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N.º 3

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1967 

 

Um escultor aveirense

 

Romão Júnior (auto-retrato)

 
 

Romão Júnior


 

 

 

Romão Júnior, de seu nome completo José da Maia Romão Júnior, nasceu em Aveiro a 30 de Outubro de 1878, tendo falecido na mesma cidade no dia 25 de Agosto de 1949. Filho de João da Maia Romão, outro artista aveirense, frequentou a Escola de Belas-Artes no Porto, onde seguiu os cursos de desenho, pintura e escultura. Entre outros mestres foi discípulo do grande pintor Marques de Oliveira. Na aludida escola, teve como condiscípulo outro aveirense, Carlos Mendes.

De anotar que João da Maia Romão foi professor de desenho no nosso liceu, tendo sido grande amigo de José Estêvão. Mais tarde, seria mesmo presidente da Comissão que erigiu o monumento ao Tribuno e autor do pedestal, ou seja, da parte arquitectónica do mesmo monumento.

Romão Júnior casou no Porto, em primeiras núpcias com a grande pintora Margarida Costa, filha de outro pintor, Júlio Costa. Este Júlio Costa era, por seu turno, sobrinho de António José da Costa, o mais notável pintor de flores que tem havido em Portugal.

Nos primeiros anos da sua carreira artística, a de escultor, Romão Júnior participou, no Porto, em algumas exposições, sendo distinguido pela crítica. Em 1908, no Ateneu Comercial, a família referida, altamente conceituada nos meios artísticos do Porto, levou a efeito uma exposição colectiva. Enquanto António José da Costa, Júlio Costa e Margarida Costa expuseram as suas telas, Romão Júnior apresentou trabalhos de escultura.

Mais tarde fixou-se em Aveiro, passando a exercer depois, talvez em 1926, o cargo de mestre de modelação na Escola Industrial e Comercial de Fernando Caldeira. Alguns dos seus alunos chegaram a impor-se, muito especialmente João Calisto, também já falecido.

Homem Cristo  A família de António José da Costa.  O Cego de Maio.
 

/ 46 / Romão Júnior é autor de numerosos trabalhos. Da primeira fase da sua vida artística destacam-se o monumento ao heróico Cego de Maio, na Póvoa de Varzim; os bustos do jornalista Oliveira Alvarenga e do general João de Almeida (este existente num quartel da cidade da Guarda); os medalhões de Eça de Queirós, Camilo, Antero, Teófilo Braga, Guerra Junqueiro e Tomás Ribeiro, que se podem ver na Livraria Lello, Porto; pequenos medalhões-retrato de Guerra Junqueiro no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, da Figueira da Foz, e de Manuel de Arriaga; Cavaleiro Negro, baixo-relevo, a Procissão da Miséria; a família de António José da Costa (terra-cota); os Quatro Evangelistas (baixos-relevos na capela de Mões, Castro Daire); busto de Manuel Firmino de Almeida Maia, encomendado por uma comissão e que, depois de ter estado longos anos no nosso Museu, se pode ver hoje no Jardim e Parque do Infante D. Pedro; um baixo-relevo no monumento aos Vencidos do 31 de Janeiro, no Prado do Repouso. Porto.

O Cavaleiro Negro
O Cavaleiro Negro

Pouco antes de 1930, Romão Júnior ficou impossibilitado, por doença, de utilizar a mão direita. Graças a um milagre de vontade, habituou-se então a modelar com a mão esquerda. Desta segunda fase, e entre outros, são os seguintes trabalhos: Mário Duarte (medalhão existente no Beira-Mar) e destinado a um monumento àquele pioneiro desportivo; João Grave (medalhão-retrato na biblioteca de uma colectividade de Vagos); Homem Cristo (medalhão-retrato no Jardim-Escola «João de Deus», Lisboa); busto da República (na Escola Industrial de Aveiro); busto do próprio Artista; Dr. Alberto Soares Machado (medalhão-retrato de que é possuidora a família deste médico aveirense).

Artista de talento, dominando perfeitamente a técnica, é um nome que perdura na Arte portuguesa. Exigente consigo próprio, destruía muitos dos trabalhos que ia modelando. Ainda assim, a sua obra é um tanto vasta, embora mal conhecida de bastantes. Deve dizer-se, e sem receio de qualquer desmentido, que a maioria dos trabalhos abandonados ou destruídos pelo Artista só lhe podia acrescentar o prestígio, que o tinha, e em alto grau, no seio dos colegas seus contemporâneos.

 

páginas 45 e 46

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