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A. Carretas, Para a História do Atletismo. (Capítulos inéditos)

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 16


Carlos Alberto Lima...
e José Vaz Ruivo

Já fizemos referência que, no início dos anos 60, o Clube dos Galitos tinha uma “meia-dúzia” de atletas, de excelente categoria para o distrito, os quais faziam boa figura nos campeonatos da APA, quando competiam com os seus homónimos dos clubes do Porto. Pena era que só houvesse a tal “meia-dúzia”... F. C. Porto, CDUP e Salgueiros apresentavam-se sempre com muitos mais jovens a competir.



Os «galitos» Vaz Ruivo e Carlos Lima.

Sem desprimor para os restantes (Florival Franco, Mário Saldanha, Eduardo Correia, Manuel Mieiro, António Oliveira, registem-se os seus nomes, porque dignos de tal), temos que destacar os dois que mais se distinguiram e que apareciam, com frequência, nos títulos das notícias referentes à modalidade. São eles Carlos Alberto Lima e José Vaz Ruivo. O primeiro um bom saltador (altura, comprimento, triplo), mas também fazendo uma “boa perninha” em velocidade e barreiras; o segundo o que se pode designar por atleta completo, porque obteve bons resultados no pentatlo (prova combinada, que inclui saltos, prova de velocidade, lançamento e corrida de meio-fundo).

Em número anterior já referenciámos alguns excelentes resultados (para o meio) obtidos por estes dois atletas. Mas as condições em que treinavam estes dois atletas (e todos os seus colegas) tornam-nos não só valorosos, mas uns autênticos heróis.

O anexo do “Mário Duarte”, onde se vinham realizando os treinos do Galitos desde que o clube iniciou a sua actividade em 1956, deixou de reunir as mínimas condições para a prática da modalidade, inclusive até a caixa de saltos “desapareceu”, ficando aterrada. O Galitos passou depois a utilizar o “miniatural” recinto da Rua de Arnelas (actual rua Von Haff), pertença do Regimento de Cavalaria 5, a quem foi pedida a necessária autorização para ser utilizada. Mas, infelizmente, o Regimento “terminou” e o recinto deixou de ser cuidado, e os arbustos e ervas daninhas tomaram conta do mesmo, apossando-se do rectângulo e dos “corredores” de atletismo. O rudimentar “corredor” da caixa de saltos quase desapareceu, assim como a tábua de chamada.

Os atletas não desistiram e continuaram mesmo assim a utilizar o recinto, porque único. Uns velhos postes e um varão de ferro a servir de fasquia para os saltos na vertical, e um peso de 5 quilos e um disco que o clube conseguiu arranjar, constituíram o pouco “equipamento” que permitia aos atletas fazer alguma preparação. Se compararmos com o idêntico (ou ainda mais completo) equipamento que havia nos estádios do Lima e das Antas, utilizados no Porto pelos atletas daquela cidade, teríamos efectivamente de considerar os jovens do Galitos como verdadeiros “heróis”. “Lá andam os maluquinhos!...” (seriam mesmo?!), exclamava-se de algumas casas adjacentes a este recinto, ao verificarem as condições que os atletas tinham...

Mas foi aqui que estes “malucos” se fizeram atletas, com capacidade suficiente para fazer frente aos “craques” do norte, sedeados que estavam nos clubes do Porto.

Vejamos breves “perfis” dos dois atletas a que estamos fazendo referência neste capítulo dos “subsídios”:

Carlos Alberto Lima era natural de Lourenço Marques, mas descendente de aveirenses. Praticava, além do atletismo, natação e basquetebol, também no Galitos.

Principiou em 1958 a fazer atletismo, levado pelo seu irmão, Jaime Lima, já citado anteriormente.

Em 1959 foi logo 1º no comprimento e 2º na altura nos regionais de Aspirantes. Em 1960, ganhou títulos regionais em comprimento e altura. Nos nacionais, foi campeão no salto em comprimento e 3º na altura. 

Em 1960, foi 1º na altura, comprimento e 110 m. barreiras, e 2º na altura, nos regionais de Principiantes. Nos nacionais da categoria foi 3º no comprimento e 4º na altura, ligeiramente lesionado. Foi ainda 4º no nacional de Pentatlo, em aspirantes, com 2017 pontos. 

Já na categoria de juniores, embora sendo ainda principiante, ganhou o comprimento e o triplo-salto, e foi 2º na altura, nos regionais e 3º no comprimento e 4º na altura, nos nacionais.

José Vaz Ruivo, farense de nascimento, mas a viver em Aveiro, donde a família paterna era oriunda, começou mais tarde a fazer atletismo, já com 19 anos, na categoria de juniores. (Continuava a não haver formação, portanto mais ainda de exaltar o “aparecimento” de bons atletas com idades avançadas – 18/20 anos).

No ano de 1960 competiu nos regionais de juniores, obtendo os 2ºs lugares nos 200 m., 400 m., peso e 4x100 m.; e nos nacionais, foi 2º no peso, 3º nos 200 m. e 4º nos 400 m.

Foi campeão regional do Pentatlo, com 2045 pontos. Não participou no nacional, porque este já se tinha realizado antes do regional e José Ruivo não tinha antecedentes que o pudessem inscrever.

Dizia em entrevista a periódico da altura que “queria aprender, primeiramente, pois não sei nada ou quase nada de atletismo, e especializar-me no decatlo ou em... 400 metros”. Ambicionava ligar-se ao Benfica, pois iria brevemente para Lisboa. Fugaz passagem pelo Galitos deste brilhante atleta. 

Ainda em relação a Carlos Lima, referiam os jornais desportivos da época que era uma das revelações do ano (1961) no comprimento, onde lhe faltava apenas saber correr para a tábua de chamada para alcançar ainda melhores marcas (fazia a chamada sempre a mais de 20 centímetro das chamada “uvas”).

Foi ainda convidado pela Federação Portuguesa de Atletismo para participar em provas de observação (no comprimento, no seu caso), com vista a apurar atletas para o Portugal-Espanha em juniores e para os Jogos Ibero-Americanos.


Um aspecto do «estádio» onde treinava Carlos Lima.

 

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