A minha amiga Rosa

Como é discreta a minha amiga Rosa! Quase todas as manhãs bate levemente à janela da minha sala, onde já notou que me encontra a ouvir música ou a meditar em silêncio. E mal vê que reparo nela, vira-se pudicamente para o lado, e põe-se a dançar ao ritmo do vento, que tem a mania de passear por estas bandas, por vezes em grande e barulhenta correria. Mas a minha amiga Rosa não se atrapalha mesmo nada. Dança cada vez mais loucamente, piscando-me os olhos às meias voltas e dando-me a cheirar o perfume dessa manhã.

À tarde, já bem a meio, costuma ficar imóvel, saboreando o meu amor platónico e enchendo-se da majestade da catedral, mesmo do outro lado da avenida, ou do primoroso museu de Santa Joana, logo um pouco mais à frente, que parecem encaminhar o nosso olhar para o poente que se vai aproximando.

Ao escurecer, as luzes da Catedral e do Museu entram em concorrência ao adeus do Sol. E eu despeço-me da Rosa, que dança suavemente como quem promete voltar, ela também, todas as manhãs.

 A Rosa já sentiu que eu tenho saudades das antigas namoradas, e que da última ainda guardo os sabores da sua companhia. E que sou obrigado a ser muito «gentleman» com a minha nova companheira (terá lido a «Carta aberta à minha ex-namorada»?). Creio que é por isso que ela se vai afastando e escondendo, à medida que a noite é cada vez mais noite. Não haja más línguas por aí à solta…Mas desconfio que ela ainda fica, sonolenta, a olhar como eu os olhos brilhantes da Sé e a tranquila torre sineira que ilumina as vigílias de fé ou saudade.

ANEXO o «fácies» comprometido da minha nova namorada, comigo à frente do nº 8 com que ela está cadastrada. E depois, e depois… a minha Rosa!

Manuel Alte da Veiga

9 de Junho de 2017

 

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09-07-2017