No lugar do Cereal, freguesia de Santiago de Riba-UI, na
margem direita do ribeiro dos Cavaleiros, existia uma propriedade conhecida
por "Moinho Velho" que pertencia ao Conde do Côvo. Essa propriedade, com a
área total de dois mil oitocentos metros quadrados era constituída por
terreno de lameiro, mato e uma casa de moinhos com duas mós, accionadas
pelas águas que corriam por uma levada com início nas imediações da Ponte
dos Cavaleiros. Em 26 de Julho de 1907, foi essa propriedade arrendada pelo
prazo de dezanove anos, com a renda anual de trinta mil réis, à sociedade
por quotas de responsabilidade limitada Santos, Amador & C.ª, Ld.ª, para aí
ser construído um estabelecimento fabril designado por Fábrica de Gomas do
Cereal. Foram fundadores dessa sociedade António Xavier Gomes dos Santos,
casado, engenheiro civil, natural do lugar de Souto, concelho da Vila da
Feira, Joaquim César Soares de Pinho, solteiro, maior, proprietário, natural
da freguesia de Macinhata da Seixa, concelho de Oliveira de Azeméis,
Sebastião Alves Ferreira Leite, casado, capitalista e Manuel da Costa
/ 34 /
Amador Valente, casado, advogado, estes naturais de Oliveira de Azeméis.
Não me sendo possível precisar o tempo que laborou a
fábrica de gomas e amidos, sabe-se que esta foi vendida a um grupo de
indivíduos com a finalidade de ser adaptada ao fabrico de vidros. A
escritura da venda foi lavrada em 31 de Março de 1917, pelo notário
Francisco Ferreira de Andrade, em Oliveira de Azeméis, tendo sido exarado
que o Doutor Manuel Ferreira da Costa Amador Valente e Joaquim César Soares
de Pinho na qualidade de únicos sócios e representantes da firma Santos,
Amador & C.ª, Ld.ª venderam aquela fábrica a Augusto de Oliveira Guerra,
casado, vidreiro, morador em Oliveira de Azeméis, António Luiz da Costa,
casado, proprietário, morador no lugar da Pica, freguesia de Cucujães,
Leonel Luiz Dias, casado, vidreiro, morador no lugar dos Moinhos, freguesia
de Cucujães, António Luiz Dias da Costa, casado, carpinteiro, morador no
lugar de Bustelo, freguesia de São Roque e João da Costa, casado,
negociante, morador no lugar de Faria de Cima, freguesia de Cucujães, venda
que compreendia todos os maquinismos instalados, o edifício e suas
dependências, o terreno em que estava edificada a maior parte da fábrica e
que se denominava Lameiro do Cereal e ainda um bocado de terra chamada
Lameiro Pequeno, bem como os edifícios e benfeitorias feitas no terreno
arrendado, transferindo também para os compradores o direito que tinham ao
mesmo arrendamento. O preço da venda foi de oito mil quatrocentos e dez
escudos, sendo quatrocentos e dez escudos respeitantes aos imóveis e oito
mil escudos respeitantes aos maquinismos instalados. Mais consta da
escritura que o pagamento foi integralmente realizado nas seguintes
condições: Augusto de Oliveira Guerra, doze vigésimas nonas partes
(3.480$00), António Luiz da Costa, oito vigésimas nonas partes (2.320$00),
Leonel Luiz Dias, quatro vigésimas nonas partes (1.160$00), António Luiz
Dias da Costa, quatro vigésimas nonas partes (1.160$00) e João da Costa, uma
vigésima nona parte (290$00). Nessa escritura foi ainda exarado que apesar
da aquisição que fizeram dos maquinismos e imobiliários, os compradores
ficavam isentos de qualquer responsabilidade no passivo da firma Santos,
Amador & C.ª, Ld.ª, que eles vendedores declararam extinta a partir da data
da assinatura da aludida escritura.
Não obstante a venda da Fábrica de Gomas do Cereal se ter
oficializado em
/ 36 / 31 de Março de 1917, o
articulado que viria a ser inserto na escritura de venda/ compra já havia
merecido, cerca de três meses antes, a concordância de vendedores e
compradores. E, confiando na palavra dos compradores, os únicos sócios e
representantes da firma dissolvida autorizaram que as obras de adaptação da
fábrica de gomas a fábrica de vidros, se iniciassem nos primeiros dias de
Janeiro daquele ano. Foi tempo ganho para a conclusão de um enorme volume de
obras — construção do forno de fusão das massas vitrificáveis e respectiva
chaminé, fornos de calcinação de quartzo e da cozedura de potes, montagem da
oficina de corte, roçagem, queima e lapidação, etc. — que em trabalho de
autêntica corrida contra o relógio, os novos industriais vidreiros levaram a
efeito de modo a que em 23 de Agosto de 1917 se moldaram as primeiras peças
de vidro, obtido, pela certa, de uma mistura económica de três elementos,
(quartzo, carbonato de soda e carbonato de cal), fundida em potes
confeccionados com barro do Boco (Vagos).
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1924 - Fábrica de
Vidros Progresso, Ld.ª (Pág. 35) [Fábrica do Cercal] |
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Laborava já a nova fábrica de vidros há mês e meio,
quando o notário Francisco Ferreira de Andrade, se deslocou em 9 de Outubro
de 1917 ao lugar do Cercal, a fim de elaborar a escritura da constituição da
nova sociedade. Em tal documento notarial inseriu-se:
"... Esta sociedade por quotas de responsabilidade
limitada adopta a denominação de Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, tem a
sua sede no lugar do Cercal, freguesia de Santiago de Riba-UI, comarca de
Oliveira de Azeméis, no edifício já adquirido pelos cinco primeiros sócios a
discriminar e o seu escritório e estabelecimento no mesmo edifício, sendo o
seu objectivo a exploração da indústria do vidro. A sociedade teve princípio
em dezasseis de Março de mil novecentos e dezassete, dispondo do capital
social de dezasseis mil e quinhentos escudos, sendo de seis mil a quota do
sócio Augusto de Oliveira Guerra, de quatro mil escudos a quota do sócio
António Luiz da Costa, de dois mil escudos a quota de cada um dos sócios
António Luiz Dias da Costa e Leonel Luiz Dias e de quinhentos escudos a
quota do sócio
/ 37 / João da Costa, estes cinco
sócios proprietários dos imóveis e maquinismos a que se refere a escritura
de trinta e um de Março do ano em curso, de mil escudos a quota do sócio
José Augusto de Oliveira, casado, vidreiro, morador no lugar de Bustelo,
freguesia de São Roque e de quinhentos escudos a quota de cada um dos sócios
Alfredo Domingues Jubileu, solteiro, maior, vidreiro e João de Oliveira
Henriques, casado, vidreiro, ambos moradores actualmente neste lugar do
Cercal. Os sócios Augusto de Oliveira Guerra e António Luiz da Costa, serão
os gerentes da sociedade, que a representarão em juízo ou fora dele, activa
e passivamente em todos os actos que a ela respeitem; os gerentes
auxiliar-se-ão mutuamente, ficando todavia especialmente a cargo do primeiro
os serviços da composição dos vidros e a direcção técnica da indústria. Que
o edifício da fábrica e suas dependências, os dois terrenos denominados
Lameiro do Cercal e Lameiro Pequeno e os edifícios e benfeitorias feitas no
terreno arrendado, bem como os maquinismos constantes do balanço e do
conhecimento de todos os sócios, ficam transferidos para a sociedade e a
pertencer-lhe em pleno domínio. Pelas esposas dos cinco primeiros
outorgantes, respectivamente Emília Maria Brandão Guerra, doméstica,
Margarida Augusta de Castro Lopes, proprietária, Ana Margarida da Costa,
doméstica, Miquelina Gomes Ferreira Dias, doméstica e Maria José da Silva,
negociante, foi dito, para todos os efeitos legais, que prestam a sua
outorga e consentimento a tudo quanto fica estipulado por seus maridos na
presente escritura..."
Assim surgiu a quinta fábrica de vidros do concelho de
Oliveira de Azeméis, que por força do nome do local onde foi instalada e
ainda pela denominação da fábrica que lá existiu, era mais conhecida por
Fábrica de Vidros do Cercal.
Enfrentados com os escassos e rudimentares meios de que
dispunham, mas
/ 38 / firmados na sua
competência profissional, os fundadores da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª,
lutando contra tudo e todos, conseguiram com muito trabalho e inaudita
perseverança ultrapassar os escolhos com que já contavam e ainda outros
imprevistos. Nessa época, a gama de artigos que se fabricava era reduzida,
sendo os modelos, na sua maioria, comuns às diversas fábricas, mas nem
sempre favorecidos com um bom acabamento ou isentos de defeitos do vidro. A
divisa dos corajosos industriais vidreiros baseava-se precisamente em dotar
os artigos saídos das suas mãos, do melhor acabamento possível e com isenção
absoluta de "pedras", "bolhas" e "cordas" no vidro. A escolha rigorosa dos
artigos a comercializar não podia deixar de surtir os seus efeitos para a
conquista de clientes com elevado poder de compra, tais como Galvão &
Gameiro, Ld.ª, António Braz, Ld.ª, União Comercial de Louças e Vidros,
Miranda & Alemão, Ld.ª, Joaquim Vaz Pinheiro, todos de Lisboa e Manuel
Pereira Pinto, Aníbal A. de Sousa, Aquilles de Brito e Vacuum Cº, estes do
Porto, que passaram a absorver a produção da fábrica.
Nos dois primeiros anos de existência da fábrica,
operaram-se diversas alterações, já quanto ao número dos sócios, já quanto
ao seu capital social. Com efeito, pelas actas das Assembleias Gerais
Extraordinárias datadas de 15 de Janeiro e 15 de Agosto de 1918 e 24 de
Julho de 1919, foram autorizados o sócio Augusto de Oliveira Guerra a ceder
mil escudos da sua quota ao jovem (foi emancipado para o efeito) empregado
de escritório da fábrica Aurélio Silva de Pinho e Costa, o sócio João de
Oliveira Henriques a vender a sua quota de quinhentos escudos a Agostinho
Lopes da Costa (filho do sócio António Luiz da Costa) e o sócio José Augusto
de Oliveira a vender a sua quota de mil escudos ao sócio Aurélio Silva de
Pinho e Costa. Em 27 de Outubro, o notário Francisco Ferreira de Andrade
deslocou-se ao lugar do Cercal, a fim de lavrar a escritura do aumento de
capital, do seguinte teor:
"... Os actuais sócios da sociedade por quotas Fábrica de
Vidros Progresso, Ld.ª, deliberaram elevar o capital de dezasseis mil e
quinhentos escudos para vinte e cinco mil e quinhentos escudos, tendo o
sócio Agostinho Lopes da Costa,
/ 39 / solteiro, maior,
comerciante, morador no lugar da Pica, freguesia de Cucujães, subscrito a
quota de quatro mil e quinhentos escudos, o sócio Aurélio Silva de Pinho e
Costa, subscrito a quota de três mil escudos, o sócio António Luiz da Costa,
subscrito a quota de quatro mil escudos e o sócio António Luiz Dias da
Costa, subscrito a quota de quinhentos escudos. Todas estas quantias estão
integralmente realizadas, ficando pertencendo a cada sócio, depois do
aumento do capital a que se refere esta escritura, as quotas dos sócios
Augusto de Oliveira Guerra, António Luiz da Costa, Aurélio Silva de Pinho e
Costa e Agostinho Lopes da Costa, de cinco mil escudos cada uma, a quota do
sócio António Luiz Dias da Costa, de dois mil e quinhentos escudos, a quota
do sócio Leonel Luiz Dias, de dois mil escudos e as quotas dos sócios João
da Costa e Alfredo Domingues Jubileu, de quinhentos escudos cada uma. Que
apenas com esta modificação do capital social, fica em pleno vigor o
contrato social constante da escritura de constituição da sociedade..."
Ultrapassadas as iniciais dificuldades de tesouraria, com
origem na boa aceitação dos seus artigos, numa economia cingida e sem
espaventos e no aumento do seu capital social, os sócios da Fábrica de
Vidros Progresso, Ld.ª enriqueceram o património da sociedade, adquirindo
entre 1919 e 1921 ao Padre António José Soares, a João Gomes Correia e a
Augusto da Silva Pereira três terrenos confinantes com aqueles em que foi
edificada a fábrica e ainda o terreno onde ficou instalada a Fábrica de
Vidros da Pereira, bem como todos os haveres desta fábrica.
Em 5 de Janeiro de 1921, no cartório notarial do Dr.
António José de Oliveira Mourão, na cidade do Porto, foi lavrada uma
escritura de constituição de uma sociedade anónima, que não obstante ter a
sua sede naquela cidade, viria a ter grande interferência na indústria
vidreira do concelho de Oliveira de Azeméis, desde Janeiro de 1921 a Maio de
1926. Da aludida escritura notarial consta:
/ 40 /
"... É constituída uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, tendo
por denominação Companhia Vidreira de Portugal e por objecto o comércio e
indústria de vidro nas suas variadas qualidades e aplicações; para a
realização deste objectivo poderá a sociedade arrendar ou adquirir fábricas,
imobiliários, licenças e direitos provenientes de pedidos de quaisquer
concessões ou privilégios que lhe sejam convenientes ou necessários, bem
como poderá fusionar-se com outras empresas similares. O capital social é de
trezentos contos em dinheiro representado por três mil acções de cem escudos
cada uma. Ficam desde já nomeados como vogais do Conselho de Administração,
Domingos Alexandrino Ferreira da Silva, casado, industrial, da Rua de
Entre-Quintas, número cento e cinquenta e dois, Guilherme Sarsfield, casado,
proprietário, da Avenida da Boavista, número duzentos e quarenta e três e
João Pinto da Costa Bastos (Conde de Lumbrales), casado, proprietário, da
Rua da Picaria, número quarenta e nove, todos três desta cidade, ficando
desde já autorizados a adquirir a fábrica e mais haveres e direitos da
sociedade sob a denominação de Fábrica a Vapor de Crystaes e Vidraça "A
Bohémia", Ld.ª, do lugar de Lações de Cima, em Oliveira de Azeméis..."
O capital de trezentos contos foi realizado por vinte e
quatro subscritores, com aquisições variáveis entre o mínimo de 50 e o
máximo de 300 acções, a que correspondia o capital de 5.000$00 e 30.000$00,
respectivamente. Do grupo de accionistas fizeram parte os quatro sócios da
Fábrica "A Bohémia", a saber: Francisco de Abreu e Sousa, que subscreveu 300
acções, Domingos Alexandrino Ferreira da Silva, com 170 acções, D. Emília
Ferreira da Silva Guimarães, viúva de Luiz Augusto Ferreira da Silva
Guimarães e o Dr. Bento Ferreira da Silva Guimarães, que subscreveram 120
acções cada um.
Porque o empreendimento em que os fundadores da Companhia
Vidreira /
41 / de Portugal se empenharam envolvia muito dinheiro,
pois já era ponto assente que aquela Companhia iria adquirir a Fábrica "A
Bohémia" e já existiam conversações para a aquisição da Fábrica de Garrafas
de Amora, deliberou o seu Conselho de Administração reforçar o seu capital
com a quantia de cem contos. A escritura foi lavrada em 20 de Abril de 1921,
isto é, passados três meses e meio sobre a data da sua constituição. Os cem
contos foram subscritos por seis dos 24 fundadores e por dois novos
accionistas.
Após a aquisição da Fábrica "A Bohémia" pela Companhia
Vidreira de Portugal, que tentarei oportunamente analisar com o maior
escrÚpulo, desde o longínquo ano de 1902 em que naquela fábrica se moldaram
as primeiras peças de vidro, os Administradores daquela nóvel Companhia
passaram a assediar frequentemente os sócios da Fábrica de Vidros Progresso,
Ld.ª, fazendo-lhes diversas ofertas para a aquisição desta fábrica. As
conversações arrastaram-se ao longo de alguns meses e em Assembleia Geral
Extraordinária dos sócios daquela fábrica, realizada em 23 de Dezembro de
1921, predominou a opinião expressa pelos sócios Augusto de Oliveira Guerra
e Leonel Luiz Dias, de que se devia vender a fábrica, opinião fundamentada
na argumentação de que a luta desigual que estavam a enfrentar com a
concorrência, por força da precaridade e escassez do equipamento de que
dispunham, era tarefa extremamente violenta e praticamente impossível de
sustentar. Nessa reunião, foi decidido com os votos contra de Aurélio Silva
de Pinho e Costa, Alfredo Domingues Jubileu e João da Costa vender a Fábrica
de Vidros Progresso, Ld.ª à Companhia Vidreira de Portugal.
Ultimadas as negociações, a escritura de venda foi
elaborada e subscrita no dia 4 de Janeiro de 1922, no cartório notarial do
Dr. António Mourão, no Porto, onde compareceram como primeiro outorgante os
sócios daquela fábrica, à excepção de António Luiz da Costa, Leonel Luiz
Dias e Alfredo Domingues Jubileu, que se fizeram representar pelo sócio
Agostinho Lopes da Costa e como segundo outorgante os três vogais do
Conselho de Administração da Companhia Vidreira de Portugal. É do seguinte
teor a citada escritura:
"... Que na qualidade de Únicos sócios que são da
sociedade por quotas de responsabilidade limitada sob a
/ 42 /
denominação Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, vendem por esta escritura à
Companhia Vidreira de Portugal, aqui representada pelos três segundos
outorgantes, os seguintes bens e direitos: a) Um terreno murado, com cerca
de seis mil e quinhentos metros quadrados, com uma pequena casa que serve de
escritório e três barracões de madeira que servem para fabrico de vidro,
serração de madeiras e olaria, situado no lugar da Pereira, da freguesia de
Santiago de Riba-UI, concelho de Oliveira de Azeméis; b) Um outro terreno,
com cerca de onze mil metros quadrados, com edificações de pedra e cal, em
que se acha instalado um forno a gás, oficinas, armazéns, escritório e casa
de habitação, situado no lugar do Cercal, das referidas freguesia e
concelho; c) Todos os maquinismos, moldes, ferramentas, utensílios, lenhas,
vidro fabricado e em fabricação e enfim tudo quanto existia em trinta e um
de Dezembro findo, dentro dos edifícios e daquele que vai ser mencionado na
alínea seguinte; d) Todos os direitos e obrigações que para a sociedade
transmitente provêm como sublocatária do terreno que é propriedade dos
herdeiros de D. Sofia Ferreira Alves da Castro e Lemos – Condessa do Côvo.
Que a presente venda e transferência é feita pelo preço de trezentos e trinta
contos, pagos trinta mil e trezentos escudos em dinheiro, nesta data, cem
contos a pagar também em dinheiro, em quatro prestações de vinte e cinco
contos, com vencimentos em trinta e um de Março, trinta de Junho, trinta de
Setembro e trinta um de Dezembro do corrente ano e os cento e noventa e nove
mil e setecentos escudos restantes serão representados por mil novecentos e
noventa e sete acções que subscreveram para o reforço do capital da mesma
Companhia, hoje efectuado, a qual deverá entregar essas acções logo que
estejam feitos os títulos que as representam..."
/ 43 / Na mesma
data em que foi oficializada a venda/compra da Fábrica de Vidros
Progresso, Ld.ª, os Administradores da Companhia Vidreira de Portugal, de
harmonia com o deliberado em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 12
de Dezembro de 1921, subscreveram uma escritura de reforço do seu capital
social, elevando-o de quatrocentos para oitocentos contos, reforço que foi
integralmente realizado a dinheiro por 4 fundadores e por 11 accionistas
novos. Com as 1997 acções atribuídas à Fábrica da Vidros Progresso, Ld.ª o
conjunto dos seus sócios passou a ocupar a posição maioritária na Companhia
Vidreira de Portugal, posição que se viria a desagregar com a distribuição
das acções por cada um dos seus sócios, nos seguintes quantitativos: 357
acções a cada um dos sócios Augusto de Oliveira Guerra, Aurélio Silva de
Pinho e Costa, António Luiz Dias da Costa, Agostinho Lopes da Costa e
António Luiz da Costa, 142 acções ao sócio Leonel Luiz Dias e 35 acções a
cada um dos sócios Alfredo Domingues Jubileu e João da Costa.
A Companhia Vidreira de Portugal passou assim a ser
proprietária de três fábricas no concelho de Oliveira de Azeméis: Fábrica de
Vidros "A Bohémia", Fábrica de Vidros do Cercal e Fábrica de Vidros da
Pereira, as duas primeiras a laborarem e a última encerrada desde os começos
de 1921, explorando ainda em regime de arrendamento a Fábrica de Vidros do
Côvo. Dirigiam tecnicamente as três fábricas os accionistas daquela
Companhia, Augusto de Oliveira Guerra (857 acções), Francisco de Abreu e
Sousa (300 acções), e seu filho António da Abreu e Sousa Sobrinho. Em
Fevereiro/Março de 1923, porém, com origem na rescisão de um contrato de
trabalho subscrito por estes dois últimos técnicos e a Companhia Vidreira de
Portugal na mesma data em que esta Companhia adquiriu a Fábrica "A Bohémia",
passou a desempenhar as funções de gerente técnico das três fábricas Augusto
de Oliveira Guerra, que para isso se deslocava frequentemente do Cercal,
onde residia, a Lações de Cima e ao Côvo, o que por força do primitivismo
dos meios de transporte da época, a actividade daquele técnico era
exaustiva. Por isso e aliando-se-Ihe as razões invocadas para se processar a
venda da Fábrica de Vidros Progresso, Ld.ª, esta fábrica veio a cessar a sua
actividade em 1926, mantendo-se porém ainda em laboração, por cerca de dois
anos, a olaria para o fabrico de acessórios refractários destinados aos
fornos, /
44 / os quais depois da secagem eram enviados para a
Fábrica "A Bohémia" , onde eram "cozidos" em forno próprio e também a moagem
do quartzo, feita pelas duas mós accionadas pelas águas do ribeiro dos
Cavaleiros ou ribeiro do Cercal, como era e é ainda hoje conhecido, que
também era enviado para aquela fábrica.
Parte dos trabalhadores da Fábrica de Vidros Progresso,
Ld.ª passaram a desempenhar as suas funções na Fábrica "A Bohémia". E porque
entendo não ser justo que se vote ao olvido trabalhadores da mais elevada
competência profissional, arrancados alguns à rabiça ou enxada e que tanto
contribuíram para o prestígio que chegou a ter a indústria vidreira do
concelho de Oliveira de Azeméis, não resisto a citar de entre eles os nomes
dos vidreiros Leonel Luiz Dias, João do Oliveira Henriques, os irmãos Manuel
e Gabriel Moreira, os lapidários Américo de Pinho Dias, Amadeu Dias Ferreira
e os irmãos Domingos e Serafim Dias de Almeida e o oleiro António Mira. |