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Prefácio e Nota Prévia


PREFÁCIO

António Christo e João Gonçalves Gaspar, Calendário Histórico de Aveiro, 1ª ed., Aveiro, C.M.A., 1986, 557 págs. (Esgotado)  

Vai para três meses, o Reverendo João Gonçalves Gaspar deixou-me nas mãos um amável e surpreendente convite. Um convite a que, nesse momento, não tive coragem nem força anímica para, embora delicadamente, responder de modo negativo.

Bom Amigo, o Padre Gaspar incumbiu-me de redigir um prefácio para o seu novo livro, o presente CALENDÁRIO HISTÓRICO DE AVEIRO — que já se encontrava, nessa altura, na tipografia, em fase de composição dos textos a imprimir, depois das habituais e sempre indispensáveis revisões.

Logo ordenei umas quantas ideias e procurei tomar apontamentos que reputei necessários para vir a alinhavar o escrito que me fora solicitado. Mas fui protelando a definitiva conclusão e a entrega do trabalho de que fora incumbido — secretamente esperançado em que alguém, com melhores predicados, pudesse vir a ocupar (com vantagens de toda a ordem, de certeza mais que certa!) o posto que me havia sido destinado.

Há poucos dias, porém, desvaneceram-se em definitivo as expectativas que ainda acalentava: o telefone retiniu e a voz do Padre Gaspar, do outro lado da linha, veio lembrar-me de que me encontrava em falta e recordou-me de que era chegada a hora da verdade... E ficou combinado o prazo-limite para a entrega do original que me comprometera a escrever.

Prazo-limite que cumpri, sem recorrer a qualquer prorrogação. E, envidando os melhores esforços no sentido de não defraudar a confiança que o Autor do CALENDÁRIO HISTÓRICO DE AVEIRO depositou na minha pessoa, aqui estou, seguro de que, sendo a empresa arriscada, como os latinos proclamavam, audaces fortuna iuvat...

Sendo assim, alea iacta est! — e vamos em frente.

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Meu saudoso Pai, Dr. António Christo, em Fevereiro de 1959, publicou o primeiro volume das EFEMÉRIDES AVEIRENSES, reunindo em livro (edição da Câmara Municipal de Aveiro, dentro dos planos das actividades culturais comemorativas do Milenário de Aveiro e do Segundo Centenário da elevação a Cidade do nosso burgo), «depois de conferidos e limados», os apontamentos que vinha a dar a público, no semanário «Litoral», exactamente desde 5 de Abril de 1958 (Ano IV – N.º 182), numa Secção igualmente intitulada «Efemérides Aveirenses».

No termo do Prefácio, vêm escritos dois parágrafos, que adiante se transcrevem:

«/.../ Na recolha das notícias, tivemos a preocupação de escolher, de entre as fontes ao nosso alcance, as mais dignas de crédito ou as que, por diversos motivos, se nos afiguravam de maior interesse — e muito lastimamos que, de princípio, não cuidássemos de apontá-las. Mas é evidente que nos foi impossível submetê-las todas a uma verificação rigorosa.

Oxalá que, com as suas inevitáveis lacunas e imperfeições, este trabalho possa ainda ser de alguma utilidade. /.../»

O Pai que tive — e de que tanto me orgulho! — foi um Aveirense ilustre (perdoe-se-me a vaidade com que aqui o proclamo), que dedicou a Aveiro — às gentes, às coisas e aos problemas da região e dos povos de Aveiro — horas sem conta, ao longo dos atribulados anos da sua vida.

Doença que não perdoa roubou-nos a sua presença física, quando muito havia ainda a esperar do seu espírito arguto, da sua inteligência viva, do seu labor probo, da sua reconhecida capacidade nos domínios da Historiografia Aveirense.

Mas ficou-nos o seu exemplo, como meta a atingir, num acrisolado amor a Aveiro. Ficaram incompletas as EFEMÉRIDES AVEIRENSES, dado que o seu segundo volume (que, de resto, apenas carecerá de ligeiros retoques para poder ser enviado aos prelos) não foi ainda editado...

Isso é, no entanto, outra história. Uma história que, noutro ensejo, talvez venha a ser contada...

O aparecimento (já há um quarto de século! — que a roda do Tempo roda sem descanso...) do primeiro tomo das EFEMÉRIDES A VEIRENSES encontrou o desejável eco, agora, no mais recente dos muitos e valiosos trabalhos do Reverendo João Gonçalves Gaspar.

E o convite que o ilustre Sacerdote me endereçou para ser justamente eu a redigir o Prefácio do seu CALENDÁRIO HISTÓRICO DE AVEIRO terá de ser entendido como penhorante e muito gratificante homenagem à memória de meu Pai — honrosa distinção que me cumpre agradecer.

Julgo poder considerar que as EFEMÉRIDES apadrinharam o nascimento do CALENDÁRIO — que será a mais adequada e mais certa resposta a um desafio, a um repto que meu Pai havia lançado, no sentido de se tentar «uma publicação ordenada e sistemática dos monumentos escritos que directamente respeitam à história de Aveiro» e, ainda, «dos que iluminam o clima político) económico e social em que as pessoas se moveram e os factos que se produziram.»

Se ainda pertencesse hoje ao número dos vivos, António Christo seria um homem feliz, ao ver que João Gonçalves Gaspar tinha agarrada bem firme o seu testemunho, na corrida a que comparamos a notável obra com que vem de enriquecer e valorizar enormemente o património da Historiografia Aveirense.

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No conjunto de mal alinhavadas regras que aqui deixo — e a que, em boa verdade, não sei se não será um crime chamar Prefácio... —, faltará uma palavra sobre a Autor da obra que se prefacia. Julgo que é dos cânones.

— Mas que autoridade ou que qualificação me assiste (pobre de mim...) para emitir qualquer juízo acerca dos muitos e muitos méritos do distinto historiógrafo que é o Reverendo João Gonçalves Gaspar?

Colocado diante deste dilema, e quando consultava alguns apontamentos que reli na altura em que passava ao papel o presente texto, fiquei tentado — e não resisti à tentação salvadora... — a concluir com duas transcrições.

A primeira, de uma nótula que se publicou no semanário «Litoral» (N.º 1007, de 13 de Abril de 1974). Reza assim, em dado passo:

«/.../ O Padre João Gonçalves Gaspar, incansável na procura do que foi e deve permanecer na memória dos homens, tem vertido em preciosas laudas, muitas delas já divulgadas em estimáveis publicações) os conhecimentos hauridos nos tombos de toda a parte e na informação de toda a espécie) susceptíveis de trazer luz à história de Aveiro, particularmente à história da Igreja aveirense. /.../»

A segunda, de um excerto do bem elucidativo «prólogo» (intitulada «UM GRATO ENCÓMIO PRELIMINAR») que outro saudoso e muito ilustre Aveirense, Eduardo  Cerqueira, escreveu, em 1983, para o livro AVEIRO — NOTAS HISTÓRICAS. Eis o seu teor:

«/.../ O Padre João Gonçalves Gaspar, mesmo nalgum pormenor conjectural e controvertível, nunca avança um passo que não tenha onde se arrimar e firmar. Nunca diz por dizer, sem fundamento ou sem abono tranquilizador da sua probidade de historiógrafo. Apoia-se nas mais inabaláveis e acreditadas autoridades na matéria. Ou, ainda melhor, deduz, com lógica recta, das próprias fontes, de onde bebe insaciavelmente e de onde os assuntos que trata manam ainda não poluídos. É um aveirógrafo de méritos comprovados, minucioso e meticuloso, um «peixe na água» ao versar temas da feição desta monografia prestimosa, que vem preencher um grande e desconsolador vazio. E usa o crivo fino e exigente que, pelos predicados pessoais e pelos métodos de trabalho adoptados, faz perder as dúvidas, a quem escreve e a quem lê, que sente, por assim dizer inquestionável, todo o sumo histórico e discursivo dos documentos de que o autor se socorre, exaustivamente, e a que se arrima, em cada passo que adianta. /.../»

E é tempo de findar. De não adiantar nada mais. Portanto, ponto final.

(Aveiro — Dezembro/1986)

António Leopoldo Rebocho Christo

 


NOTA PRÉVIA

Há muito que ansiava por retomar, completar e actualizar as «Efemérides Aveirenses», que o Dr. António de Almeida Silva e Cristo não teve a felicidade de concluir. Quando a doença lhe sobreveio e a morte o surpreendeu em 1963, deixava-nos ele um volume editado pela Câmara Municipal em 1959, limitado apenas ao primeiro semestre; com as efemérides que haviam ficado dispersas pelos semanários locais «Correio do Vouga» e «Litoral» e pelos seus manuscritos, parecia-me estar o trabalho simplificado e ser possível avançar para a redacção do segundo semestre, senão mesmo para a reordenação de todo o ano, de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro.

A ideia entusiasmou-me, arrastado certamente pelo secreto desejo de homenagear o Dr. António Cristo, que não só para colocar nas mãos dos Aveirenses mais uma publicação que os ajudasse a conhecer, em singelos comprimidos, algo da história da nossa Terra, dos seus homens e dos seus monumentos. Contudo, não me quedaria apenas num mero trabalho de recolha das efemérides anotadas pelo ilustre extinto; logo procurei completá-lo com mais amplidão e actualizá-lo até aos nossos dias. Distribuíram-se, assim, 3446 efemérides ao longo dos 366 dias do ano, sendo 1430 da competente lavra do Dr. António Cristo e 2016 da minha própria responsabilidade. Pelas letras capitais A e J, que se encontram no fim das efemérides, o leitor facilmente saberá quem é o autor de cada uma: ou António Cristo, ou João Gaspar.

Julguei que os acontecimentos, mencionados nestas páginas, deviam ser todos documentados; isso — creio eu — seria útil para o leitor, interessado em saber mais algum pormenor ou em conhecer textos completos. Assim, às vezes depois de pesquisa demorada e atenta no que respeita a efemérides que me eram estranhas, conseguiu-se que nenhuma aparecesse sem a respectiva fonte de informação.

O leitor tem, pois, à sua disposição uma vasta série de apontamentos históricos referentes à cidade de Aveiro e às freguesias do seu concelho, distribuídos pelos dias do ano, seguindo o calendário. Por fim, nas últimas páginas, encontrará uma sinopse cronológica, para a qual foram escolhidos apenas 250 efemérides.

Aqui e agora, agradeço à Câmara Municipal de Aveiro, que tomou como seu encargo a despesa com a publicação do «Calendário Histórico de Aveiro»; decerto foi mais um contributo para bem da nossa Terra. Agradeço a António Leopoldo Rebocho Cristo, que, atendendo pressuroso ao meu pedido, escreveu o prefácio; as suas palavras significam também uma sincera e sentida homenagem ao seu saudoso Pai e insigne Aveirense. Agradeço aos familiares próximos do Dr. António Cristo — nomeadamente a D. Maria Madalena Rebocho de Albuquerque Cristo, que foi sua esposa, a seus filhos e ao Dr. David da Silva Cristo, seu irmão — as amáveis gentilezas que de todos recebi; o seu contributo foi valioso, sobretudo pondo à minha disposição um espólio religiosamente guardado. Agradeço a Jeremias Bandarra, que projectou e desenhou a capa, com beleza e arte; o seu traço enriqueceu sobremaneira um livro sobre Aveiro. Agradeço a todos os que, de qualquer maneira, concorreram para a feitura desta obra; sem a sua ajuda, ela ficaria mais pobre.

Aveiro, 31 de Dezembro de 1986.

João Gonçalves Gaspar      

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