Acesso à hierarquia superior.

N.º 21

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1976 

Universidade de Aveiro, presente e futuro

Por Vítor M. S. Gil

Reitor

INTRODUÇÃO

Vive-se o terceiro ano dos trabalhos de lançamento de uma Universidade em Aveiro. A analogia com recentes experiências estrangeiras semelhantes levaria a supor que este terceiro ano seria ainda dedicado, exclusivamente, a tarefas de planeamento pedagógico e científico, de definição estrutural, de organização administrativa e de outros serviços de apoio e de planeamento físico da Universidade, acompanhado, talvez, das primeiras construções; em conformidade, a Universidade em potência estaria então constituída por um pequeno núcleo de professores e de técnicos e apostada no progressivo recrutamento e (ou) formação dos docentes-investigadores indispensáveis.

A situação real é, porém, bem diferente: este terceiro ano de instalação é já também o segundo ano de vida de uma Universidade na infância, com todas as suas funções diferenciadas e em desenvolvimento. E isto, coincidentemente, por opções de princípio, por força da crescente procura pelo ensino superior e, confessemo-lo, por razões pragmáticas e conjunturais de sobrevivência institucional.

Dispondo-se afortunadamente de espaço escolar, à partida, enveredou-se deliberadamente por uma via ao mesmo tempo avessa à tendência atávica para a improvisação e à preocupação obstinada da planificação total. Por ela se lançaram os primeiros alunos e as primeiras linhas de investigação e desenvolvimento. É que, particularmente no âmbito pedagógico, não vemos a criação de uma Universidade exactamente como peça musical cuidadosamente orquestrada para ser oportuna e meramente executada pelos principais intérpretes – os estudantes. Porque, se a definição, aliás variável no tempo, dos objectivos e dos temas e seu desenvolvimento geral compete aos mestres e especialistas, àqueles cabe uma parcela importante da própria composição; nomeadamente, esta terá de ser revista em face das contínuas experiências de execução. Assim, recolhida a experiência abundante e variada dos primeiros docentes, cedo houve que associar os primeiros alunos e dar início às primeiras tiradas pedagógicas em conjunto. Esta opção de princípio viria a constituir parto seguro onde o lançamento dos primeiros cursos, no começo de 1975, se abrigaria das eventuais críticas de improvisação, ou mesmo de oportunismo institucional, numa altura em que ainda estava recente o risco de se ver precipitadamente «corrigida» a excessiva quantidade de escolas superiores criadas pouco antes da Revolução (especialmente para os recursos humanos existentes) com a sua total ou quase total extinção.

É deste modo que a Universidade de Aveiro, já uma realidade qualitativamente completa em Janeiro de 1975, vem perseguindo alguns dos seus objectivos próximos – embora com ritmo brando imposto pelas limitações orçamentais e por algumas dificuldades no recrutamento de docentes qualificados – ao mesmo tempo que se vai instalando materialmente.

OBJECTIVOS E FUNÇÕES

Como objectivos finais específicos, a U. A propõe-se: contribuir – quer pela sua implantação fora dos centros universitários tradicionais quer pelo que, em termos absolutos, significará de aumento da capacidade de escolarização a nível superior – para a satisfação progressiva do direito dos cidadãos portugueses, com aptidões (1) para isso, a uma educação e cultura superiores; e desenvolver programas pedagógicos, científicos e culturais relevantes para o progresso económico, social, cultural, científico e tecnológico do país, / 12 / especialmente pelo estudo de domínios não tratados ou insuficientemente desenvolvidos nas Universidades tradicionais. Teremos, assim, uma Universidade que pelas suas funções principais estará profundamente comprometida espaço-temporalmente com a Sociedade. Mas que não se deverá limitar a transmitir os valores de curto prazo desta Sociedade. Antes, ajudará criticamente a reforçar a capacidade da Sociedade em se renovar no progresso integral. Um exemplo da «Universidade necessária», numa perspectiva englobante, de presente e futuro; activa, crítica e criativamente implicada, em ponderado balanço, tanto com problemas teóricos como com os problemas práticos que constituam um suficiente desafio à capacidade intelectual; crescentemente relacionada, sem prejuízo daquele compromisso, com o mundo do saber livre e com instituições congéneres noutras sociedades.

A prossecução daqueles objectivos supõe a realização de duas categorias de funções primárias: educação e investigação. Se na ausência da primeira não haveria Universidade, é absolutamente claro na U. A. que a inexistência da segunda cedo arrastaria a morte da Universidade, admitindo que alguma vez houvesse sido possível erguê-la. Na verdade, para além doutras razões, é arreigada convicção que o êxito das tarefas de educação superior exige uma intensa e sincera atitude de pesquisa. Assim é que na U. A. as duas funções primárias estão indissoluvelmente ligadas.

Pela função educação entende-se, acima, o ensino-aprendizagem (incluindo o aperfeiçoamento e especialização profissionais) e o treino intelectual de nível superior, e a extensão cultural (no âmbito da Universidade e da Sociedade), incluindo-se ainda, e em plano mais informal, as oportunidades para desenvolvimento e maturação pessoal. À função investigação aliamos a criação cultural, o desenvolvimento tecnológico e o serviço directo à comunidade.


Aula no Laboratório de Física

Esta instituição complexa que é uma Universidade numa Sociedade crescentemente sofisticada traduz-se necessariamente numa estrutura e numa organização complexas, que terão de ser suficientemente flexíveis para poderem acompanhar as rápidas evoluções do conhecimento e da Sociedade. É também uma empresa de elevados custos para a comunidade; e mais, de que os beneficiários não pertencem, decerto no caso português, aos estratos sociais mais desfavorecidos. É, pois, imperativo que as variadas unidades estruturais – pedagógicas, científicas, de apoio – pratiquem critérios de exigência, de eficiência e de responsabilidade. São estes os critérios que vêm a ser desenvolvidos na Universidade de Aveiro, conciliando, onde necessário e assaz despreconceituosamente, os valores democráticos / 13 / e as teorias igualitárias defendidos pela Sociedade com os indispensáveis valores hierárquicos e práticas selectivas inerentes nomeadamente a uma apreciável aliquota das funções primárias da Universidade.

CURSOS

A actual variedade de cursos superiormente aprovados é já reveladora duma universidade em crescimento. Sem ignorar que não há fronteiras nítidas entre elas, podemos agrupar os vários cursos em três áreas:

1. Tecnologias

2. Ciências

3. Formação de professores.

Na primeira inscrevem-se, neste momento, os seguintes cursos de graduação:

1.1 Electrónica (início em 74/75).

1.2 Telecomunicações (início em 73/74).

Em Outubro de 1976, terá início o Curso de

1.3 Engenharia Cerâmica e do Vidro (início em 76/77).


Aspecto do Laboratório de Química

É presentemente objecto de estudo, quanto a justificação e a viabilidade, uma hipótese de lançamento de

1.4 Produção e Tecnologia Alimentares (?) com especial relevo para a Agro-Pecuária, lacticínios e Pescas.

Quanto à área das Ciências, registamos

2.1 Estudos do Ambiente (início em 75/76)

de momento num único curso que visa a formação de um número limitado de generalistas em problemas de Ambiente, mas susceptível de, perante determinadas opções em estudo, conduzir à formação de especialistas de Ambiente, nomeadamente nos ramos da Química e da Biologia Aplicadas.

Nesta área se poderão incluir as

2.2 Ciências de Contabilidade e Administração (cf. ISCAA)

que se inscreverão no âmbito da Universidade de Aveiro por integração do actual Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro.


Estudante no Laboratório de Electrónica.

Ainda em fase de estudo (novamente quanto à / 14 / justificação e viabilidade) temos a hipótese da criação de cursos (graduação, pós-graduação ou extensão) em

2.3 Planeamento e Ciências do Planeamento Territorial (e. g. Fotogrametria) (?)

e de extensão em

2.4 Geoquímica (?)

A área de Formação de Professores (para ensino preparatório e secundário) compreende, actualmente, os seguintes cursos, todos eles integrando já uma primeira formação psicopedagógica a par duma formação científica:

3.1 Matemática (início em 75/76)

3.2 Ciências da Natureza (início em 75/76)

3.3 Línguas e Culturas (início em 75/76):

Francês + Português

Inglês + Português.

É provável que, em 1976/77, utilizando infra-estruturas materiais e humanas comuns a outros cursos, se venham a iniciar cursos de formação de professores em

3.4 Ciências Físico-Químicas (76/77 ?)

3.5 Ciências Sociais (76/77 ?)

Anota-se que em face de toda esta variedade de matérias se torna viável lançar outros cursos, essencialmente através de novas composições de disciplinas. É o caso, por exemplo, de um curso de

Intérpretes e Secretariado (?)

É importante salientar, também, que um regime de opções relativamente económico permite (especialmente se baseado na colaboração inter-universitária ao nível de docentes) adaptar nomeadamente os cursos de formação de professores a cursos científicos orientados para a especialização, investigação ou criação cultural. Além doutras razões, reconhece-se que isso é indispensável para que a Universidade possa recrutar alguns dos seus docentes-investigadores entre os seus graduados. Tais cursos terão necessariamente que ser de limitado acesso.


Aula no Laboratório de Línguas.

Os cursos referidos acima reflectem claramente a preocupação da U. A. em estudar domínios e preparar profissionais que sejam relevantes para o progresso cultural, económico-social e científico-tecnológico do país e contribuintes do bem-estar físico dos cidadãos (como é o caso de 2.1). / 15 /

É curioso notar que, dos dois domínios mais directa e caracteristicamente ligados com a «zona de influência» da Universidade, um prende-se com uma faceta do desenvolvimento científico-tecnológico (Engenharia Cerâmica) e o outro com um aspecto da qualidade da vida (Estudos do Ambiente) tantas vezes prejudicada pelo progresso tecnológico.

Como já referimos atrás, consideramos importante que, sem prejuízo do compromisso da Universidade com a Sociedade real em que directamente se integra, ela ponderadamente se relacione com a procura e a prática do saber livre. Há, assim, que tender para uma adequada composição de cursos marcadamente aliados a profissões específicas e que devem, por isso, envolver alguns profissionais como docentes (Universidade como «vocational school»), e cursos não necessariamente relacionados com as profissões correntes (Universidade como «liberaI school»). Nesta fase, porém, a U. A apresenta-se declaradamente como «vocational school».

ESPECIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO INTEGRAL

Há uma característica dos planos de estudo dos vários cursos na U. A. que merece referência, pelo menos como experiência. Trata-se de procurar contribuir para compensar os inconvenientes da excessiva especialização, com a obrigatoriedade de frequência e aproveitamento em matérias tendentes a uma formação integral do aluno. Procura-se, deste modo, contribuir para a formação do homem e não apenas do profissional. Assim, os alunos dos ramos científicos e tecnológicos terão de escolher, com esse objectivo, um número mínimo de disciplinas entre vários temas de carácter filosófico, psicológico, sócio-político, sociológico, linguístico, etc. Entretanto, para os alunos dos ramos humanísticos os temas de complementação são essencialmente de índole científica.

Não se ignoram as dificuldades com que este tipo de intenções normalmente deparam. Os potenciais benefícios são, porém, tão significativos que a U. A., pelos seus programas pedagógicos, se dispôs a aceitar o desafio.

Repara-se, contudo, que esta é apenas uma das várias categorias de oportunidades que a Universidade concede para amadurecimento e formação integral dos seus alunos. Papel importantíssimo cabe à associação de estudantes, às actividades de extensão cultural (referidas adiante), etc.

 

APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL

A Universidade não detém o correspondente exclusivo mas cabe-lhe um papel importante em esforços / 16 / de aperfeiçoamento profissional a nível superior, ou até a nível médio especializado.

Até aqui as principais iniciativas têm respeitado a actualização de professores das escolas secundárias; refere-se, em particular, um curso livre de Introdução aos Estudos do Ambiente para professores de Ciências da Natureza.

Com o crescimento humano da U. A. espera-se poder intensificar estas iniciativas e alargá-las aos domínios tecnológicos da Electrónica, Telecomunicações e Cerâmica.

 

TRABALHADORES-ESTUDANTES E CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO PARA OPERÁRIOS

O comprometimento da Universidade com a Sociedade em que directamente se integra exige que aquela atenda à medida em que está contribuindo para manter ou até criar novas fontes de discriminação social ou, pelo contrário, contribuindo para a abolição das classes sociais existentes.


Aspecto de Aula.

É especialmente pela sua função-ensino que a actuação da Universidade, face às classes trabalhadoras, nos seus diferenciados estratos económicos e/ou sócio-culturais, é mais consequente. Ora, não basta que a Universidade, ao seleccionar os seus alunos entre os

que a procuram, atenda às condições sócio-económico-culturais em que a respectiva preparação se processou, favorecendo o pequeno número dos filhos das classes mais desfavorecidas que chegam à sua entrada, e concedendo-lhes, depois, apoios financeiros. Além de dever contribuir, com toda a imaginação e meios ao seu alcance, para que esse número aumente, deverá estender a sua acção de promoção cultural, técnica e científica directamente aos próprios trabalhadores, integrando, quanto possível, as suas experiências profissionais e culturais.

Neste espírito se inscrevem a apreciável proporção de trabalhadores-estudantes na U. A. e uma experiência de admissão de operários da indústria Cerâmica e do Vidro ao já referido curso de Engenharia neste domínio.

A experiência teve início em meados de Maio com o lançamento dum curso pré-universitário para cerca de 20 operários-alunos. No fim do primeiro período (fins de Julho) terá lugar uma última selecção (se necessário) dos alunos que prosseguirão o curso de forma a apresentarem-se ao exame «ad hoc» de admissão à Universidade, ou equivalente, dentro de um ano ou, eventualmente, dois anos.

O curso é ministrado por professores da U. A. com a colaboração de uma equipa de ensino-piloto de adultos, liderada pela Dr.ª Judith Cortesão. / 17 /

Os operários efectuarão os seus estudos graças a uma bolsa atribuída pelo MEIC, esperando-se que o Ministério do Trabalho venha eventualmente a colaborar com algum subsídio. Enquanto permanecerem na Universidade, não perderão as regalias sociais de que desfrutavam na situação de operários.

Salienta-se, ainda, que a integração dos operários na Universidade se faz sem que estes percam a sua ligação à fábrica, o que reputamos de muito importante; na verdade, prevê-se que eles regressem periodicamente à indústria por períodos de um mês.

Não se desconhecem as dificuldades, os riscos e até as eventuais críticas de demagogia e outras de que esta iniciativa pode vir a ser objecto. A U. A. corresponderá com uma programação atenta, uma execução cuidada e exigente e com um contínuo espírito de auto-avaliação. Os valores em jogo, para o operário, para a empresa, para a Universidade e para a Sociedade, são de tal monta que, naquelas condições, esta experiência pedagógica – a primeira no seu género em Portugal não deixará de ser de grande alcance. O departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da U. A. está apostado, não só pelos mecanismos tradicionais, mas particularmente pela admissão de operários-alunos e pela integração das suas experiências profissionais, em fazer do curso de Engenharia Cerâmica e do Vidro um exemplo a multiplicar.

EXTENSÃO CULTURAL

A função de educação a realizar por uma Universidade não pode dispensar uma intensa acção de extensão cultural, no âmbito da Universidade e no âmbito da comunidade em que ela se integra. Também aqui a interacção com organismos exteriores, nomeadamente os que perseguem semelhantes objectivos, é muito importante.

Recordam-se algumas das realizações passadas nesta linha: semana da cultura francesa, com música, filmes, poesia e livros franceses; conferências várias e cursos livres; exposições bibliográficas; audições de música gravada; exibição de filmes; etc.

Reconhece-se, porém, como imperioso multiplicar e variar iniciativas neste capítulo. Para esse efeito foi especialmente constituído um Conselho para a Extensão Cultural, composto paritariamente por professores, estudantes e funcionários.

DOMÍNIOS DE INVESTIGAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E SERVIÇO

A intenção de empenhar a Universidade de Aveiro na realidade social portuguesa determinou não só os principais cursos a lançar, como os principais domínios de investigação científica, desenvolvimento tecnológico e serviço directo à comunidade a desenvolver.

Sem prejuízo da criação cultural e de alguma investigação científica ligada ao avanço do conhecimento em certas disciplinas, indispensáveis numa universidade, temos, assim, uma investigação essencialmente centrada em problemas reais. Com ela, não só se espera a resolução de alguns destes como, eventualmente, se encontrarão respostas genuinamente inovadoras e criadoras a questões não previamente formuladas.

De momento estuda-se o lançamento da investigação, porventura em colaboração inter-universitária, nos domínios da Matemática, Línguas e Culturas e Ciências da Educação. Há, porém, três domínios em que os objectivos da pesquisa se encontram já muito bem definidos, os necessários meios claramente equacionados e os primeiros trabalhos iniciados. Espera-se agora o alargamento efectivo das instalações (previsto para Outubro próximo), seu apetrechamento com o equipamento científico existente e em vias de aquisição, e a admissão de novos docentes-investigadores ou/o regresso de bolseiros em especialização no estrangeiro, para nos lançarmos intensamente na produção científica e tecnológica e na correlativa prestação de serviços.

As áreas de investigação em causa são:

1. Electrónica e Telecomunicações

2. Cerâmica e Vidros

3. Estudos do Ambiente.

Na área 1. – Electrónica e Telecomunicações – desenrolam-se actividades de projecto e de pesquisa e desenvolvimento, ditadas primordialmente pelo estado actual da indústria e da tecnologia da electrónica em Portugal. Pelas primeiras espera-se contribuir para o arranque duma indústria electrónica capaz de suprir as necessidades de equipamento até certo nível de sofisticação; pelas segundas se olha mais além, como compete à Universidade. As linhas de trabalho nesta área são quatro, a saber:

1.1. Electrónica aplicada à medicina – iniciando-se com a construção de um protótipo para obtenção de secções de objectos, através de feixes de raios X (com a colaboração da Universidade de Manchester, laboratório de Rádio-isótopos da Faculdade de Medicina de Coimbra e, eventualmente, Instituto Superior de Bio-Medicina Abel Salazar, Porto).

1.2. Controle electrónico na indústria – iniciado com a construção de um controlador digital programável de temperatura de um forno (colaboração do departamento de Cerâmica e Vidros). / 18 /

1.3. Tratamento do sinal e sistemas associados a meios de comunicação – central telefónica automática PPCA (colaboração com o Centro de Estudos de Telecomunicações dos CTI, Aveiro); sistema de leitura e escrita, em gravadores de «cassetes» comerciais, de informação digitalizada (colaboração com a Universidade Nova de Lisboa); estudo de transitórios em transformadores de alta potência (solicitação da indústria).


Quarto da Residência.

1.4. Projecto de equipamento – gerador de palavra, medidor de painel (solicitação da indústria).

Na área 2. – Cerâmica e Vidros – igualmente se manifesta a preocupação de desenvolver linhas de trabalho que são, umas, de ligação mais imediata à indústria nacional do presente e, outras, mais projectadas para o futuro. No primeiro caso foram já estabelecidas relações com a U. A. nomeadamente pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas. Assim, temos:

2.1. Materiais com interesse na indústria das faianças e porcelanas e matérias primas cerâmicas – propriedades e comportamento de suspensões e pastas de argila; reservas de corpos geológicos com relevância para Cerâmica e Vidros; cinética de transformação de argilas cauliníticas, etc. (colaboração da Universidade de Sheffield e Instituto Politécnico de Stoke-on-Trent, Inglaterra).

2.2. Refractários básicos e especiais – aproveitamento de dolomites portuguesas no fabrico de refractários com aplicação na indústria siderúrgica; estudos fundamentais em refractários (colaboração das Universidades de Leeds e Sheffield, Inglaterra).

2.3. Materiais com propriedades especiais (eléctricas, magnéticas, ópticas, etc.) – materiais cerâmicos relevantes na indústria electrónica; propriedades ópticas de materiais isoladores e semicondutores em relação com as suas propriedades eléctricas. (Colaboração da Universidade de Leeds e departamento de Física da U. A.).

2.4. Vidros e Vidros Cerâmicos – Vidros cerâmicos a partir de matérias-primas nacionais; cristalização controlada em vidros; ligação vidrometal, etc. / 19 /

2.5. Tecnologia de processos e desenvolvimento de sistemas – contribuição para o aperfeiçoamento de processos de manufactura (colaboração do departamento de Electrónica da U.A.).


Cafetaria-convívio.

A referida colaboração das Universidades inglesas processa-se ao abrigo dum esquema de intercâmbio patrocinado pelo British Council.

Na área 3. – Estudos do Ambiente – inscrevem-se primariamente problemas de defesa de Ambiente e optimização do aproveitamento de recursos, especialmente do Ambiente Ria de Aveiro e bacia hidrográfica do Vouga, sem prejuízo da qualidade de vida. A resolução destes problemas exige aproximações multi e interdisciplinares. No futuro próximo, e enquanto não é possível lançar os estudos de Planeamento, a abordagem está apoiada nas ciências básicas Biologia, Geociências, Química e Física. Como linhas de trabalho temos:

3.1. Comunidades biológicas da Ria de Aveiro – reconhecimento e estudo ecológico de comunidades vegetais e animais (especial incidência em Moluscos, Crustáceos e Peixes) com vista ao seu aproveitamento económico, sem contudo descontrolar irreversivelmente o equilíbrio ecológico indispensável à sua preservação.

3.2. Protecção da Hidrosfera e Atmosfera – biocidas e nutrientes inorgânicos e micro-elementos na Ria de Aveiro; poluentes orgânicos; gases poluentes e poeiras atmosféricas, etc.

3.3. Ambiente geológico da bacia do Vouga – estudo geológico tendo em vista a exploração racional do ambiente, com especial incidência em solos e ambientes de sedimentação.

O desenrolar destes trabalhos de pesquisa, desenvolvimento e serviço processa-se em ligação com departamentos estatais nomeadamente com a Secretaria de Estado das Pescas e Secretaria de Estado do Ambiente.

ESTRUTURA

A estrutura que se está projectando para a U. A. procura corresponder, directamente e de forma flexível, às tarefas primárias da Universidade, nomeadamente os cursos – necessariamente pluridisciplinares – e a investigação centrada em problemas reais –exigindo frequentemente abordagens pluri- e interdisciplinares. Assim, falamos de uma malha de unidades estruturais funcionais (ou operantes), que não se identifica com a / 20 / malha de unidades estruturais físicas (ou logísticas). Da primeira fazem parte especialmente os Cursos e as Áreas de Investigação, Desenvolvimento e Serviço e à segunda pertencem nomeadamente os Departamentos.

Teremos, assim, um sistema departamental aberto e mitigado em que a existência e dimensionamento dos departamentos, tomados essencialmente como «depósito» de recursos humanos e materiais afectos a uma ou a disciplinas afins, são directamente determinados pelas exigências das unidades funcionais. Deste modo se conseguirá, designadamente, um dimensionamento racional dos vários departamentos. Outras vantagens se esperam: a gestão estritamente científica (nas áreas de Investigação, Desenvolvimento e Serviço) e a gestão estritamente pedagógica (nos Cursos) adquirirão uma identidade própria e a importância devida em relação à gestão de pessoal, patrimonial e administrativo-financeira (nos Departamentos), o que se admite melhorará a qualidade da gestão, pela identificação clara de atribuições, pela participação racional nos conselhos de gestão, etc.

Da malha de unidades estruturais físicas fazem ainda parte os Serviços de Apoio (Serviços Académicos, Administrativos, de Documentação, Sociais e Técnicos), a Reitoria como unidade de coordenação e decisão geral, e unidades livres especialmente a Associação de Estudantes. Naquela incluem-se os órgãos de coordenação científica, pedagógica e cultural e os órgãos de decisão superiores da Universidade.

No projecto de regulamento, em fase adiantada de discussão na U. A. e a ser apresentado brevemente ao Ministério da Educação e Investigação Científica como peça fundamental dos futuros Estatutos da Universidade, estabelece-se um sistema de gestão ao mesmo tempo democrático, funcional e responsável, apoiado em vários órgãos colegiais, de base e gerais. Alguns estão a funcionar a título provisório e experimental há

já algum tempo. Aquele cuja criação concentra talvez maior expectativa é o Conselho Universitário, órgão da interface Universidade-Sociedade, constituido por representantes da Universidade e dos legítimos interesses sociais e culturais da Comunidade. Espera-se que, sem prejuízo da necessária intervenção estadual, garante da valorização dos interesses nacionais sobre os eventuais interesses exclusivamente regionalistas ou sectoriais, ele desempenhe um papel muito importante, designadamente em manter e reforçar o comprometimento da Universidade com a realidade social viva em que se integra. Com a participação de representantes dos interesses sociais gerais na direcção dos destinos da Universidade a autonomia universitária adquirirá um conteúdo novo.

A inevitável prorrogação do período de instalação da Universidade de Aveiro (o primeiro período em Dezembro de 1976) obrigará a algumas soluções transitórias que compatibilizem a execução das tarefas de instalação e desenvolvimento acelerados com as de governo duma Universidade em infância.

INSTALAÇÕES

Obtido o acordo do MEIC para a instalação dos edifícios definitivos da U. A. em terrenos da chamada zona de Santiago, na periferia da cidade de Aveiro, e em harmonização com o projecto habitacional do Fundo de Fomento da Habitação na zona, espera-se para breve a definição exacta da área destinada à Universidade e a possibilidade de obtenção dos primeiros terrenos. Na verdade, torna-se absolutamente inadiável iniciar a programação do conjunto universitário e o projecto dos primeiros edifícios definitivos. É que as soluções Provisórias a que adiante se faz referência serão quantitativamente sofríveis durante, no máximo, dois anos mais. A premência do problema é tal que, acaso a questão se continue a arrastar, a Comissão Instaladora da U. A. se verá obrigada a reexaminar soluções alternativas outrora abandonadas por menos satisfatórias sob vários pontos de vista.

As edificações provisórias resumem-se, de momento, a dois blocos: um bloco escolar (temporariamente cedido pelos CTT) com uma área de pavimento de cerca de 2400 m2 e um bloco de apoio (alugado) com uma área de pavimento de 1260 m2, onde se concentram a Reitoria, vários Serviços, a Associação de Estudantes e uma Cafetaria-Convívio. Devido sobretudo ao grave problema de alojamento na cidade, a U. A. dispõe ainda de um andar e de um bloco habitacional (alugado) como residências universitárias.

Entretanto encontra-se em construção um edifício pavilhonar pré-fabricado, com a área de cerca de 3600 m2, para ensino e investigação. Esta edificação situa-se em terreno cedido pela Câmara Municipal de Aveiro e que se inscreve na referida zona de Santiago. Estará concluído a tempo de ser utilizado no início do próximo ano lectivo.

COMPOSIÇÃO E CRESCIMENTO HUMANO

1. Corpo Discente

A actividade pedagógica da U. A. iniciou-se em 1974/75 com 46 estudantes nos cursos de Electrónica e de Telecomunicações. Devido a desistência ou reprovação, mantiveram-se na U. A. apenas 29 alunos transitando para o ano seguinte 28. No ano lectivo 1975/76 / 21 / inscreveram-se mais 152 novos alunos (não contando os operários-alunos do curso pré-universitário de Cerâmica e Vidros); devido à exigência dos cursos e a outras razões desistiram, entretanto, 25. As limitações de espaço e de corpo docente não permitirão aceitar mais do que 200 a 240 novos alunos em 1976/77.

Em relação ao total de alunos matriculados em 1975/76 (181), cerca de 50 % são naturais do distrito de Aveiro, e cerca de 16 % dos distritos contíguos; 65 % pertencem a agregados familiares residentes naquele distrito.

A distribuição por grupos etários é a seguinte:

 

17 – 20    anos  

22 25        »     –

26 30        »     –

31 35        »     –

36 –              »     –

78

35

28

21

19

 

Da totalidade, 95 são do sexo masculino e 86 do feminino. 86 são trabalhadores-estudantes. Quanto à proveniência económica dos estudantes, cerca de 37 % pertencem a agregados familiares de capacidade económica mais débil.


Trabalho de construção dos pavilhões pré-fabricados.

2. Corpo Docente-Investigador

No início de 1975 o número de docentes-investigadores da U. A. era de 18, número que passou a 51 no começo de 1976. Destes, 12 encontram-se a realizar estudos de especialização no estrangeiro com vista ao doutoramento, 13 são já doutorados e 7 são diplomados com o grau de «Master of Science» ou equivalente em Universidades estrangeiras. Naqueles números não se incluem 10 docentes em regime de colaboração parcial e pertencentes aos quadros do Centro de Estudos de Telecomunicações dos CTT, em Aveiro, e das Universidades de Coimbra e Porto.

Os cortes orçamentais que, contrariamente ao esperado e até superiormente anunciado, se acabaram por verificar obrigaram a sacrificar apreciavelmente outras rubricas para permitir uma absolutamente indispensável admissão mínima de pessoal em 1976. Assim, recrutar-se-á, ao longo de 1976, um mínimo de 30 novos docentes-investigadores a repartir por 10 domínios.

Quanto aos 51 docentes-investigadores existentes no início de 1976, 9 são naturais do distrito de Aveiro e 19 dos distritos contíguos; 2 são estrangeiros. Do número total, 23 provieram de instituições universitárias e de investigação das ex-colónias portuguesas, 6 da / 22 / Universidade de Coimbra, 8 de escolas secundárias e 7 não tiveram emprego anterior.

3. Corpo de Pessoal de Apoio

No início de 1975 o número de trabalhadores não-docentes era de 31, número que passou a 63 no começo de 1976. No corrente ano, admitiram-se já 10 trabalhadores prevendo-se ainda uma admissão mínima de 26 novos elementos.

No tocante aos 63 elementos existentes em começos de 1976, 29 são naturais do distrito de Aveiro e 37 dos distritos contíguos. Do número total, 41 provieram de instituições públicas das ex-colónias, 7 tiveram a Universidade de Coimbra como último local de trabalho e 12 não tiveram emprego anterior.

O Quadro seguinte resume a situação geral quanto a contingentes humanos na U. A.

Crescimento humano na U. A.

 

 

Jan. 1975

Jan. 1976

Jan. 1977 *

Estudantes

Docentes-Investigadores

Trabalhadores não-docentes

46

18

31

183

51

63

400

>81

>99

Totais

95

297

>580

 

               * Não contando o ISCAA.

Um observador desatento surpreender-se-á com a elevada relação professor/aluno no corrente ano. Ora, há que ter em conta, nomeadamente, a) o relativamente alto número de docentes-investigadores em especialização no estrangeiro, b) a diversidade dos cursos e departamentos e c) a necessidade de envolvimento dos professores em muitas outras tarefas que não docentes, nesta fase de instalação.

De igual modo se pode considerar anormal o elevado quociente trabalhador não-docente/trabalhador docente. Esta é, em verdade, uma situação inevitável em fase inicial.

CUSTOS – BREVE ANÁLISE

Os custos da Universidade de Aveiro até ao presente, tanto em despesas correntes como em investimentos, têm respeitado, como é natural, essencialmente às tarefas gerais de instalação e só uma parte menor à «produção pedagógica e científica» desenvolvidas. Os benefícios daquela maior parte dos custos começarão a ser colhidos provavelmente só no próximo ano.

Reflectindo o espírito desde início estabelecido na U. A. de procurar nada esconder, tanto internamente, como frente ao MEIC, como em face do cidadão contribuinte e interessado, os órgãos gestores da U. A. propõem-se apresentar anualmente um «relatório e contas» que permita uma acessível análise dos custos-benefícios embora em muitos aspectos inevitavelmente qualitativo, ou em termos relativos.

Aproveita-se, para já, para apresentar alguns quadros significativos.

Quadro 1 – Despesas correntes

 

 

1974

1975

1976

Encargos totais c/ Pessoal *

Bens duradouros

Bens não-duradouros

Conserv. e Aproveit. de Bens

Despesas Gerais de Funcionamento

2617

379

230

412

1314

12439

**1675

1147

177

1216

25303

2910

1891

465

2152

TOTAIS

4952

16654

32621

 
 

* Inclui bolsas de estudo para estudantes e encargos sociais com funcionários.

** Mais 580 contos de livros e outros bens de educação, cultura e recreio concedidos pela Fundação Gulbenkian e cerca de 210 e 50 contos de livros oferecidos, respectivamente, pelas Embaixadas da Alemanha Federal e da França.

 

Em aditamento ao Quadro 1, refere-se que (descontadas as bolsas de estudo para estudantes, 142 contos) os encargos totais com pessoal em 1975 se distribuem em partes aproximadamente iguais, por docentes-investigadores e outro pessoal. Verifica-se, ainda, que apenas cerca de 20 % do encargo com docentes-investigadores se pode afectar à função-ensino desenvolvida estritamente em 1975. O restante deve atribuir-se, fundamentalmente, a tarefas de planeamento pedagógico e científico, apetrechamento e organização de Departamentos, etc.

Devemos ainda acrescentar, em relação a 1975, os encargos com pessoal da U. A. mas não suportados por ela. Nomeadamente: cerca de 700 contos correspondentes a bolsas de estudo no estrangeiro concedidas pelo Instituto de Alta Cultura; cerca de 120 contos também de bolsas no estrangeiro concedidas pela Fundação Gulbenkian; e cerca de 470 contos de remunerações a pessoal pertencente ao Quadro Geral de Adidos e destacado na U. A. / 23 /

 

Quadro 2 – Investimentos

 
 

 

1974

1975

1976

Equipamento científico e didáctico

Mobiliário (didáctico, de secretaria, etc.

Maquinaria e equipamento diverso

Material de transporte

Edifícios e Construções diversas

Terrenos

158

1622

764

12301

1648

3277

  3585+8433*

3500

2915

400

14500

5100

TOTAIS

2544

17226

30000+8433*

 
  * Verba correspondente a compromissos de 1975 a suportar em 1976.  

Em relação à verba inscrita na 1.ª linha do Quadro 2 e referente a 1975, pode acrescentar-se que uma fracção de cerca de 40 % respeita a equipamento didáctico, ou melhor, à estimada utilização do equipamento para fins didácticos. A verba orçamentada para 1976 (3585 contos) será quase exclusivamente para equipamento indispensável à função-ensino embora se preveja alguma utilização para fins científicos; o reforço (8433 contos) correspondente aos compromissos de 1975 não satisfeitos nesse ano respeita em 85 % a equipamento científico.

Aveiro, 8 de Junho de 1976.

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Brasão de Aveiro existente na Fonte da Praça

do Peixe, construída em 1876.

_____________________ 

(1) – Aptidões que, com a prática de «numerus clausus», não poderão mais ser avaliadas apenas pelos testes mais ou menos tradicionais, mas tendo em conta, também, as condições sócio-económico-culturais em que se desenvolveram.

 

páginas 11 a 23

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