Acesso à hierarquia superior.

N.º 20

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1975 

Vultos operários – vultos cambrenses

LUÍS SOARES

Por César Nogueira

Até aqui, só temos citado nomes de vultos operários falecidos, que prestaram ao movimento associativo bons serviços e desinteressados.

Hoje, porém, vamos abrir uma excepção. E será a única, pois se trata de um veterano das lides associativas, um homem que há mais de setenta e cinco anos consagrou e consagra ainda a sua vida, o seu pensamento aos princípios que abraçou, quando era novo, quando tinha uns moços vinte anos.

Esse veterano, esse homem é Luís Soares, que nascido em 29 de Março de 1858 (1), conta portanto, presentemente, a provecta idade de 95 anos. (2)

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Luís Soares

É uma relíquia que vem do tempo da Associação Fraternidade Operária (1872). (3) Ali adquiriu as suas inspirações, ali formou o seu espírito associativo. Depois ingressou na Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa, na secção do norte (Porto) (4) e é com saudade que ele recorda esse tempo, conforme escreveu numa carta, em 1948, da qual respigamos este sugestivo trecho:

«– Eu estou velho e fisicamente impossibilitado de trabalhar em prol da causa que abracei ainda bem novo. Mas tenho saudades não só dos tempos das lutas passadas como dos meus antigos companheiros nessas lutas.

Quando na antiga Associação dos Trabalhadores, no Porto, no largo das Fontainhas, n.º 50, organizou-se o parlamento operário... e festejou-se o 18 de Março, no qual tomaram parte tantos velhos elementos já desaparecidos e lembra-me bem de todos eles e com grandes saudades, e todos nesse tempo tinham a coragem de resistir contra os insultos de que eram vítimas.»

Este trecho reflecte bem os sentimentos de Luís Soares. Tinha, então, quando o escreveu, já 90 anos, isto é: conservar a mesma ideia e o mesmo sentimento no seu espírito.

E nesse mesmo ano, a propósito do 31 de Janeiro, (5) em outra carta, diz-nos das apreensões que teve quando se produziu esse movimento, o que, na realidade, se confirmou.

Escreveu ele:

«– ...trouxe-me à recordação, já muito distante, de um bem amigo em casa de quem trabalhava, Joseph Delerne, fabricante de pianos. Este meu amigo, no dia da Revolução do 31 de Janeiro, às seis horas da manhã, mandou-me chamar, pois que tinha rebentado a República. Eu morava no largo da Póvoa e quando cheguei à Rua do Paraíso, ouvi um alarido enorme, vivas e morras no Largo da Lapa. Passou por mim toda a força da Guarda Municipal do quartel de S. Brás, muito silenciosa, em direcção à Rua do Bonjardim. Fez-me pensar aquele contraste de tanto entusiasmo ali tão perto e tanto silêncio da Guarda.

Ao passar o Largo da Lapa o entusiasmo era enorme e, em frente do quartel de 18, vejo o esquadrão / 22 / de cavalaria formado e muito sossegado, o que foi novo motivo para mim impressionante.

Cheguei a casa do meu bom amigo e mestre e contei-lhe as minhas impressões, mas ele, que já não era novo, estava cheio de entusiasmo. Fomos para o Largo da Lapa e aqui queriam abrir o portão do quartel, mas não conseguiram. Clareou o dia e eu abeirei-me do Dr. Alves da Veiga e disse-lhe das minhas impressões. Respondeu-me de mau humor, o que estranhei, pois ele era sempre muito delicado.

Descendo a Rua do Almada, romperam em marcha as três bandas regimentais, entoando a «Portuguesa», provocando grande entusiasmo, mas não me saía da cabeça a diferença de proceder que tínhamos observado.

Viterbo de Campos (6) e muitos outros companheiros e eu fomos os primeiros que entrámos na Câmara. Alguns Republicanos já tinham receio que os socialistas quisessem tomar partido do movimento. Andavam alarmados, mas sem razão para tal.

E noutro passo diz:

«...a polícia do Porto, para introduzir a desconfiança entre os socialistas e os republicanos, estabeleceu uma esquadra mesmo defronte da Associação dos Trabalhadores, que era uma casa de um andar e tinha nos baixos a oficina da cooperativa dos operários tecelões, que vieram da Fraternidade Operária. E, em parte conseguiu-o pois que foi a partir dessa data que se produziram as dissidências associativas (7) e os mal-entendidos com o Partido Republicano.»

Mas Luís Soares, sempre fixe, sempre pronto nas lides associativas, marcou no Porto o seu lugar.

Não era um jornalista, não era um escritor, nem era um orador. Mas a sua palavra era a de um sincero, a de um crente, a de um convicto, como o prova a sua firmeza de carácter ainda presente no seu espírito, o que muito contradiz com certos pusilânimes que temos encontrado pela vida fora. Não voltou a casaca.

Exerceu no partido operário, desde 1885, vários cargos de destaque, fazendo parte dos seus corpos directivos no norte e comparticipado em numerosos Congressos nas suas diferentes modalidades sociais. (8)

Foi proposto candidato a deputado pelo Porto e por Gaia, em várias eleições, sendo a primeira vez em 1889 (Porto) em que obteve 165 votos, o que, para a época, já era alguma coisa e, em 1890, pelo círculo de Gaia, alcançando «mais de quinhentos votos» e «quanto aos que lhe não contaram, não seriam menos de outros tantos», conforme relata «O Protesto Operário» n.º 417-1890, o que significa que a obra das tropelias eleitorais é de todos os tempos. (9)

O seu nome honrado, a sua inalterável fé nos princípios, conquistaram-lhe a simpatia de todos os elementos associativos e democratas.

Ainda em 1950 ele escrevia-nos, e já com 92 anos:

«Desde muito novo comecei a sentir o peso da constituição da sociedade. Por isso, quando me apareceram as nobres ideias do seu aperfeiçoamento, abracei-as com entusiasmo e amor.

Prestes a findar a minha passagem por este vale de lágrimas, levo no meu coração todas as simpatias e admiração por aqueles que não fraquejam na luta constante contra todas as dificuldades que lhes aparecem na sua santa missão».

Tem razão. Agora só vivemos de saudades daqueles que têm caído pelo áspero caminho da vida, daqueles que foram nossos amigos e nossos companheiros nas jornadas associativas.

É a fatal lei da vida!

Mas felizmente, Luís Soares está vivo, na aldeia da ínsua de Carregosa (Oliveira de Azeméis), e é, repetimos, um veterano da passada era associativa; é uma relíquia de 1872, do tempo de José Fontana e Antero de Quental, que, apesar dos seus 95 anos, se mantém firme nos seus princípios democráticos, como um bom rochedo e crente no ideal que abraçou aos 20 anos, isto é, há setenta e cinco anos, e, por isso, o seu nome honra a galeria de «VULTOS OPERÁRIOS», como sendo um homem de carácter (hoje coisa tão escassa!) e um fiel paladino do bem-estar da Humanidade.

 

OBS.: – Joseph Delerne era um emigrado francês da revolução de 1840, que viveu e morreu no Porto. Pertenceu à Associação dos Trabalhadores, na sua secção nortenha.

__________________________________ 

NOTAS

(1) – Em Rôge, Vale de Cambra, filho de pai incógnito e de Joana – segundo o seu bilhete de identidade.

(2) – Luís Soares faleceu no lugar da Ínsua, Oliveira de Azeméis, no dia 2 de Outubro do ano de 1955, portanto, com 97 anos de idade.

(3) – «Por esse tempo (1872) fundou-se a Fraternidade Operária, sociedade que tinha por fim a propaganda socialista, inspirando-se e recebendo instruções da Internacional... A sua organização era secreta... abrangia os operários de Lisboa e Porto e vilas circunvizinhas das duas cidades, e tendo logo no primeiro ano da sua instalação uns vinte mil sócios.» – do «Movimento Operário em Portugal» de Campos Lima.

(4) – «Resultou da fusão das seguintes associações: de Trabalho Nacional, fundada em 1871, de Fraternidade Operária, Fraternidade Agrícola, Fraternal dos Trabalhadores, Associação de todas as classes trabalhadoras, Fraternal Barreirense e Fraternidade Operária do Porto, fundadas em 1872.

O fim da Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa era a regularização do tempo e condições do trabalho, o salário, as relações com os possuidores dos instrumentos de produção. Além disso deveria instituir escolas e bibliotecas, desenvolver a cooperação e o crédito. A organização do trabalho deveria fundar-se na solidariedade social.» – do «Movimento Operário em Portugal», de Campos Lima. / 23 /

(5) – Ruy Luis Gomes, no seu livro «Problemas de Investigação e História», afirma nas páginas 132, 133 e 134: «Nessas acções de massas destacam-se dois elementos que, além disso, também estão ligados às movimentações do Ultimatum – 31 de Janeiro..

Um deles é Viterbo de Campos, natural da freguesia da Vitória, da cidade do Porto, marceneiro... Outro destacado militante foi Luís Soares, serralheiro, natural de Vale de Cambra, distrito de Aveiro, e que exerceu vários cargos desde 1885.» «...Nas proximidades do Ultimatum – 31 de Janeiro, o Porto era, pois, um centro industrial com um proletariado vivendo em baixíssimas condições económicas, mas com dirigentes da categoria de Viterbo de Campos e Luís Soares...»

Mais adiante, páginas 155 e 156, transcreve de Basílio Teles o seguinte: «Quem prepondera, quem se mostra no primeiro plano, quem se exibe em relevo poderoso, são os paisanos desconhecidos que investem com a porta do quartel de infantaria 18, e os sargentos e soldados anónimos que, horas depois, na rua de Santo António e na câmara replicam ao fogo da Guarda Municipal». Depois diz: «E, para que a Revolução triunfasse, faltou apenas a unidade das forças democráticas e das forças operárias.

É certo que Basílio Teles ainda tentou essa unidade, entrando em contacto com o prestigioso militante operário Luís Soares que, de resto, acompanhara as forças revolucionárias desde a concentração no Campo de Santo Ovídeo (hoje Praça da República). Mas esse diálogo foi já na fase final da revolução, quando os combatentes estavam entrincheirados no edifício da Câmara (Praça da Liberdade) e prestes a serem bombardeados pela artilharia fiel ao governo.»

Por sua vez, Basílio Teles, no seu livro «Do Ultimatum ao 31 de Janeiro» à página 301, diz: «Depois, a cooperação dos operários, infelizmente recolhidos em suas casas – explicava-se – por haverem as fábricas suspendido a labutação, em consequência das ocorrências da manhã. Por fortuna, o acaso depara um chefe socialista, Luís Soares, a quem se mostra a urgência de convocar os companheiros, e se expõe, nas suas linhas principais, o plano concebido rapidamente minutos antes. Este operário corajoso e simpático põe-se imediatamente à disposição dos republicanos (circunstância essencial, que Pinheiro Chagas não mencionou num seu artigo, relativo ao incidente, publicado dias depois); mas observou, e com razão, que seria empresa difícil reunir, antes da noite, os homens importantes do partido socialista, e muito menos os milhares de operários, que a execução do plano pressupunha. «– Os chefes do movimento – dizia – revelaram em tudo a mais extraordinária imprevidência. Presumindo demasiado do valor das forças militares, tinham-se alienado, se não as simpatias, o concurso activo das classes populares, – que não devia ter sido desprezado» – concluiu, em tom de censura, Não obstante, lembrava que se consultasse um industrial estrangeiro experiente, que indicaria a táctica a seguir naquela fase desesperada da revolta.

Esta conversa tinha lugar ao ar livre na Rua da Fábrica...»

(6) – Viterbo de Campos foi o mentor do movimento associativo e político no Porto e director do jornal «O LAR SOCIALISTA».

Do livro da Cooperativa do Povo Portuense à memória de VITERBO DE CAMPOS, à página 35 pode ler-se: «Vamos, senhoras e senhores, dar por concluída esta nossa tarefa, mas não podemos perder este ensejo sem tornar bem conhecidas as magníficas frases com que o nosso antigo e querido companheiro Luís Soares encerrou o seu discurso pronunciado junto da sepultura de Francisco Viterbo de Campos.

Elas são, a nosso ver, de uma oportunidade flagrante e de um alcance social eloquente. Ei-las:

...«Mas não fiquemos pelas lágrimas sinceras que aqui vimos derramar; há muito que fazer. A obra de Viterbo tem de ser continuada.

Se há coragem para isso, metamos mãos à obra.»

E tenho dito.»

(7) – «No Porto ainda se procurou entravar estes dissídios. Entre o Centro Operário de Propaganda Socialista e a Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa entabularam-se negociações para um acordo, sendo escolhida uma comissão com elementos de ambos os campos para tratar do assunto, a qual ficou composta por Ferreira Lisboa, Fernandes de Oliveira, Moreira da Silva e Santos Silva, pela Associação dos Trabalhadores, e Luís Soares, Manuel José da Silva, Macedo de Andrade e Fernandes Pinto, pelo Centro Operário de Propaganda Socialista...

Estes componentes ficaram constituindo a Junta Federal do Norte do Partido Operário Socialista.

Esta junta nada adiantou na questão da dissidência, pois, enquanto os elementos do Centro Operário de Propaganda Socialista defendiam a fusão das duas correntes socialistas, os aderentes da Associação dos Trabalhadores só aceitavam a coligação...» – NOTAS PARA A HISTÓRIA DO SOCIALISMO EM PORTUGAL (1871-1910) de César Nogueira, páginas 205 e 206.

(8) – Neste mesmo livro à página 162 e 163: «A questão das licenças para trabalhar foi, em 1887, a origem do revigoramento da organização do movimento operário nacional... No Norte, a comissão eleita na Associação dos Trabalhadores (Porto) era assim constituída: Silvestre Pinto Caldeira, Eduardo de Carvalho, António Teixeira de Carvalho, Lourenço Gomes, Luís Soares, Francisco Viterbo de Campos e António da Rocha Coelho.»

Do Almanaque socialista PENSAMENTO (Revista Internacional), no Volume lI, n.º 34: «Segundo o Regulamento Geral do Partido Operário Socialista, aprovado na Conferência de 1882, art. 2.º, subdividia-se o Partido em três federações distritais – a do norte, capital Porto; a do centro, capital Coimbra; a do sul, capital Lisboa». Cada Conselho Federal era composto de sete membros, eleitos por sufrágio dos respectivos federados». Destes Conselhos só funcionaram o do sul e o do norte. O do centro só se organizou em 1885 unicamente. Damos a seguir a nota dos membros dos Conselhos Federais, que dirigiram o socialismo português, desde a I Conferência Nacional Socialista, em 1882 (Lisboa), até à II Conferência Nacional Socialista, em 1895 (Tomar), que, contra nossa vontade, não é completa e talvez susceptível de rectificação em virtude da falta de documentação e também por nos últimos anos as eleições dos cargos federais não correrem normalmente, em virtude dos desacordos na vida da organização socialista: – 1884, Conselho Federal do Sul: José Augusto Guedes Quinhones, J. A. Pinto, Francisco Viterbo de Campos, Eudóxio César de Azevedo Gneco, Manuel Luiz de Figueiredo, Domingos Henriques Nunes da Silva, António Joaquim da Conceição Pires, Conselho Federal do Norte: Heliodoro Augusto Salgado, Luís Soares, Joaquim José Tavares, José Maria Pina, José da Silva Lino, Francisco Guilherme, Alecrim, Eduardo da Cunha e Carvalho, 1885, Idem, sul... Idem, norte: Eduardo de Carvalho e Cunha, Lourenço Gomes, Luís Soares, Silvestre Pinto Caldeira, Francisco Viterbo de Campos, José Maria Pina, 1886, Idem, sul... Idem, norte: Silvestre Pinto Caldeira, Lourenço Gomes, Ricardo D. Pôças, Eduardo Carvalho e Cunha, Manuel A. Lopes, Luís Soares, Francisco Viterbo de Campos. 1887, Idem, sul... Idem, norte: Lourenço Francisco Gomes, Luís Soares, Francisco Viterbo de Campos, António Teixeira de Carvalho, António da Rocha Coelho, Silvestre Pinto Caldeira, Eduardo de Carvalho e Cunha...

Ao Volume lII, n.º 38, nota 1: «Esta Junta Geral não terminou a sua missão, não funcionando em 1902 e 1903. Só em 1 de Novembro de 1904 é que foi organizada uma nova Junta Geral, também com sede no Porto, que ficou assim formada: Efectivos – Luís Soares, João Pinto Maravilhas Pereira, Inácio de Sousa, Joaquim Mendes Gomes, José Maria Conceição Fernandes, Manuel José da Silva, Filipe Soares Dias. Suplentes – José António da Silva, Manuel da Silva Guimarães, Caetano Soares da Silva, Torcato Joaquim do Couto (Ver O Primeiro de Maio, n.º 81, de 13 de Novembro de 1906, Lisboa). Esta Junta Geral funcionou até à Conferência Nacional extraordinária que se efectuou em Junho de 1906, em Tomar.» «Nesta Conferência extraordinária foi resolvido / 24 / sancionar a adesão ao Comité Socialista Internacional, e continuar a depositar confiança na Junta. Das Notas para a História do Socialismo em Portugal, de César Nogueira, nas páginas 116 e 117: – «Entre 1880 e 1881 produziu-se no Porto uma dissidência na Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa, fundando os dissidentes, que, parece, eram três grupos, a União Democrática Social, a qual tinha por mentor Pinto Barbosa, elemento de valor. A dissidência teve resultados infecundos, apesar de ter existido durante dez anos. Mais tarde, em 1881, retirou-se outro grupo da Associação dos Trabalhadores (Porto), organizando a Associação União dos Trabalhadores, de feição anarquista, dirigida pelo antigo elemento socialista Ermelindo António Martins. A respeito destas divergências informa o velho militante da Fraternidade Operária no Norte (1872) Luís Soares, em carta, enviada de Ínsua de Carregosa (Oliveira de Azeméis) e datada de 8 de Outubro de 1947, dirigida a António Martins (Porto) o seguinte: «Vão desaparecendo uns após outros tantos velhos companheiros de luta pelas suas velhíssimas idades. Júlio de Oliveira apareceu na Associação dos Trabalhadores, no Largo das Fontainhas, 50, mas pouco tempo lá se demorou. O Barbosinha foi escorraçado por Ermelindo António Martins, a quem chamara dandy por usar capa à maneira espanhola e ser burguês. Notava-se o José Pinto Rodrigues Beça, ao tempo rapaz, novo e inteligente, era por assim dizer quem fazia mais despesa com o jornal O Operário. Mas o Ermelindo, embora tivesse outros conhecimentos e facilidades na exposição, tinha um génio tão irascível que custava a suportar. Por isso o Barbosa saiu, indo com ele uns poucos, entre eles o Júlio de Oliveira, fundando a União Democrática Social, na Rua do Almada. E esta foi a primeira dissidência. Éramos poucos, mas ficamos. Manuel José Martins era primo do Ermelindo e do José Martins Gonçalves Viana. Todos os três metalúrgicos. Manuel começou trabalhando por sua conta. Faziam os dois parte do conselho do Círculo, como então se chamava esse corpo, que mais tarde foi Conselho Central. Manuel José Martins, inteligente e honesto, começou prosperando, mas acompanhando a causa e auxiliando cada vez mais, moral e materialmente, o movimento. Ermelindo começou a chamar-lhe burguês, por despeito. Declarou-se anarquista e saiu da Associação acompanhado de alguns. Foi assim que nasceu o anarquismo no Porto».

Nas páginas 321 e 322: «Em 18 de Março constituiu-se a Casa do Povo Portuense (actualmente Cooperativa do Povo Portuense, em virtude da legislação sobre Casas do Povo decretada pelo regime do 28 de Maio), sendo seus organizadores Serafim dos Anjos, Pinho e Pinto, Manuel José da Silva, Maravilhas Pereira, José Ribeiro, Soares de Aguiar e Francisco Viterbo de Campos, seu principal animador. Inscreveram-se nela 197 sócios» (entre os quais Luís Soares, sócio fundador, conforme narra o Relatório da Direcção da Cooperativa do Povo Portuense, relativo ao ano de 1954).

Luís Soares foi também membro da A. I. T. (Associação Internacional do Trabalho) – na A Origem da 1.ª Internacional em Lisboa, de Carlos da Fonseca, págs. 199, 200 e 201.

Foi Presidente da Assembleia-Geral da Casa do Povo Portuense nos anos 1911/12.

No livro de César Oliveira «O Operariado e a República Democrática 1910-1914, na página 213, pode ler-se, da transcrição do jornal A Batalha Socialista, de 10 de Julho de 1913, acerca do V Congresso Socialista: «A primeira sessão foi consagrada à constituição do Congresso. A segunda foi a sessão solene, a que presidiu o velho lutador do Norte, Luís Soares

(9) – Transcrições das NOTAS PARA A HISTÓRIA DO SOCIALISMO EM PORTUGAL (1871-1910), de César Nogueira:

«1889.

...A 20 de Outubro realizaram-se eleições para Deputados, apresentando a organização socialista as seguintes candidaturas (ver o Protesto Operário n.º 390, Lisboa, 1889):

Pelo Porto: Luís Soares. A candidatura pelo Porto alcançou 165 sufrágios (ver idem e «A Voz do Operário» n.º 523, Lisboa, 1889).

1890.

..Em 30 de Março celebraram-se eleições para Deputados. Os socialistas do Norte decidiram, porém, concorrer à urna, apresentando as seguintes candidaturas (ver o «Protesto Operário» n.º 409, Lisboa, 1890).

Vila Nova de Gaia: Luís Soares.

1892.

...Em 23 de Outubro efectuaram-se as eleições para deputados...

No Porto, o Centro Operário de Propaganda Socialista, que, como temos exposto, era oposto à Associação dos Trabalhadores, resolveu entrar no acto eleitoral propondo para candidatos a Deputados os da seguinte lista: Vila Nova de Gaia: Luís Soares.

1901.

...Em 6 de Outubro celebraram-se eleições para Deputados... No Porto, porém, o Partido  Socialista resolveu concorrer e apresentar as seguintes candidaturas, a que juntamos a votação respectiva (ver «O Comércio do Porto» n.º 239, Porto, 1901):

 
Circulo Oriental

Votos

Macedo de Andrade

Joaquim Francisco Pedrosa

Manuel José da Silva

José Maria da Conceição Fernandes

Luís de Oliveira

72

69

71

69

71

Total

353

 
     
 
Circulo Ocidental

Votos

Francisco Viterbo de Campos

João Fernandes de Oliveira

João Pinto Maravilhas Pereira

Inácio de Sousa

Luís Soares

193

193

204

182

217

Total

989

 

A soma total dos círculos foi de 1381 votos. 

1904.

...Em 26 de Junho realizaram-se eleições para Deputados. O Partido Socialista Português resolveu abster-se de concorrer às urnas. Contudo, um grupo de socialistas do Porto deliberou apresentar ao sufrágio uma lista de candidatos a Deputados por esta cidade...

Bairro ocidental: Luís Soares, Luís Gonçalves de Oliveira, Macedo de Andrade, Luís Cândido Pereira, Tomás Gasparinho da Silva Valente, Joaquim Francisco Pedrosa, Tomás Gomes da Silva.

1910.

...Quando se realizaram as eleições para Deputados, em 28 de Agosto, as últimas do regime monárquico, o Partido Socialista resolveu concorrer às urnas em Lisboa e Porto e no resto do País, nos termos do resolvido na Conferência de Coimbra, em 1901, contrariamente à opinião de Azedo Gneco. Não tinha em mira vencer, mas sim fazer uma afirmação de princípios e comprovar a existência da sua organização...

No Porto os socialistas apresentaram as seguintes candidaturas (ver «A Voz do Povo» n.º 171, Porto, 1910): Círculo 5: Eudóxio César Azedo Gneco, Manuel José da Silva, Luís Soares, José de Oliveira Rodrigues, Inácio de Sousa.

O resultado da votação no Porto foi de 195 boletins, sendo 86 no círculo 5...»

 

páginas 21 a 24

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