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N.º 16

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1973 

Freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira

Por Roberto Vaz de Oliveira


Licenciado nas Faculdades de Direito e Letras – Secção de

Ciências Histórico-Geográficas – pela Universidade de Coimbra

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Por escritura de 24 de Novembro de 1789, lavrada na quinta de Santo António do Carregal, da cidade do Porto e casa de morada de Custódio Ferreira Carneiro de Vasconcelos, pelo notário proprietário bacharel António Pinto Ribeiro de Carvalho Peixoto, o morgado Fernando José Camelo de Mirando Pinto Pereira da Silva e sua mulher D. Maria Eufrázia Soares de Albergaria Pereira, venderam ao Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco, morador na Ferraria de Cima, da freguesia de Nossa Senhora da Vitória, da cidade do Porto – a «quinta chamada das Ribas do Castelo, da Vila da Feira, com as casas principais, capela, casas d'eira, casas da coxeira, com águas de fonte, de rega, de merugem, entradas e saídas e todas as suas pertenças, domínios e posse, direitos e acções que lhes competem e vierem a competir por direito: a qual e de natureza de prazo de vidas, de que e directo senhor a Serenissima Casa do Infantado».

 

Conforme se vê do documento comprovativo do pagamento da sisa, confrontava do norte com Flórido José Soares e Manuel Pedro da Costa e caminho de permeio que vai para a Lumieira e do sul com António Pinto e seu genro Custódio, do lugar dos Matos, do nascente com a estrada que vai para Vinhais e com José Ferreira Brandão, do poente com António Pinto dos Matos e Domingos José da Silva, constando da mesma sisa que na venda da capela se compreendiam «as suas competentes Imagens ornamento das mesmas e os que houverem e pertencerem ao Santo Sacrifício da Missa».

Na venda incluíram-se vários matos, foros e pensões.

 

O Dr. Sebastião foi investido na posse dos bens comprados e designadamente da quinta das Ribas do Castelo, em 28 de Novembro de 1789, posse que lhe foi conferida pelo tabelião João de Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, senhor de uma das casas de Fijô, na qual se manteve até ao seu falecimento em Dezembro de 1818.

De tudo quanto expus vê-se que a casa das Ribas esteve na mão da família do João Ferreira da Cruz – desde 1707 a 1789 – 82 anos.

Penso que o Dr. Sebastião foi levado a esta compra por residir, nesta vila, um seu irmão, Manuel Gomes da Costa Pacheco, que aqui exerceu os cargos de escrivão e tabelião durante dezenas de anos (tendo vivido, por arrendamento, na casa de Fijô, a que pertencia a capela de S. Miguel) e por conhecer bem a vila, pois já em 1775 e 1776 se associou a José Luís da Silva Careta, na arrematação da obra de grande pavimentação da vila, que teve lugar naqueles anos (Livro de contas e diário do Dr. Sebastião da Costa Pacheco, que possuo no meu arquivo, referente a 8 de Novembro de 1775 e 12 de Junho de 1776).

O Dr. Sebastião manteve um grande pleito judicial contra o José Ferreira Brandão, já mencionado e sua mulher, processo que, por morte desta, foi continuado contra o viúvo, filha e genro, Maria Flora Cândida e seu marido, o advogado desta vila, bacharel Apolinário José da Costa e os filhos – padre Bernardo José Ferreira Brandão e D. Vitória Maria.

Assim, este foi mais um grande pleito em que se viram envolvidos os donos da casa das Ribas, que durou desde 1 de Junho de 1790, data em que foi apresentado, em audiência por parte do Dr. Sebastião, o respectivo libelo de raiz, até 17 de Março de 1798, data em que teve o seu termo.

Neste libelo de «causa de união dos bens de prazo», o autor reivindicava para si a quinta do Bita, suas pertenças e frutos desde a sua ocupação, por parte dos / 59 / réus, alegando a nulidade do já aludido sub-emprazamento feito, ao réu Brandão, pelo Fernando José Camelo, por escritura de 3 de Outubro de 1776.

Depois de uma agitada actuação processual, o pleito foi decidido a favor dos réus e, deste modo, ficou legalizada a divisão do prazo que abrangia a quinta das Ribas e a do Bita, pelo que, a partir de então, passou a ser prédio autónomo, totalmente distinto daquela quinta.

Assim se operou o desmembramento das duas propriedades (embora se mantivesse o elo enfitêutico) com prejuízo para a quinta das Ribas, que estava separada da do Bita pela estrada que ainda hoje as divide, que vai para a freguesia de Fornos.

O Dr. Sebastião revelou-se um bom administrador, tendo aumentado a quinta das Ribas com a aquisição de diversas leiras, arredondando-a em limites muito dilatados.

Nasceu na referida rua da Ferraria de Cima, da cidade do Porto, em 17 de Janeiro de 1740.

Era filho de Luís Gomes da Costa e de sua mulher D. Clara Luísa Pacheco.

Depois de comprar a casa das Ribas aqui passou a viver com sua mulher D. Ana Joaquina Rita da Costa Pacheco ou D. Ana Joaquina Rita Gomes da Costa, onde faleceram sem descendência, ele em Dezembro de 1818 e ela em 1 de Abril de 1826, com 83 anos.

Ambos estão sepultados no pavimento da capela, um ao lado do outro, ela no centro, junto às escadas do altar mor e ele do lado poente.

Existe, nesta casa, um quadro a óleo, sem assinatura, que se reproduz em fotografia, que deve ser do Dr. Sebastião e da autoria de João Glama (Stroberle), pelo que passa a expor.

Convenço-me disto por, no verso da moldura, ter a data de 1759, em algarismos inteiramente semelhantes aos que ele usou no livro de contas, escrito pelo seu próprio punho, a que já me referi.

Dele consta que, em 17 de Agosto de 1777, o Dr. Sebastião comprou um retrato àquele pintor: penso que se trata do retrato a óleo em causa.

Acresce o facto de a pintura contemplar um estudante, vestido de capa e batina e ter, como cenário, os claustros da Universidade de Coimbra, circunstância que impressiona sabendo-se que ele nasceu em 1740 e que, naquele ano de 1759, frequentava esta Universidade.

Na verdade do arquivo da sua Biblioteca Geral consta que o Dr. Sebastião aí cursou a faculdade de Leis, com matrícula em Instituto (1-X-1757), 1.º ano (1-X-1758), 2.º ano (1-X-1759), 3.º ano (1-X-1760) e 4.º ano (1-X-1761).

A existência do quadro, nesta casa, bem se compreende, porque sua sobrinha direita, D. Josefa Xavier Ferreira Pacheco, era a posseira da casa, dado o seu direito de habitação, quando, por seu falecimento, meu bisavô paterno entrou na posse efectiva e real da quinta das Ribas, por força da compra que fizera ao genro dela – José Eleutério Barbosa de Lima: do mesmo modo ficaram, nesta casa, os diários do Dr. Sebastião e do irmão Manuel, pai da D. Josefa.

O Dr. Sebastião Pacheco deixou testamento cerrado datado de 26 de Março de 1816, aprovado na vila da Feira em 13 de Maio seguinte, pelo tabelião Luís António Correia de Sousa e Sá.

Neste testamento declarou que fizera escritura para casamento com aquela sua mulher, em 17 de Setembro de 1778, no cartório do tabelião Vitorino Manuel Cordeiro, da cidade de Lisboa, no qual foi estabelecido que, cada um, se levantaria com o seu dote e com metade dos adquiridos.

Nomeou a mulher sua testamenteira e instituiu-a herdeira de «todos nossos bens moveis, semoventes, pesas douro e prata, diamantes e aljofres, dinheiro em ser e de devedores; tudo na maneira que estamos possuindo pagas as dividas; e usufrutária de todos os nossos bens de raiz, ainda que de prazos sejam, direitos e açoens..,».

Dispôs, em seguida que, por falecimento de sua mulher, seria seu herdeiro e testamenteiro, de todos os bens de raiz, direitos e acções, com obrigação do pagamento dos legados, seu segundo sobrinho Luís, filho daquela suo sobrinha Josefa e de seu marido Torcato José Ferreira.

Carta genealógica da família de Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco. Clicar para ampliar.
Carta genealógica da família de Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco.

Mais disse que «casa aquele seu sobrinho não quizesse aceitar a herança passariam todos os bens de raiz e a herança para sua irmã, segunda sobrinha do testador, de nome Josefa, com os mesmos encargos e legados, acrescentando: «E da mesma maneira não aceitando esta com os encargos e legados pasem todos os meus bens de raiz, direito e acções, ao parente mais proximo a quem tocam com os mesmos encargos e legados». / 61 /

Pedia, finalmente, que o enterrassem «em uma das tres sepulturas que se fizeram na capela de Nossa Senhora de Monserrate desta Quinta falecendo nela, sem aparato, nem toque de sinos e só os sinais da Constituisam; e nem me fasam oficios...».

Sua mulher, D. Ana, também deixou testamento em que, além de bens de alma, fez determinados legados.

Do registo do seu óbito consta que foi sepultada na «Capela da sua Quinta».

A transmissão da casa e quinta das Ribas e demais bens de raiz, extinto o usufruto exercido pela D. Ana, fez-se a favor de uma sua segunda sobrinha – D. Maria Teresa Pacheco Ferreira (filha de sua referida sobrinha direita Josefa Xavier Pacheco Ferreira) que casou com José Eleutério Barbosa de Lima.

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Daí resultou outra grande demanda em que se viu envolvida a casa das Ribas, movida pela D. Josefa contra aqueles seus genro e filha, arrogando-se ao direito dos bens de raiz deixados pelo Dr. Sebastião, conseguindo obter a sua posse em 21 de Fevereiro de 1826.

O José Eleutério e mulher reagiram e foram investidos nessa posse por sentença de 21 de Setembro do mesmo ano. / 62 /

O pleito terminou por uma escritura de transacção feita no Porto, em 27 de Agosto de 1828, lavrada no cartório do tabelião João de Sousa Melo Nunes.

Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco. Quadro a óleo que se presume ter sido pintado por João Glama.

Deste acordo resultou, substancialmente, a D. Josefa ficar com o direito à habitação nas «Casas da quinta das Ribas de Cima» para que nelas pudesse viver com a condição, porém, da sua filha e genro poderem ir viver livremente, para a mesma casa, em qualquer parte e estação do ano que lhes conviesse, vivendo, assim, juntos na mesma casa.

A D. Maria Teresa e o marido ainda se obrigaram a dar à D. Josefa o usufruto de um pedaço de terra na mesma quinta chamada o «Campo da Pereira» que foi devidamente confrontado, ou seja «o bocado de terra da eira para baixo até ao fundo dividido por um caminho», como José Eleutério mandou dizer a meu bisavô paterno, Joaquim Vaz de Oliveira Júnior, numa das cartas (6 de Dezembro de 1840) que precederam a venda, daquele a este, da casa e quinta das Ribas.

Na mencionada escritura de transacção, ficou estipulado, finalmente, que a obrigação de alimentos que o José Eleutério e mulher também se obrigaram a prestar à D. Josefa, cessaria se ela suscitasse novas questões sobre a mesma herança, tendo em atenção as despesas que eles teriam de fazer com essas questões, tendo aquela prometido «não os incomodar mais e de futuro em questões a semelhante respeito, sob pena a que se sujeita de perder os referidos alimentos».

Ela veio a falecer, na casa das Ribas onde vivia, em 27 de Julho de 1841, sendo enterrada, no mesmo dia, no adro da Igreja desta vila.

Mais tarde foi trasladada para a capela da casa das Ribas: jaz na sepultura que se segue, para nascente (de lado da sacristia), da de sua tia, a D. Ana Joaquina Gomes da Costa.

José Eleutério e mulher, em conformidade com a mencionada escritura de transacção, tomaram posse dos bens da herança do Dr. Sebastião Pacheco, entre os quais se contava a quinta das Ribas, em 19 de Novembro de 1828.

A solicitação daqueles, D. Miguel, como senhor e administrador da «(Casa e Estado do Infantado», em carta de emprazamento de 22 de Dezembro de 1831, deu-lhes de aforamento, em renovação de prazo, a quinta das Ribas e a do Bita.

Assim foi reconhecido que lhes cabia o direito à renovação pedida, não obstante estas duas quintas já estarem separadas, uma da outra, como já referi.

O prazo manteve-se uno com D. Maria Teresa Pacheco Ferreira, como cabecel, por ser a herdeira do Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco e a possuidora «de maior monte».

O novo emprazamento foi concedido em três vidas, em que os requerentes foram primeiro e segundo, podendo o que sobrevivesse nomear o terceiro, com a obrigação dos requerentes, como cabeceis, cobrarem toda a renda e entregá-la no Almoxarifado, com as demais condições costumadas nos títulos de emprazamento.

Do respectivo auto de medição e de apegação, de 20 de Maio de 1831, além de outros itens, consta o da quinta «chamada das Ribas, sita ao pe do castelo desta vila da Feira» na qual se «achão umas boas casas sobradadas e terreas e uma boa capela com seo pateo e a frente da entrada da parte de norte, uma portada de pedra de escoadria lavrada, com seu cruzeiro em cima com duas janelas, uma de cada lado...».

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Aquele irmão do Dr. Sebastião, de nome Manuel Gomes da Costa Pacheco que, antes de ser tabelião, nesta vila, fora capitão da marinha mercante casou, em 15 de Janeiro de 1783, com D. Teresa Rosa, filha de Francisco Lage e de D. Úrsula Maria de Matos, havendo deste casamento, além de outros, as seguintes filhas:

1) D. Luísa Ludovina Pacheco Miséria, que casou, em 14 de Fevereiro de 1797, com Estêvão Garçia d'Oliveira Miséria, proprietário de um dos ofícios de escrivão e de tabelião na Vila da Feira, em sucessão de seu sogro.

2) D. Josefa Xavier Ferreira Pacheco, que casou, em 21 de Junho de 1801, com Torcato José Ferreira que, no Porto, foi secretário do 1.º Marquês de Palmela (ver «José Eleutério» pelo Dr. Vaz Ferreira em «Ferro Velho.» – Correio da Feira, número 2751 de 22 de Setembro de 1951 e «Um dos meus Costados – D. Antónia Albina de Paiva e Sousa e os seus ascendentes» – fls. 29, manuscrito de Francisco Moura Coutinho, que consultei por gentileza de seu filho Felipe de Moura Coutinho).

D. Josefa, come já disse, faleceu na casa das Ribas em 27 de Julho de 1841, estando sepultada na sua capela.

De seu casamento com aquele Torcate José Ferreira deixou uma filha – a já referida D. Maria Teresa / 64 / Pacheco Ferreira, que faleceu em Tarrio, Vila Nova de Famalicão, em 1874.

Carta genealógica da família de José Eleutério Barbosa de Lima. Clicar para ampliar.
Carta genealógica da família de José Eleutério Barbosa de Lima.

Casou com José Eleutério Barbosa de Lima, que nasceu no Porto em 26 de Junho de 1797, filho primogénito de outro José Eleutério Barbosa de Lima e de sua mulher D. Ana Norberta de Paiva e Sousa.

Como informa Francisco Moura Coutinho (cit. ob., fls. 28) «Herdou de seu pai o ofício de escrivão dos Órfãos da Vila da Feira, Ovar e Coutos anexos, que estava lotado em 337$200 réis, o que perdeu em consequencia de reformas judiciais».

Foi provido, por portaria de 17 de Julho de 1832, na cadeira da língua inglesa na Academia do Comércio e Marinha do Porto tendo, em 14 de Maio de 1838, alcançado carta de lente proprietário e substituto gratuito da língua francesa, sendo depois nomeado, por carta de 4 de Dezembro de 1839, professor proprietário e vitalício das cadeiras de francês e inglês no liceu de Coimbra, sendo transferido, a 3 de Maio de 1854, tendo 57 anos para o liceu de Viana do Castelo.

Exerceu importantes comissões e prestou valiosos serviços durante o cerco do Porto, como depois no magistério, na composição gratuita de vários compêndios que ofereceu à Imprensa da Universidade, entre eles o da «Crotamaltica Poliglota», que o decreto de 4 de Julho de 1854 mandou adoptar para uso das aulas e exames nos liceus.

Seu pai, de igual nome, era filho do Dr. João da Costa Lima e de sua mulher D. Francisca Teresa Clara de Lima, também conhecida por D. Francisca Teresa Clara Barbosa dos Santos. Era cavaleiro professo da Ordem de Cristo, proprietário quartado de escrivão dos órfãos da Vila da Feira, Ovar e Coutos anexos e negociante matriculado pela Real Junta do Comércio e «um dos principais da Praça do Porto», como diz uma provisão de D. Maria I, passada em 25 de Agosto de 1807 (cit. obra de Francisco de Moura Coutinho, fls. 23).

Casou em 11 de Abril de 1796, na Igreja da Vitória do Porto, com D. Ana Norberta de Paiva e Sousa, nascida na mesma freguesia em 6 de Junho de 1774, filha de José de Paiva Ribeiro e de D. Maria Joaquina de Paiva e Sousa, falecida em 26 de Novembro de 1836.

Foi proprietário da Casa da Praça, hoje pertencente ao Dr. Belchior Cardoso da Costa (meu citado estudo «Quatro séculos de história...», pag. 133 e seguintes, Revista «Aveiro e o seu Distrito», divulgado em separata).

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Por escritura de 16 de Abril de 1841, lavrada na cidade do Porto pelo tabelião João de Sousa Melo Torres, José Eleutério Barbosa de Lima (filho) e sua mulher, então moradores na cidade do Porto, venderam a meus bisavós paternos Joaquim Vaz de Oliveira Júnior e a sua mulher D. Luísa Adelaide Teixeira da Silva Canedo, da vila da Feira, além de outros bens, a quinta «chamada das Ribas, sita no Castelo da Vila da Feira, com suas casas principais, capela...».

Os compradores ficaram obrigados à reserva que a D. Josefa, sogra e mãe dos vendedores, tinha do direito de habitação na casa e do usufruto no campo da Pereira, direitos que se mantiveram por pouco tempo, pois extinguiram-se em 27 de Julho seguinte, com o falecimento dela.

Assim terminou a posse exercida pela família do Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco sobre a «casa e quinta das Ribas», que decorreu de 24 de Novembro de 1799 até àquele dia 27 de Julho de 1841.

Meu bisavô já tinha sido investido na posse jurídica dos bens comprados, em 29 de Maio de 1841, dela constando a «quinta que se compoe de casas sobradadas e terreas, capela...».

Durante aquele período de tempo em que a propriedade esteve na posse da família do Dr. Sebastião ela recebeu grandes benfeitorias, sobretudo a quinta por mão do José Eleutério; infelizmente também sofreu delapidações e destruições por parte da D. Josefa.

No referido contrato de compra e venda e até por expressa vontade do vendedor (como verifiquei pela correspondência que trocou com o comprador), nada se declarou sobre a sua natureza enfitêutica, se alodial ou não e do porque tendo-se considerado que foi reguenga, tornou-se livre ou «Dizima a Deus» pelo decreto de 13 de Agosto de 1832.

No inventário por óbito daquela minha bisavó – D. Luísa Adelaide, porém, ao descrever-se a casa e a quinta declararam-se «de natureza de prazo de vidas de que foi senhoria directa a extincta casa do Infantado, como consta da carta de emprazamento feita em vinte e dois de Dezembro de mil oitocentos e trinta e um».

Posteriormente, em todos os documentos, a casa e a quinta foram claramente descritas como alodiais, como hoje são de facto e de direito. / 65 /

No referido inventário, a «Quinta chamada das Ribas de Cima, sita na lugar do Castelo desta Vila da Feira, que se compõe de Casas Nobres, Capela...», foi adjudicada ao viúvo.

Meu bisavô, embora frequentasse assiduamente a casa e a quinta, fazendo nelas grandes melhoramentos, nunca chegou a habitá-la, falecendo na vila, na casa hoje pertencente a D. Maria da Luz Albuquerque, na rua agora denominada do Dr. Guilherme Moreira. Ele e sua mulher repousam no jazigo da capela de Nossa Senhora de Monserrate.

Por morte do meu bisavô, a casa e a quinta ficaram a pertencer ao meu avô paterno – Dr. Joaquim Vaz de Oliveira e a sua mulher D. Libânia Amélia Vaz de Almeida Teixeira (escritura de partilhas de 7 de Setembro de 1866).

É curioso referir a razão dada desta adjudicação, na mencionada escritura, bem expressiva da preocupação já então manifestada da manutenção da casa e da quinta na posse da família e designadamente na linha varonil.

Declararam «todos os outorgantes que esta Caza, Quinta e pertenças das Ribas vão encabeçadas no primeiro outorgante (Dr. Joaquim Vaz) não só por sua natureza e qualidade destas, mas também por que a comodidade e justeza das partilhas o não admitiu no pagamento de outro quinhão e ainda muito especialmente porque a conservação da quinta como cumpre não tanto aos interesses do proprietário, mas muito respeitosamente à religiosa consideração que todos devem e têm à veneranda memória de seu pae e sogro que estimava muito esta propriedade, demanda grandes despezas para que nenhum dos outorgantes esta habilitado».

O prédio foi descrito, na Conservatória do Registo Predial da Comarca da Feira, sob o número 3649-L-B – fls. 180, conforme registo aí feito, por meu avô, em 20 de Janeiro de 1872.

Por morte do Dr. Joaquim Vaz, em 12 de Outubro de 1888, a casa e quinta das Ribas vieram a pertencer a meu pai – Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, falecido em 7 de Agosto de 1920, de quem a herdei, com adjudicação por escritura de partilhas lavrada, nesta vila, em 1 de Agosto de 1927, pelo notário António de Figueiredo Ferreira.

Em trabalho ainda não impresso, faço a história desenvolvida da casa e quinta das Ribas, da sua capela de Nossa Senhora de Monserrate, do morgadio instituído pelo João Ferreira da Cruz, bem como a das que as possuíram e das suas respectivas famílias.

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Joaquim Vaz de Oliveira Júnior que, como disse, comprou a casa e quinta das Ribas em 1841, nasceu em 29 de Novembro de 1803 na freguesia de S. Lourenço do Douro, concelho de Bemviver, da comarca de Sobre Tâmega.

Era filho de Joaquim Vaz de Oliveira e de sua mulher D. Maria Felizarda.

Estudou preparatórios no Porto e assentou praça no exército em Maio de 1823.

Em 1832 foi nomeado, interinamente, regente e ajudante do cartório de escrivão dos Órfãos no Porto, lugar que servia seu pai: tinha a seu cargo o expediente e contabilidade das «Decisões e Novos Impostos» da freguesia de Santo Ildefonso.

Em Maio de 1833 foi eleito alferes da 1.ª Companhia do «Batalhão de Empregados Públicos» e em Junho seguinte foi nomeado para o lugar de oficial partidor do Juízo de Fora do Cível, da mesma cidade do Porto.

Foi um entusiasta pela causa da Rainha, tendo-se batido pelos constitucionais no cerco do Porto, designadamente no Carvalhido.

Em 16 de Maio de 1828 foi preso nas cadeias da Relação do Porto, em resultado da sua actividade política.

Por decreto de 23 de Junho de 1834, D. Pedro, Duque de Bragança, como Regente do Reino de Portugal, despachou-o, em termos muito elogiosos, escrivão do juízo de direito da comarca da Feira: especificadamente foi referido que «se portou dignamente assim no serviço ordinário, como nas ocasiões de fogo, sendo efectivo em todo o tempo que o dito batalhão (dos empregados públicos) ocupou o posto da linha de defesa do Carvalhido.

Veio para a Vila da Feira em Julho de 1834, tendo, em Agosto seguinte, prestado juramento para o exercício interino daquele cargo, enquanto o não servisse, como veio a servir, como efectivo.

Em 28 de Maio de 1839 prestou fiança como escrivão e tabelião nesta Vila da Feira. / 66 /

Em virtude da nomeação de um seu cunhado para escrivão e tabelião desta comarca da Feira, o que ocasionava incompatibilidade, em 1845 pediu a sua transferência, parece que para Estarreja, de onde voltou, de novo, para a da Feira, em face do decreto de 8 de Setembro do mesmo ano (esteve ausente desde 22 de Fevereiro a 5 de Outubro de 1845) por força da exoneração daquele seu cunhado.

Manteve-se, continuadamente, no exercício destes cargos até à sua morte, em 22 de Agosto de 1866. Como já informei, jaz na capela da casa das Ribas.

Fez parte do Conselho Municipal da Feira em 1842, 1843-44, 1845-46, 1847, 1848, 1850-51, 1854-55, 1856-57, 1858-59.

Casou em 14 de Junho de 1837, nesta Vila da Feira, com D. Luísa Adelaide Teixeira da Silva Canedo, aqui nascida em 15 de Janeiro de 1810, filha de José da Silva Canedo e de sua mulher D. Joana Emília Rosa Teixeira. D. Luísa Adelaide faleceu em 5 de Fevereiro de 1850, estando também sepultada na capela da casa das Ribas.

Para o estudo da família desta minha bisavó, ver o trabalho do tenente-coronel Fernando de Castro da Silva Canedo «Famílias Canedo e Teixeira Guimarães da Vila da Feira», publicado no cit. Arq. do Dist. de Av. – vol. XVI – pág. 125.

Joaquim Vaz de Oliveira, pai daquele Joaquim Vaz de Oliveira Júnior, nasceu e viveu na freguesia da Boa Viagem de Massarelos.

Foi escrivão da 1.ª instância da cidade do Porto, no distrito de Santo Ovídio.

Na relação a que se refere o decreto de 24 de Dezembro de 1833, que pôs em prática, nas cidades de Lisboa e Porto, o decreto de 16 de Março de 1832 e determinou a reforma da justiça consta: «Escrivães já despachados para servirem d'ante os juízes de Direito da Primeira Instância da Cidade do Porto. Distrito de Santo Ovídio – Joaquim Vaz de Oliveira...» (fls. 91 da colecção de todas as Leis, Alvarás, Decretos, etc. – Impressos na Régia – Oficina Tipográfica de Lisboa – ano de 1833).

Já era titular do cartório de escrivão do Juízo de Fora dos Órfãos, do Porto, em 5 de Maio de 1823 (Jerónimo Rossi Fidalgo ceramista» por Vasco Valente – pág. 27).

Faleceu na rua do Almada, da cidade do Porto, em 5 de Novembro de 1852.

Daquele casamento houve vários filhos.

Joaquim Vaz de Oliveira, pai do anterior do mesmo nome, morou na freguesia da Boa Viagem de Massarelos, onde nasceu em 26 de Fevereiro de 1741.

Foram seus pais, o capitão Francisco Vaz de Oliveira e sua mulher D. Ana Ferreira.

Casou com D. Ana Felizarda, natural da mesma freguesia.

Abandonou os estudos para a vida eclesiástica para se casar, tendo-se ordenado depois de enviuvar.

Teve licença «de genere», para esse efeito, em 1786.

Foi administrador do vínculo da capela de S. Pedro e de S. Paulo, em Vila Nova de Gaia, instituído pelo vigário Manuel Vaz com o encargo de 104 missas, os paramentos e fábrica para aquela capela, vínculo que foi abolido por provisão régia de 29 de Agosto de 1776, a pedido do Joaquim Vaz, em conformidade com a lei novíssima de 3 de Agosto de 1770, por a renda não atingir 100$000 réis anuais.

Rui Moreira de Sá e Guerra, no seu estudo «As capelas ou vínculos instituidos no convento de S. Francisco, na cidade do Porto (O Tripeiro – Série VI – Vol. VI – pág. 45) dá-nos conhecimento do que passo a expor.

João Domingues e sua mulher Maria Aires da Rua, legaram ao convento de S. Francisco dois almudes de azeite para a lâmpada do Santíssimo Sacramento hipotecando, à garantia do cumprimento da obrigação, uma morada de casas sobradas em dois pisos, na rua da Reboleira, que eram pertença da capela de S. Pedro e de S. Paulo da Igreja de Santa Marinha, de Vila Nova de Gaia, à qual se pagavam 25$000 réis de foro.

Mais tarde, em 15 de Setembro de 1694, nas notas do tabelião de Vila Nova de Gaia, António Aires Pimenta, – Fernão Vaz de Sá deu-as de emprazamento, como senhorio directo, a João Gomes Moreira, ourives de ouro e a sua mulher Teresa Moreira de Brito, moradores na mesma rua da Reboleira, ficando estes obrigados a pagar o foro de vinte e cinco mil réis e a entregar os dois almudes de azeite ao convento de S. Francisco, enquanto o Fernão Vaz de Sá pagaria oito mil réis à capela de S. Pedro.

O comprador explicou que herdou essas casas do tio, o referido reverendo Manuel Vaz, vigário que foi / 67 / da Igreja de Santa Marinha, de Vila Nova de Gaia. Este emprazamento foi possível, por Manuel Reis Campelo e mulher (que as emprazaram em 6 de Agosto de 1692) terem desistido do direito ao domínio útil com autorização do senhorio, com o fundamento de viverem longe, em Viana do Castelo.

O autor deste estudo finaliza: «Posteriormente, em 25-2-1786, Joaquim Vaz de Oliveira, viúvo, morador em Massarelos, vendeu por oitocentos mil reis a pensão anual de 25$000 com o direito dominical de dez – um que recebe dessas casas a Isidoro de Carvalho dos Santos, cav. prof. na Ordem de Cristo, morador no Porto. Tal pensão era pertença do vínculo que instituiu o vigário Manuel Vaz, mas que foi abolido por os bens que o garantem serem de valor insignificante e não renderem a quantia estatuída pela lei Provisória de 3-8-1770».

Não sei quem era o padre Manuel Vaz: possivelmente era tio, de geração já afastada, do Joaquim Vaz de Oliveira.

Este, daquele seu casamento, teve vários filhos.

Francisco Vaz de Oliveira, capitão, pai deste Joaquim Vaz de Oliveira, nasceu na já mencionada freguesia da Boa Viagem de Massarelos, em 22 de Novembro de 1703.

Foram seus pais Manuel Vaz de Oliveira e sua mulher D. Feliciana dos Santos Oliveira.

Em 21 de Julho de 1732 casou com D. Ana Teresa, ali nascida em 25 de Janeiro de 1712, filha de Francisco Ferreira Afonseca e de sua mulher D. Teresa Gomes, neta paterna de Luís da Fonseca Pereira e D. Maria de Meireles e materna de Manuel Marques e de D. Domingos Gomes.

Do seu referido casamento teve dois filhos.

Manuel Vaz de Oliveira, pai do anterior, o capitão Francisco Vaz de Oliveira, nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Natividade, de Macieira de Cambra, em 25 de Março de 1667, filho de António Vaz de Aguiar e de sua mulher D. Domingos Tavares, neto paterno de Gonçalo Fernandes e de D. Bernardes Antunes, todos naturais daquela freguesia, onde moravam e materno de João de Oliveira, natural de Oliveira de Azeméis e de D. Maria Tavares, natural da dita freguesia de Macieira de Cambra, onde ambos moravam.

Carta genealógica da família Vaz de Oliveira. Clicar para ampliar.
Carta genealógica da família Vaz de Oliveira.

Casou em 5 de Novembro de 1698, na freguesia da Boa Viagem de Massarelos, do Porto, com D. Feliciana dos Santos de Oliveira, filha de Amaro Duarte Caturro, então falecido, e de sua mulher D. Antónia dos Santos, naturais da mesma freguesia de Massarelos, onde ela morava, neta paterna de Francisco Fernandes e de sua mulher D. Mónica Duarte e materna de Domingos Alves Neto e de sua mulher D. Maria Antónia, aí moradores.

Manuel Vaz de Oliveira era homem de negócio, no Porto e recebeu carta de Familiar do Santo Ofício em 14 de Agosto de 1703 (m. 57 n.º 1203).

Entendo que está bem averiguada, nos termos expostos, a ascendência de Manuel Vaz de Oliveira e de sua mulher D. Feliciana dos Santos Oliveira, por constar do processo desta carta de Familiar.

Este comentário vem a propósito de ter, na minha mão, uma árvore genealógica da minha família Vaz de Oliveira, elaborada pelo ilustre linhagista D. Fernando Tavares e Távora, em que aquela Domingas Tavares, mãe do Manuel Vaz de Oliveira é dada como filha de Diogo Álvares Ferreira e de sua mulher D. Joana Tavares, aquele filho de Álvaro Vaz Ferreira, cavaleiro fidalgo e fidalgo de Cota de Armas em 27-8-1587 e neto paterno de António Vaz de Brito Ferreira, descendente dos senhores do solar de Ferreira, que também teve como filho Jorge Vaz Ferreira, senhor da quinta de Rio Falcão, fidalgo de Cota de Armas em 18-3-1583.

Aquele Diogo Álvares Ferreira era irmão do licenciado Gonçalo Ferreira Tavares.

É possível que a D. Maria Tavares (que deve ser a mãe de Domingos Tavares) seja irmã da D. Joana Tavares (que D. Fernando Távora julga ser a mãe) ou que estejam ligados por outro parentesco de onde se prove que D. Domingos pertencia à casa dos Ferreiras.

Para melhor conhecimento da história da família Vaz de Oliveira, lembro que o cit. Arq. do Dist. de Aveiro, no Vol. XXXI, pág. 205, arrola, como Familiar do Santo Ofício, Geraldo Blenz, com a respectiva carta de 8 de Fevereiro de 1754 («O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Snto Ofício» – por Dr. Jorge Hugo Pires de Lima).

No desenvolvimento da sua árvore genealógica apura-se que ele também era natural de Massarelos, freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem, filho de Geraldo Blenz e de sua mulher D. Úrsula Maria Teresa Blenz e que esta, por sua vez, era filha de Manuel Tavares de Oliveira, natural de Macieira de Cambra e de sua mulher D. Teresa Rosário, natural de Massarelos / 69 / e aí moradores e primo de Manuel Vaz de Oliveira, também Familiar do Santo Ofício, filho de uma irmã do avô materno, ou seja do aludido Manuel Tavares de Oliveira, de Macieira de Cambra.

Por todos os referidos elementos, creio bem que este Manuel Vaz de Oliveira é o meu sexto avô.

Este, do seu casamento com a D. Feliciana dos Santos de Oliveira, teve vários filhos.

* * *

Averiguada a ascendência do Joaquim Vaz de Oliveira Júnior, passo a referir-me à sua descendência.

Do seu casamento com D. Luísa Teixeira da Silva Canedo teve, além de outros filhos, o Dr. Joaquim Vaz de Oliveira.

Nasceu, na já aludida «Casa da Praça», na Praça do Dr. Gaspar Moreira, desta vila, hoje propriedade do Dr. Belchior Cardoso da Costa, em 4 de Janeiro de 1838.

Formou-se na faculdade de Direito, da Universidade de Coimbra em 1859, tendo exercido, com invulgar brilho, durante toda a sua vida, a profissão de advogado na vila da Feira, deixando impressos muitos dos seus notáveis escritos juridicos.

Como político, foi chefe, neste concelho da Feira, do partido constituinte, chefiado pelo conselheiro José Dias Ferreira.

Foi presidente da Câmara Municipal da Feira em 1868-1869, vice-presidente da mesma Câmara em 1876-1877 e administrador substituto do concelho da Feira, cargo para que foi nomeado em 1861.

A sua actividade no município foi notável.

Deu grande desenvolvimento à viação do concelho com a construção das suas principais estradas, de grande interesse público e promoveu a transferência do Tribunal Judicial e de outras repartições públicas para o edifício do antigo convento de S. João Evangelista, o que originou um grande conflito com o pároco desta freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira, o padre Manuel José Gonçalves Aroso que, então, ocupava algumas das suas dependências.

Notabilizou-se, na administração municipal, com as propostas que apresentou em 8 de Janeiro de 1876 e na defesa do concelho e da comarca da Feira, designadamente nas lutas sustentadas durante anos, das quais resultou terem sido desanexadas deste concelho, para serem incorporadas no de Ovar, as freguesias de Arada, Maceda e Cortegaça.

Espinho muito lhe deve pois, como bem disse e com justiça, Álvaro Pereira, no seu livro «Espinho – Monografia», a pág. 52: «O Doutor Joaquim Vaz de Oliveira, ilustre Feirense e advogado de grande fama, Presidente e vice-Presidente da Câmara da Vila da Feira, pôs todo o seu saber e deu o maior esforço à causa de Espinho que nascia... Assim, Espinho deve-lhe o princípio da sua urbanização, em que pôs todo o seu cuidado, numa perfeita clarividência do futuro...».

Outros se referiram a ele, exaltando-o.

Entre muitos, podemos citar o artigo, a todos os títulos notável, do Dr. António Toscano Soares Barbosa Júnior no «Comércio da Feira» – Ano 1.º, número 41 de 9 de Outubro de 1902.

O Dr. Joaquim Vaz casou, em 17 de Maio de 1862, no oratório da casa de Joaquim José Teixeira Guimarães, a que adiante me referirei, com sua prima D. Libânia Amélia d'Almeida Teixeira, filha daquele Joaquim José Teixeira Guimarães, que foi secretário da Câmara Municipal da Feira e de sua mulher D. Francisca Rosa de Almeida (da casa da Portela – de Paços de Brandão).

D. Libânia Amélia nasceu na Vila da Feira em 7 de Janeiro de 1842 e faleceu, na casa das Ribas, a 9 de Fevereiro de 1907 (ver estudo sobre o casa da Portela – manuscrito da autoria do Dr. Eduardo Pinho de Almeida e citado trabalho do tenente-coronel Fernando Canedo).

O Dr. Joaquim Vaz, que foi o primeiro da família a viver na casa das Ribas, aqui morreu a 12 de Outubro de 1888, estando sepultado na capela da casa.

Do seu mencionado casamento, teve vários filhos.

Eduardo Vaz de Oliveira, filho do anterior e da sua mulher D. Libânia Amélia Vaz de Almeida Teixeira.

Foi o primeiro, da família, que nasceu na casa das Ribas, o que teve lugar a 17 de Julho, de 1867.

Formou-se na faculdade de Direito, da Universidade de Coimbra, em 1890.

Durante toda a sua vida exerceu, com muita distinção, a advocacia na vila da Feira, tendo deixado impressos muitos dos seus valiosos trabalhos jurídicos. / 70 /

Fez parte do partido regenerador, acompanhando o conselheiro João Franco quando este fundou o partido regenerador-liberal, do qual foi chefe no concelho da Feira.

 

Nossa Senhora de Monserrate. Clicar para ampliar.

Nossa Senhora de Monserrate. Clicar para ampliar.

Nossa Senhora de Monserrate. Clicar para ampliar.

Nossa Senhora de Monserrate: de frente; de costas; de lado.

 

Abandonou a actividade política em 1908, aquando do regicídio e da queda do governo daquele estadista.

Foi vice-presidente da Câmara Municipal da Feira, no exercício de 1893-97, tendo sido licenciado, a seu pedido, em Outubro de 1896 e em 2 de Janeiro de 1908 tomou posse de presidente da Comissão Administrativa da mesma Câmara, cargo que deixou de exercer em Fevereiro seguinte.

Foi destacado jornalista, deixando muitos escritos, alguns de polémica, dispersos por diversos jornais e dirigiu o semanário local «Comércio da Feira», órgão do partido regenerador-liberal no concelho da Feira, que iniciou a sua publicação em 2 de Janeiro de 1902 e teve o seu termo em 13 de Fevereiro de 1908.

Em 1902 fez parte do Conselho Distrital d'Agricultura e, em sessão de 13 de Janeiro de 1910, do Conselho dos Monumentos Nacionais, foi nomeado seu vogal correspondente em «atenção aos seus merecimentos e zelo pelas obras d'arte e antiguidades patrias».

Foi dedicado defensor dos direitos e interesses do concelho e da comarca da Feira, cuja integridade defendeu, salientando-se a sua acção, de um modo especial, a favor da sua terra natal, em 1899, quando da emancipação municipal de Espinho.

Faleceu, na casa das Ribas, em 7 de Agosto de 1920.

A seu propósito muitos se pronunciaram em termos muito elogiosos.

Casou, em 12 de Junho de 1897, com D. Madalena de Castro de Sousa Ferreira (que em casada usou o nome de Madalena de Sousa Vaz Borges de Castro) falecida, na mesma casa das Ribas, em 21 de Fevereiro de 1900.

Era filha do Dr. Roberto Alves de Sousa Ferreira, bacharel formado em Direito, pela Universidade de Coimbra, que foi advogado, professor-catedrático da faculdade Técnica da Universidade do Porto e de sua mulher D. Emília Henriqueta Bandeira de Castro e Sousa Ferreira.

Daquele casamento do Dr. Eduardo Vaz nasceu, na casa das Ribas, em 12 de Abril de 1899, o autor deste estudo – Roberto Vaz de Oliveira.

Casou, em 12 de Março de 1923, com D. Augusta (Maria Augusta pelo sacramento do crisma) Gaspar Formosinho, nascida na Redinha, concelho de Pombal, em 13 de Abril de 1897, filha de Sebastião Barbosa Formosinho e de sua mulher D. Maria Estrela Gaspar Formosinho.

Daquele casamento há descendência.

Pelo exposto, a casa e quinta das Ribas pertence à família Vaz de Oliveira, desde 16 de Abril de 1841.

*

*  *

No livro das «Visitações à igreja de S. Nicolau da freguesia da Feira, apenas encontrei a seguinte referência à capela de Nossa Senhora de Monserrate:

– Visita de 24 de Junho de 1762 «na capela de Monserrate admoesto que se doure por dentro o calix e por cima a patena e tambem se ponhão alguns sanguíneos». Estas tão breves observações mostram como ela estava bem cuidada.

*

*  *

/ 71 / Hoje, a casa e quinta das Ribas, que me foram adjudicadas na partilha dos bens deixados por meu pai, como já disse, estão registadas na já mencionada conservatória do registo predial, em meu nome, sob número 55154 a fls. 5 do L-B-142, com inscrição no artigo 166 da matriz urbana e 1235 da rústica.

*

*  *

Em 8 de Setembro de 1967, dia da Natividade de Nossa Senhora, foi descerrada, na frente da casa das Ribas, uma placa de pedra, comemorativa do centenário do nascimento de meu pai – Dr. Eduardo Vaz – que aqui teve lugar em 17 de Julho de 1867, numa cerimónia muito particular, com a assistência da família, do pároco da freguesia e vigário da Vara, padre Manuel Soares dos Reis, que a benzeu, do padre Albano de Paiva Alferes, pároco da freguesia de Souto e dos empregados da casa e da quinta.

A lápide, que ficou colocada entre a segunda e a terceira janela a contar do nascente e estava coberta com a bandeira da «Vila da Feira», foi descerrada, simultaneamente, por um representante de cada uma das três gerações presentes.

De tudo se lavrou a competente acta, que hoje faz parte do arquivo da casa.

3

Diversos

a

Património

O altar mor e suas imagens laterais são da mesma época.

Pertencem ao estilo barroco-petrino, com suas colunas salomónicas enlaçadas, em espiral, por folhagens, parras, pássaros e anjinhos.

A imagem central de Nossa Senhora de Monserrate é de época anterior.

O altar lateral é do século passado: não tem interesse arquitectónico.

Conserva-se na capela por ter estado no oratório da casa de meus trisavós e bisavós João e Joaquim / 72 / Teixeira Guimarães e nele ter casado minha avó paterna – D. Libânia Amélia.

A capela está devidamente provida com os necessários paramentos e alfaias precisas para o exercício do culto que nela se faz.

O pé do cálice é de bronze e a copa é de prata.

É de prever que o altar-mor tivesse sido mandado fazer no Porto ou em Aveiro: era costume, em tempos, os contratos para o seu fornecimento serem feitos por escritura pública.

Na sacristia há uma imagem de Nossa Senhora, com o Menino ao colo, ainda por restaurar, muito antiga.

 
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Detalhes do altar-mor: parte central e imagem de S. João Batista.

 

É curioso notar a grande parecença, que existe, entre o rosto da imagem de Nossa Senhora de Monserrate e o da do Menino que ela segura no braço.


b

O pavimento e as suas sepulturas

Até 1951, o pavimento da capela estava forrado com mosaicos, a branco e preto, que denotavam ter muitos anos, embora não fossem antigos.

Naquele ano mandei levantá-los, ficando a descoberto o velho lajeado, formado por pedras aparelhadas, de forma rectangular, aparecendo as três sepulturas, com suas pedras de cobertura, dos antigos donos desta casa, pela seguinte ordem, a partir do poente para nascente:

Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco † Dezembro 1818.

D. Ana Joaquina Rita da Costa Pacheco, sua mulher † Abril 1826.

D. Josefa Xavier Ferreira Pacheco, sua sobrinha † Julho 1841. / 73 /

 

c

Jazigo

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Como já disse, o jazigo está praticado na parede poente da capela, do lado direito do altar principal (para quem o enfrenta).

Está vedado por uma grande pedra de mármore branco, onde está inscrito o seguinte epitáfio, em letras pretas: «À saudosa memoria de Luíza Adelaide Teixeira da Silva Canedo que nasceu a 15 de Janeiro de 1810 e faleceu a 5 de Fevereiro de 1850 consagra o amor conjugal em signal de eterna lembrança».

Esta pedra era a que cobria a sepultura, no adro, em frente da igreja de S. Nicolau, desta vila, onde fora originariamente sepultada, perto do cruzeiro aí existente.

Nele estão depositadas, além das ossadas desta minha bisavó, as do meu bisavô e de outras pessoas de família.

Detalhes do altar-mor: imagem de S. Francisco de Assis.


d

Procissões

Como já disse, na capela de Nossa Senhora da Encarnação, junto ao Castelo, durante muitos anos e de tempos imemoriais, celebrava-se, em 25 de Março de cada ano, no terreiro que lhe fica fronteiro, a festividade dedicada àquela Nossa Senhora, também conhecida por Nossa Senhora de Março, com missa solene a grande instrumental, sermão e luzida procissão, na qual se incorporava a imagem daquela Nossa Senhora.

Em alguns anos esta ia até à capela de Nossa Senhora de Monserrate, onde entrava pela porta principal. Dando volta dentro dela, saía pela porta do nascente alcançando, de novo, o pátio da casa, pelo arruamento conhecido pelo das camélias que fica, também a nascente e ainda hoje existe, regressando, depois, à capela do Castelo.

Referindo-se à que se realizou em 25 de Março de 1911, a «Gazeta Feirense», número 123 de 27 seguinte, informou que apesar do mau tempo, chuva e vento, foi possível fazer a procissão, aproveitando-se uma estiagem. «Aquela trégua ao mau tempo permitiu ainda assim, que saísse a procissão, a qual deu volta à capela particular da quinta das Ribas de Cima do Castelo, propriedade do sr. Dr. Eduardo Vaz de Oliveira e recolheu, sem chuva de maior monta, à velha capela erigida pela condessa da Feira».

Outra realizou-se em 25 de Março de 1942.

O jornal feirense «Tradição», no seu número 506 de 21 deste mês e ano, anunciou o seu programa dizendo que a festividade era organizado por uma comissão de devotos, composta pelos moradores dos lugares do Castelo, Matos e Portela e que compreendia uma procissão da capela do Castelo à capela da «casa das Ribas» com incorporação de autoridades civis e religiosas e das irmandades do SS. Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário e regresso, tudo entre cânticos religiosos, implorando a Deus, por intermédio da Virgem Nossa Senhora da Encarnação, a paz e o sossego para Portugal».

Nesta época decorria a segunda guerra mundial.

O mesmo jornal disse, ainda, que a procissão já se não fazia havia cerca de quarto de século.

Não havia memória de, em reciprocidade, a imagem de Nossa Senhora de Monserrate, ir em procissão até à capela do Castelo. / 74 /

Veio, porém, a efectuar-se em 13 de Novembro de 1960.

A imagem de madeira de Nossa Senhora de Monserrate que, devido ao seu grande peso, tinha sido apeada do seu trono com dificuldade, foi levada processionalmente até à capela de Nossa Senhora da Encarnação, acompanhada de todas as pessoas da casa das Ribas.

Depois de ter entrado na capela do Castelo, regressou à capela de Nossa Senhora de Monserrate, com o mesmo cerimonial.

 

LUGAR DE FlJÔ

E

CAPELA DE S. MIGUEL

1

Descrição

A capela de S. Miguel, também chamada do «Arcanjo de S. Miguel» ou de «S. Miguel Arcanjo», está situada no lugar de Fijô, desta vila, marginal à rua dos Condes de Fijô (lado direito para quem sobe).

Em Maio de 1949, quando esta rua foi alargada, a capela foi recuada para o local onde hoje se encontra, cerca de vinte e cinco metros para norte.

O Dr. Vaz Ferreira, no seu «Ferro Velho» – «Fijô» (Correio da Feira, número 2936 de 7 de Maio de 1955), descreveu-a, bem como à casa a que estava ligada, nos seguintes termos: «Do outro lado do desembocar da rua no largo, em frente do solar, (o dos condes de Fijô) estava a outra capela ornada de cantarias, mas afastando-se, como na continuação da rua, em frente da qual o terreno se elevava. Junto à capela rica de cantaria, mas recuados havia uns corpos reentrantes e salientes de uma habitação. A seguir à capela e só recuado na largura do cunhal um corpo com uma varanda. Reentrava, tendo outra varanda na parede exposta ao norte. O corpo recuado tinha duas janelas de peitoril e uma porta. Em frente desta e de uma das janelas um patim gradeado, de onde descia uma escada de seis degraus abrindo em leque com suas guardas de ferro.

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A casa de Fijô e a capela de S. Miguel, na sua antiga traça.

Por baixo da porta e sob o patim um portão dava entrada para o quintal, vendo-se lá dentro, na outra face da construção, os restos de um arco de boa cantaria.

A seguir a esse corpo reentrante salientava-se outro tendo no rés do chão uma porta e uma janela ao canto. Na fachada voltada ao nascente deste corpo avançado havia três janelas à altura do andar. Tudo dava a impressão de ter sido edificado em várias ocasiões, como se tivesse sido composto e recomposto, mas mostrando que fora moradia solarenga».

Esta descrição completa-se com a fotografia que se publica da capela e da casa contígua, na sua antiga implantação e coma das mesmas edificações, depois de removida a capela para o lugar onde hoje se encontra e da substituição do velho solar por um novo prédio.

Como se vê pelas referidas fotografias, a fachada da capela é bonita, trabalhada e bem proporcionada. No vértice cimeiro do motivo triangular, com que / 75 / na época era de costume ornar as capelas, há uma cruz de pedra ladeada por pilares lavrados, também de pedra, abrindo-se, dentro do mesmo triângulo, um óculo que proporciona a entrada da luz.

A porta frontal está ladeada por duas janelas, cada uma delas sobreposta por ornato, também triangular, motivo que também foi escolhido para encimar o mesmo portal.

Ladeando este último triângulo vêem-se dois nichos de cantaria lavrada, sem qualquer imagem.

O campanário de pedra, sem sino, estava e está implantado no cimo do topo do corpo da casa, junto à capela.

Na fachada sul tem duas janelas e nenhuma para poente, o que se compreende por a parede interior, desse lado, ser reservada ao altar.

No verão de 1972, a Câmara Municipal da Feira mandou retirar, do seu interior, os degraus, que ainda existiam, do altar, o púlpito e a pia de água benta, para adaptação da capela a salas da Escola Comercial e Industrial que aí e na casa, passou a funcionar em Outubro deste ano.

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Capela de S. Miguel e a casa, como se encontram hoje. Frente (nascente)

2

História

Esta capela é antiga.

Segundo no diz Manuel Soares de Albergaria Pais de Melo, no seu livro «Soares de Albergaria (Subsídios para a sua história»), a págs. 455, em 1666, Dionísio Soares de Albergaria instituiu o morgadio de S. Miguel da vila da Feira, com cabeça na quinta de Fijô, da mesma vila, acrescentando que aquele «vinculou seus bens à mesma quinta de cuja capela fez cabeça e chamou-se, desde então, ao mesmo vínculo – o morgadio de S. Miguel da Vila da Feira».

Sendo assim, a fundação da capela data de época anterior a 1666 e, possivelmente, quando a quinta estava na posse do P.e António Soares de Albergaria, irmão do instituidor do vínculo.

Já era falada entre as ermidas que existiam em 1697, segundo referência feita pelo padre Francisco de Santa Maria no "Ceo Aberto na Terra».

Mas, o que é certo é que não foi numerada, no Episcopológio» de Manuel Pereira de Novais (concluído em 1690), entre as ermidas da Vila da Feira.

Pode suceder que houvesse uma omissão por parte deste autor, mas também se pode admitir que o vínculo fosse encabeçado na quinta e que a capela aí fosse construída posteriormente, o que não é verosímil.

Para um melhor juizo sobre a matéria é necessário ver, cuidadosamente, o título constitutivo da instituição do morgadio, que Francisco Soares de Albergaria Pereira, no seu livro de lembranças disse que se achava na «Provedoria de Aveiro» (cit. liv. de Paes de Melo, págs. 333). / 76 /

De 1697 para cá foi sempre mencionada nos arrolamentos feitos pelos historiadores, já citados, das capelas e ermidas erectas nesta vila, correspondentes a 1707 e 1758.

Foi propriedade da família Soares de Albergaria – ramo que Felgueiras Gaio, no seu citado trabalho (tomo XXVII, págs. 110), designa por de «Oliveira do Conde».

Para melhor elucidação, junta-se uma carta genealógica deste ramo de tão nobre família e, assim, damos melhor clareza e síntese à narração.

Convém, contudo, fazer algumas anotações.

A história desta família está intimamente ligada à de outras casas antigas desta vila, como:

a) algumas das da Praça Velha, já por mim estudadas no meu trabalho «Quatro Séculos de História – A Praça Velha», designadamente na árvore genealógica n.º 4 e respectivo índice antroponímico (publicado na revista «Aveiro e o seu Distrito, n.º 3 a 7 e em separata) ;

b) a das Ribas, além do castelo da Feira, por intermédio de D. Maria Eufrásia Soares de Albergaria (irmã de Francisco Soares de Albergaria Pereira) que comparticipou, pelo casamento com Fernão Camelo de Miranda Pinto Pereira da Silva, no morgadio instituído por João Ferreira da Cruz no testamento de 26 de Fevereiro de 1736, com obrigação imposta na já falada capela desta casa, da invocação de Nossa Senhora de Monserrate e ainda por intermédio de José Soares de Albergaria e seus filhos (ramo da «Qt.ª do Paço em S. João de Ver – Felg. Gaio, cit. ob. tomo XXVII – pág. 114 – descendentes do Lopo Soares de Albergaria, filho de Pedro de Santar Soares) que foram proprietários da mesma casa nos fins do século XVII e princípios do XVIII;

c) a «Quinta de Pombos da Terra da Feira», de que foi proprietário o licenciado Lopo Soares de Albergaria, pai daquele José Soares de Albergaria;

d) as de Justas e da Velha, como adiante será referido;

e) a de Fijô, hoje dos condes do mesmo nome, como também adiante se verá.

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A mesma casa e capela. Lado posterior (poente).

Desta ilustre estirpe dos «Soares de Albergaria», destacarei alguns dos seus membros, pelos laços que os ligam à terra da Feira e nomeadamente à casa de Fijô que ora estudo.

Lopo Soares de Albergaria, casado com Leonor de Meireles, era parente dos Condes da Feira, com quem viveu no Castelo: foi senhor, como já o fora seu pai, Pedro de Santar Soares, da quinta de Tarei, em Travanca (cit. trabalho «Praça Velha» e «Ainda a Praça Velha – Vila da Feira», que publiquei na mencionada revista «Aveiro e o seu Distrito», tomo XII).

Numa colectânea de manuscritos, reunidos em volume, respeitante à genealogia da família «Soares Barbosa», na posse do conselheiro Dr. Alberto Toscano, em cópia dum trabalho feito por Frei Leão «geral da Religião de S. Bento, cronista da Ordem», diz-se, a folhas 70, que este Lopo «tirou o brasão com armas de Soares de Albergaria em 19 de Julho de 1549 por carta passada em nome de EI Rei D. João o 3.º que / 78 / se acha registada na Torre do Tombo no L.º 3.º dos Previlégios do mesmo Rei a fls. 221».

Sua filha, Madalena Soares de Albergaria (a quem também chamam Margarida), casou com António Aguiar de Vasconcelhos, o primeiro senhor desta casa de Fijô que conheço «pessoa nobilissima» (como o chamam a fls. 71 v. da referida colectânea), que viveu na segunda metade do século XVI.

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Carta genealógica da família Soares de Albergaria.

Deste casamento nasceram: Cristóvão Soares de Albergaria; o padre Estêvão de Aguiar que curou, durante muitos anos, a igreja de S. Nicolau, desta vila da Feira; licenciado Manuel Soares; Diogo Soares de Albergaria (casado com Maria Coelho); Maria Soares (casada com seu primo José Soares de Albergaria) e Leonor de Aguiar Soares (casada com Pascoal Gramacho Pinto).

Paes e Melo e Felg. Gaio, nas suas já citadas obras, não enumeram, como filhos do António de Aguiar, aqueles padre Estêvão e licenciado Manuel Soares, que são referidos como filhos herdeiros no inventário por óbito de seus pais: neste inventário já não intervém o Cristóvão, o que me convence que, então, já tivesse morrido.

Noto que Felg. Gaio dá como filha de António Aguiar outra Leonor, como casada com Fernão Soares de Albergaria, mas quando se refere a este diz que outros o dão como casado com D. Isabel Nunes (cit. ob. T. XXVII – pág. 108 e 110).

Esta deve ser a versão verdadeira, seguida por Paes e Melo (que lhe chama Isabel Nunes da Fonseca), na sua cit. ob. pag. 95.

Felg. Gaio enganou-se quando dá aquela Leonor como filha do António de Aguiar.

José Soares está mencionado por Lourenço Huette (livro apontador de todas as cartas de compras das propriedades que esta caza tem de todos os prazos que dela se tem feito, donde constão as notas em que se achão – ano de 1774, a fls 423) quando diz: «Veio este prazo a esta caza, pelo casamento da quarta avó de minha m.er D. Vitória de Lacerda. D. Filipa de Matos, casada com Diogo Moreira de Vasc.os pelo dote que lhes fez seus Pais, José Soares e sua mulher D. Maria Soares moradores na sua q.ta de Fijô na vila da Feira pegado à Ribeira de minha casa da dita vila, como consta do dito dote feito por letra, e mão do mesmo duador José Soares, em 15 de Setembro de 1618».

Esta ribeira era a que, pertencendo à casa do Huete Bacelar, confinava directamente com a quinta de Fijô.

E acrescenta a fls. 431:

«Esta propriedade veio a esta caza pelo casamento da quarta Avó de minha m.er D. Vitoria de Lacerda, a qual se chamava D. Filipa de Matos, q quando cazou com Diogo Moreira e Vas.os lho dutarão seus Pais dela, José Soares e sua m.er D. Maria Soares da Quinta de Fijô como dele consta q é um escrito feito pela mão e letra do dito Dutador em 15 de Abril de 1608».

Por outro lado aquele Diogo Soares de Albergaria é apontado como senhor da quinta de Fijô, por Paes de Melo no seu citado livro a pag. 267 e por tantos outros autores e o mesmo se deduz pelo que vamos expor quanto aos seus descendentes, como senhores da mesma quinta.

Como conciliar estas duas versões?

A que faz seguir a casa pelo ramo de Maria Soares e de seu marido José Soares de Matos (ou de Albergaria), ou a que a faz derivar pela linha do Diogo Soares de Albergaria?

É difícil dar uma resposta segura, por carência de documentos suficientes, mas pode-se formar um juízo.

Encontrei, no vol. X do tombo do convento de S. João Evangelista, que foi desta vila (fls. 66 a 74), a carta de partilhas passada a favor daquele padre Estêvão de Aguiar em 6 de Outubro de 1603 pelo licenciado João Álvares Moutinho, que serviu de «Juiz louvado antre os filhos e erdeiros que ficaram de António de Aguiar e de Madalena Soares sua mulher (que são os acima indicados com excepção do Cristóvão) já defuntos moradores que foram em Fijô de junto da vila da Feira para fazer antre eles partilhas e determinar as duvidas que antre eles havia por o juiz dos orfãos e ordinarios serem suspeitos».

Neste inventário ele exerceu o cargo correspondente ao que hoje é designado por cabeça de casal por «ficar na casa dos ditos defuntos por falecimento do dito António de Aguiar que faleceo derradeiro».

Como o documento se destinava a titular os direitos do padre nos bens herdados, nele apenas foram descritos os que lhe foram adjudicados, entre os quais se contava o património que tinha no Casal de Amorim.

Do estudo desta carta de partilhas conclui-se que o José Soares foi beneficiado, pelos pais, com dote avultado o que o levou, ao contrário do que fizeram os demais herdeiros, a declarar que não queria ser herdeiro.

Para nos apercebermos do valor que, para a época, devia representar aquele terço, basta dizer que os bens / 79 / deixados pelo António de Aguiar e mulher, incluindo os dos dotes por eles concedidos, foram estimados, no aludido inventário, para efeito de partilhas, em «um conto e duzentos e cincoenta mil e quinhentos e setenta e cinco rs».

Como o José Soares foi senhor da casa (com seu quintal) da «Praça Velha», que confinava, imediatamente para norte, com os Paços do Concelho que, por certo, pertenceu à casa de Fijô, com cujos terrenos confinava, é de admitir que a houvesse por força do aludido dote.

E também pode ter sucedido que nele se tivesse incluído a casa mãe de Fijô, embora os doadores tenham reservado o usufruto que lhes permitiu viver lá até à morte do último (António Aguiar), na companhia do filho – padre Estêvão.

É ainda de admitir que esta casa nobre tivesse sido adjudicada ao licenciado Manuel Soares e que deste passasse para a mão do cunhado José.

Seja como for, comparando a data daquela carta de partilhas – 1603 – com as mencionadas declarações feitas pelo Huete Bacelar, no tombo da sua casa, dando o José Soares e sua mulher como da «Quinta de Fijô» em 15 de Abril de 1608 e como «moradores na sua (o sublinhado é meu) q.ta de Fijô» em 15 de Setembro de 1608, sou levado a concluir que ela lhe pertenceria neste ano.

Se o José Soares foi de facto, por qualquer título legítimo proprietário do solar de Fijô, ele ou seus filhos transmitiram-no ao Diogo ou a seus filhos, versão que julgo aceitável para conciliar as duas teses.

A alienação não é de estranhar pois aquele viveu com dificuldades, como resulta das execuções movidas a seus filhos, para pagamento das dívidas por ele deixadas (meu citado estudo sobre a «Praça Velha...».

Pela data atribuída aquela carta de partilhas alcança-se ainda o conhecimento de que António Aguiar de Vasconcelos e sua mulher foram senhores da Casa de Fijô, pelo menos, em parte do último quartel do século XVI.

Isto está confirmado pelo já mencionado livro do padre Jorge de S. Paulo – «Livro e memorial da fazenda...» § 5.º, a fls 56, (Arq. Dist. Av.), Vol. XVII, pág. 51, quando diz que entre 1581-1583, o «António de Aguiar e sua mulher Madalena Soares» – «moradores em Fijô» fizeram venda de determinado prédio ao reitor do convento da Feira – Bartolomeu da Conceição.

Do mesmo tombo do Convento (Livro 1.º, fls. 21), também consta que, em 1583, o António de Aguiar vendeu aos padres deste convento «uma casa ou assente nesta v.ª da Feira que comessa do campo que foi de Antº Raiz q partia pela estrada que vai para o Castelo q esta a fonte do dito Castelo».

Diogo Soares de Albergaria, do seu casamento com Maria Coelho, da vila de Ovar, teve, além de outros, os seguintes filhos:

a) António Soares de Albergaria, clérigo, que tendo sucedido na casa, por herança, a transmitiu a seu irmão, que segue;

b) Cristóvão Soares de Albergaria, que foi casado com Catarina de Pinho de Amorim, também de Ovar. Em 22 de Maio de 1707 morava na quinta, de Fijô, com «30 anos pouco, mais ou menos», como consta do seu depoimento no processo para autorização de venda, por parte de sua prima Angelina, filha de Luís da Silva Aguiar, da quota que lhe pertencia na quinto das Ribas, ao padre Simão Ferreira de Aguiar Franco, que teve lugar por escritura de 24 de Março de 1707.

c) Dionísio Soares Albergaria, chanceler da Relação do Porto que instituiu, em 1666, o morgadio de S. Miguel, vinculando os seus bens à mesma quinta, de cuja capela fez a cabeça e chamou, desde então, ao vínculo – «O Morgado de S. Miguel da Vila da Feira», como já referi. (cit. livro de Paes de Melo, pág. 268).

O mesmo autor dá como sucessor do Cristóvão, na propriedade da casa, seu filho Manuel Soares de Albergaria, casado com D. Maria Chamorro Guedes da Silva, de Aveiro, que se distinguiu nas batalhas da guerra da Aclamação e nas da Liga contra Filipe V, «com valor e bom procedimento» (como se diz a fls. 71 da referida colectânea de manuscritos reunidos sob o título – Genealogia – Soares Barbosa), cavaleiro da Ordem de Cristo, tenente-general da cavalaria, «Governador de Paraiba e Buarcos M.e de Campo do Terso de Infant.º de Penamacor e ultimamente G.al de Batalha que não chegou a exercitar») como diz F. Gaio, na cit. obra, T. XXVII, pág. 111:

Paes de Melo, a pág. 269 da seu cit. livro diz que ele «Foi senhor da Quinta de Fijô, no termo da Vila da Feira, cabeça do Morgado de S. Miguel, dando-lhe como sucessor, na «casa de seu pai e foi senhor da Quinta de Fijô e seu morgado», seu filho Francisco Soares de Albergaria.

Penso que ha equívoco pelas razões que passo a expor.

O mencionado Cristóvão Soares de Albergaria Coelho, além do dito filho Manuel Soares de Albergaria / 80 / e de outros, teve, de sua mulher D. Catarina de Pinho Amorim, uma filha D. Maria Coelho Soares de Albergaria «que casou com seu Pr.º António Soares de Albergaria Pereira morador na sua quinta de Fijô da vila da Fr.ª de quem nasceo Dionísio Pereira Soares de Albergaria como seus irmãos, como fica já dito e declarado fls. 52 e 53» (cit. colectânea de manuscritos – («Genealogia Soares Barbosa» – fls. 71, n.º 80, § 15).

Paes e Melo diz que a D. Maria Coelho, do seu casamento com o primo António Pereira Soares (filho de Bernardo Soares Pereira) tivera Bernardo e Cristóvão Pereira Soares, mas não menciona o Dionísio.

Felgueiras Gaio, embora siga as mesmas pisadas no cit. T. XXVII – pag. 111, já no T. XXI, pag. 56 registara «D. Antónia Moreira do Amaral m.er de seu p.º Dionisio p.ra Soares de Albergaria f.º de António Soares de Albergaria e sua m.er M.ª Coelho C. g. Snrs. da Casa de Fijô».

O Dionísio Pereira Soares de Albergaria, que foi senhor da quinta de Fijô e da sua capela, foi personagem de grande prestígio pela sua nobreza e posição social na vila da Feira.

A primeira referência que dele tenho colhi-a no tombo do convento dos Loios, desta vila, pela informação nele dada de que «Dionísio Pereira Soares de Albergaria», em 1704 manteve demanda com o mesmo convento sobre «rendas decursas» (L. 6.º, fls. 99 e 257).

Consultando o tombo da «Casa e Estado do Infantado» encontrei este Dionísio Pereira Soares como possuidor, em 23 de Abril de 1708, de terras de Senhorinha Annes «que são as de que fala o foral folhas tres na verba 9 dos estados da Senhorinha Annes de Fijô de que são possuidores Dionísio Pereira Soares e sua m.er D. Antónia do Amaral e Fernão Leitão de Andrade e sua mulher Natalia Ferraz e Francisco Guedes de Queiroz e sua mulher Maria Lobato, todos desta vila e Luiz Teixeira de Magalhães de Vila Real...» fls. 146 a 156.

Esclareço que a quinta de Fijô estava implantada em parte daquelas terras de «Senhorinha Annes».

Também em reconhecimento de prazo, do mesmo tombo, aparece-nos o mesmo Dionísio Pereira Soares de Albergaria como confrontante de terras vizinhas daquela quinta – em 9 e 11 de Julho de 1707.

No auto da posse conferida em 18 de Maio de 1708 ao infante D. Francisco, do condado da Feira, por força da doação de 10 de Fevereiro de 1700, que lhe foi feita por seu irmão D. João V, figuram como presentes «Fernão Leitão de Andrade, Francisco Guedes de Queiros, Dionísio Pereira Soares e o Doutor António de Almeida Brandão, pessoas nobres e dos principaes da governança desta vila da Feira».

No já mencionado «Livro memorial...» de Jorge de São Paulo, consta = «(por letra do reitor Crispiniano 1724-1726) – Este campo possue hoje Bernardo Moreira de Vasconcelos o qual campo fica por detrás das suas casas e parte com o rio e com o campo de Dionísio Pereira, de que paga os direitos 10 alqueires de trigo» (cit. Arq. Dist. Av. – Vol. XVI – pág. 211). Este campo fazia parte da quinta de Fijô.

Huete Bacelar refere-o no mencionado tombo da sua casa, a fls. 91: «Escritura de transação e amigavel composição, entre Bernardo Moreira Cardoso de Vas.os e seu cunhado, Dionísio Pereira Soares de Albergaria, da Quinta de Fijô, todos da vila da Feira, de q foi t.am António Gomes Leite, q a fez aos 4 de Novembro de 1716 an», que foi precedida pela «escritura de transação entre Diogo Moreira de Vasconcelos e seu genro, o dito Dionisio Pereira, feita em 26 de Abril de 1712, pelo t.am Manuel dos Santos Barreto».

Em 1712 já tinha falecido a mulher do Dionísio porque naquela escritura houve licença do juiz dos órfãos por serem menores os filhos daquela – (cit. tombo de Huete Bacelar – fls. 92).

Ver árvore genealógica n.º 1 do meu trabalho sobre «A Praça Velha...».

Voltei a encontrar referência a este Dionísio Pereira Soares de Albergaria no instrumento de justificação de nobreza de 1733 – requerido por João Lopes Lamas Silva Varela Sotto Maior «...morador na sua quinta do Paço do par da Feira – termo desta vila da Feira», do qual consta «Item – que é neto legítimo de João Lopes Soares e de sua mulher Dona Isabel Pinto Henriques Penanoias senhores que forão da sobre dita Quinta de Paço do par da Feira desta dita vila aparentadas na Casa de Soares de Albergaria da Quinta de Fijô de Dionisio Pereira Soares de Albergaria».

Na petição da justificação da sua ascendência nobre, iniciada no Porto, com inquirição de testemunhas, em 20 de Julho de 1807, a requerimento de Romão José da Silva Falcão, de Paço de S. João de Ver, de onde proveio aquele instrumento de justificação e onde consta a «Carta de Brazão de Armas de Nobreza e Fidalguia concedida àquele Romão, em 30 de Agosto de 1793», foi alegado ser aparentado nas «Cazas de Soares Albergaria da quinta de Fuijo por sanguinidade cuja caza era de Dionísio Pereira Soares de Albergaria». (Livro do registo da Câmara Municipal da Feira. Registo, de Junho de 1832, da sentença civil / 81 / de justificação de testemunhas do justificante Romão José da Silva Falcão, de Paço, de S. João de Ver, fls. 122 a 128).

Novas referências encontro a Dionísio Pereira, interessantes e concludentes.

a) V (que presumo ser o padre Augusto de Oliveira Pinto), em artigo publicado no jornal «Povo Feirense» número 32 de 3 de Dezembro de 1938, sobre a capela de Santa Maria de Campos, em referência às ermidas mencionadas na «Corografia Portuguesa» de Carvalho da Costa (1707) diz que, num exemplar dela, estava escrito à margem do texto uma anotação, datada de 6 de Junho de 1742, que dizia «E... outro de S. Sebastião, capela de Dionisio Pereira, homem principal...» Apenas há a notar o equívoco na invocação da capela que era de S. Miguel e não de S. Sebastião;

b) no já mencionado livro de Visitações à Igreja de S. Nicolau da Feira, na de 15 de Outubro de 1741, diz-se: «E que na Capp.ª de Dionisio Pereira emq.to não estiver revocada toda a parede em que se firma o altar até sima se não selebre missa sob pena de excomunhão»;

c) no livro já referido do padre Jorge de S. Paulo «Livro e memorial...» a fls. 280, afirma-se: «Sendo Mordomo o R.do P.e Ant.º Per.ª f.º de Dionisio Pereira Albergaria e tendo este procuração de seu f.º não fez festa ao glorioso Martir S. Sebastião neste ano de 1749 entendo que tudo foi por teimas.»;

d) ainda no mencionado livro das Visitações, na de 24 de Junho de 1762, exarou-se «E fique suspensa a Capela das Casas que forão de Dionísio Pr.ª enquanto se não repararem as janelas que estão abertas o que fica ao arbitrio do Rev.do Pároco».

Da dita colectânea de manuscritos – Genealogia – Soares Barbosa, fls. 52 v. e 53, consta, ainda, em referência aos troncos de Soares de Albergaria:

«em a vila da Fr.ª na qt.ª de Fijô a casa de Dionisio Pr.ª Soares de Albergaria de q nasceo José Pr.ª Soares de Albergaria Sr. e morgado da casa de seu Pai não teve susesão q estando comprometido p.ª cazar em o Douro na Casa de Seblanos morreo de uma Malina. Ficou um Irmão Clérigo António Pr.ª Soares de Albergaria e uma Irmã D. Bernarda pr.ª Soares de Albergaria q casou em sima do Douro na q.ta de perseguida com M.el de Gouveia de que não ouverão filhos. Ficou esta Sr.ª viuva e Sr.ª do Morgado de seu Pai da Casa de Fijô na vila da Fr.ª e por contrato que fes com seu Parente Franc.º Soares de Albergaria de Midões asisstente na sua qt.ª da Rede de Sima do Douro lhe passou o dito Morgado de Fijô e desta casa adiante se dirá».

Em seguida, fls. 53 e 53 v., diz «A casa dos Albergarias em Oliveira do Conde na Beira que pessue Francisco Soares de Albergaria Pr.ª Fidalgo da Casa Rial Mestre de Campo de Auxiliares na comarca da Goarda Filho de Manuel Soares de Albergaria Fidalgo da Casa Real tambem mestre de Campo na mesma comarca e de sua m.er D. Maria Tomasia de Siqueira e Queiroz, da quinta da Rede (o realçado é meu) em Vilamarim... neto o dito Francisco Soares de Albergaria Pr.ª de Francisco Soares de Albergaria, natural da cidade de Abr.º Fildalgo da Casa Real e Mestre de Campo de Auxiliares e de sua m.er D. Ângela Pr.ª de Miranda natural de Midões».

No já aludido tombo da «Casa e Estado do Infantado», fala-se de um título que diz respeito ao que «possue no chão do canastro José Pereira Soares de Albergaria, morador na sua (o grifado é meu) quinta de Fijô», cujo registo, no mesmo tombo, tem a data de 8 de Abril de 1754.

Neste tombo, regista-se, também em 1754, um censo de M.el de Gouveia e sua mulher D. Bernarda Angelina Pereira Soares de Albergaria, cunhado e irmã que ficaram de José Pereira Soares de Albergaria.

Assim este deve ter falecido neste ano de 1754.

Muito claro se apresenta o vigário P.e José de São Pedro Quintela nas suas respostas ao questionário para o «Dicionário Geografico», de 1758, quando diz quanto às capelas da vila: «– A segunda é do Arcanjo S. Miguel sita no lugar de Fijô e é vínculo com obrigação de algumas missas que hoje pertence a Manuel de Gouveia (o grifado é meu), desta freguesia.

Em face do exposto, ha que verificar a que Francisco se refere o texto que transcrevi da «Colectanea dos manuscritos», se ao Francisco Soares de Albergaria, casado com Ângela Pereira Franco Miranda, se ao seu neto Francisco Soares de Albergaria Pereira.

À primeira vista parece que se trata do primeiro, pois diz-se que o contrato de transmissão foi feito a favor de Francisco Soares de Albergaria e não do Francisco Soares de Albergaria Pereira.

O primeiro, de facto, casou com uma senhora de Midões (do concelho de Taboa), ao passo que o segundo nasceu em Oliveira do Conde e faleceu em Mesão Frio, o que não exclui que também tivesse vivido em Midões, em propriedade herdada de seu referido avô. / 82 /

Mas, por outro lado, temos que considerar que se se tratasse do primeiro ele devia ter para cima de 83 anos quando a D. Bernarda Pereira Soares de Albergaria fez o contrato de transmissão do Morgadio de Fijô, pois o Francisco Soares de Albergaria deve ter nascido por 1675 e a D. Bernarda ainda estava casada e senhora da quinta de Fijô em 1758.

Acresce que apenas o Francisco Soares Albergaria Pereira podia ser assistente «na sua qt.ª da Rede de Sima do Douro», pois ela veio à família pelo casamento de seu pai Manuel Soares de Albergaria Pereira com sua mãe D. Maria Tomásia de Sequeira Guedes de Queirós: quinta de Santiago da Rede, freguesia de Vila Marim.

Daqui convenço-me que a transmissão feita pela D. Bernardina foi a favor do Francisco Soares de Albergaria Pereira e não de seu avô.

Paes de Melo, no seu citado livro «Soares de Albergaria» diz a pág. 455 que a mais antiga notícia que conseguiu obter da quinta de Fijô remonta a António de Aguiar Vasconcelos casado com D. Madalena Soares de Albergaria que, por sua vez, a legaram ao filho, o clérigo António Soares de Albergaria, que a transmitiu ao irmão Cristóvão.

Acrescenta que deste passou para seu filho, o tenente-general Manuel Soares de Albergaria, a quem atribui a autoria do documento que transcreve na 3.ª parte (penso que há engano porque o documento é do livro de lembranças de Francisco Soares de Albergaria Pereira, como diz Paes de Melo no seu citado livro a pag. 272 e 333).

Naquele livro de lembranças o Albergaria Pereira disse (pag. 333 do mencionado livro de Paes de Melo) que tinha, em seu poder, a instituição do Morgadio feito pelo Dionísio Soares de Albergaria em 1666, a qual se achava na Provedoria de Aveiro e acrescenta: «Como o Instituidor não teve a devertensia de descrever os Bems q vinculava e só dis q vincula todos os seus Bens, q dos seus titulos constarão, os susesores venderão m..tos, e embargarão os titulos, aos Compradores, q creio será couza impussível, opuderemse revendicar. E os que existem, e de q Eu entrei de pose por morte de meu Tio o Sr.º Antº Pr.ª Soares de Albergaria...».

Penso que daqui se pode tirar mais um argumento para a minha tese.

Se o Francisco Soares de Albergaria Pereira só entrou na posse dos bens do vínculo por morte do tio António Pr.ª Soares de Albergaria é porque não os herdou do pai, antes os recebeu de alguém, com o compasso de espera na mão daquele tio, o que convence que este ficou usufrutuário desses bens quando a D. Bernarda os transmitiu àquele Francisco.

Isto é, a D. Bernarda deve ter transmitido o domínio ao Francisco e a posse (o usufruto) ao padre António: pela morte deste extinguiu-se o usufruto e o Francisco entrou na propriedade plena reunindo, na sua mão, o domínio que já tinha com a posse que alcançou pelo falecimento daquele clérigo.

E isto não admira porque aquele António Pereira Soares de Albergaria, clérigo (que era primo e não tio do Francisco) era irmão de D. Bernarda e assim ela quis que o vínculo se mantivesse no seu ramo, por mão do padre António, enquanto vivo, passando, depois do seu falecimento, para o outro ramo da família – o do Francisco Albergaria Pereira.

Pelo exposto, entendo que não foram senhores da quinta de Fijô e, deste modo, não encabeçaram o vínculo, os seguintes descendentes do Cristóvão Soares de Albergaria Coelho, ao contrário do que nos diz Paes e Melo na sua citada obra:

1) O já referido Manuel Soares de Albergaria, casado com D. Maria Chamorro;

2) Francisco Soares de Albergaria, que deve ter nascido em 1675, pois o irmão que lhe sucedeu em idade nasceu em 10 de Fevereiro de 1676. Casou em Midões com D. Ângela Pereira de Miranda e foi Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da Guarda, fidalgo cavaleiro da Casa Real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo;

3) Seu filho Manuel Soares de Albergaria Pereira, que nasceu em Midões a 3 de Abril de 1699, foi, também, Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da Guarda, fidalgo cavaleiro da Casa Real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo. Casou, na quinta de Santiago da Rede, freguesia de Vila Marim, com D. Maria Tomásia de Sequeira Guedes de Queirós.

O Francisco Soares de Albergaria Pereira, filho deste Manuel Soares de Albergaria Pereira e de D. Maria Tomásia de Sequeira Guedes de Queirós (nascida em 1711) nasceu, segundo informa Paes de Melo, em Oliveira do Conde, em 11 de Junho de 1745, tendo casado, pela segunda vez, em 27-7-1761 com D. Maria Casimira Inácia Pequeno Chaves Lemos Roxas e Menezes.

Foi este Francisco que recebeu a casa de Fijô e o morgadio de S. Miguel, da mão de D. Bernarda de Albergaria. / 83 /

Comparando todas estas referências, convenço-me de que este Soares de Albergaria nasceu antes de 1745. Foi fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Ofício, Mestre de Campo de Auxiliares da Comarca da Guarda por carta de 18 de Outubro de 1865 e, segundo Paes de Melo «Senhor do Morgado de S. Miguel na Vila da Feira, de que era cabeça a Quinta de Fijô, no mesmo termo e a que muito se refere o Livro de lembranças deste Francisco Soares de Albergaria».

Assim, segundo a exposição feita, concluo quanto à quinta de Fijô – que:

a) pertenceu a António Aguiar de Vasconcelos e a sua mulher, sucedendo-lhe seu filho – o clérigo António Soares de Albergaria que, naturalmente, já com seu morgadio, instituído por seu irmão Dionísio Soares de Albergaria, a transmitiu a seu outro irmão;

b) Cristóvão Soares de Albergaria Coelho, de quem passou para sua filha D. Maria Coelho, casada com António Pereira Soares ou António Soares de Albergaria, ou directamente para o filho destes Dionísio Pereira Soares de Albergaria, que tudo transmitiu a seu filho José Pereira Soares de Albergaria;

c) deste passou para sua irmã D. Bernarda Pereira Soares de Albergaria e seu marido António Gouveia, tendo ela, no estado de viuvez, transferido a quinta, capela e vínculo para o seu parente Francisco Soares de Albergaria Pereira que foi casado com D. Maria Casimira Inácia Pequena Chaves de Miranda e, com toda a probabilidade com usufruto a favor de seu irmão P.e António Pereira Soares de Albergaria;

d) Manuel Soares de Albergaria, seu filho Francisco Soares de Albergaria e o filho deste, outro Manuel Soares de Albergaria Pereira, nunca chegaram a ser senhores daquela quinta, sua capela e morgadio;

e) Dionísio Pereira Soares de Albergaria, viveu de um período anterior a 1704 até outro correspondente ao intervalo entre os anos de 1749 e 1754, ano este em que seu filho José Pereira Soares de Albergaria já lhe havia sucedido na casa;

f) Manuel de Gouveia, marido da D. Bernarda Pereira, era dono da quinta de Fijô e sua capela e senhor do vínculo em 1758 e, naturalmente, já em 1754, data em que provavelmente faleceu o José Pereira Soares de Albergaria.

A confirmar a minha tese ainda encontro no «Foral» concedido à «Vila da Feira e Terra de Santa Maria», em 1514, a referência feita às faladas terras de «Senhorinha Annes, classificadas de herdades foreiras e assim, foreiras e não reguengas (fls. 2, 2 v. e 3).

Faziam parte do «chão do carvalho de fyjo» que englobava quatro leiras – «E sam mais quatro leiras a cortinha da porta, a saber, uma de Jam de Fyjo outra de senhorinha e outra de Lopo Afonso e outra de Jam da Ramada. E um chão de Jam dentes que traz Joan do Outeiro» (fls. 1 v. e 2).

Várias quintas de Fijô estão implantadas naquelas que foram de «Senhorinha Anes»: entre elas conta-se a que ora estudo, onde está implantada a capela de S. Miguel e a que se segue, neste trabalho, também denominada de Fijô, onde se levantou a capela de S. Bento e S. José.

Por isso, várias referências encontramos a elas, no tombo da «Casa e Estado do Infantado» que, no tocante àquela de Fijô, com sua capela de S. Miguel, identifica claramente os seus proprietários através do reconhecimento que prestaram das respectivas obrigações enfitêuticas, o que tem especial interesse para este trabalho.

Assim acontece com o censo que fez o Manuel de Gouveia e sua mulher D. Bernarda Angelina Pereira Soares de Albergaria «cunhado e irmã que ficaram de José Pereira Soares de Albergaria e na posse de parte dos bens que dele ficaram, por se acharem de posse de parte das terras que foram de Senhorinha Annes que possuia o dito José Pereira Soares». – Em 20 ... de 1754 (fls. 150).

E ainda se alcança o mesmo conhecimento sobre a identidade dos proprietários da mesma quinta de Fijô, através das confrontações de outras obrigações enfitêuticas constantes do mesmo tombo.

a) Quinta de Rolães, no sítio da Quinta de que trata o foral a fls. 2 v. «Item – a dita Quinta, umas portas fronhas em frente de umas portas por traz da quinta de José de Freitas ... = parte do nascente com a ribeira de Diogo Moreira de Vasconcelos e pumar de Dionisio Pereira Soares... » (título de reconhecimento de foro de 9 de Julho de 1707 – fls. 178 a 182).

Este Diogo era o marido de D. Josefa Violante de Vasconcelos;

b) Quinta de Rolães (outra parte) de que fala o foral a fls. 3 v. ... no lugar de Rolães, sítio da Quinta... da qual era confrontante aquele Dionísio Pereira Soares, pela parte do sul (este título de aforamento tem a data de 11 de Julho de 1707 – fls. 184 a 187);

c) Chão de Canastro, que possui José Pereira Soares de Albergaria «morador na sua quinta de Fijô» – 8 de Abril de 1754 (fls. 394 a 397). / 84 /

d) Campo da Ribeira de D. Josefa Violante de Vasconcelos: «um campo que fica dentro da quinta da reconhecente Dona Josefa Violante de Vasconcelos (campo por cima do rio) para a parte do poente junto da quinta de José Pereira Soares de Albergaria (título de reconhecimento de foro feito a 30 de Outubro de 1754 – fls. 162 a 165).

Este campo, que do norte confinava com a quinta do Fontoura pertencia, assim, à casa da Praça, propriedade que foi da D. Josefa casada com o já aludido Diogo Moreira de Vasconcelos e mais tarde de sua filha D. Vitória de Lacerda (meu estudo «Praça Velha...» pág. 11 e seguintes).

*

*  *

Aquele Francisco Soares de Albergaria Pereira, que faleceu em 1804, deixou a quinta de Fijô, sua capela e morgadio ao seguinte filho, que houve de sua mulher – a referida D. Maria Casimira.

Manuel Soares de Albergaria Pereira, fidalgo da Casa Real, que nasceu a 29 de Agosto de 1769 e casou, em segundas núpcias, com D. Antónia de Jesus de Oliveira e Homem.

Faleceu em 6 de Agosto de 1848 deixando, entre outros filhos: José Soares de Albergaria, que foi casado com D. Ana Casimira da Costa e Brito Mesquita e D. Ana Rita Soares de Albergaria Pereira que, pelo seu casamento com Miguel Borges Tavares de Azevedo e Castro, foi a 1.ª Viscondessa de Oliveira do Conde.

Houve demanda entre estes dois irmãos sobre os bens de seus pais do que resultou: «sendo levados pelos advogados a uma conciliação de partilha eles não partilharam senão a administração do morgadio (de N.ª Sr.ª dos Remédios).

Mas tanto bastou para que esta se transformasse em posse de bens e por isso vemos, logo pouco depois, a Viscondessa de Oliveira do Conde vender a estranhos a tradicional Quinta de Fijô...» (cit. livro de Paes de Melo – pag. 337).

Tudo consta da escritura de transacção de 5 de Maio de 1848, lavrada pelo notário do Carregal do Sal, José de Melo Coelho Cabral, entre aquele José Soares de Albergaria e sua mulher D. Ana Casimira da Costa, por um lado e D. Ana Soares de Albergaria Pereira e seu marido Miguel Borges Tavares de Azevedo e Castro, por outro lado, da qual também consta o relato da pendência que os opôs.

Por força desta escritura «Dona Ana Soares ficava desde já na posse e administração do vínculo de Oliveira do Conde que instituiu Pedro Soares de Albergaria... ficando assim o Rio Mondego a servir de divisão por quanto estas que são sitas na margem esquerda e pertencem a tal vínculo ficarão na posse e administração do outorgante o Ilustríssimo José Soares e mais ficará a mesma Excelentíssima Dona Ana Soares na Administração do outro vínculo existente na Vila da Feira ou vizinhanças para poder desde já entrar na posse de seus bens ou havê-los de qualquer terceiro que acaso os possam estar possuindo por qualquer título...» (cit. ob. de Paes de Melo – fls. 414).

António Lambert Pereira da Silva – em «Nobres Casas de Portugal» vol. 2.º pág. 258 diz também que aquela D. Ana Rito, por acordo de partilhas, ficou com a Quinta de Fijô na Vila da Feira mas, por equívoco, diz que a vendeu aos ascendentes dos actuais Condes de Fijô.

Da matriz provisória desta vila de 1854, actualizada até 1859, que existe na Biblioteca Municipal, consta sob n.º 334 – como pertença de D. Rosa Pinto da Mota e marido:

1) Uma morada de casas com lojas, 1.º andar e capela sitas em Fiiô;

2) Uma quinta de lavradio com árvores de vinho junto à dita casa.

Dada a proximidade desta data com a de 1848, em que foi feita a escritura de transacção de que resultou a quinta de Fijô ficar a pertencer a D. Ana Soares de Albergaria Pereira e marido, penso que foi àqueles que estes venderam a propriedade.

A quinta de Fijô, mais tarde, em data que me não foi possível determinar, foi adjudicada a D. Rosa Angélica da Mota por lhe ter sido encabeçada em pagamento da sua meação no inventário a que se procedeu por falecimento de seu primeiro marido – João Ferreira da Silva.

Em Julho de 1883, pertencia a esta D. Rosa Angélica e a seu segundo marido António da Costa Moreira pois estava descrito em nome dele na Conservatória do Registo Predial desta comarca da Feira, sob número 13817 a fls. 75 v. do livro B-41, com a designação de Quinta de Fijô, composta por casas sobradadas, com suas lojas, capela, quintais, eira, campos lavradios, tudo unido, sito no lugar de Fijô, a confinar do nascente com a levada dos moinhos do bacharel António de Castro Pereira Corte Real (mais tarde visconde e conde de Fijô) e com a quinta do Dr. Francisco de Castro Matoso da Silva Corte Real, do sul com a estrada por onde / 85 / era murada e do norte com o campo do Montinho do dito Corte Real e com Domitila Augusta de Freitas.

Aqueles, por escritura de 2 de Junho de 1883, venderam o prédio ao Dr. Francisco Xavier Correia de Sá Noronha e Moura que foi, nesta Vila, presidente da Câmara, administrador do concelho e provedor da Santa Casa da Misericórdia, tendo falecido, na sua casa de Souto Redondo, de S. João de Ver, a 15 de Fevereiro de 1909: foi casado com D. Maria José de Carvalho Assis e Mouro.

Era filho de Francisco Xavier Correia de Sá e Moura, cavaleiro fidalgo da Casa Real e bacharel formado na Faculdade de Cânones pela Universidade de Coimbra e de sua mulher D. Maria Amália Máxima Pereira de Andrade, natural da Vila da Feira.

Aquela D. Maria José, por escritura de 28 de Setembro de 1936, lavrada por José Soares de Amorim, ajudante do notário – Dr. Domingos Simões Trincão e no impedimento deste, doou aquele prédio a sua filha D. Elvira de Assis Correia de Sá Pereira de Carvalho e Moura da Mota, viúva (que fora casada com o conservador do registo civil desta vila – Dr. Rufino Ferreira da Mota) e a D. Angélica de Assis Moura da Rocha (ou D. Angélica Assis Correia de Sá Pereira de Carvalho e Moura) e marido Joaquim Gil Mendes da Rocha, então farmacêutico em Espinho, por conta das suas legítimas, com reserva do usufruto para a doadora.

Todo o prédio foi então descrito (verba 14) como formado por casas térreas e de sobrado com uma capela, terreno a ressaio, lavradio junto, com água, árvores e mais pertenças tudo unido e formando um só prédio, chamado Quinta de Fijô, sito no lugar de Fijô, da Vila da Feira, a confinar de nascente com o rio e herdeiros de António Bernardo Coimbra, do poente e sul com a estrada e do norte com o Dr. Domingos Caetano de Sousa, descrito na conservatória sob o já referido número 13817 e inscrito na matriz urbana sob o art. 653 e na matriz rústica sob o artigo 1168.

A parte doada a D. Angélica compreendeu a metade pelo lado poente e o da D. Elvira a outra metade pelo lado nascente, na qual ficou a casa com sua capela.

Aqueles Joaquim Gil Mendes da Rocha e mulher venderam a sua metade no prédio ao Dr. José de Castro Falcão Soares de Albergaria (então Visconde de Fijô), por escritura lavrada, em 20 de Janeiro de 1944, pelo notário da Secretaria Notarial da Feira, Dr. Domingos Simões Trincão e a D. Elvira vendeu a sua metade ao mesmo, por escritura de 5 de Junho de 1944, lavrada na mesma Secretaria, por mim, como notário.

Assim o Dr. José de Castro reuniu, na sua mão, toda esta propriedade de Fijô que, depois do desmembramento, recebeu na referida Conservatória, os números 63651 a fls. 129 do L.-B-163 e e número 63837 a fls. 23 v. do L. B-l64.

A casa e a capela foram demolidas em 1949 para alargamento da estrada que da praça do Doutor Oliveira Salazar seguia para o Montinho e daí para Espinho, pela rua dos Condes de Fijô e avenida do Dr. Henrique da Veiga Macedo.

A casa foi feita de novo, em feição sensivelmente igual à que apresenta hoje: as obras de reconstrução concluíram-se em 1955.

Depois de fazerem recuar a capela, reconstruindo-a tal qual se encontrava anteriormente e de fazerem, junto dela, a nova casa, tudo venderam à sociedade «Borges, limitada», de Ovar.

Por escritura de 28 de Abril de 1969, esta doou à Câmara Municipal uma pequena parte da propriedade para alargamento do mercado municipal.

Finalmente, por escritura de 30 de Dezembro de 1971, vendeu todo o restante prédio, incluindo a casa e capela, aos «Serviços Municipalizados de Água e Electricidade da Câmara Municipal da Feira» que, por sua vez, o alugaram a esta para aí se instalar, como está instalada, a Escola Comercial e Industrial.

Nesta transmissão descreveu-se o prédio como formado de «casa de habitação de rés do chão e andar, com capela anexa, terreno lavradio e de logradouro juntos, com a área de nove mil metros quadrados aproximadamente, denominado «Quinta do Moura» e mais actualmente por «Prédio dos Borges da Rabor», sito no lugar de Fijô, da freguesia e vila da Feira, o qual confronta actualmente pelo norte com o doutor Domingos Caetano de Sousa, pelo sul com a rua dos condes de Fijô, pelo nascente com Nuno Brandão Andrade e Silva e terrenos do Mercado Municipal e de poente com a rua recentemente construída, descrita na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 63 837 a fls 23 v. do livro B-164 e na matriz rústica no artigo 1375 não estando ainda inscrita na urbana, por não estar concluida a sua construção».

A Câmara Municipal, antes de instalar no prédio aquela Escola, mandou proceder a obras no interior / 86 / da capela e da casa, que se estenderam, embora em pequena monta, à sua fachada nascente.

Por tudo que narrei, pode-se concluir que esta quinta de Fijô pertenceu à família Soares de Albergaria desde ano indeterminado da segunda metade do século XVII até meados do século XIX.

3

Diversos

a

Jubileu do ano santo

Em conformidade com a pastoral de Bispado do Porto de 4 de Junho de 1751 (segundo o breve do Papa Bento XIV) o vigário desta freguesia de S. Nicolau, P. José do Nascimento, nomeou «para a visitação das Igrejas que serão de visitar para alcançar o jubileo (do ano santo) nesta freguesia em pr.º lugar esta freguesia Matriz e a seg.ª a Igr. da Misericordia – A 3.ª – A Capela de S. Miguel Archanjo sita em Fijô – e 4.ª a Capela de Nossa Senhora de Campos (Iiv. cit. das Visitações à Igreja de S. Nicolau da Feira, fls. 28). 

b

Extinção do vínculo

Não sei quando se extinguiu o vínculo instituído na capela de S. Miguel por Dionísio Soares de Albergaria.

Não devia ter sido por força da já referida lei de 3 de Agosto de 1770 que aboliu os morgados insignificantes (de rendimento anual até cem mil reis, nesta região). Assim deduzo pelos termos usados na falada escritura de transacção de 5 de Maio de 1848 em que claramente se fala do «vínculo existente na Vila da Feira», a não ser que tal designação tivesse, apenas, um significade honorífico e tradicional.

Pode ter sido atingido pela lei de 30 de Julho de 1860 que aboliu os morgados ou capelas que «não tivessem de rendimento anual líquido 400$000 reis e daí para cima».

Se resistiu aos efeitos desta lei, foi extinto por lei de 19 de Maio de 1863 que aboliu todos os morgados e capelas, com excepção do apanágio do Príncipe Real, sucessor à Coroa (bens da Casa de Bragança).

c

Recordações da casa, capela e quinta de Fijô, no fim de século XVIII

Na casa de Fijô viveu, por aluguer, pelo menos desde Maio de 1798 a Janeiro de 1802 – Manuel Gomes da Costa Pacheco, que foi tabelião nesta vila, irmão do Dr. Sebastião Gomes da Costa Pacheco, dono que foi da casa das Ribas.

Deixou escrito um livro de contas e diário que corresponde àquele período.

Dele consegui averiguar, quanto à descrição da casa, que além da sala de jantar, cozinha e quartos havia, entre estas, uma chamada da capela que além da sua serventia normal tinha uma outra por um alçapão, depois de se passar pela loja do carvão e quarto do sabão» (23 Dezembro 1800) e que na propriedade existia uma eira.

Regista também, com referência a 1798, um facto curioso de onde se pode concluir que D. João VI passou, ou esteve para passar, então por esta vila.

14 Julho de 1798

«Aqui se fez hum destroso nesta Quinta com a abertura do caminho para passar S A R o Príncipe Nosso Senhor e o mesmo de resto ouvi por outras m.tas partes.

19 Julho 1798

«Hoje se completou o destroso da Quinta e conheci claramente o dollo e malicia... mas sem remedio de sorte que os inimigos de Franc. Soares (o dono da quinta de Fijô) satisfizerão o seu gosto e a sua colera contra o d.º Snr...».

Refere-se a várias visitas feitas à casa, onde comia e chegou a pernoitar, pelo seu proprietário Marechal de Campo Francisco Soares de Albergaria em 25 de Agosto de 1798, 29 de Agosto e 21 de Novembro de 1800, 8 de Julho de 1801 (desta vez «com sua f.ª a snr.ª D. Rita e seus 2 filhos, escudeiro e o médico de Grijó e lacaios, o que prova que bem vivia «à lei da nobreza»).

Do mesmo livro se mostra a continuidade que havia em se rezar missa na capela, 1798 a 1800 e nele se faz referência à imagem de S. Miguel.

Quanto ao pagamento da renda – referia-se ora a «casa e campo», ora a «casas e quinta»: em cada mês de 1798 e 1799 correspondeu a 3655 reis subindo, no ano seguinte, para 4860. Em 1801 variou de 4860 a 4960 réis. / 87 /

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A casa e a capela dos Condes de Fijô, antes das obras de transformação.

Conhecido este pequeno rendimento (aliás reportado ao fim do século XIX e princípios do XX) e levando em consideração a delapidação do património do morgadio referido por Paes e Melo, como atrás anotei, não é de excluir a probabilidade de o vínculo se ter extinguido pela lei de 1770, incluindo-se nos que foram capitulados de insignificantes (quanto à nossa região – rendimento anual inferior a duzentos mil reis).

Neste caso, as referências ao morgadio posteriores a esta data foram meramente honoríficas.

Assim, quando a casa e quinta saíram da mão da família Soares de Albergaria, no meado do século passado, já o morgadio devia estar extinto.
 

LUGAR DE FlJÔ

F

CAPELA DE S. BENTO E S. JOSÉ

1

Descrição

Esteve construída no lugar de Fijô, pegada à casa dos Condes do mesmo nome, para norte, sobre um terreiro pertencente à mesma casa.

Apenas se conhece a estrutura que recebeu na reconstrução de 1848, com algumas alterações introduzidas, posteriormente, na casa: pela fotografia que se publica vê-se que a sua arquitectura era modesta.

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A casa dos Condes de Fijô, na actualidade.

Não tinha ornatos apreciáveis e estava encimada por um triângulo de pedra, tendo no seu vértice superior uma cruz; nos laterais tinha, no da direita, uma pirâmide e, no da esquerda, o campanário, tudo de cantaria.

No centro do triângulo havia uma abertura em pedra, para iluminar o interior: na linha das janelas da casa tinha outra janela com cercadura de granito, sem interesse especial, em sistema conhecido por «guilhotina», que se sobrepunha à porta de entrada, com portal de pedra.

Do outro lado, para norte, havia uma pequena sacristia muito mais baixa do que a capela, que destoava do conjunto. Desenvolvia-se sobre a rua dos Condes de Fijô.

A capela e a sacristia foram demolidas em 1949 para alargamento desta rua.

2

História

A primeira notícia que tenho desta capela consta das mencionadas resposta dadas pelo vigário Quintela, para o «Dicionário Geografico de Portugal» de 1758, quando indica as que existiam nesta freguesia de S. Nicolau: «A terceira é de S. Bento, sita no mesmo lugar que dizem ser vínculo de Manuel Pereira Falcão».

Como já disse V publicou, no jornal «Povo Feirense», diversos artigos sob a epígrafe de «Santa Maria de Campos». / 88 /

No de 3 de Dezembro de 1938, enumera as ermidas da paróquia da Feira, segundo o descritivo de Carvalho da Costa na «Corografia Portuguesa», editada em 1707 e informa que viu, num exemplar desta obra, uma anotação datada de Junho de 1742 com o acréscimo de outras ermidas.

Nem naquele trabalho de 1707, nem nesta anotação de 1742, há qualquer referência à ermida ou capela de S. Bento.

Assim, é legítimo concluir que ela foi construída entre 1742 e 1758 pelo referido Manuel de Castro Falcão que ainda vivia em 1762 (livro das Visitações).

Deste livro das «Visitações à Igreja de S. Nicolau da Feira» consta, quanto à sua reedificação: «Dom Jerónimo José da Costa Rebelo por mercê de Deus e da Santa Sé apostólica, Bispo, Par do Reino e do Conselho de Sua Magestade Fidelíssima a Rainha, que Deos Guarde, etc. Fasemos saber que António de Castro Correia Corte Real, da freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira deste bispado. Nos representou que pertendendo reedificar uma propriedade casas da sua Quinta de Fijô da dita freguesia reedificando também a Capela Pública que se achava unida à antiga propriedade da invocação de S. Bento e S. José, erecta e patrimoniada por Manuel Pereira Castro Falcão e como a mesma se acha reedificada: nos suplicava lhe concedessemos para poder celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e atendendo nos que a mesma se acha como Património julgado por sentença segundo consta dos respectivos autos, que contem o termo competente de sujeição à nossa Jurisdição Ordinaria e de Resalva à Autoridade e Direitos Parochiais, e que foi visitada e benzida por comunicação Nossa lhe concedemos licença para na mesma se poder celebrar o Santo Sacrifício da Missa; observando-se sempre os ritos da Igreja Catholica Apostolica Romana, sendo esta licença previamente apresentada ao Reverendo Paroco da respectiva freguezia para a rezistar no livro da Igreja e a todo o tempo constar – 23 de Setembro de 1848... Nada mais se continha em a dita Portaria que aqui fielmente copiei da própria que tornei a entregar ao próprio domno António de Castro Corveira Corte Real da Quinta de Fijô desta vila da Feira aos doze dias do mez de Outubro de mil oitocentos e quarenta e oito anos para a todo o tempo constar (fls. 30 e 30 v.)».

Consultando o respectivo processo, no arquivo da Câmara Eclesiástica do Porto, verifiquei que aquele António de Castro Corveira Corte Real, que se dizia da freguesia de S. Nicolau da Feira, em data que deve corresponder ao princípio de 1847, disse, em requerimento dirigido ao bispo do Porto, que «pretendendo reedificar uma propriedade de casas na sua Quinta de / 89 / Fijô, na dita freguesia, e desejando também reedificar a Capela Pública que se achava unida à antiga propriedade da invocação de S. Bento e S. José – erecta e patrimoniada por Manuel Pereira de Castro Falcão», pedia que se concedesse a necessária licença para a dita reedificação – «em razão da nova propriedade ter recuado na frente e o supt.e desejar que a nova capela faceie com a propriedade e fique como tenciona com maior grandeza e explendor».

O Bispo do Porto mandou ao Vigário da Vara para informar, em 8 de Fevereiro de 1847.

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Outro aspecto da casa dos Condes de Fijô, com o seu brasão.

O parecer deste (Joaquim António Pereira de Sousa), datado de = Residência de S. Martinho de Arada 15 de Fevereiro de 1847, foi favorável: «É verdade a existência da capela de que se trata, a qual o Supp.e seus passados tem conservado, fazendo nela celebrar o Santo Sacrifício da Missa em todos os dias de preceito para elle e sua familia ouvir e também para muito povo que ahi concorre».

Confirma que a casa recuou e que assim se devia reedificar a capela para a faciar e para a comunicação desta com aquela.

Contudo nota: «Não posso informar V. Ex.ª se esta capela é ou não patrimoniada».

O Bispo atendeu em 8 de Abril de 1847.

Foi autorizada a bênção por portaria de 23 (deve ser 13) de Setembro de 1848 por o vigário da Vara entender que ela estava «decente» e ter «Paramentos e utencilios necessários para a celebração do St.º Sacrificio da Missa».

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Carta genealógica dos Condes de Fijô. (pág.  90)

Em cumprimento daquela portaria, foi visitada, pelo Vigário da Vara do terceiro distrito da comarca eclesiástica da Feira, Joaquim António Pereira de Sousa Cavaleiro, da Ordem de Christo – em 22 de Setembro de 1848, a «nova Capella publica que faz parte da fronteira de Cazas de António de Castro Corveira Corte Real da Vila da Feira, e da invocação de São Bento e S. José e como a achava muito decente e provida de todos os Paramentos e mais utensílios necessarios para a Celebração do Santo Sacrificio da Missa a benzia pela autorização que por Sua Ex.ª R.ma o Sr. Bispo desta Diocese lhe foi dada em Portaria de 13 do corrente...»

Do referido livro das Visitações consta as que tiveram lugar, respectivamente, em 24 de Junho de 1762 e em Outubro de 1799. «Na capela de Manuel de Castro Falcão se reformará o frontal e se caiará por dentro a mesma Capella» (1762).

«A Capella de S. Bento que e de Francisco Joaquim do lugar de Fijô, necessita de ser forrada; portanto ordeno que no termo de seis meses seja forrada» (1799).

De todo o exposto e com base nas informações colhidas podemos concluir que:

a) a capela deve ter sido erecta pelo senhor da / 91 / quinta de Fijô, Manuel Pereira de Castro Falcão, entre 1742 e 1758;

b) tomou a natureza de «Capella Publica» e nela foi instituída, por aquele, um vínculo «erecta e patrimoniada por Manuel Pereira Castro Falcão» o que confirma a suposição lançada pelo Vigário Quintela «que dizem ser vínculo de Manuel Pereira Falcão»;

c) em 1799 pertencia a seu genro o Sargento-Mor Francisco Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte Real, casado com sua filha Violante Luísa Pereira de Castro Guedes Pinto e em 1847 ao neto deste Francisco Joaquim, o capitão-mor António de Castro Corveira Corte Real;

d) foi reedificada no ano de 1848, junto à casa da residência, também então reedificada, no local da antiga, embora mais recuada.

Quanto ao Manuel Pereira de Castro, em ligação com a quinta de Fijô, algo posso informar.

No citado tombo da «Casa e Estado do Infantado» encontram-se, entre outras, as seguintes referências aos proprietários desta quinta de Fijô.

a) títulos e auto de reconhecimento, respectivamente de 18 de Setembro e 19 de Outubro de 1753, do que possuiam no Chão do Carvalho, Manuel Pereira de Castro e sua mulher, de Fijô (fls. 406 a 409 e 409 a 410);

b) título de reconhecimento de 4 de Abril de 1754 que fizeram Manuel Pereira de Castro e sua mulher D. Leonor de Queirós, moradores na sua quinta de Fijô, desta vila (fls. 380 a 383);

c) reconhecimento de 26 de Abril de 1754 que fizeram «Manuel Pereira de Castro e sua mulher D. Leonor de Queirós, do lugar de Fijô – no casal das Eiras chamado Clérigo, no assento que algum dia foram casas sobradadas junto ao caminho deste mesmo lugar de Fijô e um chão pela parte do sul que tudo foi de João Soares Pereira e Sousa Gomes» (fls. 221 e 222). Há que averiguar se este João Soares Pereira e Sousa Gomes era parente do Manuel Pereira de Castro;

d) reconhecimento em 26 de Abril de 1754 por parte de Manuel Pereira de Castro e mulher de Fijô em terras que pertenceram ao Casal do Clérigo (fls. 223 a 231).

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Neste título diz-se «esta medicação se acha conforme a antiga por se achar toda a dita terra mista com a quinta dos possuidores dele Manuel Pereira de Castro e sua mulher. É o que foi de... Sousa e depois de João Soares Pereira e José Gomes como consta da medição antiga...»;

e) reconhecimento de 25 de Outubro de 1754 da obrigação imposta no «chão chamado das Guimbras» – a confinar do norte com terras de Fernando de Matos Mascarenhas e Manuel Pereira de Castro (fls. 192 a 195);

f) reconhecimento que, em 3 de Dezembro de 1754, fizeram Manuel Pereira de Castro e sua mulher D. Leonor Pereira, moradores em Fijô, desta vila, pelo que possuem das «terras de senhorinha Annes» (fls. 151);

Pedra tumular, na igreja da freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira, junto ao altar do Sagrado Coração de Jesus.

g) título de reconhecimento de 30 de Janeiro de 1755, do campo chamado de Gavinhas, pertencente ao casal de Gavinhas de António José Saraiva Castelo Branco, a confrontar do sul com Manuel Pereira de Castro, de Fijô (fls. 376 a 379).

No fim do século XVIII e princípios do XIX, a capela estava aberta ao culto como se verifica, pelo baptizado aí feito, em 23 de Setembro de 1798, de João, filho do capitão-mor João de Castro, daquela visitação de 1899 e da referência que encontrei no livro de contas e diário de Manuel da Costa Pacheco, onde são referidas missas que lá se rezaram ainda nos primeiros anos daquele século XIX.

Reedificada em 1848, continuou aberta ao culto.

Em data que não posso determinar foi profanada e destinada a diversas utilidades até que, em 1949, foi demolida, para alargamento da rua dos Condes de Fijô.

Segundo me informaram, ao cavar o leito para esse alargamento, encontraram-se ossadas em área que devia corresponder ao local da antiga capela, demolida em 1848, o que leva a crer que, no seu pavimento, se fizeram enterramentos.

Como tenho feito, quanto às capelas particulares, passo a referir-me à família que a possuiu a partir do já mencionado Manuel Pereira de Castra Falcão, conforme árvore genealógica que publico.

Este Manuel Pereira de Castro Falcão, senhor da casa de Fijô e morgado de Sernadelo, de Penaguião, foi casado com D. Leonor Queirós Monteiro e Azevedo, de onde proveio como filha única, D. Violante Luísa Pereira de Castro Guedes Pinto, ou como diz Felg. Gaio, D. Violante Luísa Pereira de Castro de Queirós e Azevedo, que sucedeu a seu pai e casou com Francisco Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte Real, / 92 / cavaleiro professo da Ordem de Cristo, sargento-mor de Ovar, juiz dos direitos reais, que foi de propriedade, no condado da Feira e almoxarife de S. Alteza.

Sucedeu-lhe seu filho João de Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, que nasceu a 13 de Março de 1755 e casou com D. Antónia Luísa Angelina Sargento de Matos de Castro Corte Real, de Bedoído.

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Brasão concedido por D. João VI, ainda como príncipe regente, a João de Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, por carta de 2 de Abril de 1813.

Foi sargento-mor de Ovar de 1785 a 1797 e, depois, capitão-mor na Vila da Feira e juiz dos direitos reais, que foi de propriedade, almoxarife do Condado da Feira, na Vila da Feira.

Era tabelião na Feira em 1789.

Está enterrado na Igreja de S. Nicolau desta vila, em campa armoriada, junto ao altar do Sagrado Coração de Jesus.

A pedra tumular referenciada por «Casa de Fijô» está encimada por um escudo de armas esquartelado com coroa de nobreza (7 pérolas), com a data de MDCCClV. No primeiro quartel tem as armas dos Rochas [em campo de prata uma aspa vermelha firme carregada de cinco vieiras (conchas) de ouro]; no segundo, as dos Castros (em campo de prata seis arruelas de azul, postas em duas palas); no terceiro as dos Pintos (em campo de prata cinco crescentes de lua vermelhos com as pontas para cima, postas em sautor); no quarto as dos Tavares (em campo de ouro cinco estrelas vermelhas de seis pontas postas em sautor).

Aquela data deve corresponder à feitura da pedra, porquanto ao João de Castro, que a mandou fazer, foi concedido em 2 de Abril de 1813, por D. João VI, como príncipe regente, brasão de armas, com escudo esquartelado, tendo no primeiro quadrante as armas dos Rochas, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Pereiras (em campo vermelho uma cruz de prata florida e vazia do campo) e no quarto a dos Castros. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre dos Rochas que é a aspa das armas com uma das vieiras no centro e por diferença uma brica de prata com uma arruela vermelha.

Está registada a fls. 271 v. do L.º 7.º do livro de registo de «Brasões de Armas de Nobresa e Fidalguia do Reino e seus Domínios» (Arquivo Heráldico Genealógico do Visconde de Sanches de Baena, pags. 282 / 93 / n.º 1120 e «Casa solar da Oliveirinha», por Francisco de Moura Coutinho, in Arq. Dist. Av. – Vol. X, pags. 243 a 259).

Publica-se uma reprodução das armas que acompanham aquela carta.

João de Castro e sua mulher, tiveram como filhos:

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a) João, que nasceu a 11 de Maio de 1798, baptizado solenemente na capela da casa de Fijô a 23 de Setembro seguinte.

Consta do respectivo registo de baptismo que: «foram padrinhos o Príncipe Nosso Senhor Dom João e a Princesa Dona Carlota Joaquina que, por aviso de sua Magestade, tocaram por seus procuradores José de Queiroz Botelho de Almeida e Vasconcelos, corregedor desta comarca que tocou pelo Príncipe e pela Princesa, António de Sousa Veloso de Azevedo abade de Espargo testemunhas o Doutor Estanislau de Sousa e Joaquim Francisco».

Faleceu em Bedoído – Estarreja – de onde veio a enterrar, nesta vila, a 29 de Outubro do mesmo ano de 1798, no adro defronte da igreja matriz, em campa que foi armoriada com as armas concedidas a seu pai pela aludida carta de 2 de Abril de 1813, o que se reproduz em fotografia.

Pedra tumular junto ao cruzeiro, no adro que está defronte da igreja da freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira.

b) Francisco Joaquim de Castro Pereira Corte-Real que, de sua mulher D. Maria Augusta de Meireles da Silveira, da casa da Oliveirinha, teve, como filhos, o conselheiro José Luciano de Castro, casado com D. Maria Emília Seabra, Francisco de Castro Matoso de Sousa Corte-Real, casado com D. Maria José Huete Bacelar (filha do marechal de campo José da Silva Pereira, desta vila) e Dr. Augusto Maria de Castro, casado com D. Isabel Maria de Sousa Sampaio, pai do escritor, dramaturgo, jornalista e publicista, Dr. Augusto de Castro Sampaio Corte-Real, que foi escritor e director do «Diário de Notícias».

c) António de Castro Corveira Pereira Corte-Real casado com D. Emília de Jesus Lobo Caldas, da casa da Porta, em Tagilde, Guimarães, que deu continuidade à casa, como senhor da casa e quinta de Fijô: nasceu em 4 de Agosto de 1800.

Era fidalgo cavaleiro da Casa Real, fidalgo de Cota d'Armas, comendador da Ordem de Cristo e foi administrador do concelho da Feira, presidente, vice-presidente e vogal da sua Câmara Municipal e fez parte do seu Conselho Municipal. D. João VI, em 15 de Abril de 1825, concedeu-lhe carta de brasão, que está registada no L.º 8.º do já falado registo de Brasões.

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O brasão que dela consta é formado por um escudo esquartelado, tendo no primeiro quartel as armas dos Corte- Reais (em campo vermelho seis costas de prata firmadas no escudo postas em duas palas: chefe de prata carregado de uma cruz de S. Jorge, de vermelho, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Pereiras e no quarto as dos Castros. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre dos Corte-Reais, que é uma cruz de vermelho posta sobre o Elmo e por diferença uma brica de azul com farpão de oiro.

Aquele brasão que acompanha a carta, que se reproduz em fotografia, tem o timbre dos Rochas e não o dos Corte-Reais.

Brasão concedido por D. João VI a António de Castro Corveira Corte Real, por carta de 15 de Abril de 1825.

Faleceu em 8 de Outubro de 1872 e está enterrado no cemitério desta freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira, em campa coberta por pedra ornada com este brasão, com timbre dos Rochas, o que também se reproduz em fotografia.

António de Castro, daquele seu casamento, teve como filho e sucessor na casa, o Dr. António de Castro / 94 / Pereira Corte-Real, nascido em Janeiro de 1846, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, que foi casado com D. Brísida Varela Falcão Pinto Guedes Sotto Maior Corte Real, filha herdeira de José António da Silva Varela Falcão Sotto Maior, senhor da casa de Paçô, de S. João de Vêr deste concelho da Feira e de sua mulher D. Ana Carolina Pinto Guedes, da casa do Paraíso, da cidade do Porto.

Foi deputado (1881, 1884, 1885 e 1895), presidente da Câmara Municipal da Feira (1882 até 1886), juiz substituto (1881 a 1904) e chefe do partido regenerador neste concelho.

Foi o primeiro Visconde de Fijô (carta régia de 31 de Dezembro de 1902), título que lhe foi concedido em duas vidas e, em seguida, foi agraciado com o título de Conde, numa só vida (carta régia de 28 de Outubro de 1903).

Faleceu em 19 de Maio de 1905. Está sepultado na campa de seu pai.

D. Carlos I, em 15 de Março de 1897, concedeu-lhe carta de brasão por se ter verificado «a sua descendência das ilustres famílias Corte-Real, Tavares, Pereira e Castros, fidalgos d'antiga linhagem, cota d'armas e de solar conhecido, parentesco comprovado por documentos autênticos, arquivados no cartório de nobreza».

É formado por um escudo esquartelado tendo no primeiro quartel as armas dos Corte-Reais, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Pereiras, e no quarto as dos Castros. Elmo de prata aberto, guarnecido d'ouro e forrado de vermelho. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre o dos Corte-Reais, que é um laço armado de prata, enfiada nela uma bandeira deste metal farpada de duas pontas carregadas duma cruz como a das armas. E por diferença uma brica d'azul com um farpão d'ouro.

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Pedra tumular que, no cemitério da Vila da Feira, cobre a campa de António de Castro Corveira Corte Real e do Dr. António de Castro Pereira Corte Real.

A ascendência de nobreza atribuída ao Dr. António de Castro corresponde à que foi reconhecida nas já citadas cartas de brasão de 2 de Abril de 1813 e de 15 de Abril de 1825.

Desta forma verifica-se que os senhores da casa de Fijô descendem dos Condes da Feira e dos morgados de Castelões, Argoncilhe, Pigeiros e Roge.

O alvará de fidalgo cavaleiro a favor do Dr. António de Castro foi mandado passar por despacho de / 95 / 20 de Dezembro de 1897 e recebeu a assinatura real em 20 de Janeiro de 1898.

Sucedeu-lhe, na casa de Fijô, o filho, daquele seu casamento, Dr. José de Castro Falcão Pinto Guedes Corte Real, nascido em 20 de Abril de 1877, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, que casou em 12 de Janeiro de 1903 com D. Maria da Assunção Soares de Albergaria Tavares, da casa do Buraco, do Couto de Cucujães e da casa de Refojos (Vale de Cambra).

Foi o segundo Visconde e Conde de Fijô.

Grande defensor dos interesses e da integridade do concelho e da comarca da Feira, como já o fora seu pai, foi conselheiro municipal em diversas gerências.

Era fidalgo cavaleiro da Casa Real.

Faleceu em 25 de Outubro de 1945.

Sucedeu-lhe, na mesma casa, o filho – Dr. José de Castro Falcão Soares de Albergaria Corte-Real, nascido em 10 de Outubro de 1903, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra.

Casou com D. Leopoldina de Lima de Castro Corte Real. Contam-se entre os beneméritos da Vila da Feira.

Foi o terceiro a usar o título de Conde de Fijô e era cavaleiro do Santo Sepulcro e sócio honorário da «Casa da Vila da Feira e Terra de Santa Maria», sendo distinguido com a comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Faleceu em 21 de Maio de 1972.

Daquele seu casamento, teve os seguintes filhos: a) José Luciano de Castro Teixeira de Lima Soares de Albergaria Corte-ReaI (Visconde de Fijô), solteiro;

b) Dr. Aníbal de Lima Soares de Albergaria Tavares de Castro Corte-Real, casado com D. Maria Teresa Fernandes da Costa Alemão Teixeira, ela descendente da Casa da Portela, de Paços de Brandão, deste concelho: com geração;

c) António de Castro Lima Pereira Tavares Corte-Real, casado com D. Maria José Amado de Matos Mascarenhas de Mancelos e Seiça de Moncada: com geração;

d) D. Maria José Soares de Albergaria Corte Real, casada com o engenheiro agrónomo Francisco José Manso Lemos de Mendonça: com geração.

Estudada a descendência de Francisco Joaquim da Rocha Tavares Pereira Corte-Real (pai do João de Castro) passo, agora, à sua ascendência.

Era filho de Salvador da Rocha Tavares e Pereira Corte-Real, casado com D. Ana Maria de Sousa Vareira e Ávila (na carta de brasão concedida ao João de Castro em 2 de Abril de 1813 diz-se Vieira em vez de Vareira, o que é um evidente lapso), filha do desembargador Dionísio de Ávila.

Foi morgado de Castelões, S. Martinho de Argoncilhe, Ovar e morgado e padroeiro da igreja de Pigeiros, Senhor da quinta e Honra deste nome, do concelho da Feira, sendo ela descendente dos senhores do Gafanhão.

Quanto a ele diz Diogo Barbosa Machado na sua «Biblioteca Lusitana», tomo 3.º, pág. 670: «Instruido na lingua latina aprendeu Filosofia no Colégio do Porto dos Padres Jesuitas, donde passou à Universidade de Coimbra e estudou Jurisprudência, Pontificia de cuja aplicação divertia a administração da sua Casa que herdara por morte de seu Pai...

Teve grande notícia de Filosofia, Moral, História sagrada e profana como também de genealogia." Compoz Genealogia da Nobreza da Comarca da Feira e Província de Entre Douro e Minho onde se trata historicamente os principios dele e dos Infanções em particular».

Faleceu em 5 de Dezembro de 1748, sendo sepultado, bem como sua mulher, na igreja de Pigeiros.

Levou o brazão de armas da casa da Quinta de Pigeiros, já usado por seu pai, para a sua casa da Praça, de Ovar (Santa Maria de Pigeiros da Terra da Feira, pelo padre Domingos A. Moreira, pag. 52): da sua leitura vê-se que era formado por um escudo esquartelado tendo no primeiro quadrante as armas dos Rochas, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Pintos e no quarto das dos Pereiras (J. F. Teixeira de Pinho – Memórias e data para a história da vila de Ovar, págs. 296 e Dr. Zagalo dos Santos – Ovar na literatura e na arte, págs. 148 e 149).

O pai de Salvador da Rocha, de nome Manuel Tavares da Rocha Pereira, que foi casado com D. Maria de Matos Soares da Fonseca, também foi morgado e padroeiro da igreja referida de Pigeiros, onde está sepultado na capelão-mor, do mesmo modo que seu pai Francisco Tavares da Rocha Pereira Corte-Real, que além daquele morgadio e padroado foi também morgado de Roge e vivia no Porto em 1659.

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Este foi casado com D. Maria Lobato Godinho, filha de Manuel Godinho Homem e de sua mulher Vitória Pinto Lobato, herdeira do morgadio de S. Martinho de Argoncilhe e da quinta de S. Francisco «ao pé da Misericórdia da Vila da Feira», a que adiante me referirei.

Felg. Gaia, no T. quarto dos Costados número 47 a pág. 87, refere-se a «Franc.co Guedes, sr. da Casa de / 96 / Fijô por sua m.er – D. M.ª Lobato Pinto sr.ª da Casa de Fijô.

Faz uma chamada a tt.º de Pintos § 248 mas neste § não encontrei referência a qualquer daqueles senhores da casa de Fijô.

Brasão aposto na casa dos Condes de Fijô.

 

Francisco Tavares, por sua vez, era filho de Manuel Tavares da Rocha, que também usava os apelidos de Pereira Pinto Corte-Real, senhor e administrador dos morgadios de Castelões e Pigeiros e de sua mulher Maria da Cunha.

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Na frente da casa de Fijô, sobre a varanda, existe um brasão com escudo esquartelado, tendo no primeiro quadrante as armas dos Rochas, no segundo as dos Tavares, no terceiro as dos Castros e no quarto as dos Pereiras e por timbre as dos Rochas.

Na face sul da casa encontra-se, sobre uma varanda, uma coroa de conde com o timbre dos Corte-Reais: antes das últimas obras, feitas na casa, este emblema situava-se entre duas janelas com varandas.

Publicam-se as respectivas fotografias.

 

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Na matriz provisória de 1854 a casa e quinta estão inscritas a favor de António de Castro Corveira Corte Real = «335 – 1 morada de casas com capela, lojas e 1.º andar sitas em Fijô.

2) Uma quinta que se compõe de lavradio e mato, ramadas, árvores de vinho e fruta junto à dita casa».

A quinta de Fijô foi descrita na Conservatória da comarca, pelo Dr. António de Castro Pereira Corte Real, em 25 de Julho de 1883, com o número 13816, a fls. 75 do L. B – 41:

«Prédio formado por a Quinta de Fijô, da freguesia desta Vila da Feira, composta de casas sobradadas com sua capela e terreno em frente, casas térreas, campos lavradios, matos, moinhos, jardim, pomares, águas de rega do rio e de minas e mais pertenças e servidões / 97 / activas, a confinar do norte com a estrada, do nascente com o rio, com D. Inez de Castro Corte Real, com Bernardino Maciel Ferraz de Lima e com a estrada do Castelo, do sul com esta estrada e com Luciana Lucinda Pinto Brandão, do poente com D. Brísida Benedita Augusta de Magalhães, da casa do Buraco e com Francisco Maria de Sousa Brandão».

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Coroa encimada pelo timbre dos Corte-Reais, aposta na fachada sul casa dos Condes de Fijô.

A inscrição do prédio a favor do Dr. António de Castro foi feita por, na escritura de partilha dos bens de seu pai comendador António de Castro Corveira Corte-Real, lavrada em 22 de Dezembro de 1872, pelo notário que foi desta vila Francisco Pereira Pinto de Lemos (mais tarde Conde das Devesas), lhe terem sido adjudicados todos os bens imobiliários que ao de cujus pertencia e possuía no concelho da Feira.

Pelo falecimento deste Dr. António de Castro e por forçada respectiva escritura de partilhas de 3 de Fevereiro de 1967, lavrada nesta Vila da Feira, a quinta de Fijô foi adjudicada ao filho – Dr. José de Castro Falcão Pinto Guedes Corte-Real.

Por sua vez, por falecimento deste, por força da escritura de partilhas de 10 de Dezembro de 1948 e da escritura de 28 de Dezembro de 1951, o prédio, com seus acréscimos, foi adjudicado ao filho Dr. José de Castro Soares de Albergaria Corte Real.

Hoje, por morte deste, o prédio está em compropriedade hereditária entre seus filhos.

Desde a primeira inscrição a favor do Dr. António de Castro, até hoje, a quinta de Fijô beneficiou-se de muito acréscimo territorial.

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A partir do alargamento da rua dos Condes de Fijô, que levou à demolição da capela de S. Bento, o prédio foi sujeito a uma profunda reforma e alteração da sua estrutura, com manifesto benefício, como se pode ver pelo confronto das fotografias que se publicam.

Anteriormente, a casa também sofreu reforma, na sua fachada principal, no tempo do 2.º Conde de Fijô (Dr. José de Castro Falcão Pinto Guedes Corte-Real).

 

LUGAR DA IGREJA

G

ERMIDA DO ESPÍRITO SANTO

Existiu no local onde está construída a capela mor da nossa Igreja Matriz e devia ser muito antiga.

Quando se fundou o mosteiro do Espírito Santo, nesta vila, houve dúvida entre o seu fundador D. Diogo Forjaz Pereira, quarto conde da Feira e os padres, reitor e deputados da casa do Porto (da congregação de S. João Evangelista) «a quem o capítulo tinha cometido todos os negócios tocantes à execução do novo convento», sobre o local onde se devia construir o mosteiro.

Aquele queria que fosse onde então existia a ermida do Espírito Santo «por ficar mais perto do castelo (onde ele vivia) e com mais cómodo de a sua gente vir a ele e por outras muitas conveniências»: por sua vez, os padres desejavam que ela se implantasse no sítio da velha igreja de S. Nicolau, no lugar hoje designado pelo da Misericórdia, onde veio a ser instalada a capela de S. Francisco – «por ter largos passais para a cerca e ser sítio largo fora da vila, e mais acomodado para os fregueses continuarem os ofícios divinos e que com menos fábrica se podia principiar».

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Vingou o critério do conde pois «no capítulo geral que se celebrou no ano de 1559 mandaram os padres capitulares se começasse o mosteiro no sítio onde estava a ermida do Espírito Santo por ser vontade do conde a quem por fundador e particular amigo tínhamos obrigação de condescender com sua vontade», o que tudo se encontra na cit. ob. do P.e Jorge de S. Paulo – fI. 16 (cit. Arq. Dist. Aveiro – Vol. XXVI – pág. 196 e 197).

Do mesmo livro, lê-se a fls. 266 do mesmo Arq. e Vol. – «Des o ano de 1549 que D. Diogo 4.º conde da Feira pediu à religião lhe concedesse fazer um convento de seus religiosos nesta vila, até os anos de 1560 em que se lançou a primeira pedra da igreja...», o que é bem elucidativo.

Pedra de calcário, lavrada, que se guarda no Museu Municipal da Feira.

A propósito do lançamento desta pedra diz o mesmo autor e naquele livro – a fls. 16 (cit. Arq. Vol. XXVI – pág. 197) «§ 4.º Havendo já sítio bastante para se dar princípio à igreja determinou o conde que fosse o dia de S. João ante porta latina o primeiro em que se lançasse a primeira pedra, e estando presente o padre Gonçalo da Cruz reitor do Porto; o conde D. Diogo, e a condessa D. Ana de Meneses (que era da casa dos Silvas regedores da relação) em o ano de 1560, sexta feira, dia de S. João ante porta latina, lançaram a primeira pedra da «capela mor» / 98 / (emendada para «igreja») com toda a solenidade possível assistindo toda a gente nobre desta vila: e dali por diante se foi continuando toda a obra da igreja e a mais que está feita no convento».

Do exposte, conclui-se que a ermida existia (já muito antiga) em 1559 e que deve ter sido demolida nesse ano ou em 1560, data em que se lançou a primeira pedra da nova igreja.

O Dr. Vaz Ferreira lançou num livro «para tomar notas avulsas sobre os objectos destinados ao Museu Municipal da Feira e existentes na Biblioteca Municipal», com início em 10 de Maio de 1943, a seguinte lembrança: «No dia 31 de Janeiro de 1944 o Presidente da Câmara Municipal... acompanhou à Biblioteca o arquitecto Rodrigues Lima, trazendo uma pedra de calcário branco lavrada proveniente da demolição da extrema nascente da parede sul do tribunal (antigo convento). Talvez seja um resto da ermida do Espírito Santo que existia no local onde em 1560 se começou a edificação da igreja e do convento.

Suposição difícil de provar.

Publica-se a fotografia dessa pedra.

E nada mais sei da tão velha ermida que foi coeva da antiga de S. Nicolau da Feira, ambas vencidas e demolidas a favor da nova igreja da freguesia de S. Nicolau da Vila da Feira.

(Continua no próximo número – >>>)

páginas 58 a 98

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