índice do almanaque
 
AS ARTES DO TOUREIO

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

ARTE DE MARIALVA

No reinado de D. João V – de 1706 a 1750 – as minas de ouro e de pedras preciosas descobertas no Brasil permitiram a realização de grandes investimentos em Portugal, destacando-se a construção do Aqueduto das Águas Livres em Lisboa e o convento de Mafra.

Este monarca também se interessou pelo desenvolvimento cultural e fundou a Real Academia de História, o Observatório Astrológico do Colégio de Santo Antão e a Biblioteca da Universidade de Coimbra.

Também foi D. João V que mandou construir, no Palácio de Belém, o Picadeiro Real e fundou a Coudelaria de Alter.

Nesses tempos, a Europa desejava seguir a moda de França e em Portugal os cavaleiros passaram a trajar à Luís XV.

Já no reinado seguinte – de D. José, de 1750 a 1777 – destacou-se como "Estribeiro-Mor" D. Pedro de Alcântara e Meneses, 4.º marquês de Marialva, que era um dos melhores cavaleiros e que também toureava a cavalo.

Foi "Mestre de Picaria" outro notável cavaleiro desse tempo, chamado Manuel Carlos de Andrade, que escreveu um excelente tratado de equitação denominado "LUZ DA LIBERAL E NOBRE ARTE DA CAVALARIA" inspirado na arte do marquês de Marialva. Teve tão grande impacto a fama do marquês de Marialva e o livro de Manuel Carlos de Andrade que ainda hoje perdura a designação de "à Marialva" tudo o que se refere ao método de equitação e ao traje dos cavaleiros tauromáquicos portugueses.

 

ARTE DE MONTES

Na história da tauromaquia e no que se refere ao toureio a pé dois toureiros tiveram enorme influência em meados do Século XVIII: Joaquin Rodriguez "Costillares" e Pedro Romero.

Enquanto Pedro Romero, da "escola de Ronda" – neto de Francisco Romero – o seu toureio foi caracterizado pela sobriedade e seriedade, sem adornos, frio, pensado e medido, o toureio de "Costillares" da "escola de Sevilha" tem improvisação e graça e foi este o inventor do lance à verónica e da estocada "a volapie".

Pedro Romero foi nomeado em 1830 pelo rei Fernando VII, portanto com 76 anos, director da Escola de Tauromaquia de Sevilha. Escola que teve também como mestre o matador de toiros Jerónimo José Cândido e foi frequentada por diversos alunos, no período de 1830 a 1834, sendo um deles Francisco Montes Reina "Paquiro", um verdadeiro génio do toureio que sabia matar "recebendo" como Pedro Romero e executar o "volapié" como "Costillares". Foi Francisco Montes "Paquiro" que deu um conceito colectivo de lide, ao ser o primeiro a disciplinar e organizar a sua "quadrilha", onde os picadores e bandarilheiros passaram a ter uma missão específica debaixo da direcção suprema do espada.

Também com "Paquiro" o traje de tourear tomou a forma clássica actual, a que se chamou "traje de luces". O seu toureio foi de tal maneira notável que é costume chamar-se ao toureio a pé a arte de Montes.

Francisco Montes foi gravemente colhido em Madrid, pelo toiro "Rumbón", tendo falecido em virtude dessa colhida em 4 de Abril de 1851. "Como Montes nacen pocos toreros. Los seres privilegiados vienen al mundo en muy escaso número y de tarde en tarde", escreveu Sánchez de Neira.

Paquiro

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