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pesca do atum

manuel bixirão

 

Todos os olhos estão fixos avidamente nas tranquilas águas do mar; todos sentem reviver em si aquele instinto bárbaro do homem primitivo que, para viver, tinha que matar e que na caça conseguia o seu sustento. Séculos e séculos não conseguem subjugar esse instinto primitivo de caça, perseguição, posse.

E de repente, estoura o grito:

– Aí está ele! O cardume! Pára! Pára!

E a espadanar vigorosamente a água, atraído pela isca que um dos homens deita às mãos cheias, o cardume aproxima-se; o grande sino à ré, sacudido por mão nervosa, repica alegremente a chamar o pessoal. Já vários pescadores, debruçados nas «cadeiras», nas mãos firmes os «saltos» bem apertados, esperam impacientes aquele choque brutal que lhes faz vibrar todos os músculos e lhes anuncia a primeira presa.

Os outros, mais calmamente, vão escolhendo o seu aparelho de pesca, hesitando entre um e outro, que daí depende, muitas vezes, o número de peixes apanhados.

– Pega! Pega! P'rás cadeiras, gente! Isca ao mar! – gritam entusiasmados alguns pescadores.

E então, é uma BabeI.

À uma, todos descem nas «cadeiras»; todo o aparelho, fraco ou bom, serve, uma isca viva, bem vivinha é que é precisa, espetada na ponta do grande anzol curvo, sem garra, para mais rapidamente largar dentro do navio o peixe apanhado. O grande sino foi abandonado; o tempo urge, há que aproveitá-lo.

Todos pedem isca para os seus aparelhos.

– Uma «p'rá qui»! Bem viva!

– Bem firme! Aguenta! Ah! que escapaste! – estes e outros gritos se ouvem.

O «engodador» multiplica-se; como preocupação máxima, tem que manter o cardume, «engodá-lo» sempre à espera de mais comida, ao mesmo tempo que vai atendendo os pedidos incessantes de quinze ou vinte homens que não podem nem sabem esperar.

Pescador, vara, anzol, é todo um conjunto que vibra para o mesmo fim: apanhar o atum; este, inconsciente da armadilha preparada, nada / 28 / cada vez mais perto à procura de comida, com uma velocidade e leveza tais, que empolga a quem pela primeira vez contempla semelhante espectáculo.

Nas suas voltas rápidas, espadana vigorosamente à superfície das águas, que ficam como que em efervescência, durante alguns segundos; procura a sombra protectora do barco, pois daí, escondido, espreita a presa. De repente avista-a e lança-se vertiginosamente, pronto a tragar mais uma vítima indefesa; mas a sua corrida é cortada brutalmente.

Encontrara o anzol, a vara, o pescador, que reteza todos os músculos, oscila, mas aguenta o embate violento. E a luta é travada entre o homem e o peixe; este, porém, está condenado.

– Força nesse «salto»! Agarra-o bem! Olh'é bucheiro! – rouqueijam entusiasmados.

 
 

 

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