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N.º 11

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1971 

O Marco Miliário da Mealhada

Por Artur Navega Corrêa

Ao escrever sobre o Marco Miliário da Mealhada somente me move o intuito de contribuir para a propaganda e divulgação da peça de maior valor arqueológico existente na Mealhada pelo interesse histórico para o Distrito de Aveiro, por ter pertencido a uma região onde muito se fez sentir a influência romana.

De AEMINIUM (Coimbra) saía para CALE (Gaia), o traço da estrada romana OLlSSIPO – BRACARA (Lisboa – Braga), cujo traçado correspondia de perto ao da Estrada Nacional N.º 1. Depois de ter passado par Pedrulha, Adémia, Fornos, chegava a alturas de Viminaria (Vimieira) onde se bifurcava em duas, seguindo o ramo principal, a estrada militar ou consular, em direcção a Cale e o outro – o comercial ou de penetração mais por ocidente, pela borda do mar.

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A estrada era sinalizada por marcas que assinalavam distâncias em milhas, marcando o da Mealhada XII, que seria a distância de Aeminium a essa bifurcação, que localizamos na Vimieira ou proximidades, por 12 milhas corresponderem a 17,778 km. (sendo a milha igual a 1 481,5 metros segundo Ságlio e Daremberg).

O aparecimento da marca em um local mais distante poderá atribuir-se a ter sido para aí deslocado por qualquer motivo ocorrido no decorrer de tantos séculos. Acresce, que a Vimieira devia ter sido terra importante pela sua posição na confluência dessas duas grandes estradas e, também, o atestam inúmeros vestígios da presença romana constituídos por objectos de metal e cerâmicas, moedas, sepulturas, etc. que nela têm aparecido assim como nas cercanias, designadamente nos sítios das Areias e Abitureira.

Nas duas presumíveis localizações atribuídas à descoberta do marco não foram encontrados quaisquer vestígios romanos.

O marco foi encontrado em 1856 a Sul da Mealhada e à distância de 630 metros da vila (A. M. Simões de Castro «Guia Histórico do Viajante em Coimbra e Arredores», e Pinho Leal «P. Antigo e Moderno»).

No entanto Hübner, no Corpus Inscriptionum Latinarum, na inscrição n.º 4640, diz que foi encontrado em 1857, a 1508 metros da vila.

Recolhido pelo Dr. João Nobre Araújo, que o ofereceu à Câmara Municipal, foi colocado no átrio junto à escadaria, onde hoje se encontra. É um bloco de pedra de calcário rijo, em forma de coluna cilíndrica, medindo de altura máxima 1,81 m. e de perímetro 1,39 m., apresentando no seu terço superior letras gravadas com altura média de 5,5 cm., bastante gastas.

No bloco faltam letras e as existentes constituem a seguinte inscrição aliás bastante mutilada:

SAR. DIVI

RON. AVG

COS. DESI

P. P.

XII

/ 6 /

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O Professor D. Fernando de Almeida, comparando esta inscrição com as dos marcos miliários de Coimbra e de Ul (Oliveira de Azeméis) deu-lhe a seguinte decifração:

[C. Cae] sar, Divi / [Aug(usti) p] ron(epos), / Aug(ustus), / [Pont(ifex)] max(imus), tri(unicia) / [p(otestate) III], co(n)s(ul) desi(gnatus), / P(ater) P(atriae), / (milia passuum) XII.

O Sr. Padre Nogueira Gonçalves, a nosso pedido, traduziu:

Caio César Augusto bisneto de Augusto, Pontífice máximo, no ano 3.º do poder tribunício, Consul eleito, Pai da Pátria. Milha XII.

Parece que as letras COS se devem ler CON. O ano, poderá ser III ou IV, pois o ano III é uma correspondência com o de UL, mas nada nos poderá garantir que os dois marcos tenham sido colocados no mesmo ano.

É, pois, do Imperador Calígula do ano 39 A. D. embora Hüber lhe dê o ano 40.

Esta peça arqueológica confirma a passagem pelo concelho de Mealhada da estrada militar romana no ano 39 depois de Cristo, e é mais um elemento de valor a juntar a outros para o estudo da romanização deste Concelho.

 

páginas 5 e 6

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