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N.º 7

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1969 

 

Vária


 

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Visita ao refeitório do Internato.

No passado dia 11 de Janeiro, o Senhor Governador Civil do Distrito, Dr. Francisco José Rodrigues do Vale Guimarães, dignou-se visitar a sede da Junta Distrital e o Internato Distrital de Aveiro.

Aguardado à entrada daquele estabelecimento de assistência pelos Senhores Presidente e Vogais da Junta Distrital, teve lugar a visita às velhinhas instalações do Internato, no decurso da qual se fez ouvir a Banda de Música.

Seguiu-se a visita à sede da Junta Distrital, onde os ilustres visitantes apreciaram o novo anteprojecto do Internato Distrital de Aveiro, percorrendo, depois, todas as instalações do magnífico edifício, recentemente reconstruído.

No Salão Nobre realizou-se uma sessão solene, a que presidiu o primeiro Magistrado Administrativo do Distrito.

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Visita à Junta Distrital.

Viam-se na mesa de honra os Senhores Presidentes da Junta Distrital e da Câmara Municipal de Aveiro, Governador Civil Substituto, Delegado do Instituto Nacional de Trabalho e representante do Comandante Distrital da Legião Portuguesa.

Em lugar destacado, Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Aveiro.

Na assistência encontravam-se os Senhores Engenheiro-Director de Urbanização, Engenheiro-Director de Estradas, Presidente da Direcção da Caixa de Previdência, Presidentes das Câmaras Municipais e outras autoridades civis e militares, Vogais da Junta Distrital e antigos membros do mesmo Corpo Administrativo, funcionários da autarquia distrital e alunos do Internato Distrital de Aveiro. / 71 /

O Senhor Presidente da Junta Distrital no uso da palavra afirmou:

Excelência Reverendíssima

Sr. Governador Civil

Sr. Presidente da Comissão Distrital da União Nacional

Sr.s Deputados da Nação

Ex.mas Autoridades Civis e Militares

Minhas Senhoras

Meus Senhores

Caros Rapazes da Nossa Casa:

Acabámos de visitar as obsoletas instalações do Internato e a sóbria mas digna sede deste Corpo Administrativo.

Para o fim deixámos, propositadamente, o momento das boas vindas, porque não queremos que escape a ocasião de pedir.

Dilataram-se as pupilas e o coração com os impecáveis e comoventes acordes da nossa simpática Banda Juvenil, para se apertarem nos escuros e degradantes recantos do seu lar.

Aliviou-se a tensão com a entrada neste edifício, de raro simbolismo, onde paira a recordação de dois homens, opostos pelas ideias, ligados pelo sangue, pelo génio, pela amizade fraterna: Jaime e Sebastião de Magalhães Lima.

Desprendeu-se a preocupação dos nossos espíritos ao analisarmos o ante-projecto do novo Internato.

Ansiamos pela palavra do Governo e pela bênção da Igreja, que quisemos fosse aqui representada a alto nível por um dos troncos mais vigorosos e prestigiados da sua Hierarquia, seguramente fadado para os cumes.

Cremos, portanto, Sr. Governador Civil, que V. Ex.ª se deve sentir em festa nesta sua primeira visita oficial à remoçada sede desta junta.

Quisemos rodeá-la de todo o simbolismo que as nossas possibilidades permitiam, para lhe testemunhar a devoção que lhe tributamos.

E quis Deus que fosse eu a erguer a minha voz para exprimir esse sentimento – o que faço com o respeito do subordinado, a comoção do amigo e a veneração do correligionário.

Singular acaso, pois que foi V. Ex.ª a pessoa a dar o primeiro impulso na minha reservada atitude político – sempre cambaleante entre a genuína admiração por Salazar e a repulsa por certos seus pretensos / 73 / colaboradores – e a primeira pessoa também a enviar uma .palavra amiga pela aceitação do cargo, que hoje imerecidamente ocupo e que tantos desgostos já me causou, espevitando o meu egoísmo no sentido dum. breve retorno à paz do meu lar e da minha profissão.

Olho neste momento em redor e vejo um quadro policromado, em que figuram a dignidade da Igreja, o pão do Governo, a disciplina das Autoridades, a obediência do Funcionalismo, o espírito de servir dos meus Colegas e a ingénua interrogação sobre o amanhã da Juventude!

E alongando a vista distingo com nitidez a serena firmeza de duas veneráveis figuras nacionais, seguro mandante e genial mandatário dos legítimos interesses da Pátria, Presidentes Américo Tomaz e Marcelo Caetano!

Tudo isso me leva a recordar neste momento e com toda a propriedade o que afirmei em Maio do ano passado num colóquio político-administrativo:

«Para mim, homem comum, o rumo do Regime cifra-se no primado dos homens sobre as leis.

Salazar já denunciou a crise de dirigentes.

Não pode haver regimes perfeitos com homens imperfeitos.

A principal tarefa que se nos impõe num momento em que se nos deparam dois caminhos o da morte ou o do regresso ao passado glorioso e honrado é a formação moral, cívica, intelectual e política do povo português.

Tudo o resto virá por acréscimo.

Para tanto não precisamos de gastar divisas com a importação, sempre equívoca, de modos de vida estranhos, quer eles sejam à base da pastilha elástica (demasiado elástica) quer sejam à base da Vodka (demasiado rija).

            Os regimes devem constituir a tradução fiel do sentimento nacional.

            E este está todo ele imbuído de sugestões corporativas e cristãs.

Mas isso não significa que tenha de haver uma subordinação à Igreja, que não pode nem deve imiscuir-se no poder temporal, aliás na linha de pensamento do Concílio Vaticano II.

Não obstante, parece ser de aconselhar uma ajuda material à Igreja, pois que a formação cristã do povo português é caminho seguro para uma governação mais fácil na obediência e no comando. / 74 /

O cristão puro é honesto e o que falta é honestidade.

Essa a causa principal da crise de dirigentes.

Não se pode esquecer, no entanto, que o País é constituído por cristãos e não cristãos e que há muita gente honesta entre estes.

Outra causa que determina a crise de dirigentes é a falta de patriotismo, habilmente provocada pelas ideias comunistas, que espalham a crença de que as pátrias são contrárias à fraternidade universal.

As potências que sopram essas ideias não se esquecem, entretanto, de proclamar a superioridade dos seus países, a cujo génio inculcam a invenção de tudo o que tem contribuído para o progresso científico e económico do Mundo, desde a prosaica batata aos satélites artificiais.

Por outro lado, nem sempre se terão escolhido para os lugares de comando os mais aptos e trabalhadores.

Esse mal é agravado com o facto do funcionalismo público ser mal remunerado, assistindo-se a uma alarmante deserção para as empresas privadas, naturalmente dos mais aptos e ambiciosos.

E os que ficam vêem-se na necessidade de lançar mão de actividades extra funções, que só prejudicam a própria Administração Pública.

Ora tudo seria fácil de remediar, simplificando-se os serviços, restringindo o número de funcionários e pagando-lhes convenientemente.

Se é evidente que testemunhamos um constante aperfeiçoamento dos métodos de trabalho das empresas privadas, porque não havemos de introduzir o estudo científico do trabalho na maior e mais importante empresa, que é a Administração Pública?

Há muito de amadorismo em tantos sectores importantes da vida Pública, que urge estripar como erva daninha, que impede o progresso da Nação.

Com a agravante de que nem sempre a crítica séria e construtiva é aceite com a adequada filosofia, talvez porque a chamada oposição ao Regime nos habituou a desconfiar da seriedade das críticas, quase sempre marca das com o sinal da barafunda demolidora.

Mas saibamos distinguir o trigo do joio, para não cairmos na psicologia do bicho da conta!

Quando medito neste estranho amolecimento de certos indivíduos perante os grandes problemas nacionais não posso afastar o problema gravíssimo da Juventude.

Continuo a falar como homem comum, que anda misturado com o chamado povo.

Desse contacto tenho retirado a convicção firme de que o veículo mais perigoso da dissolução do amor à Pátria é a camada intelectual, muito pela preocupação de dar nas vistas e de se opor a tudo e a todos, muito pela sua má formação universitária, onde serviram de joguete à habilidosa teia que é teci da com invisíveis fios das mais distantes origens.

Sempre acreditei na Juventude, que é generosa e pura, mas que é muito vulnerável à especulação intelectual através da manipulação de indivíduos sem escrúpulos.

De modo que temos de aproveitar as potencialidades extraordinárias da Juventude, dando-lhe saída para ocupações que toquem a sua profunda generosidade.

É indispensável que a Juventude aprenda a amar as nossas Províncias Ultramarinas.

E esse amor só pode ser despertado conhecendo-as.

É necessário aproveitar a generosidade da Juventude.

E isso só pode ser alcançado interessando-a em obras eminentemente sociais.

É necessário promover a saúde física e espiritual da Juventude.

E isso só é exequível através de manifestações desportivas e culturais.

Dêem-se ocupações nobres à Juventude e ela não terá tempo de se deixar tentar pelo vício e pela especulação comunista, exímia no tanger da corda mais sensível do seu coração, do seu amor à liberdade, que ilusoriamente constroem à custa das mais degradantes grilhetas.

Faça-se-lhe compreender que a liberdade é sem dúvida um dom inestimável, mas que ele só é alcançado quando respeitamos os limites da liberdade dos outros. / 75 /

Li há tempos um pensamento que dizia que os velhos não sabem dar maus conselhos porque não podem dar maus exemplos.

Preferia, no entanto, que a Juventude compreendesse que há velhos que nunca deram maus conselhos, mesmo na idade em que podiam dar maus exemplos.

Essas venerandas figuras da nossa Pátria quereria eu ofertar à Juventude generosa do meu sagrado País como padrão de vida, de tal modo que na minha velhice eu pudesse verificar, com encantamento, que tinha desaparecido da Pátria aquela maléfica casta de indivíduos que, mais que o Bem Comum, prezam os bens comuns... em seu exclusivo proveito!».

Isto disse então, isto reafirmo agora, em perfeita sintonia com o pensamento de Salazar, Américo Tomaz e Marcelo Caetano três verdades distintas da mesma realidade histórica.

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O Senhor Presidente da Junta Distrital no uso da palavra.

Todos sentimos que a fase ascensional do poderoso e matemático foguetão de arranque da apagada e vil tristeza, em que mergulhávamos, teria, inevitavelmente, que preceder a dolorosa ignição da nave nacional em percurso mais harmonioso, mas que não admite erros de cálculo, que nos possam levar por atalhos lunáticos, nem ricochetes de retaliações inúteis e condenáveis, nem troca de ouro velho por cobre novo.

No que concerne ao nosso Distrito, tenho confiança na hábil manobra do excelente Chefe que nos dispensaram, com sacrifício seu mas proveito nosso, certo como estou que saberá conduzir a barca da governação com mão tolerante mas firme, de ouvidos abertos às solicitações justas e os olhos atentos aos negrumes dos horizontes, sempre prontos a desencadear tempestades que possam forçar ao recolher lamentável e apressado da vela da liberdade, para que ela não seja feita em tiras.

Assim confiamos!

Que V. Ex.ª vá carregando de porto em porto as petições das gentes necessitadas e que num deles faça embarcar o sonho que nos embala a construção do novo Internato são os votos humildes mas sinceros e amigos dos membros desta Junta.

Já o seu honesto e dedicado antecessor, havia emprestado a esse sonho o melhor da sua influência.

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Quando discursava o Senhor Governador Civil.

Na hora em que é fácil esquecer os que largam o mando, aqui lhe testemunhamos a nossa gratidão.

Estou certo, porém, que V. Ex.ª, com toda a força irremovível do seu prestígio, que o levará a subir mais altos degraus da Governação, irá, finalmente, tornar possível a sua realidade, para que a chaga das instalações que visitámos seja removida da face da bela terra que o viu nascer e que ama estremecidamente.

É certo que esta Junta se tem cansado de pedir e de ver diferida a resolução do seu mais premente problema.

Talvez por isso eu fosse tentado a terminar a minha saudação com aqueles expressivos versos do nosso genial irmão Manuel Bandeira,

«Não te doas do meu silêncio:

Estou cansado de todas as palavras».

Mas é tempo de romper com o silêncio e empunhar a palavra, que sirva de rumo à Juventude perturbada e ao adormecido Povo Português, sem nunca descurar a bússola mais infalível: o Exemplo!

 

Em brilhante improviso o Senhor Governador Civil, após saudar Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo de Aveiro e as demais entidades presentes, dirigiu-se ao Senhor Presidente da Junta Distrital para afirmar:

«Quando o Senhor Presidente da Junta Distrital, o meu prezado e distinto Amigo, Dr. Fernando de Oliveira, me convidou para visitar a Junta Distrital, sempre pensei que se tratasse somente da visita às instalações que eu não conhecia, nesta casa que há tantos anos conhecia, e não uma visita como esta que proporcionou, imprimindo-lhe a maior solenidade.

Mas fez mais o Sr. Presidente; fez mesmo um discurso. Com as qualidades que lhe conhecemos, não admira que tenha feito mesmo um discurso.

Recordou que a sua entrada para a cena política foi, digamos, inspiração ou estímulo meu. Pois, Dr. Fernando de Oliveira, neste momento, a melhor homenagem que lhe posso prestar é dizer-lhe que motivo algum tive que me causasse arrependimento por esse acto que pratiquei e que não foi fácil –, de conseguir o objectivo visado.

É-me muito grato ver esta Junta entregue à sua inteligência e à sua devoção.

Disse há pouco já haver sofrido algumas amarguras e que ansiava pelo regresso. Não creio, Dr. Fernando / 76 / de Oliveira, em que um homem com a sua força de ânimo, com a sua disposição de servir a coisa pública, se possa agastar por qualquer contrariedade. A vida pública é cheia de contrariedades! Mos compreende-se o desabafo e o desejo do Dr. Fernando de Oliveira».

Depois de aludir à restauração das Juntas Distritais, decretada precisamente no ano do termo do seu mandato como Governador Civil do Distrito, e de referir o valimento da autarquia distrital, salientou os nomes dos primeiros presidente e vice-presidente, Drs. António Rodrigues e Belchior Cardoso da Costa, dos segundos (presidente e vice-presidente) Dr. Aulácio Rodrigues de Almeida e ao invocar o seu nome e julgando interpretar o sentir de todos os presentes como o seu próprio, prestou ao saudoso Dr. Aulácio as suas homenagens e formulou um voto, voto muito profundo, muito sincero, pelo seu possível e breve restabelecimento , e Dr. Humberto Leitão.

E a seguir:

«Pois nesta minha primeira visita, eu não posso deixar de render homenagem ao esforço de todos esses homens e das suas respectivas equipas. Prestar homenagem por todas as razões: esta própria restauração do edifício já diz, por si, do espírito, do dinamismo, da vontade de servir que a todos animava, que desde há nove anos deram vida ao organismo restaurado».

E a finalizar:

«Quanto à aspiração maior da Junta Distrital, aquela para que todos os concelhos voltam as suas atenções, apresentam as suas apreensões a construção do novo Internato Distrital , posso dizer que ainda antes de empossado, mas já depois de assente o meu regresso a Aveiro, a segunda coisa de que tratei foi precisamente a da construção do novo Internato.

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O Senhor Governador Civil apreciando a Revista "Aveiro e o seu Distrito"..

Tinha na minha mente as velhas instalações do antigo Asilo e, na conferência que tive, antes de empossado, com Sua Excelência o Ministro da Saúde, e passei em revista tudo aquilo que de memória tinha em relação ao distrito, pus mesmo o problema do Asilo e lhe disse que considerava essa obra das mais urgentes, mais necessárias.

Disse mesmo que o Internato, antigo Asilo, tinha nesta terra e teve nesta terra um grande papel. Ainda bem me recordo de que muitos daqueles que na vida / 77 / aveirense marcaram posições de destaque, saíram desta casa. Bastava essa circunstância para reconhecer o papel enorme que o velho Asilo desempenha, para sentir os anseios daqueles que vivem, dia a dia, as dificuldades.

 E posso dizer, Senhor Presidente e Senhores Membros da Junta, que encontrei da parte do Senhor Ministro da Saúde e Assistência perfeita receptividade para o problema, a melhor disposição de o resolver em breve. Penso que não demorará uma visita de Sua Excelência à capital do Distrito e suponho que nesse dia, esse problema, que tanto tem apaixonado todos os componentes da Junta Distrital, pois nesse dia, todas e quaisquer dificuldades serão vencidas.

E teremos, portanto, a esperança de ver, em breve, lançada a obra. É esse o voto do Governador Civil, é esse o voto do Aveirense.

E para terminar, e ainda em felicitação, dizer que a Junta Distrital não se deu ao luxo mas caprichou em dispor da instalação mais digna, mais actual, porventura de quantas haverá no País.

Até neste aspecto, a Junta Distrital e os seus gerentes estão de parabéns».

*

* *

Terminada a sessão solene o Senhor Presidente da Junta Distrital ofereceu ao Senhor Governador Civil o último número publicado da Revista «Aveiro e o seu Distrito».

 

páginas 71 a 77

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