Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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Criámos
três tipos de inquéritos[1]:
um inquérito sobre as características e recursos educativos das escolas; um
inquérito sobre as características e utilização de recursos específicos,
existentes em algumas escolas; e um inquérito destinado aos docentes de 12
escolas do distrito sobre formação e utilização dos recursos educativos. Para
obtenção dos elementos referentes ao distrito de Aveiro, começámos pela
criação do instrumento de recolha de dados e pela obtenção de uma lista
completa de todas as escolas. O
inquérito que permitiu esta recolha de dados foi realizado em diferentes
etapas, tendo sido criadas três versões, que foram sucessivamente testadas
junto de alguns professores, o que permitiu introduzir diversas alterações
até à obtenção da versão definitiva. Em formato A5, é constituído por
quatro páginas, está dividido em várias secções, tendo em conta os tipos
de informação pretendida, e abrange praticamente todos os recursos da
escola, cobrindo uma área bastante superior aos nossos objectivos[2]. A
primeira parte inclui elementos diversos relacionados com a identificação e
características das escolas. A segunda, por motivos metodológicos dividida
em várias classes, permite o levantamento dos recursos educativos das
escolas. Devido ao número e minúcia de informações pedidas, exige um certo
tempo na obtenção das respostas, o que obrigou os conselhos directivos, em
alguns casos, a realizar um inventário sumário das escolas. Na classe
destinada aos meios sonoros, um campo intencionalmente deixado em branco, ao
lado do 19, permitiu que aí fossem incluídos os discos compactos sempre
que as escolas possuíam um leitor de CD.
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140 /
A
terceira parte ─ «Situação profissional dos docentes em exercício»
─ permite obter a distribuição por grupos disciplinares e situação
profissional dos docentes efectivamente em exercício nas escolas. Permite-nos determinar o universo docente e o valor da
amostra relativamente ao inquérito sobre o grau de utilização dos recursos
didácticos pelos professores. Nesta parte, embora ultrapassando o nosso campo
de análise, deixámos um espaço reservado ao 1º ciclo do ensino básico,
permitindo que o modelo possa eventualmente vir a ser utilizado para outros
trabalhos. O
modelo de inquérito, com as suas diferentes secções, permitiu o
levantamento de todos os recursos didácticos existentes e obter a resposta,
de maneira rigorosa, para a hipótese por nós formulada. A
distribuição dos inquéritos, após apresentação do pedido de autorização
às Direcções Regionais de Ensino (DREC e DREN), decorreu entre 24 de
Outubro e 4 de Novembro de 1994, tendo sido por nós contactados pessoalmente
os conselhos directivos de todas as escolas do distrito.
Durante o período de tempo entre
4 de Novembro e meados de Dezembro, deslocámo-nos
por diversas vezes a várias escolas, não só para efectuarmos a correcção
e complemento dos inquéritos recebidos, como para procurarmos obter a
concretização da resposta por parte de alguns conselhos directivos. Também,
sempre que isso foi viável e graças ao apoio dado pelo conselho directivo da
Escola Secundária Homem Cristo e pessoal da secretaria, completámos ou
corrigimos os elementos obtidos através do fax, criando para isso um modelo
reduzido do inquérito, cujos campos impressos variavam em função do caso
particular de cada escola[3]. Em finais de Dezembro, por questões de timing, tivemos que dar por concluída a primeira fase do trabalho, apesar de 7 escolas não terem dado qualquer resposta aos nossos frequentes pedidos.
A
segunda fase destinou-se ao tratamento e primeira análise dos dados
recebidos. Foi uma fase de trabalho que começou a partir do momento em que
foram recebidas as primeiras respostas aos inquéritos, tendo-se então começado
o tratamento dos dados. À medida que os inquéritos foram chegando, foi-lhes
atribuído um número de referência, o que permitiu facilitar o trabalho e
avaliar cronologicamente o tempo decorrido entre a sua entrega e recepção:
quanto maior o número mais tardia a obtenção da resposta. Como
forma de tratamento dos dados, foram utilizados dois programas informáticos
para computador PC: os programas SPSS (Statistic Package for Social
Sciences, versão 5.01 de Out. /
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de 1992) e Microsoft Excel, versão 4,
ambos para Windows. Para análise e controlo dos elementos recebidos, foram
criados diversos tipos de mapas em Excel, alguns dos quais interligados por
meio do sistema de «linkagem», de modo que a alteração dos valores
numéricos dos mapas de raiz automaticamente actualiza os valores dos mapas,
gráficos ou quadros subsequentes. Os três mapas mais importantes, nesta fase, foram os números 1, 2 e 6. Os dois primeiros apresentam a listagem das escolas, por ordem da recepção dos inquéritos, com o número de professores por categorias profissionais (mapa 1) e por grupos disciplinares (mapa 2), permitindo obter o universo docente por escolas e na sua globalidade. O mapa 6 regista os recursos didácticos das escolas do distrito que deram resposta aos inquéritos, tendo permitido, através da sua análise e à medida que os dados foram sendo introduzidos, elaborar o modelo variável de complemento ao primeiro inquérito, anteriormente referido (vd. anexo 2).
Em
finais de Dezembro tivemos que dar por concluída a fase de recolha do inquérito,
apesar de ainda faltarem as respostas de 7 escolas. O avanço inexorável do
tempo obrigou-nos a passar à fase seguinte, tendo em vista a análise mais
pormenorizada de todos os dados obtidos e a criação de dois instrumentos de
trabalho: um inquérito aos professores sobre a utilização dos recursos
educativos e um segundo inquérito sobre as características e tipo de utilização
de sete recursos específicos existentes só em algumas escolas do distrito. Relativamente
à utilização dos recursos educativos pelos docentes, procurámos criar um
modelo de inquérito[4]
de resposta fácil e rápida e que não obrigasse a escrever. É constituído
por dois grupos de questões: o primeiro, para obtenção de informações
relativas aos próprios docentes, tais como nível de ensino, disciplinas
leccionadas, categoria profissional, sexo, idade e anos de docência, e
conhecimentos adquiridos na área da tecnologia educativa; o segundo,
destinado a saber quais os recursos utilizados na preparação e realização
das aulas e qual a sua frequência, utilizando uma escala com quatro
categorias. Como temos também interesse em avaliar do seu conhecimento ou não
por parte dos docentes, foi introduzida a coluna suplementar «Não conheço»[5]. O
segundo inquérito sobre alguns recursos educativos específicos resultou da
verificação da sua reduzida frequência e do facto de considerarmos
indispensável um controlo acerca do rigor das respostas obtidas no primeiro
inquérito e averiguação do seu grau de utilização, bem como /
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os
respectivos objectivos. Além disso, consideramos que, se há recursos
educativos que julgamos desafiar o tempo e os mais recentes progressos tecnológicos,
como iremos procurar verificar em relação ao quadro tradicional, outros
deverão estar praticamente extintos, tendo dado lugar a substitutos que,
mantendo as mesmas características dos antecessores, apresentam as vantagens
da acessibilidade, economia e facilidade de utilização. Cremos estarem neste
caso o diafilme, que consideramos praticamente extinto, e o cinema no âmbito
da escola, actualmente substituído com vantagens pelo videogravador. Seleccionámos
para micro-análise apenas 7 recursos educativos: os diafilmes, os
projectores de cinema, os videoprojectores, o CD-I, os sistemas multimédia e
os laboratórios de fotografia e de línguas. Como estes recursos não são
comuns a todos os estabelecimentos de ensino, criámos um modelo padrão de
inquérito, constituído por um bloco de introdução e por sete grupos com
questões variáveis em função do tipo de recurso, permitindo a obtenção
de dados rigorosos relativamente ao grau de utilização, aos utilizadores,
aos objectivos e às características inerentes ao próprio equipamento.
Este modelo padrão funcionou como matriz para a criação de inquéritos
diversificados, em função do caso específico de cada escola, tendo,
consequentemente, dado lugar a 47 inquéritos diferentes, tantos quantos as
escolas onde, em princípio, deveriam existir os recursos em estudo, tendo em
conta as respostas obtidas no primeiro inquérito (ver anexos: mapa 7). O
confronto dos mapas 7 e 8 permite verificar que o inquérito directo permitiu
introduzir correcções significativas nos dados obtidos com o inquérito
enviado aos conselhos directivos das 47 escolas. Apenas 40 escolas constam do
mapa 8, tendo-se alterado os totais de recursos. O
inquérito directo permitiu-nos verificar, por exemplo, que apenas numa escola
do distrito existe um laboratório de línguas devidamente apetrechado e que
aquilo que os respondentes consideraram como laboratório de línguas não era
mais do que uma vulgar sala de aula, onde se reuniam os elementos dos clubes
de inglês ou de francês. Outro exemplo concreto é o relativo ao videoprojector,
em que nove escolas indicaram possui-lo, havendo mesmo duas que registavam o
total de três. O inquérito in loco permitiu-nos concluir ter havido
confusão entre o videogravador e o videoprojector, pelo que não só este não
existia, como os professores contactados desconheciam o que era[6].
Em Janeiro de 1995 foi iniciada a fase seguinte, tendo em vista a obtenção de
elementos relativos à utilização dos recursos educativos pelos professores e,
simultaneamente, a recolha de
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informações complementares sobre alguns recursos específicos. Procurámos
também, numa derradeira tentativa, contactar as sete escolas que, apesar dos
diferentes contactos directos e insistentes pedidos através de fax, durante o
primeiro período, continuavam sem dar qualquer resposta ao primeiro inquérito. Seleccionadas
as escolas de acordo com os critérios pré-definidos e construído o
instrumento de recolha de dados, esta fase foi subdividida em vários
momentos. Com o recomeço das aulas em Janeiro, os dois primeiros dias foram
aproveitados para, com a colaboração dos professores da Escola Secundária
Homem Cristo, de Aveiro, testar a facilidade, fiabilidade e rigor da última
versão do inquérito[7],
a qual se revelou, ao contrário das anteriores, de fácil preenchimento, não
exigindo mais do que cinco minutos. No decurso do mês de Janeiro foram
entregues os inquéritos aos docentes responsáveis pela sua distribuição
nas 12 escolas seleccionadas e deslocámo-nos à quase maioria das restantes.
Realizámos 47 inquéritos directos, que nos permitiram observar os recursos
educativos em análise e corrigir os dados anteriormente obtidos, e voltámos
a contactar as sete escolas que não tinham respondido ao primeiro inquérito.
Conseguimos, ainda que tardiamente, obter as respostas de cinco escolas. Entre
finais de Janeiro e princípios de Fevereiro, deslocámo-nos novamente às 12
escolas seleccionadas para levantar os inquéritos e verificar o seu total e
correcto preenchimento. Entretanto, à medida que foram sendo recolhidos,
demos início à introdução dos dados no computador para obtenção das
primeiras leituras e controlo dos resultados. A
análise de todos os inquéritos, quer no momento em que os recolhemos nas
escolas, quer posteriormente durante a introdução dos dados no computador,
permitiu-nos concluir que a estratégia utilizada na distribuição e controlo
por áreas disciplinares se revelou bastante válida e correcta, apesar de
mais trabalhosa e diferente daquilo que habitualmente se faz[8].
Tal como já referimos, apenas sete inquéritos estavam incorrectamente
preenchidos por omissão de alguns dados, pelo que foram eliminados, ficando a
amostra com um total de 349 inquéritos, que /
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proporcional significativo da realidade da população docente, susceptível
de permitir, com uma suficiente margem de segurança, inferir resultados
extrapoláveis para a realidade nacional. A semelhança de proporções entre
o universo real e a amostra já foi por nós referida, sendo elucidativo do
rigor obtido a comparação dos gráficos da figura 1.
Uma
vez que pretendemos no nosso trabalho avaliar a situação observada numa
perspectiva simultaneamente sincrónica e diacrónica, iremos procurar, sempre
que possível, com base em trabalhos anteriormente elaborados nesta mesma área,
verificar em que medida terá havido ou não evolução no domínio dos
recursos educativos e até que ponto a realidade observada no distrito de
Aveiro se assemelha à do distrito de Braga. Iremos recorrer para isso aos
elementos fornecidos pelos trabalhos já citados, quer de Bento Duarte da
Silva, de 1989, relativo ao distrito de Braga, quer de António Mendes dos
Santos Moderno, relativo à região centro do País. Para
uma sequência mais racional no estudo de todos os dados obtidos com os três
inquéritos realizados, a análise é efectuada mediante distribuição de
todos os recursos educativos por diferentes classes e tendo em conta duas
perspectivas: a primeira, relacionada com o primeiro inquérito e um inquérito
directo, permitir-nos-á saber quais os recursos existentes na escolas, quais
os que já caíram em desuso e os que, sendo tecnologicamente mais recentes e
avançados, conseguiram penetrar na escola e em que medida, e até que ponto há
salas adequadas para arquivo de software (mediateca) e utilização dos
recursos existentes; a segunda perspectiva, relacionada com o inquérito aos
docentes, permitir-nos-á aquilatar da frequência de utilização dos
recursos, tendo em conta quatro variáveis: nível de ensino, categoria
profissional, áreas disciplinares e formação recebida em tecnologia
audiovisual. Como
instrumentos auxiliares de análise, recorremos essencialmente a mapas de
frequência e aos gráficos obtidos, que permitem uma melhor visualização
dos registos dos mapas de frequência. Procederemos
ainda a uma análise dos dados obtidos referentes à formação dos docentes e
a uma breve análise dos recursos exclusivamente sonoros. Embora estes estejam
fora do âmbito deste trabalho, seria incorrecto não aproveitar os dados
recolhidos e deixar de lhes fazer referência. Mapas
de frequência e gráficos encontram-se agrupados num volume independente,
constituindo uma secção designada por ANEXOS, a qual contém três tipos de
materiais: os anexos propriamente ditos (inquéritos, quadros e outros
documentos); os mapas de análise e os gráficos que acompanham cada grupo de
mapas. Como geralmente os mapas chegam a ocupar /
145 /
o espaço de 4 páginas A4,
indicar-se-á, além do número do mapa, acompanhado de legenda, a página
respectiva. O conjunto constituído por uma palavra com oito caracteres
separado por um ponto de três caracteres, que por vezes aparece, corresponde
ao nome e extensão do ficheiro informático, que mantemos para uma rápida
localização dos ficheiros arquivados não só no disco duro do computador
como também em duplicados de segurança arquivados em disquetes. Os
quadros apresentados durante a análise de cada recurso encontram-se
reproduzidos em quatro mapas globais apresentados na secção de anexos, de
acordo com as variáveis seleccionadas. Todavia, enquanto nos quadros apenas
se apresentam as percentagens das frequências MV e AV (Muitas Vezes e Algumas
Vezes), os mapas globais apresentam a totalidade dos dados obtidos, mostrando
lado a lado os números de respostas e as correspondentes percentagens. Relativamente aos gráficos apresentados na secção de anexos, que nos apresentam lado a lado os 30 recursos analisados, convirá efectuar uma reflexão explicativa relativamente aos critérios adoptados na elaboração dos gráficos que nos apresentam os recursos por ordem decrescente da sua frequência de utilização. Enquanto os dois primeiros de cada série de três foram obtidos de acordo com o número exacto das respostas obtidas, fornecendo gráficos para o número de respostas e respectiva percentagem, o gráfico de ordenamento foi obtido por meio da soma dos valores atribuídos a cada uma das frequências MV, AV e RV, respectivamente com os valores 3, 2 e 1. Embora não seja possível atribuir um valor numérico a conceitos subjectivos de impossível quantificação, a verdade é que, por exemplo, se relativamente a 20 recursos um inquirido responder que 10 são utilizados Muitas Vezes e os restantes apenas Algumas Vezes, os dez primeiros terão logicamente uma maior frequência de utilização. A elaboração de gráficos tendo apenas em conta o número de respostas obtidas, colocaria os dois grupos no mesmo posicionamento relativo, não permitindo distinguir a diferença de utilização; tendo em conta os valores convencionados, ainda que o procedimento seja passível de crítica, deste modo os gráficos passam a fornecer os diferentes graus de utilização, permitindo-nos uma ordenação dos recursos por ordem de importância. A margem de erro que este procedimento possa eventualmente suscitar é quase nula, como se poderá comprovar tomando como exemplo dois recursos importantes no ensino ─ o quadro tradicional e o retroprojector ─ e os cartazes ou posters. Comparando-se as frequências MV e AV nos dois primeiros gráficos, baseados no número exacto de respostas obtidas, verificaremos que o posicionamento relativo dos três recursos é praticamente o mesmo no terceiro gráfico de frequências acumuladas. [1]
- Estes inquéritos encontram-se no volume II - Anexos: Anexo 1, págs. 2-5;
Anexo 2, págs. 6-10; Anexo 3, págs. 11-12. [5]
- Enquanto a indicação de «não conhecimento» implica obrigatoriamente a
hipótese «Nunca», o inverso não se verifica, pois o professor pode
conhecer determinados recursos e nunca os utilizar no acto pedagógico. [6]
- Apresenta-se no Anexo 3 o modelo padrão que serviu de matriz aos
diferentes 47 inquéritos sobre os sete recursos educativos analisados. [7]
- A última versão do inquérito aos professores resultou da realização e
teste de modelos anteriores, mais desenvolvidos e que se revelaram de
preenchimento difícil e moroso, em virtude de apresentarem partes
descritivas. Ocupando inicialmente 4 páginas, a versão final, de que se
apresenta um exemplar no anexo 3, acabou por ficar reduzida a metade, não
necessitando, à excepção da indicação do nome das disciplinas
leccionadas, de qualquer elemento escrito. [8] - Com base nas várias obras por nós consultadas, geralmente distribui-se um elevado número de inquéritos, de modo a contar com o número de sujeitos que acabam por não dar a resposta pretendida, e a partir daqueles que são recebidos é seleccionado um determinado número aplicando a fórmula matemática da teoria estimativa apresentada em obras teóricas (veja-se, por exemplo, a fórmula indicada por R. E. WALPOLE, Introduction to Statistics, 2º ed., New York, MacMillan Publishing Co. Inc., 1974, p. 174). No nosso caso, uma vez estabelecidos os valores da amostra proporcionalmente à distribuição dos docentes por áreas disciplinares, procurámos através da folha de controlo que acompanhou os inquéritos obter directamente um valor elevado de respostas de acordo com as normas habituais e tendo em conta os parâmetros definidos. |
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