Aveiro

 
 

Bairro da Beira Mar

O Bairro da Beira Mar
É campo experimental,
Pra quem se quer dedicar
À arte arquitectural.

Acabaram os palheiros,
Vestígio medieval,
Onde os velhos salineiros
Armazenavam o sal.

As casas de rés-do-chão,
Com a fachada caiada,
Estão em vias de extinção,
São espécie ameaçada.

Engenheiros, arquitectos
E meros desenhadores
Congeminaram projectos
Bizarros, inovadores.

Velho bairro projectado
Pra marnotos, pescadores,
Tem vindo a ser transformado
Num mostruário de horrores.

Azulejos WC
E cérceas disparatadas,
Caixilhos em PVC
E alumínio às molhadas.

O ex-bonito Canal,
Da Praça do Peixe antiga,
É um exemplo brutal,
Dum mau gosto duma figa.


Casas de brancas fachadas,
Que se espelhavam na Ria,
Estão agora pintalgadas,
Em atroz policromia.

Pretendem alguns estetas,
Assim, imitar Burano.
Os efeitos são patetas,
De puro estilo burrano.

O selo de garantia,
Do contra-senso total,
Está crescendo, dia-a-dia,
Mesmo junto do canal.

Parece um “bunker” guerreiro,
Com fresta para canhões,
Que destruam, em Aveiro,
As antigas construções.

Eu não sei se este edifício
Tem ou não tem qualidade.
Discordo deste estropício,
Neste sítio da cidade.

Pra aferir a qualidade,
Pode ser Pedra de Toque,
Mas nunca nesta cidade,
Junto ao Canal de São Roque.

O rasgo horizontal,
Bem em cima, junto ao tecto,
É rubrica genial,
De Arquiralho dum Cateto!
                         27.03.2014