Centenário do
primeiro voo dos irmãos Wright começa hoje a ser comemorado
EPISÓDIO
MARCOU O INÍCIO DA AVIAÇÃO
O
Museu da Aeronáutica e do Espaço, em Washington, será o palco
da festa, com John Travolta como mestre de cerimónias
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Para
Amanda Wright Lane, eles são o tio Will e o tio Orv,
antepassados aventureiros que se tornaram estrelas de uma
história que cobre a família de honra. Para o resto do
mundo, eles são Wllbur e Orville Wright, os irmãos que,
faz hoje 99 anos, fizeram o voo que inaugurou a Idade da
Aviação. A comunidade global da aeronáutica e do espaço
não quer deixar passar o aniversário despercebido: por
isso, hoje arrancam no Museu Nacional da Aeronáutica e do
Espaço, em Washington, as comemorações que pretendem
assinalar, durante um ano inteiro, o centenário do feito
dos irmãos Wright, que eram tios-avós de Lane. |
O
primeiro avião com motor fabricado pelos Wright a levantar voo
com sucesso manteve-se no ar apenas durante 12 segundos e não
viajou mais de 36, 6 metros, sobrevoando as dunas de Outer Banks,
na Carolina do Norte, no dia 17 de Dezembro de 1903. Desta vez,
está previsto um voo de duas horas e meia no mesmo local, no qual
participarão mais de 115 aeronaves, algumas delas da década de
30 do século XX. “Assim,
a assistência poderá ver com os próprios olhos o longo caminho
que a aviação percorreu”, diz um comunicado da agência
espacial norte-americana (NASA), que participa na iniciativa. As
naves devem levantar voo às 10h35 (hora local), à mesma hora em
que o frágil avião de madeira e lona dos Wright (baptizado Flyer)
levantou voo.
O
Flyer está agora em exibição no Museu da Aeronáutica e do
Espaço, onde o actor John Travolta, um aficionado da aviação,
desempenhará hoje o papel de mestre de cerimónias. Serão
homenageados 12 pioneiros da aviação, incluindo os astronautas
norte-americanos John Glenn, Neil Armstrong, Pamela Melroy e
Shannon Lucid.
Erik
Lindbergh, o neto do piloto que realizou o primeiro voo transatlântico
— Charles Lindbergh — vai também estar presente e está
ansioso por encontrar-se com outros pilotos, como ele próprio.
“A maioria dos pilotos são pessoas interessantes, em quem se
pode confiar nos momentos difíceis”, disse numa entrevista
telefónica, a partir da sua casa, em Seattle. “Sinto-me
fascinado por estas pessoas, por saber o que as faz ter vontade
de voar.”
Outro
pioneiro da aviação que é esperado na festa é David Lee
“Tex” Hill, um veterano da Segunda Guerra Mundial, que
pilotava jactos militares. Agora tem 87 anos, mas continua a ser
um aviador activo: há duas semanas, participou numa batalha aérea
simulada contra Gene Cernan — o astronauta que foi o último
homem a pisar a Lua, há 30 anos, enquanto comandante da missão
Apoio 17, e que era piloto de testes da Marinha.
Quanto
a Amanda Wright Lane, estará no Museu da Aeronáutica e do Espaço
para representar a família, mas esta dona-de-casa de Cincinnati (Ohio)
admite que tem pânico de voar e só recentemente conseguiu ganhar
coragem para fazer o seu baptismo de voo. Não chegou a conhecer
nenhum dos seus famosos tios-avôs, mas conhece bem as muitas histórias
sobre eles que se contam na sua família. A sua “inteligência,
tremendo senso de humor e curiosidade insaciável” ultrapassaram
as barreiras das gerações, contou Lane. “Estar relacionada com
estes dois grandes homens que mudaram o mundo é uma grande
honra”, disse.
Da
loja de bicicletas às aeronaves
Os
dois irmãos Wright, Wilbur e Orville, sempre se interessaram
por máquinas e pela possibilidade de construir engenhos
voadores. Em 1892, abriram uma loja de bicicletas em Dayton (Ohio)
e começaram a trabalhar nas suas próprias invenções — que
incluíam alguns modelos de planadores. O Wright Flyer I, com que
realizaram o voo de 1903, foi a primeira aeronave controlável com
motor. O Wright Flyer I, apresentado em 1905, foi a primeira
aeronave que podia aterrar, virar-se, fazer oitos e ficar no ar
durante meia hora. A invenção foi patenteada em 1906 e os Wright
ganharam o primeiro contrato para a construção de aviões
militares em 1908. Wilbur morreu com febre tifóide em 1915 e
Orville faleceu em 1948. Nenhum dos dois se casou.
DEBORAHI ZABARENKO, REUTERS,
in:
"Público", 17/12/2002, p. 29.
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