Muitas
pessoas nascidas na primeira metade do século vinte não terão
por certo conhecido seus bisavós. Poderão, no entanto, saber
como se vestiam através de fotografias ou por descrições
que ouviram.
Os
homens usavam: calças, coletes e gabões de tecidos
grosseiros como a lã e o burel. No bolso do colete usavam
belos relógios com correntes de ouro. As camisas tinham
peitilhos e colarinhos postiços que eram engomados assim como
os punhos, estes abotoados com botões de punho em ouro ou
pechisbeque. As cuecas e ceroulas de perneiras compridas eram
de algodão ou flanela. Alguns homens também usavam faixa ou
cinta e vestiam por cima do colete e da camisa um casaco. Nos
trabalhos do campo em vez do colete e do casaco usavam uma
camurcina. Na cabeça usavam chapéus ou gorros de lã. Os
camponeses andavam a maior parte do tempo descalços. Quando
andavam calçados usavam botas ou tamancos de cabedal e
madeira. As mulheres vestiam três ou quatro saias compridas
umas por cima das outras, sendo as de baixo em pano de algodão
ou linho e as outras em lã ou serguilha. Para segurar ou
arregaçar a saia e aconchegar o ventre, punham à altura das
ancas a cinta, uma faixa de tecido, cujas pontas eram
rematadas com franjas, e que era presa com um nó ou laço atrás
ou na ilharga.
Foi
usada até aos anos cinquenta mas, nessa altura, apenas pelas
mulheres de idade.
Havia
quem colocasse a cinta com tal arte que esta se tomava
verdadeira peça de adorno.
Vestiam
por dentro uma camisa ou corpete de bretanha, linho ou algodão
seguida de uma blusa, branca ou às flores, e do colete;
raramente usavam casaco. Também faziam parte do trajo o
avental e uma algibeira.
O
xaile, o seu principal agasalho, era uma peça muito
apreciada, de vários tamanhos e espessuras e feito de
diversos materiais; havia xailes de lã, de sedas grossas e
pesadas com grandes e bonitas franjas e outros de seda fina
rematados com franjas curtas e leves. Estes, além de
agasalhar serviam simultaneamente de adorno.
O
xaile era um precioso auxiliar das mães para trazerem ao
colo seus filhos, aconchegados no calor do seu seio. Ao
convite duns braços abertos envolvidos num xaile “anda pró
xailinho!” - nenhuma criança resistia.
Ainda
hoje algumas pessoas possuem bonitos exemplares desta peça
de vestuário.
Na
cabeça, as nossas avós usavam lenços de lã ou algodão e
pequenos chapéus pretos de abas curtas ou sem abas,
enfeitados com um laço de fita de veludo e uma pena; nas
orelhas, as mulheres usavam arrecadas de ouro ou raramente de
plaqué.
Nos
pés calçavam chinelas ou tamancos e raramente botinas
passando, no entanto, como os homens a maior parte do tempo
descalças.
Não
faziam parte da indumentária feminina das camponesas nem as
cuecas nem o soutien; este, em parte, era substituído pelo
colete; porém, a outra pecinha parece que apenas tinha como
substituto, em certo período do mês, um saiote de flanela
vermelha usado junto ao corpo.
Esta
e outras situações causam-nos hoje uma certa perplexidade
mas esta era a realidade de então.
A
lã e o linho eram inicialmente tecidos em casa, no entanto os
teares foram rareando e mais tarde apenas se usavam para tecer
mantas de lã ou de farrapos, passadeiras e tapetes. Com o
correr dos anos o trajo foi sofrendo alterações bem como os
adornos e os complementos. Assim, as mulheres passaram a
enfeitar as orelhas com as ciganas e as meias libras, sendo
estas substituídas por brincos mais pequenos que também caíram
em desuso.
As
orelhas das meninas eram furadas logo à nascença pela
parteira que aí deixava linhas.
Toda
a rapariga tinha uma volta de ouro e quando mulher um cordão
com medalhão ou argola mais ou menos grosso conforme a sua
bolsa.
A
camisa e o corpete deram lugar à combinação, o colete ao
soutien. As saias subiram; a cinta, o chapéu e a algibeira saíram
de circulação. As cuecas começaram lentamente a ser
usadas pelas mais jovens. O vestido e o casaco passaram a
fazer parte da indumentária feminina. O lenço, o xaile e o
avental perduraram por muitos anos como peças de uso diário;
este último, umas vezes servia para proteger a saia outras
para enfeite e raramente era dispensado, apenas algumas
mulheres mais distinguidas pela sua posição social não o
usavam. No verão, na praia da Costa Nova, era hábito tomarem
banho em combinação e alguma mais evoluída alugava um fato
de banho ao banheiro. As mulheres usavam o cabelo comprido
entrançado em quatro, duas ou uma trança, que só
desmanchavam uma vez por semana ou de quinze em quinze dias;
pela manhã alisavam a parte do cabelo que não estava entrançado
com uma travessa que depois colocavam como adorno sobre as
tranças.
A
certa altura apareceu a moda dos totós, dos carrapitos e
das popas, mais tarde surgiram as bananas e os rabos de
cavalo. Só muito raramente lavavam a cabeça.
O
cabelo das meninas era enfeitado com grandes e bonitos laçarotes
de fitas de seda. Quando elas iam de anjinho nas procissões,
as mães mais briosas faziam-lhes cachos de caracóis; para
tal, molhavam o cabelo com água e açúcar e enrolavam-no nos
cabos redondos dos garfos de ferro aquecidos ao lume. Uma vez
seco os caracóis ficavam direitinhos e tesos.
Pelos
finais dos anos cinquenta começaram a aparecer os cabelos
“curtados e à permanente” estando também em voga a
brilhantina.
Para
entrarem nas igrejas e assistir às cerimónias religiosas, as
mulheres eram obrigadas a levar a cabeça coberta com um lenço,
um véu ou uma écharpe.
Ano
após ano as mudanças foram surgindo e quase sem darmos por
ela as mulheres das nossas aldeias hoje pouco se distinguem
das da maior parte do mundo.
A
mudança no traje masculino não foi muito significativa;
foram postos de parte os tamancos, as ceroulas desapareceram,
as alpercatas deram lugar às modernas sapatilhas, vulgo ténis.
As botas são hoje mais confortáveis embora menos duradoiras.
A
cabeça anda definitivamente destapada. Os adereços em ouro
foram excluídos dos enfeites dos galãs. As camurcinas deram
lugar aos kispos. A cinta foi relegada para os ranchos. O gabão
foi substituído pelo sobretudo e gabardina. Esta fez furor em
determinada época em que os pipis se passeavam cheios de
prosa de gabardina ao ombro mesmo que estivesse calor
Colarinhos,
peitilhos, punhos postiços e engomados não são mais o
inferno das mulheres da família.
As
cuecas de meia perna em tecido, que foram reduzidas a
biquinis em malhas aconchegantes, estão hoje a aparecer de
novo embora com cortes e tecidos mais modernos.
A
gravata, peça indispensável para quem ia à vila - já que não
se podia entrar em nenhuma repartição pública sem a levar
ao pescoço - foi pendurada no prego durante vários anos mas
também está de novo em voga. Noutros tempos, alugavam-se ou
emprestavam-se gravatas à entrada do clube do Troviscal.
Apresentamos
em seguida uma lista de nomes de tecidos, usados pelos nossos
avós:
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Serguilha
- pano grosso de lã sem pelo.
Burel
- pano grosseiro de lã.
Bretanha
- tecido fino de algodão ou linho.
Pano
cru - tecido de algodão que não foi corado.
Estopa
- tecido fabricado da parte mais grosseira do linho.
Merino
- tecido de lã de carneiro merino.
Chita
- tecido ordinário de algodão, estampado a cores.
Baeta
- pano felpudo, tecido grosso de algodão.
Adamascado
- tecido a imitar o damasco.
Escumilha
- tecido muito fino de lã ou seda.
Cotim
- espécie de tecido de algodão.
Gorgorina
- gorgorão fino em algodão.
Crepe
- tecido de seda ou lã fina.
Gorgorão
- tecido de seda, encorpado e em cordões.
Popelina
- tecido fino próprio para camisas. |
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