parte dos docentes, que se situa nos 40,4%. Dos
restantes, o rádio é muito pouco utilizado, sendo a percentagem da
frequência de utilização de apenas 17,2%. O gira-discos e o gravador de
bobinas quase já não são utilizados pelos professores, sendo as frequências
de utilização respectivamente de 6,9% e de 4,3%. Dos
recursos audiovisuais, somente três correspondem a uma dotação elevada das
escolas: o televisor e o videogravador (sistema VHS), existentes na totalidade
das escolas, e a câmara de vídeo, existente em 80% das escolas. Dos
4 recursos restantes ─ videogravador (sistema Beta), projectores de cinema
de 8 e de 16 mm e videoprojector ─ os três primeiros existem apenas em
10% das escolas, enquanto o videoprojector apenas existe em 3 escolas do
distrito (4,1%). Dos
três recursos que fazem parte da dotação elevada das escolas, somente o
videogravador (sistema VHS) e, consequentemente, o televisor, indispensável
para visionamento dos registos gravados em fita magnética, são utilizados
pelos professores com uma frequência média, na ordem dos 48,7%. Enquanto
terminal de recepção de emissões directas de televisão, o televisor é muito
pouco utilizado pelos docentes em situação de aula. Apenas 17,2% dos docentes
indicaram recorrer algumas vezes às emissões directas de televisão. Igualmente
reduzidas são as frequências de utilização das câmaras de vídeo e dos
diaporamas. Tal
como referimos quando da apresentação dos dados relativos às emissões de
televisão, estas tiveram sempre uma reduzida frequência de utilização. A
maioria das escolas utiliza os aparelhos de televisão exclusivamente como
terminal de vídeo. As emissões directas de televisão numa sala de aula só
seriam viáveis com um sistema idêntico ao da telescola, que funcionou durante
vários anos com relativo sucesso. Todavia, mesmo a telescola, nos últimos
anos, acabou por abandonar o sistema de emissão directa, passando a adoptar as
gravações em vídeo, pelo que todas as escolas foram dotadas com aparelhos
mais compactos e economicamente acessíveis, que apenas efectuam a leitura de
cassetes pré-gravadas. Actualmente, o preço relativamente acessível de um
videogravador e as grandes vantagens trazidas pelos programas gravados em
cassete fez com que os sistemas de vídeo possam desempenhar um papel importante
no acto pedagógico, permitindo que o professor possa seleccionar as sequências
que apresentam maior interesse e apresentá-las no momento que considera mais
oportuno durante o decurso da aula. Apesar das grandes vantagens do
videogravador como recurso pedagógico, mesmo assim a sua frequência de utilização
não chega a alcançar os 50%. Estando
os projectores de diapositivos e câmaras de vídeo entre os recursos de
dotação elevada, as frequências de utilização do primeiro como meio de
apresentação de diaporamas e do segundo, como meio de registo de imagens
directas da realidade, são, no entanto, recursos de utilização
reduzida. Em relação aos diaporamas, a reduzida frequência de utilização
de apenas 11,2% é compreensível se nos lembrarmos que, na sua grande maioria,
as escolas do nosso país não estão dotadas com leitores específicos de
cassetes que permitam uma projecção automatizada dos diapositivos. Embora não
o tenhamos registado nos mapas de recursos, em nenhuma das escolas do distrito
de Aveiro encontrámos gravadores de cassetes próprios para diaporamas. E,
quando efectuámos o controlo dos inquéritos respondidos pelos conselhos
directivos, tivemos a oportunidade de verificar e contabilizar os totais de
diapositivos existentes em cada escola. Apenas numa escola secundária da cidade
de Aveiro encontrámos alguns diaporamas completos, constituídos por
diapositivos, guião e cassetes devidamente gravadas e preparadas com os
impulsos para comandar o avanço das imagens. Mas, quando algum professor estagiário
pretende apresentar um diaporama, tem de o fazer de maneira artesanal,
recorrendo a um vulgar gravador de cassete e à leitura do guião, para poder
saber o momento em que deverá fazer avançar as imagens. Daí que, dos 349
professores inquiridos, apenas 1 indicou «Muitas Vezes» e 38 «Algumas Vezes»,
dando estas duas frequências acumuladas a reduzida percentagem de 11,2%. Para
que os diaporamas possam vir a constituir um recurso de utilização mais
frequente pelos docentes, será necessário que as escolas sejam minimamente
dotadas com software devidamente elaborado e, pelo menos, um gravador de
cassetes específico, destinado a trabalhar exclusivamente acoplado a um
projector de diapositivos. E, simultaneamente, uma vez que só os professores
mais novos terão tomado contacto, durante a sua formação nas universidades,
com os diaporamas, deverão os professores ser sensibilizados para as
potencialidades deste recurso pedagógico em acções de formação, durante as
quais tenham a oportunidade de adquirir as respectivas técnicas de criação e
de exploração pedagógica. Em
relação ao videoprojector, a reduzida frequência de utilização, cuja
percentagem deverá ser na realidade inferior à que obtivemos[2],
deve-se essencialmente ao facto de ser praticamente inexistente nas nossas
escolas, devido ao seu preço exageradamente elevado, facto que o torna
praticamente inacessível, mesmo para as escolas de nível superior. Apenas 3
escolas do distrito possuem um videoprojector, o que, relativamente às 73
escolas do distrito, corresponde a 4,1%. Encontra-se
praticamente extinto como recurso educativo o cinema.
Mesmo antes do aparecimento dos sistemas de videogravação, trabalhos
efectuados em décadas anteriores, como, por exemplo, os trabalhos anteriormente
citados de A. Moderno e Bento Duarte da Silva, mostram-nos que o número de
escolas em Portugal dotadas com projectores de cinema era relativamente
reduzido. Actualmente, das 73 escolas do distrito de Aveiro, apenas algumas das
escolas mais antigas possuem projectores de cinema, que, segundo apurámos,
já não têm qualquer utilização nos nossos dias. O número de escolas
dotadas com projectores de cinema é, como anteriormente dissemos, de 15, o que
corresponde a 20,5%. À excepção de um reduzido grupo de professores de uma
escola próxima de Coimbra, que ainda procura manter vivo o espírito
cineclubista dos anos 50/60, em todas as escolas o projector de cinema deixou há
muito de ser utilizado. Podemos, pois, concluir, com reduzidíssimas
probabilidades de erro, que o cinema como recurso educativo se encontra extinto
em Portugal, extinção esta que terá começado a partir do momento em que os
sistemas de videogravação começaram a entrar, primeiramente, no uso doméstico
e, pouco depois, no ensino. Destino
idêntico ao dos projectores de cinema poderá ser indicado para os sistemas de
gravação de imagem Vídeo 2000, que, por razões essencialmente
comerciais, quase não chegou a conhecer uma expansão mínima, e para o sistema
Beta. Do primeiro, encontrámos alguns exemplares que figuram como peças de
museu da tecnologia educativa em algumas raras escolas; do segundo, encontrámos
um maior número de exemplares, num total de 10 aparelhos, sendo a sua utilização,
segundo apurámos, extremamente rara. Além de não termos encontrado gravações
neste formato nas escolas que contactámos, à excepção de umas poucas
cassetes incompletamente gravadas em duas ou três escolas, em geral, a maioria
dos professores traz as suas próprias cassetes gravadas no sistema VHS, pelo
que os videogravadores do sistema Beta só muito raramente são requisitados. De
acordo com os elementos apresentados no quadro 46 relativamente às novas
tecnologias, o único recurso que faz actualmente parte da dotação a 100% das
escolas do distrito de Aveiro e, muito provavelmente de todas as escolas
portuguesas a partir do segundo ciclo do ensino básico, é o computador.
Todavia, apesar desta dotação a 100% e de, durante alguns anos, ter decorrido
o projecto MINERVA, que tinha como objectivos, entre outros, a introdução das
novas tecnologias da informação no ensino, a verdade é que só as escolas de
nível secundário possuem actualmente, pelo menos no distrito de Aveiro, sala
de informática (Vd. gráfico da figura 13). Das escolas do 2º e 3º ciclo do
ensino básico, 12 escolas (16,9%) ainda não possuem qualquer sala de informática
onde os alunos possam ter contacto com este poderoso recurso educativo. Os
computadores existentes nestas 12 escolas destinam-se essencialmente à gestão
da escola, ou seja, aos Serviços Administrativos, havendo escolas onde os
professores dificilmente terão acesso ao computador. Em
relação aos professores, a frequência de utilização do computador está
muito aquém daquilo que seria de esperar quase em finais do século XX. Embora
no quadro 47 o tenhamos incluído entre os recursos de frequência média de
utilização, a verdade é que este posicionamento será bastante discutível,
uma vez que a frequência de utilização pelos docentes é de apenas 24,1%,
valor que se nos afigura bastante reduzido, fazendo-nos levantar algumas dúvidas
sobre o alcance dos objectivos propostos no momento do seu lançamento pelo
projecto MINERVA. De qualquer modo, deixando de lado esta observação
pessimista e talvez infundada, a verdade é que os valores apresentados no
quadro 37, na altura em que efectuámos a exposição dos dados da investigação,
nos mostram uma evolução de sentido positivo em relação ao computador. Nesse
quadro, comparam-se os dados obtidos em duas épocas distintas, os quais parecem
indicar uma tendência para a redução da percentagem de professores que nunca
contactaram com o computador. De qualquer modo, dos 349 professores inquiridos,
202 declararam nunca ter utilizado um computador, o que dá uma
percentagem de 57,88%, que se nos afigura ainda bastante elevada. Quais
as possíveis razões de uma tão difícil aceitação por parte dos docentes
portugueses relativamente a um recurso com tantas potencialidades como é o caso
do computador? Embora o problema ultrapasse o âmbito de um trabalho deste tipo,
seria interessante procurar saber as causas que levam a uma tão difícil aceitação
do computador pelos professores: aversão natural pelas tecnologias mais avançadas?
Resistência à inovação? Um certo comodismo e cristalização? Questões
meramente económicas? Medo de adquirir um produto que rapidamente se
desactualiza e consequentemente se desvaloriza? Ou uma deficiente sensibilização
dos docentes para as potencialidades do computador como ferramenta de trabalho
e, sobretudo, como recurso educativo? Se
o computador, considerando apenas as frequências MV+AV, se caracteriza por uma
reduzida frequência de utilização pelos docentes (apenas 24,1%), os
sistemas interactivos, como o CD-I e sistemas multimédia são quase
inexistentes nas escolas do distrito de Aveiro e, muito provavelmente, na
maioria das escolas portuguesas. Os
leitores de Disco Compacto Interactivo (CD-I, em inglês) são quase
inexistentes. Das 73 escolas do
distrito de Aveiro, apenas 2 possuem leitores de CD-I, o que corresponde a 2,7%
das escolas. E os computadores dotados com CD-ROM, placa de som e placa gráfica
para poderem trabalhar como plataformas multimédia apenas existem em 4 escolas
(5,5%), o que significa que as mais recentes tecnologias da informação
penetram nas escolas portuguesas com grande dificuldade e muito lentamente, o
que também não será muito de admirar, se nos lembrarmos que, através dos
tempos, as tecnologias mais avançadas sempre entraram com grande atraso e
dificuldade no ensino. Foi, por exemplo, o que sucedeu com o cinema em épocas
anteriores, que sempre gerou grande polémica entre os educadores sobre as suas
vantagens e inconvenientes no campo pedagógico, o mesmo sucedendo
posteriormente com a televisão. Relativamente aos docentes, o desconhecimento e utilização das tecnologias mais recentes está de acordo com o seu grau de penetração nas escolas. As frequências de utilização são quase nulas, sendo o valor percentual das frequências de utilização de 2,3% para os sistemas multimédia e de 1,7% para o CD-I. Estes reduzidos valores das frequências de utilização reforçam a conclusão anteriormente apresentada, tanto mais que, além desta reduzida frequência de utilização, uma boa percentagem de docentes desconhece mesmo o que sejam. Enquanto o computador, ainda que nunca tendo sido utilizado por 57,9%, é conhecido da quase totalidade dos professores[3], os sistemas multimédia e o CD-I são desconhecidos de uma razoável percentagem de docentes, como se mostra no quadro 39, apresentado no capítulo de análise dos dados recolhidos. Em relação aos sistemas multimédia, 258 professores indicaram nunca os ter utilizado (73,9%) e 62 indicaram desconhecer o que era (17,76%), o que significa que a percentagem total de professores que nunca utilizaram ou contactaram com sistemas multimédia é de 91,7%. Quanto ao CD-I, 276 professores declararam nunca o ter utilizado (79,08%) e 55 indicaram desconhecer o que é (15,76%), o que corresponde a um total de 94,84% de professores que nunca o utilizaram.
[1]
- Apenas possuem diafilmes as escolas com as referências 28 (1 exemplar),
30 (2 exemplares), 3 (55 exemplares) e 53 (1 exemplar). Segundo averiguámos
através de inquérito directo, há muitos anos não são utilizados,
havendo mesmo funcionários que desconheciam o que eram, quando os desenrolámos
para observar as imagens e o estado de conservação. A ausência de riscos
horizontais no sentido da tracção da película constitui um forte indício
da reduzida ou mesmo nula utilização. [2]
- A percentagem real da frequência de utilização do videoprojector deve
ser inferior aos valores por nós obtidos, pois é muito pouco provável que
os professores alguma vez possam ter recorrido a ele durante o ano em curso.
Consultando-se os mapas 5 e 8, poderá verificar-se que só 3 escolas do
distrito de Aveiro possuem este recurso e que nenhuma delas se encontra
entre as 12 onde decorreu o inquérito aos docentes. [3]
- Apesar de tudo e para nossa surpresa, houve dois docentes (0,57%) que
declararam desconhecer o que era um computador! |
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