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N.º 23/25

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

1977/1978

O I.N.I.A.

no desenvolvimento da região do Vouga

Por Firmino Mendes Ramos

1 – A região do VOUGA e a Economia Nacional

O nosso País importou, em 1976, carne no valor de 3 milhões de contos, apesar de as capitações portuguesas ficarem abaixo das de todos os países desenvolvidos do ocidente europeu (Quadro n.º 1 – Anexo).

No que se refere a leite e produtos lácteos há também acentuadas carências (Quadro n.º 2 – Anexo).

Para alimentarmos uma pecuária tão fortemente deficitária, tivemos de importar, em 1976, milho e sorgo no valor de 7,7 milhões de contos, sendo os valores dispendidos no exterior para aquisição de soja, amendoim e girassol também consideráveis (Quadro n.º 3 – Anexo).

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Fertilizados pelas suas águas, os campos marginais proporcionam excelentes e variadíssimas culturas aos seus proprietários.

É, pois, urgente sabermos se temos ou não condições para aumentarmos a nossa Produção Pecuária e se somos ou não capazes de produzir os alimentos-base para sustentar os efectivos pecuários de que carecemos.

Se, por um lado, os nossos balanços hídricos apresentam um grande déficit no período primaveril-estival, temos, em contrapartida, valores de radiação global dos mais elevados do Mundo. Será que no jogo possível destas duas realidades encontramos a chave da nossa auto-suficiência?

A região do Vouga marca uma posição saliente no âmbito da Pecuária Nacional. Já em 1972 (I.N.E.) o distrito de Aveiro só foi suplantado pelo de Braga no número de cabeças de bovinos e está num primeiro lugar destacado quanto ao número de vacas turinas.

Na análise dos factores de produção de leite em várias explorações da região de Aveiro, Ramiro do Rosário e outros (1975) verificaram uma estreita correlação entre o custo da alimentação e o custo final de obtenção de leite (53 – 66 %). / 15 /

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Vouga, «o mais lusitano rio português», no dizer de Aquilino Ribeiro.

Nos custos da alimentação do gado leiteiro, a proporção entre os custos das forragens e os custos dos concentrados por litro de leite produzido são muito variáveis, a saber: 1$86 a 4$42 para as primeiras e $60 a 2$87 para os segundos.

Segue-se, por ordem decrescente, a mão-de-obra com custos que vão de $82 a 2$70 por litro de leite produzido.

A substituição, sempre que possível, da produção de forragem por prados permanentes ou temporários – em que o pastoreio seja a forma dominante ou exclusiva – e a utilização minimamente possível de concentrados, fará cair o custo da alimentação.

A considerável melhoria de manejo de gado resultante da utilização de parques bem dimensionados conduzirá, por seu turno, à diminuição de custos de mão-de-obra.

Mas, além de produzir melhor, nós podemos e precisamos de produzir mais.

O preço por litro de leite está também muito relacionado com o número de animais da exploração, sendo – segundo os já citados autores – as explorações com 10 a 30 hectares e efectivos pecuários de 20 a 40 vacas, as menos vulneráveis. Cabe aqui um papel de muito relevo ao associativismo agrícola, já com tantas tradições na região de Aveiro.

Note-se que também se pode produzir mais em minifúndios, como se prova no Japão e em Taiwan; portanto, naqueles casos em que o associativismo é considerado demasiado agressivo pelas populações, o estudo e adaptação da realidade daqueles países é de grande interesse.

No referente à comercialização de produtos, a concentração da maior parte das unidades de produção de lacticínios no distrito de Aveiro e a existência de um matadouro industrial e de uma fábrica de industrialização de carnes em organismos ligados à Lavoura, facilitarão uma integração de actividades agrárias com maior garantia de defesa económica.

2 – Plano de aproveitamento do Vouga

Segundo o estudo prévio elaborado pela C. O. B. A, a obra de beneficiação do Vale do Vouga interessa a uma área de 48 000 ha e importa em 3635850 contos.

Estes encargos não devem ser totalmente debitados às terras beneficiadas, pois a obra tem ainda outros objectivos, tais como a produção de energia eléctrica, combate à poluição proveniente de efluentes fabris, regularização do leito do rio e domínio das cheias. Mesmo assim, a importância a despender é suficientemente elevada para exigir uma quantificação prévia e cuidada dos benefícios que resultarão da concretização do projecto, antes de se iniciar a obra. Ora, isso só pode conseguir-se com um mínimo de realismo, através de uma experimentação bem conduzida em áreas suficientes e representativas.

Por outro lado, uma vez concluída a obra, não deve perder-se tempo na utilização dos benefícios dela decorrentes. Não é admissível a repetição do caso do aproveitamento da Idanha em que, volvidos dezenas de anos sobre a sua conclusão, ainda não tem um plano definido de utilização. E o caso repetiu-se nos aproveitamentos do Mira e do Roxo. Já basta!

Cabe aqui um papel muito importante a uma experimentação válida que não pode perder mais tempo. Há que fornecer-lhos os meios indispensáveis: terras, pessoal, máquinas. Depois, mas só depois, devem exigir-se-lhe respostas concretas.

3 – Óptica I.N.I.A. para o desenvolvimento da região do Vouga (Jan. 1977)

A produção de leite e carne é feita com a participação de todos os sectores agrários de exploração nela envolvidos.

A selecção de acções a desencadear deverá ser feita de acordo com a rapidez em que a solução é atingida, utilizando conhecimentos adquiridos ou a adquirir em fases sucessivas, com meta num modelo integrado de exploração.

Se o preço do leite no Norte Litoral depende fundamentalmente do custo da alimentação das vacas e o mesmo devendo suceder à carne, o pastoreio directo sempre que possível e/ou a produção de forragem mais barata serão as molas económicas. Certamente que, para se obterem produções elevadas de verde – e esse será o processo lógico de indução a um mais baixo preço de custo – teremos de recorrer às adubações necessárias, o que parece contrariar as nossas intenções de produzir mais e mais barato. Neste sentido, utilizaremos nos prados consociações de gramíneas com leguminosas, em que as sementes destas serão inoculadas com bactérias do género Rhysobium, de que resultará os adubos azotados serem dispensados ou apenas utilizados em doses diminutas na altura da sementeira.

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Numa paisagem de encanto, um carro de bois atravessa a vau o Rio Novo do Príncipe.

Estamos também interessados no estudo da dinâmica da matéria orgânica dos solos, como factor de equilíbrio da sua fertilidade. Ao associarmos as preocupações que já existem em certos países evoluídos da contaminação da toalha freática pelos adubos e pesticidas usados em doses sempre crescentes, com a predominância dos solos leves da região de Aveiro, não podemos deixar de pensar que também aqui – ao / 17 / aumentar a capacidade de troca catiónica dos solos a matéria orgânica deva ter grande importância.

Temos sempre em vista a criação de uma Agricultura menos vulnerável, parcimoniosa na utilização de factores de produção externos, que deixe de ser poluente ao conseguir a conciliação do económico com o ecológico. Na verdade, se nos interessa e é para nós vital melhorarmos a nossa balança de pagamentos, também nos interessa e também é vital, a manutenção de um meio ambiente harmonioso.

Na mesma óptica, procuraremos reduzir ao mínimo a utilização de concentrados na alimentação de animais adultos e estudos de alimentação e nutrição de vitelos visarão substituir a quase totalidade das proteínas do leite, por outras formas animais ou vegetais. Sempre a preocupação de utilização máxima da erva do prado.

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Batatal nas Gafanhas.

Dada a importância da Pecuária na região de Aveiro, o I.N.I.A., através do seu Serviço Regional, pretende o seu equacionamento, para o que precisa de realizar ensaios em terras bem representativas, de modo a que os resultados aí observados possam ser generalizados a grandes áreas.

As nossas propriedades experimentarão os prados melhorados, regados e fertilizados, os parqueamentos, e um manejo adequado será utilizado na medição das potencialidades de produção de leite e carne, optimizando a utilização de:

verde;

conservado de verde (feno e silagem);

silagem de milho.

Estudado o mecanismo da produção, chegaremos ao estabelecimento de modelos de produção, que deverão ser rapidamente difundidos pelos Serviços de Extensão Agrícola.

Como antecipação na criação de modelos experimentais, prevemos estudos sócio-económicos de vários tipos de explorações, estudos esses que continuarão depois para confirmação ou modificação dos trabalhos de investigação.

Os modelos serão influenciados por diversos factores de natureza económica, social e até política, todas eles variáveis no tempo, donde resulta a necessidade de uma «testagem» contínua.

Nas unidades experimentais será reservada uma certa área para estudao de culturas tradicionais mais importantes na zona, como o milha, a batata e o feijão, e para estudo de novas culturas, como a beterraba e a soja; estas duas últimas culturas – dadas também as suas possíveis ligações à Pecuária – são de grande interesse potencial.

Nesses estudos serão incluídos vários tipos de ensaios que fornecerão uma base segura de conselhos aos agricultores sobre fertilização, correctivos, variedades, épocas de sementeira, intervalos de rega, dotações de rega, pesticidas, etc.

Um laboratório polivalente de salas e forragens completará a gama de conhecimentos de base, necessárias à formação de conselhos bem fundamentados aos utilizadores. / 18 /

 

QUADRO N.º 1

Consumo de carne per capita em alguns países – Kg/ano

 
 

 

Bovinos

Ovinos

Suínos

Aves

Países

1973

1974

1973

1974

1973

1974

1973

1974

Áustria

Bélgica / Luxemburgo

Canadá

França

Irlanda

Itália

Holanda

Noruega

Inglaterra

Estados Unidos

Portugal

23,0

29,9

43,8

28,3

18,7

26,1

18,6

15,3

23,0

39,8

14,5

25,3

31,2

44,1

29,1

20,5

20,1

19,6

16,4

25,4

40,0

15,6

––

1,1

1,2

3,5

10,0

1,1

0,2

4,5

8,2

1,2

2,5

––

1,1

1,1

3,5

8,2

1,1

0,1

4,7

7,7

1,1

2,4

40,3

 41,9

27,5

29,0

31,0

13,4

27,1

19,3

20,8

26,0

18,0

40,3

42,1

25,9

29,9

30,5

15,0

29,3

––

20,7

28,0

17,7

––

––

––

––

13,3

17,3

––

8,6

––

––

8,7

––

––

––

––

––

––

––

––

––

––

10,4

 

Fonte: Jasiorowski, H. A. The current status in World animal production, Roma, F. A. O., 1975.

 

 

 

QUADRO N.º 2

Importações de alguns produtos pecuários de maior significado

 
 

Produtos

(Em toneladas)

1971

1972

1973

1974

Carne

Bovinos

Ovinos e caprinos

Suínos

 

22827,1

––

10200,7

 

31878,5

369,0

12539,5

 

20097,5

175,2

5427,1

 

34932,5

––

11373,2

Leite

leite e natas frescas

leite em pó

leite condensado

Queijo

Manteiga

 

9,1

131,6

340,0

922,0

1853,8

 

1144,8

336,3

427,9

1318,8

2543,4

 

985,6

770,3

239,8

893,8

1764,8

 

––

––

––

––

––

 

Fonte: «Estatísticas Agrícolas» I. N. E.

 

 

QUADRO N.º 3 (Parcial)

Valores de importação de alguns produtos agrícolas

 
 

Produtos

(Unid. 103 esc.)

1970

1971

1972

1973

Amendoim c/ casca

Amendoim s/ casca

Girassol

Soja

21 198

281 619

––

––

39 720

305 497

––

––

72 285

459 429

92 708

32 096

48 830

399 871

328 158

137 342

 

Fonte: «Estatísticas Agrícolas» I. N. E.

 

páginas 14 a 18

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