Maria Albertina Nunes Santos, Manuel José Mendes Leite (1809-1887), In: Aveirenses Ilustres. Retratos à minuta, Edição do X Encontro de Professores de História da Zona Centro, Aveiro, 1992, pp. 19-20.


Manuel José Mendes Leite
(1809-1887)

I

"Combateu e sofreu pela liberdade, nas batalhas, nas emigrações, no parlamento e na imprensa, serviu bem a Pátria como soldado, legislador e funcionário, foi seu timbre o desinteresse; viveu e morreu sem honrarias." Marques Gomes


Mendes Leite nasceu em Aveiro a 18 de Maio de 1809, filho de Bento José Mendes Guimarães e de D. Teresa Thomázia Leite.

Fez os primeiros estudos na sua terra natal, matriculando-se em 1824 na Faculdade de Cânones e Leis da Universidade de Coimbra. Toda a sua personalidade política deve integrar-se numa perspectiva histórica, marcada pela guerra civil que decorre em Portugal entre 1832 e 34, opondo liberais e miguelistas.

A trajectória deste homem" que amava a liberdade" começa a traçar-se a partir do momento em que D. Miguel regressa a Portugal e restaura o absolutismo. Em Aveiro prepara-se a revolução de 16 de Maio de 1828, que infelizmente fracassou, assistindo Mendes Leite, com espanto e terror, à carnificina da "Praça Nova", onde muitos dos seus amigos foram barbaramente assassinados. Tal como outros liberais, vai exilar-se primeiro na Galiza, depois em Inglaterra. Aqui não conheceu, como outros exilados, grandes dificuldades económicas, pois foi recebendo auxílio monetário dos pais e empregou-se no porto de Plymouth. Tendo conhecimento do desembarque do exército liberal no Porto, liderado por D. Pedra, Mendes Leite juntamente com outros exilados, regressará, dirigindo-se para o Porto. Voltará a Inglaterra para conseguir apoio logístico à manutenção do cerco do Porto. Vai alistar-se de imediato no Batalhão de Voluntários Académicos. Assume-se a partir de agora como soldado, fazendo parte de uma guarnição militar que, na serra do Pilar, vai "suportando" as investi das sistemáticas dos exércitos miguelistas.

Finalmente a estabilidade político-social volta ao país, com a assinatura da Convenção de Évora­ Monte (1834) e Mendes Leite regressa a Coimbra, onde conclui a formatura em 1838.

No período do governo Setembrista, assume sucessivamente os seguintes cargos: secretário geral do distrito de Aveiro, presidente da Câmara da mesma cidade e deputado. Passou então do campo de batalha para a tribuna parlamentar, onde, juntamente com José Estêvão corporizou a esquerda liberal. Os seus ideais passaram a ser divulgados no jornal que então fundaram e que perdurou até 1832: " A Revolução de Setembro".

A fibra política deste liberal não se apaga no período cabralista, marcado pela agitação social da Maria da Fonte e Patuleia, movimento desencadeado pelo "novo pombalismo" de Costa Cabral. Nesta fase de conclusões, Mendes Leite assume uma "permanente" movimentação, marcada por conspirações contra a política governativa e fuga para Espanha.

Ao regressar ao país, oscila entre o apoio dado a José Passos e à Junta do Porto, ou a Sá da Bandeira e Junta de Lisboa.

Ultrapassada a crise política coma Convenção do Gramido, a situação continua a não agradar à corrente setembrista, que vai conjurando clandestinamente contra a Rainha, lançando o gérmen da futura vivência republicana.

Com a Regeneração, em 1851, Mendes Leite retoma a vida política na Câmara dos Deputados, onde se preparava o primeiro Acto Adicional à Carta Constitucional.

Vai conseguir que se faça um aditamento que inclua a "abolição da Pena de Morte" para os crimes políticos. Após uma aguerrida sessão parlamentar e posições bastante contraditórias sobre este problema, a proposta acabou por ser aceite depois da votação nominal (50 votos a favor, 32 contra).

Apesar de José Estêvão não estar presente nesta sessão, irá louvar a atitude dos parlamentares, por terem assumido a aprovação deste grande princípio.

Mendes Leite entrou assim definitivamente na vida política e militar da nação portuguesa. Morre em 1887 na sua casa, situada em Aveiro, na Rua do Seixal.

Maria Albertina Nunes Santos
Professora de História
Secundária José Estêvão
Aveiro

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BIBLIOGRAFIA

Gomes, Marques - Memórias de Aveiro
Idem, Aveiro, Berço da Liberdade
ADERAV, Homenagem da Aderav, no centenário da sua morte, artigos de Emanuel Cunha, Armando França e Frederico de Moura.
Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. III
Aveiro e o seu Distrito, voI. 29


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