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N.º 13

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1972 

 

Vária


 

ESTEVE EM AVEIRO A SUBSECRETÁRIA DE ESTADO DA ASSISTÊNCIA

Nos dias 24, 25 e 26 do mês de Março último, Aveiro recebeu a visita da Senhora D. Maria Teresa Lobo, que se fazia acompanhar por diversos funcionários superiores do Ministério da Saúde e Assistência, a fim de tratar da resolução de problemas afectos aos Serviços de Assistência neste Distrito.

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Visita ao novo Internato

A Senhora D. Maria Teresa Lobo, visitou, no dia 25 do referido mês, as velhas instalações do Internato Distrital de Aveiro, tendo-se deslocado, no mesmo dia, às novas instalações, já em vias de acabamento, que demoradamente percorreu, acompanhada pelo Chefe do Distrito, Presidente, Vice-Presidente e Vogais da Junta Distrital.

O Subsecretário de Estado da Assistência presidiu ainda a um encontro com os responsáveis da Junta Distrital, tendo o respectivo Presidente prestado pormenorizadas informações relativas à situação financeira da respectiva autarquia, por força da construção

do novo Internato, bem como acerca do funcionamento de tão meritória obra de assistência.

Aquela distinta Senhora prometeu conceder um subsídio anual que possibilite o funcionamento dos Serviços do novo Internato, nos moldes inéditos, pré-estabelecidos, em ordem a resolver-se definitiva e eficazmente, o crucial problema de educação de rapazes no nosso Distrito, tendo ainda prestado preciosos ensinamentos relacionados com a montagem de todos os Serviços.

O Senhor Presidente da Junta Distrital agradeceu em termos repassados do maior reconhecimento o auxílio e profícua colaboração dispensados.

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A Subsecretária de Estado da Assistência visitando as velhas instalações do Internato.

NOVA JUNTA DISTRITAL

A sessão de transmissão de poderes realizou-se no Salão Nobre da Junta Distrital de Aveiro, sob a presidência do primeiro Magistrado Administrativo do Distrito, Dr. Francisco do Vale Guimarães, que dava a direita ao novo Presidente da Junta Distrital, Engenheiro José / 88 / Gamelas Júnior, Comandante Militar, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Deputado Manuel Homem Ferreira, Presidente da Junta Autónoma e Governador Civil substituto; à esquerda o Presidente da Junta Distrital cessante, Dr. Fernando de Oliveira, e Engenheiro Engrácia Carrilho, Presidente da Comissão de Planeamento da Zona Centro, Deputados Lopo Cancela de Abreu e Manuel Soares, Comandante do Regimento de Infantaria n.º 10, Presidente do Grémio do Comércio e o novo Vice-Presidente da Junta Distrital, Engenheiro Manuel Gonzalez Queirós. Em lugar de destaque, o Vigário Geral da Diocese, em representação do Prelado.

Presente muita gente, tanto da cidade como de todo o distrito, que enchia completamente o salão da Junta Distrital.

No uso da palavra, o Presidente cessante, em brilhante improviso, aludiu ao facto de cada vez mais rarearem as pessoas que se devotam à causa pública e congratulou-se com a eleição do novo Presidente da Junta Distrital de Aveiro, para o quadriénio agora iniciado e endereçou aos restantes componentes do Corpo Administrativo Distrital as mais cordiais saudações e, a finalizar, prometeu a todos incondicional apoio.

O novo Presidente da Junta Distrital pronunciou brilhante discurso que, na íntegra, a seguir se publica.

Reverendíssimo Vigário Geral da Diocese, em representação do Sr. Bispo de Aveiro

Senhor Governador Civil

Senhores Deputados

Minhas Senhoras e meus Senhores

Vão para V. Ex.ª Reverendíssima as minhas primeiras palavras. De saudação amiga são elas ao amigo ilustre que muito respeito e admiro pelas suas virtudes, cultura e inteligência; e por seu intermédio, de saudação filial ao Bispo de Aveiro que aqui dignamente representa, que tanto venero e estimo.

Como católico, atrevo-me a pedir que lhe transmita as minhas homenagens pela forma de evidente equilíbrio como, neste mundo conturbado, conduz a Barca de Pedro nesta nossa Diocese; é chama viva que alimenta os espíritos, guiando-os para o amor na vertical, sem o qual o amor humano e fraterno se arrisca ao efémero ou à vacuidade.

Minhas Senhoras e meus Senhores

São geralmente de expectativa e também de compromisso estas ocasiões: todos anseiam ouvir do empossado palavras arrojadas e diferentes, viradas ao futuro, que definam novos voos, perspectivas que fujam à rotina ou situações de maior esperança, já que o / 89 / passado vai perdendo vida e pertence à história e o presente nunca chega para responder à permanente insatisfação humana.

Mas – pobre de mim! – se a apreciação que daí ressalta se faz em termos de comparação, logo me apercebo do desfavor em que me encontro, porque é inevitável que aparece, para medida de confronto, a situação mais próxima, a que está mais viva na memória.

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Reunião da Junta Distrital.

Não estarei, na verdade, em posição fácil, porque sei do valimento da sua obra. A minha fugidia passagem pela Junta que cessou as suas funções, deu-me possibilidade de dar testemunho e põe-me à vontade para fazer esta afirmação. Por isso e antes do mais, desejo prestar aqui a minha homenagem ao Dr. Fernando de Oliveira e aos restantes seus companheiros que serviram esta Junta Distrital, sob a sua presidência, pela dedicação, espírito de sacrifício e inteligência com que orientaram os seus destinos. Dentro de coordenadas de tolerância e ao mesmo tempo de persistência e fidelidade a uma linha de acção, foi possível um condicionalismo humano, onde é patente uma atmosfera de dignidade, que coloca este órgão administrativo em posição de alto prestígio distrital. E não menos importante, ainda, é contar no seu historial a realização de uma obra grandiosa que representa um marco inapagável a assinalar o seu mandato. Para satisfação de todos nós, já se avista, quase pronta, a construção da primeira fase do novo edifício para o internato.

Por estarmos em desvantagem, porém, não é motivo para nos sentirmos complexados ou para nos quedarmos na contemplação passiva ou negativa da tarefa feita. Nem os meus antigos companheiros certamente me perdoariam se tal acontecesse, pela ameaça que daí adviria de destruição inglória da sua obra e, mais do que isso, porque constituiria rude golpe na vida e projecção desta casa; nem as Juntas anteriores deixariam de me estigmatizar pelo derrubar de uma empresa que, na fase do seu arranque, tantos espinhos teve e feridas que penso estejam já cicatrizadas.

Pois, como instituição humana que é, formada por homens vivos, ciosos da sua verticalidade, em que no cimo domina a cabeça, servida por um corpo e uns sentidos naturalmente fadados a um movimento em frente, não há outra alternativa que não seja aplanar caminhos para novas etapas evolutivas.

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Sessão Solene na Junta Distrital.

Aplanar caminhos... Duas palavras de sentido genérico que podem cair no abstracto se, entretanto, não for dada resposta à pergunta: Mas como?

Em muitos aspectos, a Junta Distrital pode ser considerada como uma empresa a administrar. Então, aplanar caminhos poderá ter o significado da necessidade de traçar coordenadas ou linhas mestras que servirão de sustentáculo e inspirarão todas os acções de gestão. Nesta ordem de ideias, resumidamente, importará:

a) visualizar para prever e antecipar medidas a tomar em face da interpretação de elementos disponíveis, possibilitando a determinação dos / 90 / sectores mais importantes que carecem de decisões;

b) fixar objectivos e princípios ou critérios sobre que assentam planos e controle dos empreendimentos;

c) atingir os resultados pela colaboração interessada de todos, na base de uma descentralização de funções, mas responsabilizada;

d) procurar melhorar os resultados à custa de estímulos, de decisões oportunas e adopção de medidas correctivas; e, finalmente,

e) provocar o progresso e valorização dos colaboradores, à custa de um trabalho de equipa.

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O Sr. presidente da Junta Distrital, dando nota, através de elucidativos gráficos, da actividade desenvolvida no campo da assistência.

Este esquema orientador, ordenado com tanta singeleza, que mundo de problemas, porém, não encerra? Na sua base está o homem, com os seus defeitos e virtudes, com a sua inteligência e força anímica, tendências, cultura, problemas pessoais que o possam dominar, o meio em que vive e serve, etc. É ele que o há-de pôr em prática, sob pena de ser letra morta ou símbolo irónico do fracasso que a evidência da pretensão mais denuncia. Com ele nada pode ser geométrico; consente uma directriz, aceita uma razão que o encaminhe, mas labora em erro quem lhe julgue uma anuência rectilínea. É que o homem não é máquina que trabalhe por simples pressão de um botão ou um tipo uniforme esculpido por mão hábil de artista; antes é multifacetado e muitas vezes contraditório, e nessa variedade de aspectos reside a sua maravilha.

O fundamental será encontrar a zona de equilíbrio técnico e humano, o denominador comum a partir do qual se hão-de conseguir os fins, como meta que imperiosamente importa atingir, sem desmerecer ou deixar de considerar os meios indispensáveis para o efeito.

Não é tarefa fácil, com certeza. Mas com uma definição clara de objectivos, persistência e determinação na acção, abertura de relações em trabalho de grupo para a colheita de soluções adequadas, de forma a que todos dêem o maior rendimento e sintam que merece a pena o esforço dispendido por uma causa concreta, sei já que é possível avançar e ter êxito.

Aplanar caminhos... Pois não nos fenecerá o ânimo por a jornada ser longa.

Importa, naturalmente, que aqui tenha uma palavra aos meus colegas, que comigo foram também empossados. Estou convencido que havemos de fazer um feixe de vimes; apenas agora lhes peço fé na nossa missão e confiança na objectivação dos propósitos que nos hão-de animar. E não posso deixar de me dirigir também a todos os colaboradores, desde os mais humildes aos mais qualificados, que constituem as peças desta máquina em movimento: conto convosco. Como vós podeis contar comigo.

Depois da estratégia, segue-se a táctica. Conhecerás a árvore pelos seus frutos. A Junta Distrital é um órgão administrativo que tem uma personalidade, que se projecta para o exterior, como a de qualquer indivíduo. Mas só se projecta para fora o / 91 / que existe dentro. E esta projeçção tem que ter o cunho de autenticidade.

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O Presidente cessante, Dr. Fernando de Oliveira, no uso da palavra.

É este aspecto – trabalhar o seu interior para uma projecção autêntica – que constituirá a nossa principal tarefa. E trabalhar é, aliás, o único ponto de que me sirvo para aqui fazer uma promessa, porque sei que vou cumprir.

E assim, dentro do seu âmbito sectorial, em linhas simples mas objectivamente, julgamos não oferecer dúvidas que interessará:
 

1) No fomento

É este um sector extraordinariamente importante, que atingiu já projecção nacional, mercê da sua qualificada composição e obra realizada, principalmente no serviço de assistência às Câmaras Municipais de mais débeis recursos.

Todavia, dadas as perspectivas que se antevêem de maior amplitude de serviços, que o próprio Governo, através do Ministério do Interior, recomenda e incentiva com redobrado empenho por todo o País, haverá necessariamente de transformar desde já muitos aspectos da sua actividade, com a adopção de esquemas de trabalho em moldes empresariais. Aliás, este objectivo já começou a ser concretizado com a aprovação recente de um regulamento de serviços, elaborado com a participação de todos os técnicos responsáveis. Importa agora insuflar-lhe vida, para que, como guia válido, dê mais vida ao sector.

Que o mesmo espírito de equipa, que presidiu às reuniões efectuadas para o efeito, continue com o mesmo interesse, porque será dentro desta fórmula de actuação, à mesa redonda, que se irá progredir com vista à obtenção de uma maior eficiência e maior produtividade.

É com as Câmaras Municipais que este sector mais contacta. Por isso, quero aproveitar a oportunidade para as saudar nas pessoas dos seus presidentes, e, especialmente àquelas com quem mantemos relações de serviço mais apertadas, peço que contem com a nossa boa vontade e espírito de bem servir, ao mesmo tempo que apelo para a sua boa compreensão, a fim de nos desculparem possíveis faltas, certamente inevitáveis por insuficiência de recursos humanos ou por derivarem de uma fase de perturbação que as transformações normalmente motivam.

 

2) Na assistência

Eis aqui uma seçção que irá sofrer transformações radicais. São cento e cinquenta razões, tantas quantas os rapazes que ali, em média, vivem, vindos da miséria e dos tugúrios, muitas vezes da fome permanente e de meios moralmente degradados, que justificam a adopção de medidas de vulto e profundas, ao mesmo tempo corajosas e prudentes.

Espera-se modificar toda a sua estrutura e os métodos pedagógicos, logo que o Internato mude para / 92 / o novo edifício. Para isso, pensa-se objectivar esta pretensão com recurso ao modelo da «Obra da Rua», a que o Padre Américo dedicou a sua frutuosíssima vida como Apóstolo do Evangelho vivido, fazendo da lama luz. Cremos que será esta a melhor forma de educação o de fornecer aos rapazes a estrutura mental e moral indispensável para que amanhã se sintam na sociedade iguais a qualquer outro ser, sem marca ou complexos que lhes afectem a inteligência e a alma. Sabemos das dificuldades que este programa encerra, mas tudo quanto seja avanço, mesmo pequeno, nesta direcção, é ganho para os rapazes e para a sociedade.

Independentemente desta acção e do carinho que as Casas da Criança existentes hão-de continuar a merecer, é lógico que se pensará também na construção da segunda fase do edifício do Internato, ficando assim acabada esta magnífica e utilíssima obra, que se espera não contraste com aquela outra humana que ali se vai encetar.

 

3) Na cultura

Parece-me que este pelouro deve também merecer novo impulso no sentido de ser aumentado o seu âmbito de acção. É certo que me faltam ainda elementos que considero indispensáveis para o objectivar conscientemente. Mas julgo que só limitações de natureza financeira poderão impedir que nos debrucemos mais sobre os vultos de relevo que viveram no Distrito, desenterrando-os da poeira dos tempos para os dar a conhecer às gerações que passam, tal como hoje já se está a fazer com um deles: D. João Evangelista de Lima Vidal. E continuará a ser preocupação desta Junta a valorização da sua Revista, a exploração do folclore do Distrito e da sua arte regional e a promoção do inventário das relíquias arqueológicas e históricas, dos monumentos artísticos e das belezas naturais existentes.

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A mesa de honra a que presidiu o Governador Civil do Distrito, Dr. Vale Guimarães.

É este um esboço que aqui, decerto incompletamente, fica traçado. É o mais fácil. Para lhe dar concretização conveniente, porém, não dispensa a Junta a colaboração de todos quantos queiram e tenham possibilidades de dar ajuda, na medida em que o assunto requer especialização e sensibilidade própria, que não é apanágio de todos, mas apenas de poucos. O apelo aqui fica feito.

E suponho que neste sector, mais talvez que nos outros, a imprensa, a cujos representantes dos órgãos regionais e diários, manifesto o meu apreço, simpatia e admiração pela sua labuta nem sempre isenta de espinhos, terá lugar de merecido relevo, pela colaboração e préstimo que pode conceder a esta Junta Distrital e ainda pela crítica independente e construtiva, que desejaremos abertamente, até como fonte de purificação de ideias e de processos de actuação. E não será naturalmente a imprensa o meio mais indicado para a projecção autêntica da personalidade deste órgão administrativo?

Antes de terminar, desejaria ainda ter uma palavra agora de carácter pessoal. / 93 /

O lugar que hoje aqui ocupo, não o solicitei, nem tão pouco, por qualquer gesto ou palavra discreta ou indiscreta, manifestei o desejo de vir a ser distinguido pela função, que os Procuradores do Conselho do Distrito haveriam de me confiar, numa decisão que me desvanece e a que só poderei responder através de uma actuação que procurarei não desmereça a sua escolha.

A primeira notícia que sobre este assunto recebi, a minha reacção imediata foi de recusa; todo o meu ser vibrou no sentido da negativa, não só por razões particuliares especiais que, contudo, já se antevia virem a perder virulência, mas também porque não via, de momento, forma de conciliar uma vida profissional absorvente com as exigências da nova função.

Este estado de espírito perdurou ainda durante alguns dias; e cheguei mesmo à fase de decisão, para apresentar no momento oportuno. Mas, depois de meditação mais serena, comecei, na verdade, a admitir egoísmo na minha atitude. Que coragem revelava eu, se fugisse às responsabilidddes? Ficaria a minha consciência em paz, refugiando-me num passivismo cómodo, mas contrário à minha personalidade e ao meu carácter? Não poderia a recusa ser interpretada como uma ingratidão para com aqueles que não duvidaram de mim e em mim confiaram como homem? Que espécie de católico mostraria ser, negando-me ao sacrifício e a dar um pouco de mim aos outros?

Rectifiquei então a minha primitiva resolução. E uma pessoa que mais influiu nesta decisão final, foi e é o exemplo do Governador Civil de Aveiro, que deixou a sua profissão, sacrificou as suas comodidades e a vida familiar, para viver em pleno e com dedicação extrema os problemas e a vida da sua terra. Permitam que aqui um pequenino aveirense dirija pessoalmente a outro, que é grande – o Dr. Vale Guimarães – uma palavra muito sentida de apreço, reveladora da muita estima que lhe dedico, e também ao Governador Civil outra de respeito, admiração e agradecimento pela notável obra que já realizou em prol de Aveiro e do seu Distrito.

E é através de V. Ex.ª, Sr. Governador Civil, que também rendo as minhas homenagens ao Almirante Américo Tomás, como símbolo vivo da República e da Pátria, e ao Professor Marcelo Caetano, de quem passo a ser uma peça, embora muito minúscula, da máquina que impulsionou e fervilha e evolui na ordem e na paz.

Como nota final, atrevo-me a abusar da paciência de V. Ex.as, mas não resisto à tentação de focar ainda um facto curioso relacionado com a minha decisão.

Há dias, tinha entre mãos um livro de D. João Evangelista de Lima Vidal, por sinal editado por esta Junta. Costumo ler com frequência o nosso Bispo, porque encontro sempre nele, na sua prosa, que tantas vezes é música e poesia, ópticas novas na observação das coisas e dos problemas da vida.

Não admira, por isso, que também dele me lembrasse no transe por que passava. Num fim de tarde sereno não muito distante, dei uma volta junto aos canais da nossa ria, ali para as bandas da Barra. Gosto de ali ir, para fugir ao bulício da vida e para retemperar as forças. D. João, quando ausente de / 94 / Aveiro, também se habituara a ir ali, como primeiro sítio das suas rápidas visitas à sua pequena pátria. Só os aveirenses sentem e compreendem este encanto e sedução.

Olhando a quietude das águas e o vasto horizonte límpido já inimitavelmente colorido pelo início da luz crepuscular, como que em sonho, cheguei a perguntar:

– Meu querido Bispo, se te pedisse, (o tratamento por tu suponho que seja regra no além) se te pedisse conselho para este meu caso, que me dirias?

Abri então o livro que me acompanhava e salta-me aos olhos aquela passagem em que ele se diz puxado e sai de «espectador silencioso» para se arrojar como elemento operoso e decisivo na restauração da Diocese de Aveiro.

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O novo Presidente da Junta Distrital, Eng.º Agrónomo José Gamelas Júnior, no uso da palavra.

Julguei ver ali a resposta inspirada. Plasmado do seu espírito, imaginei-o então «com os beiços a saber a salgado, a pingar gotas da ria por todo o corpo, por toda a alma», a segredar-me:

– Mas que queres que te responda? Repara na vida que tive, quando palmilhei essas nossas tão lindas terras, e o amor que Aveiro para mim representava, ao ponto de estar, desde o princípio, na primeira linha na restauração da sua Diocese, contra outra Diocese. Mas olha à tua volta, por todo Distrito: que vês? Acima de tudo o homem, o homem que desespera e confia, que luta e reza, que ama e sofre! Todos são aveirenses, que trabalham e vivem!... Não queres tu ser aveirense? Um dia não gostaram lá muito que eu fechasse um discurso, dizendo: «Mas tem que ser!» Mas olha que agora não há outro fecho, não há outra resposta.

Pois aqui estou, meu Bispo, e que Deus me ajude.

A finalizar, o Governador Civil do Distrito felicitou o novo Presidente da Junta Distrital pelo belo discurso proferido e regozijou-se com o facto de o Conselho do Distrito ter eleito, por unanimidade, tão ilustre Aveirense para a chefia da Junta Distrital.

O Governador Civil, depois de aludir às atribuições cometidas à autarquia distrital, salientou o valimento dos Serviços Técnicos de Fomento e formulou votos para que tais serviços cada vez com maior intensidade prestem activa colaboração às Câmaras Municipais do Distrito.

No capítulo da assistência, referiu-se à inauguração para breve do novo Internato Distrital de Aveiro e no campo da cultura salientou a obra imensa a levar a efeito.

De seguida, o Senhor Governador Civil evocou o nome do saudoso Dr. Aulácio Rodrigues de Almeida, antigo Presidente e salientou o prestígio que trouxe para a Junta Distrital a acção do Presidente cessante, Dr. Femando de Oliveira, cuja reeleição só não se concretizou porque ele foi chamado ao cume da actividade política no distrito. Depois de agradecer a obra / 95 / levada a cabo pela Junta Distrital cessante, referiu-se às qualidades de inteligência do Engenheiro José GameIas Júnior, que – disse –, é dotado de vasta cultura, carácter firme e grande espírito de serviço, além de ser profissional distintíssimo. Regozijava-se pois, inteiramente, com a escolha. E iguais elogiosas palavras foram dirigidas ao novo Vice-Presidente, Engenheiro Manuel Gonzalez Queirós e dos Vogais Dr. Henrique Souto, Dr. José Seiça e Castro e Dr. António Eduardo de Pinho e Freitas, cujos nomes e personalidades – disse – já excederam os limites dos respectivos concelhos a que pertencem. A Junta estava confiada a homens de valor distrital, animados do melhor propósito de bem servir um distrito grande e próspero como o nosso, contribuindo ainda para sua maior prosperidade e grandeza.

No mesmo dia, o novo Presidente da Junta Distrital ofereceu, num dos Hoteis da cidade, um jantar íntimo a que assistiram o Chefe do Distrito, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro e outras entidades e os Chefes de serviços da Junta Distrital. Aos brindes foram uma vez mais enaltecidas as qualidades tanto do novo como do Presidente cessante.
 


 

páginas 87 a 95

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