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N.º 19

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1975 

Algumas Notas sobre Vagos

Pelo Dr. Frederico de Moura

Uma desalentadora carência de bibliografia, uma esquálida indigência de documentos, sideram a mão de quem, com propósitos de fazer incursões nas veredas da História e de tentar iluminar o passado, queira abordar qualquer estudo monográfico sobre o Concelho de Vagos, mormente, se quem o faz, tem pendor para filtrar as informações que lhe chegam no sentido de as separar da ganga de lendas e parasitismos que as poluem.

Quem não goste de percorrer caminhos assentes, apenas, em bases de conjectura e em contributos meramente afirmativos, experimenta uma penosa sensação de desencanto ao pretender catar origens ou, pelo menos, em seguir ao longo das raízes.

É já rotina começar por desentranhar da fileira o «Portugal Antigo e Moderno», de Pinho Leal, à cata, já não digo de informação substancial mas, ao menos, da esperança de um indício, e logo se topa com a afirmação de que «Vacus lhe chamaram os romanos...»; e fica-se na esperança de que o autor justifique, com qualquer documento ou Vestígio, o conteúdo da informação. Mas, há que dizê-lo, fica-se de mãos vazias de qualquer fragmento de tegula, de escrito de autor antigo ou de mísero denário que dê encosto à afirmativa.

Nunca me surgiu no caminho da indagação qualquer elemento que me robustecesse uma esperança de ler um vestígio de romanização.

Não significa o que atrás ficou dito que me sinta com robustez de razões que me permitam optar pela negativa, mas julgo da mais elementar prudência colocar a hipótese entre parênteses até que seja possível catar, em qualquer entulho, um caco de imbrice, o canto de uma lápide, um naco de marco miliário ou o quer que seja que permita irrigar a conjectura da verosimilhança.

Por isso, discretamente, humildemente, opto por me ficar na vaga asserção de que Vagos é povoação muita antiga sem, contudo, ultrapassar a fundura medieval, onde se catam referências documentais que permitem não «falar por falar». E, mesmo assim, não tenho notícia de nenhuma fonte que esteja para trás do tempo de D. Sancho I embora, evidentemente, se possa afirmar a anterioridade da vila com base, exactamente, no documento da chancelaria daquele monarca e que adiante vai indicado:

«Sancius dei Gratia Portugalie Rex una cum fillis et filiabus meis. Facio cartam donationis et perpetue firmitudinis monastério Sancti Salvatoris de Ecclesiola et Priori eiusdem Monasterio domno Suerio et fratribus ibi deo servientibus tam presentibus quam futuris de una mea hermita de Vaágos que vacatur Sancta Maria. Facta carta donationis et oblationis apud Montem maiorem XV Kls Septembris Ineª MªCCª XXXu Villa».

Sem pretender que este documento seja tido como certidão de idade de Vagos, julgo que merece ser considerada como prova, provada, da importância que, já na aurora do Século XIII, possuía a vila. Na verdade o documento é datado de 15 das Kalendas de Setembro de MCCXXXVIII da era de César o que, reduzida à era de Cristo, nos dá a data de 18 de Agosto de 1200.

Para além deste documento que é o mais antigo que conheço topei, ainda, com outro a que, muito tangencialmente, vou aludir a título de mera ilustração dos juízos atrás formulados. Assim, num rol de igrejas do Bispado de Coimbra do padroado régio de 1209 há uma referência a «Sancta Maria de Vaagos» e numa inquirição e registo de foros impostos aos moradores encontra-se também, uma referência a «Vaãgos e Sorens», – a «Sorens» que corresponde ao actual lugar de Santa Catarina.

Numa carta de D. João I de 30 de Abril de 1394 nova referência aparece nos termos que a seguir se transcrevem: / 6 /

«Sabede que os vereadores e os provedores e homeens boons desa villa (de Aveyro) Nos emviarom dizer que per os Reys que ante nos foram foi mandada per suas cartas que nenhummaa pessoa das comarcas da dita villa nom lançassem covãõas pera sibas nem pera outras cosas nas Veas de Vaagos e do dito logo daveyro e de suas e das outras comarcas da redor per hu corriam navyos de marear e deitavam Redes de pescar sob pena daquelles que o fezessem paguassem I livras da moeda antiggua e Serem presos e nom soltos ataa merçee del Rey».

Enxugue o leitor a transpiração nesta prosa vetusta antes de andarmos para diante onde se dará uma ligeira resenha do que há de essencial sobre o «Senhorio de Vagos» que data de 1384 por doação do Mestre de Avis, ainda defensor do reino, e que depois de rei o veio a perpetuar em 26 de Fevereiro de 1412 a João Gomes da Silva.

Em 24 de Fevereiro de 1650 o 10º Senhor de Vagos – João da Silva Telo de Meneses – foi feito Conde de Aveiras, sendo o décimo quinto Senhor – Francisco da Silva Telo de Meneses Corte Real – 6.º Conde, sido feito Marquês de Vagos em 1802.

O Senhorio viria a acabar com o décimo oitavo descendente e 4.ª Marquesa, D. Maria José da Silva TeIes de Meneses Corte Real.

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De todo este passado (inclusive do importante Senhorio de Vagos) nada ficou que testemunhe qualquer grandeza do passado: nem capela, nem solar, nem simples túmulo, sabido, como é, que os Silvas tinham o seu panteão em S. Marcos. Apenas nuns brasões mutilados se topa, ainda, com o leão rompante dos Silvas a atestar a fidalguia passada...

De resto, se alguma construção avultou na chateza pobre da vila, tudo se esboroou em caliça, não deixando à vista, nem sequer, a graça de uma cantaria ou de padieira datada que se salvasse do entulho dos adobes ou da taipa da construção.

Capela de Santo António – Séc. XVII – à entrada norte da vila.

Apenas um testemunho epigráfico se podia ler na parede do norte da igreja matriz hoje demolida e que rezava assim:

EL REI DO(M) AFONSOO QV

INTO DEV ESTA IGREJA

AO MOSTEIRO DE S. MARCOS

AO QVAL ESTA VNDIA IN PER

PETVVM NO ESPIRITVAL E

TEMPORAL ERA D(E) 1452

Para além disto há a assinalar duas capelas da planta redonda, uma quase no extremo norte da vila e dedicada a Santo António e que é do Século XVII, embora muito desfigurada por obras posteriores, e outra na entrada, do lado do nascente, dedicado ao Mártir São Sebastião, que ostenta, ainda, na padieira da porta uma inscrição que diz: + C 1614 ANOS + e que, há pouco tempo, foi vítima de uma bárbara agressão desfigurante quando lhe substituíram o gracioso telhado por um ignóbil funil de cimento armado, num total desrespeito pelo bom-senso, pela estética e pela anciania da graciosa construção.

Nestas rápidas anotações não pode deixar-se sem uma referência especial o Santuário da Senhora de Vagos que é, por razões de ordem vária, profundamente ligado à história de Vagos.

Sendo difícil desentulhar a sua história do parasitismo das tradições lendárias que envolvem o culto e que dão origem, até, a incongruências cronológicas do maior calibre, podemos, sem sombra de dúvida, dizer que o culto é muito antigo. Medievalmente conhecido como de Santa Maria de Vagos, o Santuário foi contemplado no testamento de D. Afonso II com 100 morabitinos («Ecclesia S Mariae de Vagos C morabit. pro meo aniversário»); e, também, D. Sancho II se não esquece dele atribuindo-lhe nas suas disposições / 7 / testamentárias 200 morabitinos («Sancte Mariae de Vagos CC morabit. pro meo aniversário, ex quibus comparent unam haereditatem»).

De um folheto de cordel publicado há anos (a publicação não tem a data em que foi impressa) transcrevemos, por pura curiosidade, o que a Ienda, de mistura com alguma realidade histórica, teceu acerca do culto da Senhora de Vagos:

«Em quanto à origem d'esta Santa Imagem e da era em que se lhe edificou o seu Santuário, não há documento autentico e apenas a tradição nos diz alguma coisa sobre o assunto, não obstante haver alguma divergência.

Assim, segundo uns, a manifestação da Senhora fôra revelada em sonhos a um lavrador e a ele se atribue a fabrica da ermida e da Torre, e ao mesmo se atribue a passagem do braço de mar a pé enxuto, e segundo outros a revelação fôra feita a EI Rei D. Sancho 2.º, mas como quem fez a doação da Caza la Senhora ao mosteiro de Grijó, foi D. Sancho 1.º é natural que foi a este feita a revelação e não ao 2.º. Refere mais a tradição que, passando um navio francez pela costa de Portugal, cujo capitão trazia nele uma formosa Imagem da Virgem, apanhou tão grande tempestade, que fez naufragar o navio, despedaçando-se na costa.

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S. Miguel, na fachada posterior da Igreja de Sôza.

Entre o pouco que o capitão salvou foi a Imagem que n'ele trazia. Vendo-se o capitão na praia e temendo que lhe roubassem a sagrada Imagem, deliberou escondê-la em uma mata que ficava à vista e distante do mar perto de uma légua e logo com os tripulantes do navio partiu para a Vila de Esgueira, povoação que lhe ficava mais próxima, a dar parte ao pároco da freguesia para que, com a devida veneração tratasse de a conduzir para a sua egreja ou dar-lhe condigna colocação.

Veio logo o paroco, acompanhado de muitas pessoas e chegando à mata onde o capitão havia ocultado a Imagem não descobriram o local aonde Ela tinha sido escondida, por mais deligências que para isso fizessem. Diz mais a tradição que, estando EI Rei D. Sancho I na cidade de Vizeu lhe apareceu a Senhora em sonhos e lhe pediu que fosse áquele local onde se achava a sua Imagem e ali lhe edificasse uma caza aonde fosse venerada, e que o mesmo Rei não se detendo nem duvidando da revelação se pôs a caminho para dar cumprimento ao que se lhe pedira, sem outra guia além da que o sonho lhe indicara e com muita facilidade se achou no sítio revelado aonde encontrou a sagrada Imagem, mandando logo edificar uma capela e levantar uma torre para defeza dos que assistissem ao culto da Senhora, pois que naqueles tempos os piratas mouros abordavam ás praias para cometerem latrocínios.

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Palácio da Justiça de Vagos

Fundou-se o Santuário da Senhora na referida mata que ficava afastada do mar aproximadamente uma legua, como já se disse, e a pequena distância da torre. D'esta se vêem ainda hoje duas paredes construídas com dura argamassa, e de pequena altura, mas diz a tradição que a parte enterrada na areia atinge uma altura considerável. A esta ermida aplicou El Rei rendas para sua conservação e fabrica e crê-se que depois, fizesse doação aos religiosos de Grijó com todas as rendas e pertenças. Diz ainda a tradição que, pouco tempo depois a Santa Imagem foi colocada na sua ermida, um fidalgo das proximidades da Serra da Estrela, de nome Estevão Coelho, estando atacado de lepra, e tendo feito varias promessas a santos, não obteve remedio para tão terrível doença, e tendo uma revelação em sonho de que n'aquela mata estava a milagrosa Imagem da Virgem e que ali se dirigisse e a venerasse, pois que por sua intercessão sararia, pôz-se a caminho em direcção ao local aonde a Senhora se encontrava conforme a mesma revelação, sem embaraço de um braço de mar ou rio que se metia de permeio junto á Vila de Vagos, o qual passou a pé enxuto no local denominado Soalhal, defronte da torre, rio este em que naquele tempo navegavam embarcações de grande tonelagem. Estêvão Coelho não podia acreditar na existência / 9 / de tal rio, não obstante os seus creados lhe dizerem que a sua demora fôra devida á passagem do rio que ainda hoje existe.

Tendo o devoto Estêvão Coelho feito oração a Nossa Senhora de Vagos, logo se achou totalmente curado e vendo-se assim livre de tão feia e terrível enfermidade, fez voto à Santa Imagem de viver e morrer na sua ermida aonde de facto foi sepultado e deixou á Senhora muitas rendas que mais tarde, pela doação feita por D. Sancho aos religiosos de Grijó passaram para seu domínio. Sucedeu tambem por aqueles tempos, em que os milagres de Nossa Senhora de Vagos se tornaram conhecidos, sofrerem os povos de Cantanhede uma grande seca e esterilidade por espaço de quatro anos, em que todos os dias faziam deprecações ao Céo, e indo em procissão á Senhora de Vaeziela, ouviram tanger um sino para o lado do mar, e parecendo-lhes que era em S. Tomé de Mira, para ali se dirigiram até que, chegados lá, continuaram a ouvir o som do sino.

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Fachada posterior da Igreja de Sôza.

Prosseguiram na jornada seguindo a voz do sino, vindo parar á ermida de Nossa Senhora de Vagos, que dista de S. Tomé tres legoas para o Norte.

Parou o toque do sino, e logo pela intercessão da Virgem e a rogo do povo de Cantanhede as nuvens se desfizeram em copiosa chuva. Em acção de graças por tão assinalado milagre, fizeram os povos de Cantanhede voto-irrevogável de, em todos os anos na primeira oitava do Espírito Santo, virem em procissão ao Santuário de Nossa Senhora de Vagos, seguindo o mesmo caminho de S. Tomé e pela beira mar.

Nesta romaria faziam e ainda hoje fazem grandes festas e despezas em louvor de Nossa Senhora de Vagos, distribuindo bodos em dinheiro, carne, pão e vinho.

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Vista da Piscina e fachada posterior do Edifício dos Paços do Concelho.

A esta romaria também concorria a Camara de Cantanhede, mas há bastantes anos que deixou de cumprir este religioso costume, desde que lhe cortaram no orçamento a verba a isso destinada.

Todavia os povos de Cantanhede e circunvisinhos ainda hoje tem uma grande veneração pela Senhora de Vagos.

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Paisagem das praias marginais do Rio Boco.

Muitos anos depois da fundação da ermida foi necessário mudal-a para o local aonde hoje se encontra por causa da invasão das areias, e da antiga ermida não resta vestigio algum. Diz ainda a tradição que, conduzida a Imagem para a nova ermida, edificada a meia legoa da torre d'ali se retirou por quatro vezes para a antiga ermida aonde se achavam os ossos do seu ermitão Estevão Coelho e logo que se trasladou a sua ossada para a nova capela não mais a Senhora se retirou d'ela. Esta imagem com a invocação de Nossa Senhora de Vagos tem um metro e dez centímetros de altura e conserva no braço esquerdo a Imagem do Menino Jesus.

A ermida é de modesta estrutura e antigamente para a sua conservação, culto e despesas da fabrica concorria o Convento de Grijó.

Junto à ermida construíram-se umas casas que serviam para residencias dos ermitões. Os Condes de Cantanhede, pela grande devoção que tinham pela Senhora de Vagos, mandaram construir ali umas casas onde vinham estar de novena e tambem para uso dos moradores da vila de Cantanhede e povos visinhos quando vinham á romaria. Também os senhores de Vila Verde quando viviam em Angeja mandaram construir outra casa onde vinham estar de novena. Atualmente não existem vestígios destas casas.»

Há no decorrer deste relato uma referência a Estêvão Coelho que aparece, como miraculosamente curado de lepra por milagre da Senhora de Vagos. Trata-se da lenda a apoderar-se de um fundo real para construir a sua legenda, pois que, parece que, realmente, a existência de Estêvão Coelho como a sua ligação ao Santuário tem a sua realidade que pode até comprovar-se com testemunhos concretos.

Assim o Podre Nogueira Gonçalves aventa a hipótese, como muito provável, de que um pequeno escudo que existe cravado na parede, e acima do postigo que fica ao lado direito do portaI do Santuário, e onde avulta, no meio do esparrinhado da cal com que barbaramente o cobriram, um leão rompante que aquele ilustre investigador interpreta como do brasão dos Coelhos «sem a bordadura tradicional» e que «parece ter feito parte do Epitáfio de Estêvão Coelho, cavaleiro da ordem de Cristo, falecido em 1515.»

A Imagem da Senhora de Vagos, de calcário (coimbrão ?), para além de estar mutilada, foi poluída na sua policromia originária pela tinta de um broxante [ou de vários broxantes (?)] que fez desaparecer a subtileza da primitiva pintura. Encontra-se, além disso, envolvida por um vestuário adventício que não permite ver a escultura que, aliás, é vestida, nos seus panejamentos. / 11 / Tudo leva a crer que se trata de uma escultura do Século XIV e que bem mereceria um tratamento adequado em oficina especializada que a decapasse de repinturas desfigurantes e a restituísse à sua primitiva pureza estética.

Onde teria sido a primitiva capela é assunto muito controvertido embora, a tradição lhe tenha atribuído a localização junto da torre militar de que, ainda há pouco tempo, se viam uns restos de cunhal aflorando à superfície da duna, a menos de 2 quilómetros do actual Santuário. Também aqui a tradição oral se deixou infestar por contributos lendários que têm tido ressonância através dos tempos mas que – tudo leva a crer – se encontram muito distantes da verdade. Teria a Torre militar sido construída para protecção da ermida? Ou, ao contrário, teria a fábrica da ermida aproveitado a Torre militar para lhe usufruir a protecção? E de quando será a construção dessa Torre, cujas paredes eram feitas de materiais miúdos e traduzindo a falta de pedra na região?

O actual proprietário do terreno onde existiram as «paredes da Torre» está interessado em fazer escavações no local que poderão vir a trazer alguma luz sobre o assunto, aguardando, com viva curiosidade, as possibilidades de se esclarecerem alguns problemas emaranhados.

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Para mostrar ao turista guloso de motivos de arte e arqueologia não tem Vagos coisa de monta. Do seu passado vetusto e do fausto dos Senhores de Vagos nada resta de imponente a fazer saliência na paisagem. A erosão dos anos foi reduzindo a poeira a pouca consistência de construções que, porventura, tenham existido e em que a pedra, por carência local desta matéria, terá sido substituída pelo adobe, de lama ou de argamassa, tradicional nesta região. Com excepção das duas «Capelas Redondas» já referidas e de um ou outro vestígio que penosamente se cata embutido numa parede ou guardado nalguma casa particular, tudo se esvaiu em pó se é que alguma coisa de notável chegou a existir.

Escudete com leão rompante que se presume tenha pertencido à lápide funerária de Estêvão Coelho.


Assim, nada mais resta ao viajante interessado que não seja regalar o sensório na paisagem almofadante e mimosa que cerca a vila e numa ou noutra miudeza que, sem preocupações de minúcia inventariante, nos permitimos indicar como contributo para um sumário roteiro.
/ 13 /

Assim, no magro espólio da Igreja paroquial é de anotar um São Tiago de madeira do Século XVI já engraxado por um santeiro de mau gosto que lhe desvirtuou a policromia inicial, uma «Virgem com o Menino», do Século XVIII, também de madeira e que não pode ser considerada obra corrente, um S. Marcos do Século XV mas de características bastante populares, como, também vulgares, embora com o seu interesse, um Santo Estêvão e uma Santo Luzia do século XVI. De anotar, também, a Custódia de prata dourada do Século XVII e a Píxide, também de prata dourada do Século XVIII e pouco mais.

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Imagem da Senhora da Romã (Senhora de Rocamador) do século XIV (?), recentemente encontrada na parede de uma capela de Sôza.

*

*   *

Não quero fechar estas ligeiras notas descritivas sem fazer uma referência à vizinha vila de Sôza que, pela sua antiguidade, há interesse em anotar. Com efeito Sôza já aparece citada em 1088. Foi D. Sancho I quem deu Sôza em 1192 a Santo Maria de Rocamador («EccIesie Sancta Mariae de Rupe Aamatoris de Villa que vocatur Sosio et fratrubus ibiden Deo servientibus»).

Parece poder concluir-se que terá sido em Portugal a sede da ordem monástica de Rocamados oriunda de França, do departamento de Lot.

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Desse passado e do culto da Senhora de Rocamador existem como testemunhas duas imagens notáveis: a primeira e que, há muito tempo, se encontra na Igreja de Sôza, é uma «Senhora da Romã» que parece oriunda de oficina de Coimbra, é de calcário policromado, e data da primeira metade do século XV; a outra foi encontrada há pouco tempo, na altura dos obras de restauro da Matriz de Sôza, e na parede de uma capela, pelo Reitor Fragoso que então paroquiava a freguesia e é, também, de calcário e com ligeiros vestígios de policromia já muito delidos; é um excelente exemplar que parece ser do século XIV (?).

Damos neste trabalho fotogravuras dos dois exemplares e, também, uma reprodução da primeira, executada, primorosamente, em biscoito na Fábrica da Vista Alegre.

A Senhora de Rocamador da Igreja de Sôza – séc. XV.

Para além disto há ainda a referir um Cristo Crucificado – o «Senhor da Agonia» – obra do princípio do Século XIX que é de anotar pela sua minuciosidade oriunda de mão de artista de muito boa qualidade, quer pela escultura, quer pela policromia.

 

Do nosso tempo há a referir as obras de Arte do Palácio da Justiça: 2 baixos relevos do Mestre Euclides Vaz, 3 vitrais de Júlio Resende e uma bela cerâmica de Querubim Lapa, na sala de Audiências.

Dilatar mais estas considerações que, aliás, não pretendem mais do que indicar o pouco que Vagos guarda no seu espólio, seria fazer prosa sem recheio e, consequentemente, ludibriar o leitor que sobre o que escrevi gastasse os olhos.

Por isso encerram-se, por aqui, as ligeiras considerações que se fizeram aí para trás para satisfazer uma solicitação que considerámos imperativa e a que, muito gostosamente, aderimos com a nossa boa vontade.

Vagos, 14 de Julho de 1975.

 

páginas 5 a 13

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