David Paiva Martins, Aradas. Um olhar sobre a primeira metade do século XX (Da Junta de Parochia à Junta de Freguesia). 1ª ed., Aradas, Junta de Freguesia de Aradas, 2008, 268 pp.

3.1 – O Padre Pato na mira da nova junta

 

A nova Junta continuou a reunir na sacristia da Igreja até à sessão de 30 de Outubro de 1910. Passou a reunir na casa destinada às reuniões, que era a que foi construída para residência do pároco, a partir da sessão de 6 de Novembro de 1910.

 

 

Na sessão ordinária de 1 de Novembro de 1911 a Junta elegeu para seu presidente João de Oliveira Gamelas e para vice-presidente Alberto João Rosa, que do antecedente já vinham exercendo esses cargos. Nessa mesma sessão, a Junta deliberou agradecer por telegrama ao Governo da República a prontidão com que criou as escolas que a Junta pedira para a freguesia.

 

 

A seguir começou a guerra com o pároco, que, aliás, já tivera um primeiro episódio na proposta de Alberto João Rosa, na sessão de 20 de Novembro de 1910. Na sessão de 12 de Fevereiro de 1911 a Junta decidiu oficiar ao pároco, padre António dos Santos Pato, para que entregasse a Cruz da Fábrica, “que se acha em seu poder”.

 

 

 

Na sessão de 26 de Fevereiro de 1911 a Junta decidiu demolir o muro que existia no cemitério, denominado separador dos “não católicos”. “Para acabar com o preconceito que se tem notado no cemitério”. Antes de o muro ser demolido, foram nomeados peritos para avaliar quanto terá custado a sua construção, “se fizesse disso auto e se anotasse na acta, com vista a ulteriores resoluções”. Na sessão de 12 de Março de 1911 foi apresentado o auto dessa avaliação, que foi transcrito na acta. Os peritos concluíram que o referido muro não terá custado (material e trabalho) mais do que mil e quinhentos réis.

 

 

 

Na sessão ordinária de 26 de Março de 1911 apareceu o padre Pato, acompanhado de grande multidão, em virtude do ofício do presidente da Junta a mandar entregar a Cruz da Fábrica para ser consertada. A multidão, que temia pelo destino da cruz, fez tumulto quando a Junta recusou passar o recibo da cruz, que o padre exigia. O regedor acabou por autuar um dos reclamantes.

 

 

 O cidadão Manuel Germano Simões Ratola, portador da cruz, lembrou que dentro de dias iria haver uma procissão no Bonsucesso e requereu verbalmente que a cruz fosse nessa procissão, sendo reparada só depois – no que a Junta concordou. 

 

 

O cidadão António da Rocha Martins requereu que a cruz figurasse, de então em diante, em todos os actos que era costume servir, incluindo os enterros dos pobres, não se exigindo a estes qualquer remuneração, e se empreste para figurar em actos fora da freguesia, desde que a pessoa que a requisite seja de confiança e se responsabilize pela sua conservação e entrega logo após o acto em que participe, isto porque “a cruz é um objecto de arte antigo que honra a freguesia e que é importante que seja admirado pelas pessoas de fora”. A Junta aprovou por unanimidade essa proposta.

 

 

 

Na sessão extraordinária de 2 de Abril de 1911, a Junta decidiu nomear o vogal Alberto João Rosa como seu representante junto da Comissão Municipal Administrativa, com plenos poderes sobre como se há-de estabelecer o descanso semanal.

 

 

 

Na sessão ordinária de 9 de Abril de 1911, o vogal Alberto João Rosa requereu verbalmente que a verba do orçamento destinada à beneficência escolar fosse aplicada para pagamento de mobiliário da escola masculina do lugar de Arada. O vogal Ribeiro da Rocha não concordou nessa aplicação, declarando que o fim dessa verba era destinado ao benefício das escolas de toda a freguesia, única e simplesmente para compra de livros para todas as crianças pobres. O vogal Alberto João Rosa, insistindo no seu requerimento, propôs que se procedesse a votação – “o que nada ficou resolvido, por nessa ocasião conjuntamente com o vogal Nunes d’Anna, saíram”.

 

 

 

Na sessão ordinária de 23 de Abril de 1911 foi feita a votação do requerimento do vogal Alberto João Rosa na sessão anterior. A maioria não foi favorável à proposta. Mas a Junta resolveu fazer um orçamento suplementar para subsidiar a escola do sexo masculino de Arada.

 

 

A Junta deferiu o pedido de demissão do secretário Joaquim Rei Neto, mandou fazer diversos pagamentos, intimou um cidadão do Bonsucesso a arrancar os arbustos que estavam a mais na demarcação dum seu terreno com o baldio do Poço dos Adobeiros e accionou diversas dívidas por foros.  

 

Ainda nessa sessão, os membros da Junta “resolveram mais compesar a lei da separação e enviar ao Dr. Affonso Costa um telegrama a felicital’o pela sua obra que acaba de decrectar”.

 

 

 

A partir da sessão de 21 de Maio de 1911 as reuniões da Junta passaram a ser de novo feitas na sacristia da Igreja.

 

 

Nessa sessão de 21 de Maio de 1911, por proposta de Alberto Rosa, o secretário passou a ser o vogal José Nunes d’Anna Júnior. O mesmo Alberto Rosa propôs que o referido Nunes d’Anna encontrasse alguém conhecedor do assunto para dar parecer acerca da escrituração desse ano, que não lhe parecia clara e precisa, e propôs também que o livro da receita e despesa fosse trancado e se comprasse um novo onde se registasse a escrituração desde o começo do ano – o que foi aprovado.

 

Foi apreciado e aprovado o orçamento suplementar, que permitirá à Junta contribuir com 25 mil reis para a compra de mobiliário para a escola do sexo masculino do lugar de Arada e reforçar as verbas para expediente e litígios, que se mostravam insuficientes.

 

 

 

Na sessão de 4 de Junho de 1911, o vogal Alberto Rosa propôs que, na falta do presidente, qualquer vogal pudesse assinar o talão para se fazerem enterramentos gratuitos de pessoas reconhecidamente pobres – o que foi aprovado.

 

 

 

Na sessão de 18 de Junho de 1911, foi lido um ofício em que a Comissão Municipal Administrativa pedia que a Junta contribuísse com um subsídio pecuniário para as despesas a fazer para se conseguir que o “Lyceu Nacional d’Aveiro” passasse a “Lyceu Central”.  A Junta respondeu que nesse ano não podia contribuir, por não ter verba, mas que no ano seguinte iria procurar contribuir com uma verba não inferior a 15 mil reis.

 

O vogal Alberto Rosa propôs que se dirigisse um telegrama de congratulações pelas melhoras do “Excellentissimo Ministro da Justiça, o que foi approvado por unanimidade”.

 

 
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