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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Set.-Out. 1996, n.º 11, págs. 10 e 11.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 7


Continua a “mina” das Minas

Já o referimos em número anterior: João Sarabando, o notável jornalista aveirense, que ainda há pouco tempo nos deixou, foi dos poucos que nos facultou “pistas” para este nosso trabalho a que decidimos deitar mãos para historiar o que no distrito se fez pelo atletismo. Foi colaborador assíduo do “Norte Desportivo”, que, em anos anteriores, considerávamos um bom jornal desportivo e, entre outras rubricas, tinha uma denominada “Nótulas aveirenses”, em que dava conta do que se passava no distrito a nível de competições desportivas. É de algumas delas que tiramos elementos; e vejamos, da sua pena e dos anos a que nos estamos a referir:


“Outro facto ainda que merece citação encomiástica. O Pejão, honrando as tradições que inegavelmente já possui, apesar de ser um clube moço, arrecadou quatro vitórias no “IV Torneio Regional de Aspirantes”. Só o F. C. Porto conseguiu melhor.

O triunfo do Pejão pode considerar-se o triunfo da persistência, do método, da vontade.

Na serra, quase talhada em falésia, da margem esquerda do Douro, ali por alturas de Castelo de Paiva, trabalha-se com amor em prol do atletismo, desse atletismo que tantos centros com grandes responsabilidades esquecem ou fingem esquecer” (5/5/1952)

“À semelhança dos anos anteriores, o Pejão é o único que verdadeiramente trabalha. Possui um lote de corredores, saltadores e lançadores. Maurício ocupa destacado lugar na equipa. No entanto, os pedoridenses arrancaram alguns títulos regionais e nacionais.” (12/1/1953)
 


Humberto Vasconcelos vencendo os 60 metros

Mas continuemos com as referências ao ano de 1953, só e ainda com atletas do Pejão a participar, com excelentes resultados nos campeonatos do Porto, levados a cabo pela Associação Portuense de Atletismo. O Pejão apostava nas camadas jovens e assim apareceu no Torneio Regional de Aspirantes com 11 atletas, que fizeram “miséria”. O Porto e o Académico, as fortes agremiações da altura na modalidade, apareceram com 18 atletas cada qual, o Operário com sete e o Vilanovense com apenas um. Este torneio teve lugar nos dias 6 e 10 de Junho.

Apesar de contar com menos atletas que os seus rivais mais capacitados, o Pejão foi o vencedor do torneio, conquistando oito títulos, contra quatro do Porto e apenas um do Académico. Destacamos os vencedores das 8 provas conquistadas: 60 m. por Humberto Vasconcelos, com o tempo de 7,4 s.; 250 m. por José Carvalho, com 32,5 s.; 83 m. barreiras por Álvaro Augusto, com 14,4 s.; o peso por António Gonçalves, com 11,24 m.; o dardo por Abílio Correia, com 41,94 m.; o disco pelo mesmo Abílio Correia com 35,32 m. e as estafetas de 4x60 m. e de 4x700 m.

De assinalar que as marcas de Humberto Vasconcelos nos 60 m., Abílio Correia no dardo e no disco e da estafeta 4x700 m. (8 m. 17,8 s.) constituíram novos máximos (recordes) do norte. Ainda a marca de Abílio Correia, uma radiosa promessa no lançamento do disco (35,32 m.) seria mesmo recorde nacional desta especialidade e para este escalão (o anterior era de um atleta do Belenenses, Fernando Silva de seu nome).

No nacional da categoria, disputado em Lisboa uma semana depois, mais precisamente em 13 e 14 de Junho, o Pejão compareceu a acompanhar os crónicos de Lisboa (Sporting, Benfica, Belenenses e Centro Universitário). Aqui, como se compreende, os resultados não seriam tão brilhantes, mas ainda assim há a registar um triunfo de Carlos Cunha nos 1.500 m. e notáveis 3ºs lugares para Humberto Vasconcelos nos 60 m.; para José Carvalho nos 700 m. e para António Gonçalves no disco. Repare-se que nos estamos a referir a um campeonato nacional!...

No campeonato regional de principiantes, a categoria a seguir, o Pejão voltou a participar e, surpreendentemente, voltou a vencer colectivamente com 97 pontos, ficando o F. C. Porto em 2º com 94 e o Académico em 3º com apenas 53 pontos.

Vitórias individuais para Agostinho Carvalho no peso, com 12,10 m.; Álvaro Augusto nos 110 m. barreiras com 20,8 s.; Alberto Santos no dardo com 40,33 m. e António Gonçalves no disco com 26,20 m. Em títulos individuais o Porto conquistou sete.

Referência ainda para os 2ºs lugares de Alfredo Gouveia nos 100 m., de Altino Santos nos 3.000 m., de Agostinho Carvalho no martelo, de Alberto Santos no peso, de Vítor Santos no triplo, de Alberto Santos na vara e para a estafeta 4x100 m. Repare-se na quantidade de primeiros ou segundos lugares alcançados na maioria das chamadas disciplinas técnicas e para as quais a gente se vem queixando nos tempos actuais. Brilhante trabalho estava a fazer efectivamente quem estava à frente do clube no aspecto de treinamento!...

O Pejão, por razões que nos escapam, não participou no nacional desta categoria. Aliás, tal verificar-se-ia noutros campeonatos. Os nacionais, quase por sistema, realizavam-se em Lisboa e nessa altura a distância era ainda “maior”.

Para terminar a época de pista desse ano de 1953, no regional de juniores, o Pejão foi apenas 3º com 36 pontos e um título, que foi precisamente o “craque”, Maurício Tavares, nos 5.000 m., com 16m 48,6 s. Seria ainda 2º nos 1.500 m.

Miguel Anjos, nos 5.000 m. e Alfredo Gouveia nos 100 m. seriam uns bons 2ºs lugares. No nacional da categoria, apesar de inscrito, não se fez representar e assim como não estaria já nos seniores, mesmo nos regionais.

Qualquer semelhança com os tempos actuais em que as camadas jovens se apresentam a efectuar bons resultados e depois a partir de juniores desaparecem não deverá ser pura coincidência...

 


José Abílio Correia,
recordista do dardo.


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