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A. Carretas, Para a História do Atletismo, Inédito.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 45


Confirmação de João Milheiro

Revelações Cristina Morujão e Jeremias Lavale

Como era de esperar, dadas as marcas que vinha alcançando, e à semelhança do que acontecera com outros atletas de nível formados em Aveiro, Moniz Pereira veio desencantar Teresa Machado e esta foi transferida para o Sporting. Ficou no entanto ainda a treinar em Aveiro, com os ensinamentos preciosos do seu técnico Júlio Cirino.

Em 16 de Janeiro de 1988, em Braga, disputou-se um Torneio internacional de pista coberta, em que participaram atletas de Vigo, para além dos melhores atletas nacionais. Aveiro teve também alguns atletas presentes. Salientamos os  1ºs lugares de João Milheiro (CSJM) no salto em comprimento e de Manuel Sousa (CSJM) na prova de 800 metros. João Milheiro seria ainda 3º no triplo-salto. Referência para os bons resultados obtidos por Arnaldo Abrantes e de António Tavares, dois atletas oriundos do Beira-Mar, mas que neste ano representavam o Sporting. Aveiro continuava assim a fornecer atletas de gabarito aos melhores clubes nacionais.

No corta-mato regional, são de registar os notáveis progressos de António Salvador, neste ano a representar o Cidacos (transferido que fora do Galitos no início da época), folgado campeão em seniores masculinos, com larga margem (28 segundos) sobre o segundo, Mário Silva, do Beira-Mar.

Em 7 de Fevereiro, por iniciativa da Federação e do Diário de Notícias, tendo como cenário o Bairro de Santiago, em Aveiro, teve lugar a segunda edição do DN/Jovem de corta-mato. Aveiro voltou a vencer, o que já tinha acontecido no ano anterior, mantendo assim uma invencibilidade, tanto em pista como em “cross”.

Quem pára Aveiro?”, titulava deste modo a revista “Atletismo” referindo o evento. E mais adiante afirmava: ... mas merece o devido realce a “teimosia” de Aveiro, mais uma vez vencedora, com especial vantagem no escalão de infantis...

Na classificação final colectiva, Aveiro perfez 102 pontos, contra 128 do Porto e 138 de Lisboa. Aveiro venceu em infantis masculinos e femininos. Destaque individual para o iniciado Marcelino Simões, vencedor do seu escalão. Representava o F. C. da Pampilhosa.

Começava a dar nas vistas mais um atleta de Aveiro (desta vez uma), juvenil ainda, Cristina Morujão de seu nome, a representar o C.D. Estarreja. Estaria em evidência no torneio nacional de juniores, disputado em Braga, onde entretanto se havia montado uma outra pista, que alternava com Aveiro na organização de provas de pista coberta. Venceu a prova do salto em comprimento e foi 3ª nos 60 metros.

Ainda em Braga, três semanas antes, em provas de preparação, o iniciado Rui Barros, do Beira-Mar, tinha um bom registo no salto em altura, para o seu escalão etário, transpondo a fasquia a 1,60 m, enquanto Sónia Silva, também iniciada e do Beira-Mar, igualava a melhor marca nacional do seu escalão nos 60 metros barreiras, com 10,0 s.

Nos campeonatos de Portugal de 10.000 metros, disputados em Lisboa a 23 de Abril, António Salvador, do Cidacos, bateu o recorde de Aveiro, com o razoável tempo de 29.33,4 (foi apenas 12º no cômputo geral).

A 7 e 8 de Maio, em Lisboa, como nos anos antecedentes, teve lugar a 6ª edição do DNJovem. A revista “Atletismo” que dava conta do evento, afirmava: Aveiro Quarto título, e mais adiante: Nessa grande festa do atletismo, que foi a final do VI “DN/Jovem, Aveiro conseguiu o seu quarto título consecutivo...

  Equipa de Aveiro no DNJovem de1988  
 

Equipa de Aveiro no DNJovem de1988

 

A pontuação, dos seis primeiros, entre 20 associações participantes, foi a que segue:

 
Aveiro 549 pontos
Lisboa 538 pontos
Braga 487 pontos
Coimbra 474,5 pontos
Setúbal 474 pontos
Porto 441,5 pontos
 

Destacaram-se nesta edição do torneio, que incluía os escalões de infantis e iniciados: Jeremias Mavale, foi a figura n.º 1 dos infantis, vencendo os 60 metros em 7,7s (recorde regional de Aveiro) e o salto em altura com 1,62 m, marca que ficou a constituir novo recorde nacional (14 cm mais que o segundo classificado), excelente para o escalão de infantis; para Solange Santos foram as honras do sector feminino, que bateu o recorde nacional dos 60 metros barreiras, com o bom tempo de 10,1s e seria ainda uma excelente segunda no salto em altura com 1,34 m (recorde de Aveiro). Esta atleta era filha do técnico regional de Aveiro, professor José Santos.

Nos iniciados o destaque vai para outro filho de técnico, o Rui Barros, vencedor do salto em comprimento, com a boa marca, para o escalão, de 6,22 m. Seria ainda 3º na prova de 80 m barreiras.

Os atletas eram de vários clubes, mas deve salientar-se o trabalho desenvolvido nas camadas jovens pelo Beira-Mar, o clube que mais vinha a contribuir para as vitórias alcançadas neste torneio DN/Jovem. Os parabéns vão para os técnicos José Santos e Rui Barros.

Jeremias MavaleJeremias Mavale, atleta que representava o ARCO (Associação Recreativa e Cultural de Oliveirinha, um clube recente na modalidade), bateria a 21 e 22 de Maio o recorde nacional do tetratlo infantis, somando 1591 pontos, resultantes de 7,7s nos 60 m; 4,74 m no comprimento; 8,37 m no peso e 3.03,5 nos 1.000 m.

O escalão de juvenis não acompanhava os dois outros escalões mais jovens e assim o respectivo campeonato nacional, disputado em 25 e 26 de Junho, não trouxe para Aveiro grandes resultados. De notar que o melhor clube, o Beira-Mar, apenas foi 14º classificado, com 14 pontos (o clube vencedor Benfica, totalizou 129,5). Em femininos, foi ainda o Beira-Mar o melhor clube, desta vez em oitavo, com 29 pontos. Individualmente, em masculinos, o melhor foi Hélio Reis, do Sanjoanense, 4º nos 100 metros com 11,42 s, secundado por César Campos, do C. Campismo, 6º no triplo-salto (12,72m). Em femininos, o destaque vai para Cristina Morujão, do Estarreja, que conseguiu um excelente 2º lugar na prova de 100 metros, com o tempo de 12,67 e para a estafeta 4x100 do Beira-Mar, também com o segundo melhor tempo, entre as dez equipas participantes.

Sobre este abaixamento no escalão de juvenis, reportamos ao alerta da revista “Atletismo” do mês de Dezembro, quando analisava a época: Aveiro, já com quatro vitórias consecutivas no DNJovem, é apenas sétimo nos juvenis. É preciso não abandonar os seus atletas jovens! Criticava Aveiro, porque, dizia, a seguir àquela competição, abandonava os seus jovens atletas, deixando-os sem mais quaisquer provas até ao final da época (?!).

No campeonato nacional de juniores, disputado em 9 e 10 de Julho,  referência apenas para Paulo Rocha , do F. C. do Bom-Sucesso, que foi campeão nacional do lançamento do peso, com a marca de 12,94 m (faria 13,41 mais adiante); e para Cristina Morujão, do Estarreja, ao alcançar um segundo lugar no salto em comprimento, com a marca de 5,53 m, que constituía novo máximo absoluto de Aveiro, e que foi 5ª na final dos 100 metros. Por equipas, resultados para o fraco, com “Os Ílhavos” a ser a melhor em masculinos, com 11 pontos apenas (vencedor o Benfica com 220 pontos) e o Beira-Mar o melhor em femininos, 9º com 16 pontos (contra 134 do Benfica).

De salientar a presença honrosa do Clube de Campismo de S. João da Madeira no Campeonato nacional da 1ª divisão, disputado na pista da Maia, nos dias 16 e 17 de Julho. O 6º lugar alcançado pelo clube (ficou apenas a escassos dois pontos do quarto lugar) dava-lhe direito a manter-se galhardamente na 1ª divisão, acompanhando assim os clubes da elite na competição ao mais alto nível nacional. Louvor para o técnico Manuel Joaquim, considerado o principal responsável pelos êxitos conseguidos (no ano anterior o clube havia sido 4º classificado).

Com uma equipa bastante homogénea, devia, no entanto, a sua força a dois atletas: João Milheiro (2º lugar nos 200 metros com 22,59 s; 2º lugar no comprimento com 7,30 m; e 4º lugar no salto em altura com 1,91 m) e Manuel Sousa (2º nos 800 metros com 1.52,41 e 3º nos 1.500 metros com 3.58,6).

No campeonato nacional da 1ª divisão feminina, disputado nos mesmos dias e mesmo local,  participou o clube Dragões de Oliveira de Azeméis. Não pertenceu efectivamente a este campeonato, pois quedar-se-ia pela 7ª e penúltima posição, muito longe da sexta. Apresentou algumas atletas destreinadas, entre as quais a sua atleta de topo, Cristina Eduardo. Desceria de divisão e assim, no ano seguinte, iria disputar a 2ª divisão.

Em contrapartida, a equipa feminina do Beira-Mar, que disputava este ano a 2ª divisão, no respectivo campeonato, disputado ainda nos dias 16 e 17 de Julho, mas agora em Lisboa, ao classificar-se num brilhante 2º lugar, permitir-lhe-ia disputar a 1ª divisão no ano seguinte (1989). O lugar obtido resultou da actuação meritória das suas atletas: Teresa Oliveira, 2ª na altura e no comprimento; Elisabete Silva, 2ª nos 1.500 e 3ª nos 3.000 m; Ângela Oliveira, 2ª no peso e 3ª no disco; Laurinda Freire, 1ª nos 3.000 m marcha; Sónia Silva, 3ª nos 100 m; Ana Costa, 3ª nos 100 m barreiras; Anabela Duarte, 3ª nos 400 m barreiras e nos 2ºs lugares das suas estafetas 4x100 e 4x400 m.

Cristina MorujãoDe 18 a 20 de Julho, realizaram-se em Louvain-la-Neuve (Bélgica), os 40º Jogos da FISEC, em cuja representação portuguesa foi incluída a atleta do Estarreja, Cristina Morujão, que participou nos 100 metros (foi 5ª na final), no comprimento (6ª com 5,28 m) e ainda fez parte da estafeta 4x100 m. Tratava-se da única atleta em Aveiro, de momento, com nível razoável.

Nos campeonatos de Portugal, disputados em 6 e 7 de Agosto, destacamos: Manuel Sousa, do C. Campismo, 4º lugar na final de 800 m (1.53,98); João Milheiro, também do C. Campismo, 3º no comprimento (7,15 m) e 6º no triplo-salto (14,37 m); Mário Cardoso, de “Os Ílhavos”, 6º no peso (12,60 m); Paulo Silva, do CAIO de Ovar, 6º no dardo (54,86 m)

João MilheiroJá referimos algumas das boas “performances” de um atleta de eleição, que representava o Clube de Campismo, o João Milheiro.  Para demonstrar o seu ecletismo, disputou em 20 e 21 de Agosto, o decatlo nacional, o conjunto de provas (10) que afirma o que se designa por “atleta completo”. Ficou num excelente sexto lugar, com 5891 pontos (muito próximo do quarto), que correspondiam aos seguintes resultados: 11,19 s nos 100 m;7,12 m no comprimento; 9,24 m no peso; 1,94 m na altura; 52,48 s nos 400 m; 17,79 nos 110 m barreiras; 28,94 m no disco; 3,40 m no salto com vara; 35,84 m no dardo e 5.08,84 nos 1.500 m.

Entretanto, o presidente da Associação desde 1981, capitão Joaquim Duarte, continuava a lutar por dotar Aveiro com uma pista de material sintético. Em entrevista ao mensário “Atletismo”, anunciava mesmo a retirada porque: “Já não tenho paciência para aturar tudo isto! Prometeram-nos a pista, até já tínhamos terrenos e projectos e, no fim, deram-nos com os pés”. Apesar de anunciar a retirada não deixava contudo de “reivindicar” uma pista para Aveiro e uma sede condigna para a Associação, ainda a viver nos “baixos” do pavilhão gimno-desportivo.

Na falta da pista de tartan, alguns atletas dos clubes do distrito deslocavam-se ao Porto, no sentido de ali realizarem algumas provas, em competição com atletas daquela associação, de modo a melhorarem a sua forma. Os clubes demonstravam assim a lacuna que existia em pista adequada e davam razão a Joaquim Duarte no seu “bater de pé”.


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