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N.º 18

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Novembro de 1974 

Em Avanca viu luz –

Nova luz da humanidade...

 

 

A revista “Aveiro e o seu Distrito”, no desejo de recordar os valores da nossa Terra, presta hoje homenagem ao Doutor António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, na ocorrência do primeiro centenário do nascimento do insigne Professor; pretende desta forma juntar a sua voz aos louvores póstumos que lhe são oficialmente tributados pela Nação.

Se, por um lado, tal iniciativa quer ser uma recordação de quem foi um dos nossos ilustres conterrâneos, ela deseja outrossim significar um agradecimento ao Homem que se elevou desinteressadamente acima dos demais para bem da Humanidade, prestigiando assim o torrão natal e a Pátria Portuguesa.

 

DEVOTADO AOS OUTROS

A vida do Doutor Egas Moniz, mais do que uma caminhada horizontal de triunfo em triunfo, projectou-se autenticamente numa linha em ascensão.

Tendo nascido na vila de Avanca, do concelho de Estarreja, a 29 de Novembro de 1874, frequentou a instrução primária numa escola da vizinha freguesia de Pardilhó; cursou os estudos liceais no Colégio de S. Fiel, dos Jesuítas, e, os últimos anos, no Liceu de Viseu. Após preparatórios de Medicina, em Coimbra, desde 1891, matriculou-se em 1894 na respectiva Faculdade; terminado o curso em 1899, doutorou-se em Medicina a 14 de Julho de 1902; a partir de 1903 foi professor catedrático na mesma Faculdade de Coimbra (Anatomia, Histologia e, mais tarde, Patologia Geral), sendo transferido para a de Lisboa em 1911, onde ocupou a cadeira de Neurologia, então criada. Nesta Faculdade, que dirigiu durante algum tempo, dedicou-se também aos trabalhos da angiografia cerebral e da leucotomia pré-frontal, cuja descoberta o tornou mundialmente conhecido. Isso proporcionou-lhe a entrada na Academia das Ciências de Lisboa e fê-lo sócio de diversas academias estrangeiras.

Na actividade política, foi deputado em várias legislaturas parlamentares, desde 1903 até 1917; neste capítulo, teve a oportunidade de mostrar as suas qualidades de orador. Exerceu ainda os cargos de ministro dos Negócios Estrangeiros e de diplomata; por seu intermédio, quando embaixador em Madrid, o Governo do Dr. Sidónio Pais conseguiria o reatamento das relações com a Santa Sé, interrompidas em 1911.

Também não lhe foram alheios os domínios da arte e da literatura, onde evidenciou as capacidades de um espírito multifacetado.

No ensino universitário, jubilou-se em 1944, por ter atingido o limite de idade. A 29 de Novembro desse ano, ao proferir a última lição em Lisboa, foi-lhe prestada uma significativa e simpática homenagem, em que não faltaram a presença e os aplausos de alunos, colegas, colaboradores e professores. Passados dias, a 23 de Dezembro, em Estarreja, no salão nobre da Câmara Municipal, os patrícios de tal forma lhe manifestaram a sua estima que a sessão teve foros de apoteose.

Em fins de Outubro de 1949, as agências internacionais de informação davam a notícia de que o Professor Doutor Egas Moniz fora galardoado com o Prémio Nobel. De facto, o ilustre médico recebia o seguinte telegrama, vindo de Estocolmo, com data de 28 daquele mês: – «O Colégio dos Professores do Instituto Carolino decidiu atribuir o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1949, metade a Vossa Excelência, pela descoberta do valor terapêutico da leucotomia pré-frontal em certas psicoses, e metade ao Professor Walter Rodolf Hesse, de Zurique, pela sua descoberta da organização funcional no diencéfalo para a coordenação da actividade dos órgãos interiores. – Hilding Bergstrand, Reitor do Instituto Carolino».

Tamanha distinção era concedida pela primeira vez a um filho de Portugal; por isso, o facto encheu de alegria não só os meios cultos da nossa Pátria, mas ainda outros sectores da vida nacional. Havia justa razão para tanto: o Doutor Egas Moniz passava oficialmente a ter um lugar de relevo na brilhante teoria dos grandes benfeitores da Humanidade.

 

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