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Francisco José Rito, Palavras Litorais, 1ª ed.,ed. de autor, 2012, 66 páginas.

Ria de Aveiro

Que saudade dos tempos
em que eras um jardim florido.
O teu leito,
férteis lençóis de veludo,
verdes,
prenhes de bonança,
saciando-nos a alma e o corpo.


Retrato
de outros tempos,
da glória,
das mil embarcações
que te habitavam as margens,
que velejavam,
quando o arrais folgava a escota e
as velas se enfunavam,
orgulhosas,
quais pétalas de rosa branca,
a salpicar a beleza
do teu manto azul!


Ao som das vagas,
os braços remavam,
confiantes.
E tu,
senhora de todas as dores,
embalavas as penas
e os sonhos
das mil vidas
a ti dedicadas.


Hoje mais não és
que um mar de desalento.
E alguns de nós,
fieis enamorados,
escrevemos-te poemas
e canções para te mimar.


Velamos o teu infortúnio!
Cantamos-te ao ouvido
baladas de conforto,
secando uma a uma,
as gotas do teu pranto!


Hoje,
somos nós que te embalamos,
confiantes,
esperançosos,
no dia em que hás-de renascer
do abandono...
In «
Um mar de sentidos»

 

 

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04-05-2018