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N.º 21

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1976 

Caldeirada...

VERSOS DE VIDAL OUDINOT

 

Nas enciclopédias, onde figura quase toda a gente, o nome de Vidal Oudinot não se encontra catalogado.

E, todavia, respeita a um poeta deveras estimável, a um pedagogo altamente abalizado, a um jornalista corajoso e lúcido.

Na qualidade de pedagogo, escreveu diversas obras destinadas às crianças, inclusivamente uma peça teatral, e, já quando inspector do ensino primário, organizou numerosas festas escolares, sem excluir as da «Árvore».

Como jornalista, dirigiu a revista «Os Novos» e também «O Velocipedista», sendo esta publicação a primeira, de índole desportiva, editada em Portugal.

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Vidal Oudinot

Finalmente, foi o autor dos volumes de versos «Melancolias», «Silvestres», «Musa aldeã», «Pelos campos», «Natureza» e «Três sóis». Integrado na chamada corrente naturalista, muitos dos seus poemas, isentos de considerações metafísicas, são outros tantos quadros onde estua a vida ao ar livre.

Após ter feito o competente exame, e antes de enveredar pela carreira do professorado, exerceu farmácia em Aveiro e a Ria servir-lhe-ia de tema para algumas páginas.

Vidal Oudinot nasceu em Arouca, da qual é, portanto, inesquecível filho, a 9 de Março de 1869, vindo a falecer no Porto sessenta e três anos depois. Precisando melhor, em 29 de Julho de 1932.

 

CALDEIRADA

...   ...    ...   ...    ...   ...   

«– Disseram-me e eu creio ser verdade

Que tens um jeito para a caldeirada

Como ninguém e, como novidade,

Quem provar esse manjar de fada...»

 

«Ria-se, ria. Há-de lamber-lhe os dedos,

Há-de chorar por mais e não rirá...

«– Mas dize lá: como se faz...»

                                                 «Segredos!...

Muitos segredos qu'isso tem, verá... / 60 /

 

«Vamos. No rio há pouco vento agora.

Eu levo o meu rapaz, e no moliço

Bota-se a rede e é só puxar p'ra fora

Qu'é pescaria que já dá p’ra isso.

 

*

 

«Chegamos. Eh! rapaz de mil diabos

Tu lança a rede. Eu desenrolo-a e marco.

Bonda, Manuel, aí. Agarra os cabos...

Lance o senhor a vara e empurre o barco...

 

«Salte p'ra terra. Anda rapaz! T’aquenha!

E agora é só puxar. Vamos depressa.

Traze a marmita, a bilha d'água, a lenha,

Essa pimenta e o sal que não te esqueça.

 

*

 

«– Ricas enguias! Que tainha boa!

Linda manhã com este sol de Maio!

«Eh! Manuel andas c'a tola à toa!

Olh'esse barco qu'anda à rola, raio...

 

«Acende o lume enquanto amanho o peixe.

Cruze o senhor as varas... Nessa cruz

Pendure essa marmita. Agora deixe...

 Há-de fazer-se um jantarão de truz...

 

«É só temp'rá-Ia bem. Não ficam mal

Miga's de pão. É bom?»

                       – «Eu nem te conto!

Nunca, na vida, comi cousa igual!

Mais outra malga, meu Francisco...»

                                           «– Pronto.»

 

páginas 59 e 60

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