Aurélio Guerra, Indústria Vidreira no concelho de Oliveira de Azeméis. Subsídios para a sua história. Maio, 1991/1994, págs. 33 a 44.

Fábrica de Vidros Progresso, Ldª
(Fábrica de Vidros do Cercal)

No lugar do Cereal, freguesia de Santiago de Riba-UI, na margem direita do ribeiro dos Cavaleiros, existia uma propriedade conhecida por "Moinho Velho" que pertencia ao Conde do Côvo. Essa propriedade, com a área total de dois mil oitocentos metros quadrados era constituída por terreno de lameiro, mato e uma casa de moinhos com duas mós, accionadas pelas águas que corriam por uma levada com início nas imediações da Ponte dos Cavaleiros. Em 26 de Julho de 1907, foi essa propriedade arrendada pelo prazo de dezanove anos, com a renda anual de trinta mil réis, à sociedade por quotas de responsabilidade limitada Santos, Amador & C.ª, Ld.ª, para aí ser construído um estabelecimento fabril designado por Fábrica de Gomas do Cereal. Foram fundadores dessa sociedade António Xavier Gomes dos Santos, casado, engenheiro civil, natural do lugar de Souto, concelho da Vila da Feira, Joaquim César Soares de Pinho, solteiro, maior, proprietário, natural da freguesia de Macinhata da Seixa, concelho de Oliveira de Azeméis, Sebastião Alves Ferreira Leite, casado, capitalista e Manuel da Costa / 34 / Amador Valente, casado, advogado, estes naturais de Oliveira de Azeméis.

Não me sendo possível precisar o tempo que laborou a fábrica de gomas e amidos, sabe-se que esta foi vendida a um grupo de indivíduos com a finalidade de ser adaptada ao fabrico de vidros. A escritura da venda foi lavrada em 31 de Março de 1917, pelo notário Francisco Ferreira de Andrade, em Oliveira de Azeméis, tendo sido exarado que o Doutor Manuel Ferreira da Costa Amador Valente e Joaquim César Soares de Pinho na qualidade de únicos sócios e representantes da firma Santos, Amador & C.ª, Ld.ª venderam aquela fábrica a Augusto de Oliveira Guerra, casado, vidreiro, morador em Oliveira de Azeméis, António Luiz da Costa, casado, proprietário, morador no lugar da Pica, freguesia de Cucujães, Leonel Luiz Dias, casado, vidreiro, morador no lugar dos Moinhos, freguesia de Cucujães, António Luiz Dias da Costa, casado, carpinteiro, morador no lugar de Bustelo, freguesia de São Roque e João da Costa, casado, negociante, morador no lugar de Faria de Cima, freguesia de Cucujães, venda que compreendia todos os maquinismos instalados, o edifício e suas dependências, o terreno em que estava edificada a maior parte da fábrica e que se denominava Lameiro do Cereal e ainda um bocado de terra chamada Lameiro Pequeno, bem como os edifícios e benfeitorias feitas no terreno arrendado, transferindo também para os compradores o direito que tinham ao mesmo arrendamento. O preço da venda foi de oito mil quatrocentos e dez escudos, sendo quatrocentos e dez escudos respeitantes aos imóveis e oito mil escudos respeitantes aos maquinismos instalados. Mais consta da escritura que o pagamento foi integralmente realizado nas seguintes condições: Augusto de Oliveira Guerra, doze vigésimas nonas partes (3.480$00), António Luiz da Costa, oito vigésimas nonas partes (2.320$00), Leonel Luiz Dias, quatro vigésimas nonas partes (1.160$00), António Luiz Dias da Costa, quatro vigésimas nonas partes (1.160$00) e João da Costa, uma vigésima nona parte (290$00). Nessa escritura foi ainda exarado que apesar da aquisição que fizeram dos maquinismos e imobiliários, os compradores ficavam isentos de qualquer responsabilidade no passivo da firma Santos, Amador & C.ª, Ld.ª, que eles vendedores declararam extinta a partir da data da assinatura da aludida escritura.

Não obstante a venda da Fábrica de Gomas do Cereal se ter oficializado em  / 36 / 31 de Março de 1917, o articulado que viria a ser inserto na escritura de venda/ compra já havia merecido, cerca de três meses antes, a concordância de vendedores e compradores. E, confiando na palavra dos compradores, os únicos sócios e representantes da firma dissolvida autorizaram que as obras de adaptação da fábrica de gomas a fábrica de vidros, se iniciassem nos primeiros dias de Janeiro daquele ano. Foi tempo ganho para a conclusão de um enorme volume de obras — construção do forno de fusão das massas vitrificáveis e respectiva chaminé, fornos de calcinação de quartzo e da cozedura de potes, montagem da oficina de corte, roçagem, queima e lapidação, etc. — que em trabalho de autêntica corrida contra o relógio, os novos industriais vidreiros levaram a efeito de modo a que em 23 de Agosto de 1917 se moldaram as primeiras peças de vidro, obtido, pela certa, de uma mistura económica de três elementos, (quartzo, carbonato de soda e carbonato de cal), fundida em potes confeccionados com barro do Boco (Vagos).

   
 

1924 - Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª (Pág. 35) [Fábrica do Cercal]

 

Laborava já a nova fábrica de vidros há mês e meio, quando o notário Francisco Ferreira de Andrade, se deslocou em 9 de Outubro de 1917 ao lugar do Cercal, a fim de elaborar a escritura da constituição da nova sociedade. Em tal documento notarial inseriu-se:

 

"... Esta sociedade por quotas de responsabilidade limitada adopta a denominação de Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, tem a sua sede no lugar do Cercal, freguesia de Santiago de Riba-UI, comarca de Oliveira de Azeméis, no edifício já adquirido pelos cinco primeiros sócios a discriminar e o seu escritório e estabelecimento no mesmo edifício, sendo o seu objectivo a exploração da indústria do vidro. A sociedade teve princípio em dezasseis de Março de mil novecentos e dezassete, dispondo do capital social de dezasseis mil e quinhentos escudos, sendo de seis mil a quota do sócio Augusto de Oliveira Guerra, de quatro mil escudos a quota do sócio António Luiz da Costa, de dois mil escudos a quota de cada um dos sócios António Luiz Dias da Costa e Leonel Luiz Dias e de quinhentos escudos a quota do sócio / 37 / João da Costa, estes cinco sócios proprietários dos imóveis e maquinismos a que se refere a escritura de trinta e um de Março do ano em curso, de mil escudos a quota do sócio José Augusto de Oliveira, casado, vidreiro, morador no lugar de Bustelo, freguesia de São Roque e de quinhentos escudos a quota de cada um dos sócios Alfredo Domingues Jubileu, solteiro, maior, vidreiro e João de Oliveira Henriques, casado, vidreiro, ambos moradores actualmente neste lugar do Cercal. Os sócios Augusto de Oliveira Guerra e António Luiz da Costa, serão os gerentes da sociedade, que a representarão em juízo ou fora dele, activa e passivamente em todos os actos que a ela respeitem; os gerentes auxiliar-se-ão mutuamente, ficando todavia especialmente a cargo do primeiro os serviços da composição dos vidros e a direcção técnica da indústria. Que o edifício da fábrica e suas dependências, os dois terrenos denominados Lameiro do Cercal e Lameiro Pequeno e os edifícios e benfeitorias feitas no terreno arrendado, bem como os maquinismos constantes do balanço e do conhecimento de todos os sócios, ficam transferidos para a sociedade e a pertencer-lhe em pleno domínio. Pelas esposas dos cinco primeiros outorgantes, respectivamente Emília Maria Brandão Guerra, doméstica, Margarida Augusta de Castro Lopes, proprietária, Ana Margarida da Costa, doméstica, Miquelina Gomes Ferreira Dias, doméstica e Maria José da Silva, negociante, foi dito, para todos os efeitos legais, que prestam a sua outorga e consentimento a tudo quanto fica estipulado por seus maridos na presente escritura..."

 

Assim surgiu a quinta fábrica de vidros do concelho de Oliveira de Azeméis, que por força do nome do local onde foi instalada e ainda pela denominação da fábrica que lá existiu, era mais conhecida por Fábrica de Vidros do Cercal.

Enfrentados com os escassos e rudimentares meios de que dispunham, mas / 38 / firmados na sua competência profissional, os fundadores da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, lutando contra tudo e todos, conseguiram com muito trabalho e inaudita perseverança ultrapassar os escolhos com que já contavam e ainda outros imprevistos. Nessa época, a gama de artigos que se fabricava era reduzida, sendo os modelos, na sua maioria, comuns às diversas fábricas, mas nem sempre favorecidos com um bom acabamento ou isentos de defeitos do vidro. A divisa dos corajosos industriais vidreiros baseava-se precisamente em dotar os artigos saídos das suas mãos, do melhor acabamento possível e com isenção absoluta de "pedras", "bolhas" e "cordas" no vidro. A escolha rigorosa dos artigos a comercializar não podia deixar de surtir os seus efeitos para a conquista de clientes com elevado poder de compra, tais como Galvão & Gameiro, Ld.ª, António Braz, Ld.ª, União Comercial de Louças e Vidros, Miranda & Alemão, Ld.ª, Joaquim Vaz Pinheiro, todos de Lisboa e Manuel Pereira Pinto, Aníbal A. de Sousa, Aquilles de Brito e Vacuum Cº, estes do Porto, que passaram a absorver a produção da fábrica.

Nos dois primeiros anos de existência da fábrica, operaram-se diversas alterações, já quanto ao número dos sócios, já quanto ao seu capital social. Com efeito, pelas actas das Assembleias Gerais Extraordinárias datadas de 15 de Janeiro e 15 de Agosto de 1918 e 24 de Julho de 1919, foram autorizados o sócio Augusto de Oliveira Guerra a ceder mil escudos da sua quota ao jovem (foi emancipado para o efeito) empregado de escritório da fábrica Aurélio Silva de Pinho e Costa, o sócio João de Oliveira Henriques a vender a sua quota de quinhentos escudos a Agostinho Lopes da Costa (filho do sócio António Luiz da Costa) e o sócio José Augusto de Oliveira a vender a sua quota de mil escudos ao sócio Aurélio Silva de Pinho e Costa. Em 27 de Outubro, o notário Francisco Ferreira de Andrade deslocou-se ao lugar do Cercal, a fim de lavrar a escritura do aumento de capital, do seguinte teor:

 

"... Os actuais sócios da sociedade por quotas Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, deliberaram elevar o capital de dezasseis mil e quinhentos escudos para vinte e cinco mil e quinhentos escudos, tendo o sócio Agostinho Lopes da Costa, / 39 / solteiro, maior, comerciante, morador no lugar da Pica, freguesia de Cucujães, subscrito a quota de quatro mil e quinhentos escudos, o sócio Aurélio Silva de Pinho e Costa, subscrito a quota de três mil escudos, o sócio António Luiz da Costa, subscrito a quota de quatro mil escudos e o sócio António Luiz Dias da Costa, subscrito a quota de quinhentos escudos. Todas estas quantias estão integralmente realizadas, ficando pertencendo a cada sócio, depois do aumento do capital a que se refere esta escritura, as quotas dos sócios Augusto de Oliveira Guerra, António Luiz da Costa, Aurélio Silva de Pinho e Costa e Agostinho Lopes da Costa, de cinco mil escudos cada uma, a quota do sócio António Luiz Dias da Costa, de dois mil e quinhentos escudos, a quota do sócio Leonel Luiz Dias, de dois mil escudos e as quotas dos sócios João da Costa e Alfredo Domingues Jubileu, de quinhentos escudos cada uma. Que apenas com esta modificação do capital social, fica em pleno vigor o contrato social constante da escritura de constituição da sociedade..."

 

Ultrapassadas as iniciais dificuldades de tesouraria, com origem na boa aceitação dos seus artigos, numa economia cingida e sem espaventos e no aumento do seu capital social, os sócios da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª enriqueceram o património da sociedade, adquirindo entre 1919 e 1921 ao Padre António José Soares, a João Gomes Correia e a Augusto da Silva Pereira três terrenos confinantes com aqueles em que foi edificada a fábrica e ainda o terreno onde ficou instalada a Fábrica de Vidros da Pereira, bem como todos os haveres desta fábrica.

Em 5 de Janeiro de 1921, no cartório notarial do Dr. António José de Oliveira Mourão, na cidade do Porto, foi lavrada uma escritura de constituição de uma sociedade anónima, que não obstante ter a sua sede naquela cidade, viria a ter grande interferência na indústria vidreira do concelho de Oliveira de Azeméis, desde Janeiro de 1921 a Maio de 1926. Da aludida escritura notarial consta:

 

/ 40 / "... É constituída uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, tendo por denominação Companhia Vidreira de Portugal e por objecto o comércio e indústria de vidro nas suas variadas qualidades e aplicações; para a realização deste objectivo poderá a sociedade arrendar ou adquirir fábricas, imobiliários, licenças e direitos provenientes de pedidos de quaisquer concessões ou privilégios que lhe sejam convenientes ou necessários, bem como poderá fusionar-se com outras empresas similares. O capital social é de trezentos contos em dinheiro representado por três mil acções de cem escudos cada uma. Ficam desde já nomeados como vogais do Conselho de Administração, Domingos Alexandrino Ferreira da Silva, casado, industrial, da Rua de Entre-Quintas, número cento e cinquenta e dois, Guilherme Sarsfield, casado, proprietário, da Avenida da Boavista, número duzentos e quarenta e três e João Pinto da Costa Bastos (Conde de Lumbrales), casado, proprietário, da Rua da Picaria, número quarenta e nove, todos três desta cidade, ficando desde já autorizados a adquirir a fábrica e mais haveres e direitos da sociedade sob a denominação de Fábrica a Vapor de Crystaes e Vidraça "A Bohémia", Ld.ª, do lugar de Lações de Cima, em Oliveira de Azeméis..."

 

O capital de trezentos contos foi realizado por vinte e quatro subscritores, com aquisições variáveis entre o mínimo de 50 e o máximo de 300 acções, a que correspondia o capital de 5.000$00 e 30.000$00, respectivamente. Do grupo de accionistas fizeram parte os quatro sócios da Fábrica "A Bohémia", a saber: Francisco de Abreu e Sousa, que subscreveu 300 acções, Domingos Alexandrino Ferreira da Silva, com 170 acções, D. Emília Ferreira da Silva Guimarães, viúva de Luiz Augusto Ferreira da Silva Guimarães e o Dr. Bento Ferreira da Silva Guimarães, que subscreveram 120 acções cada um.

Porque o empreendimento em que os fundadores da Companhia Vidreira / 41 / de Portugal se empenharam envolvia muito dinheiro, pois já era ponto assente que aquela Companhia iria adquirir a Fábrica "A Bohémia" e já existiam conversações para a aquisição da Fábrica de Garrafas de Amora, deliberou o seu Conselho de Administração reforçar o seu capital com a quantia de cem contos. A escritura foi lavrada em 20 de Abril de 1921, isto é, passados três meses e meio sobre a data da sua constituição. Os cem contos foram subscritos por seis dos 24 fundadores e por dois novos accionistas.

Após a aquisição da Fábrica "A Bohémia" pela Companhia Vidreira de Portugal, que tentarei oportunamente analisar com o maior escrÚpulo, desde o longínquo ano de 1902 em que naquela fábrica se moldaram as primeiras peças de vidro, os Administradores daquela nóvel Companhia passaram a assediar frequentemente os sócios da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, fazendo-lhes diversas ofertas para a aquisição desta fábrica. As conversações arrastaram-se ao longo de alguns meses e em Assembleia Geral Extraordinária dos sócios daquela fábrica, realizada em 23 de Dezembro de 1921, predominou a opinião expressa pelos sócios Augusto de Oliveira Guerra e Leonel Luiz Dias, de que se devia vender a fábrica, opinião fundamentada na argumentação de que a luta desigual que estavam a enfrentar com a concorrência, por força da precaridade e escassez do equipamento de que dispunham, era tarefa extremamente violenta e praticamente impossível de sustentar. Nessa reunião, foi decidido com os votos contra de Aurélio Silva de Pinho e Costa, Alfredo Domingues Jubileu e João da Costa vender a Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª à Companhia Vidreira de Portugal.

Ultimadas as negociações, a escritura de venda foi elaborada e subscrita no dia 4 de Janeiro de 1922, no cartório notarial do Dr. António Mourão, no Porto, onde compareceram como primeiro outorgante os sócios daquela fábrica, à excepção de António Luiz da Costa, Leonel Luiz Dias e Alfredo Domingues Jubileu, que se fizeram representar pelo sócio Agostinho Lopes da Costa e como segundo outorgante os três vogais do Conselho de Administração da Companhia Vidreira de Portugal. É do seguinte teor a citada escritura:

 

"... Que na qualidade de Únicos sócios que são da sociedade por quotas de responsabilidade limitada sob a / 42 / denominação Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, vendem por esta escritura à Companhia Vidreira de Portugal, aqui representada pelos três segundos outorgantes, os seguintes bens e direitos: a) Um terreno murado, com cerca de seis mil e quinhentos metros quadrados, com uma pequena casa que serve de escritório e três barracões de madeira que servem para fabrico de vidro, serração de madeiras e olaria, situado no lugar da Pereira, da freguesia de Santiago de Riba-UI, concelho de Oliveira de Azeméis; b) Um outro terreno, com cerca de onze mil metros quadrados, com edificações de pedra e cal, em que se acha instalado um forno a gás, oficinas, armazéns, escritório e casa de habitação, situado no lugar do Cercal, das referidas freguesia e concelho; c) Todos os maquinismos, moldes, ferramentas, utensílios, lenhas, vidro fabricado e em fabricação e enfim tudo quanto existia em trinta e um de Dezembro findo, dentro dos edifícios e daquele que vai ser mencionado na alínea seguinte; d) Todos os direitos e obrigações que para a sociedade transmitente provêm como sublocatária do terreno que é propriedade dos herdeiros de D. Sofia Ferreira Alves da Castro e Lemos – Condessa do Côvo. Que a presente venda e transferência é feita pelo preço de trezentos e trinta contos, pagos trinta mil e trezentos escudos em dinheiro, nesta data, cem contos a pagar também em dinheiro, em quatro prestações de vinte e cinco contos, com vencimentos em trinta e um de Março, trinta de Junho, trinta de Setembro e trinta um de Dezembro do corrente ano e os cento e noventa e nove mil e setecentos escudos restantes serão representados por mil novecentos e noventa e sete acções que subscreveram para o reforço do capital da mesma Companhia, hoje efectuado, a qual deverá entregar essas acções logo que estejam feitos os títulos que as representam..."

 

/ 43 / Na mesma data em que foi oficializada a venda/compra da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, os Administradores da Companhia Vidreira de Portugal, de harmonia com o deliberado em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 12 de Dezembro de 1921, subscreveram uma escritura de reforço do seu capital social, elevando-o de quatrocentos para oitocentos contos, reforço que foi integralmente realizado a dinheiro por 4 fundadores e por 11 accionistas novos. Com as 1997 acções atribuídas à Fábrica da Vidros Progresso, Ld.ª o conjunto dos seus sócios passou a ocupar a posição maioritária na Companhia Vidreira de Portugal, posição que se viria a desagregar com a distribuição das acções por cada um dos seus sócios, nos seguintes quantitativos: 357 acções a cada um dos sócios Augusto de Oliveira Guerra, Aurélio Silva de Pinho e Costa, António Luiz Dias da Costa, Agostinho Lopes da Costa e António Luiz da Costa, 142 acções ao sócio Leonel Luiz Dias e 35 acções a cada um dos sócios Alfredo Domingues Jubileu e João da Costa.

A Companhia Vidreira de Portugal passou assim a ser proprietária de três fábricas no concelho de Oliveira de Azeméis: Fábrica de Vidros "A Bohémia", Fábrica de Vidros do Cercal e Fábrica de Vidros da Pereira, as duas primeiras a laborarem e a última encerrada desde os começos de 1921, explorando ainda em regime de arrendamento a Fábrica de Vidros do Côvo. Dirigiam tecnicamente as três fábricas os accionistas daquela Companhia, Augusto de Oliveira Guerra (857 acções), Francisco de Abreu e Sousa (300 acções), e seu filho António da Abreu e Sousa Sobrinho. Em Fevereiro/Março de 1923, porém, com origem na rescisão de um contrato de trabalho subscrito por estes dois últimos técnicos e a Companhia Vidreira de Portugal na mesma data em que esta Companhia adquiriu a Fábrica "A Bohémia", passou a desempenhar as funções de gerente técnico das três fábricas Augusto de Oliveira Guerra, que para isso se deslocava frequentemente do Cercal, onde residia, a Lações de Cima e ao Côvo, o que por força do primitivismo dos meios de transporte da época, a actividade daquele técnico era exaustiva. Por isso e aliando-se-Ihe as razões invocadas para se processar a venda da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, esta fábrica veio a cessar a sua actividade em 1926, mantendo-se porém ainda em laboração, por cerca de dois anos, a olaria para o fabrico de acessórios refractários destinados aos fornos, / 44 / os quais depois da secagem eram enviados para a Fábrica "A Bohémia" , onde eram "cozidos" em forno próprio e também a moagem do quartzo, feita pelas duas mós accionadas pelas águas do ribeiro dos Cavaleiros ou ribeiro do Cercal, como era e é ainda hoje conhecido, que também era enviado para aquela fábrica.

Parte dos trabalhadores da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª passaram a desempenhar as suas funções na Fábrica "A Bohémia". E porque entendo não ser justo que se vote ao olvido trabalhadores da mais elevada competência profissional, arrancados alguns à rabiça ou enxada e que tanto contribuíram para o prestígio que chegou a ter a indústria vidreira do concelho de Oliveira de Azeméis, não resisto a citar de entre eles os nomes dos vidreiros Leonel Luiz Dias, João do Oliveira Henriques, os irmãos Manuel e Gabriel Moreira, os lapidários Américo de Pinho Dias, Amadeu Dias Ferreira e os irmãos Domingos e Serafim Dias de Almeida e o oleiro António Mira.

 

 

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