Comamos e bebamos porque amanhã morreremos

É da Bíblia, mas para dar exemplo de insensatez ou falta de visão. Quem está bem não se importa com o mal que aflige os outros. Nem lhes envia uma mensagem simpática.

Foi a minha primeira reacção à 1ª página do DIÁRIO DE AVEIRO de 5 de Setembro: «Fogo-de-artifício proibido… provoca revolta».

Sei como custa, em sentimentos e investimentos financeiros, anular ou mesmo só adiar uma grande festa já organizada. Deram-se boas razões: o local estava afastado de zonas inflamáveis e o «fogo» era lançado em meio aquático. Também é um facto que a «Autoridade central» promulga muitas leis gerais sem estudar devidamente ou ignorando por princípio situações especiais que podiam ser claramente definidas. Sabemos que até se promulgam leis «ocasionais» para defender apenas interesses de alguns «particulares bem situados politicamente».

Por outro lado, a lei geral enfraquece se abre muitas excepções. Quando muito, avaliar caso a caso. Acontece que, numa situação extrema de risco a nível nacional, é toda a nação que deve concorrer (mesmo quem não está directamente em perigo) para criar um «clima ecológico» com base nos comportamentos pessoais, reforçando uma atitude favorável ao verdadeiro interesse comum (muitas vezes mal expresso ou mal redigido no texto da lei).

Más línguas poderiam ver na «revolta» notícia da uma reacção do estilo adolescente: vai-se lançar o fogo logo no primeiro minuto em que cessa a aplicação da lei. Não interessa se os incêndios se agravam, nem mesmo se estão perto. Basta estar a salvo e «comer e beber». «Amanhã» não devemos morrer assados – quando muito afogados por uma tempestade que inunde toda a região. Então, será a vez dos outros passearem de barco a comer sardinhas e lançar fogo-de-artifício…

Reacções semelhantes já vi noutras autarquias: para cativar os «fregueses» e sobretudo os que mais investem, defendem ideias e acções que já no mundo civilizado são postas em causa. Perdem-se ocasiões para reflexão e discussão, que estas sim devem vir a público e apresentadas ao «poder central». É uma boa estratégia para dizer a esse «poder» que o seu valor é nulo se não conhece a sério a realidade de todo o país.

Até que não nos ficaria nada mal dar bom exemplo de civismo «às equipas que jogam no poder central»…

Aveiro, 06-09-2019

 

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