A crise da escola, os

e a actualidade

Prof. Gabriela Alves*

"Ali chegavam para aprender o sonho, a vida a poesia..."

Maria Rosa Colaço

Quando há uns anos os Trovante animavam concertos e corações com esta balada, os isqueiros acendiam-se e as almas emocionavam-se com a imagem de meninos que "vinham para a Escola: a novidade". Esta canção toca gerações e tornar-se-á num clássico da música portuguesa. A beleza do poema de Maria Rosa Colaço que a sustenta é, em boa parte, responsável pelo seu sucesso... mas é uma canção do passado.

No tempo da canção, a Escola era fonte de saber e novidade, detinha o monopólio do conhecimento e da educação. Uma tradição de séculos destacava-a como uma das instituições mais respeitáveis numa sociedade.

Um quarto de século foi o suficiente para fazer estremecer os alicerces deste velho edifício. Uma revolução tecnológica, que já se anunciava com a invenção do cinema, do telefone, da rádio e que se instalou definitivamente com a televisão, os satélites, os computadores, as redes telemáticas, mudou radicalmente a face das sociedades. O mundo em que vivemos, o mundo das auto-estradas da informação, o mundo da omnipresença dos MEDIA já não é o mesmo da Escola da canção.

Hoje, a Escola encontra nos MEDIA um concorrente poderosíssimo e confronta-se com o facto de ter perdido o monopólio do saber e do conhecimento. Graças a eles, o aluno transporta consigo a imagem de um mundo — real ou fictício— que ultrapassa em muito os limites da família e da comunidade. Se a isto juntarmos a noção de que nos países industrializados a televisão é a segunda actividade a que os estudantes dedicam mais tempo, só ultrapassada pelo sono, depressa perceberemos o desafio que a escola tem de enfrentar.

Como traçar uma estratégia de reconstrução de identidade sem passar pela integração dos MEDIA na Educação?

A integração dos MEDIA na Escola não é um assunto pacífico, pois se há quem considere que ao inseri-los se incentivará a influência "perniciosa" destes sobre os jovens, há, ao mesmo tempo, quem defenda a inclusão de uma disciplina específica de "Educação para os MEDIA" nos curricula.

Entendemos, no meio termo, que a maioria acredita que a formação de cidadãos de pleno direito, informados e com espírito crítico, passa por um conhecimento do modo como as mensagens, sobretudo as televisivas, são produzidas. São aqueles que, preocupados com a imensidão das mensagens mediatizadas, acreditam que uma das funções da Escola consiste em preparar os jovens para a Sociedade da Informação. Com efeito, é preciso alfabetizar o olhar, perceber que somos consumidores compulsivos de MEDIA, entender que a imagem do mundo que invade as casas não é inocente, compreender que a televisão não transmite a realidade, mas sim uma representação dessa realidade.

Este papel de descodificação é necessário e urgente. Cabe à Escola, enquanto lugar de aprendizagem, trabalhar as competências do cidadão mediatizado. Este é um dos passos que a Escola tem de dar para reencontrar a sua identidade. Estão os professores, os alunos, a comunidade, cientes disso?n

 

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