O 16 de Maio é uma data nossa.
Uma efeméride da Causa liberal. Mais particularmente, esta
data interessa à cidade de Aveiro, burgo que se engrandeceu no
trabalho e na Liberdade da sua gente ribeirinha, habituada a
afrontar as inclemências do mar, ciosa dos seus pergaminhos de
cidadania e independência, onde primeiro soou o clarim da
revolta contra o poder despótico e absoluto do rei.
De entre os despojos da
batalha, os inimigos da Causa Liberal, depois de os terem
condenado à execução na forca, fizeram gala e ostentação das
cabeças barbaramente decepadas dos fautores desse movimento,
expondo-as em postes nas praças públicas como processo vil de
alardear o triunfo e intimidar a pobre e timorata gente.
Mas os mortos mandam e as
gerações que se lhes sucedem, fieis aos seus princípios, à sua
doutrina e ensinamentos, buscam cumprir o legado do seu nobre
exemplo, que é rebeldia, lealdade e fé, vida em holocausto aos
direitos do povo, da sua legítima soberania e liberdade.
É-nos sagrada a memória dos
nossos mortos, mártires e santos que sacrificaram a vida na
luta esforçada e redentora por um grande e sublime Ideal.
A sua voz de comando ressoa
firme e solene em nosso peito; sentimos os seus corações
agonizantes palpitar febris em nossos corações; e, dentro em
nosso peito e junto ao nosso coração, arde, cada vez mais viva
e pura, a chama de uma esperança, cada vez mais forte, de uma
fé inextinguível nos altos destinos da Pátria e da nossa
sagrada condição de homens livres.
Evoquemos os nossos mortos,
selvaticamente justiçados pela sanha bárbara do despotismo, na
promessa solene e na oferta inteira do nosso ser, dos nossos
mais caros anseios e aspirações, pela causa santa da
liberdade.
Não foi e não será, dentro
desta promessa e desta oferta, inglória e vão o sacrifício dos
heróis.
Paz e Honra aos mortos; ânimo,
fé e coragem para os vivos — tais são, nesta hora de
recolhimento, relembrando o dia da arrancada gloriosa, as
nossas orações.
JÚLIO CALISTO |