Aula prática de motores |
EM
1925 o número de pilotos da Aviação Naval até aí brevetados em Escolas
estrangeiras, foi julgado suficiente para ministrar instrução aos novos
oficiais a especializar. Assim nasceu de facto, a Escola de Aviação
Naval, sensivelmente com as suas actuais atribuições.
Embora já prevista a
sua criação em 1917, pelo decreto que organizou os «Serviços da Aviação
da Armada», a sua actividade limitara-se até então a instruir alguns
cursos de mecânicos.
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Em homenagem ao
ilustre navegador «...que, pelo seu saber, muito concorreu com risco da
própria vida, para que o raid Lisboa – Rio de Janeiro fosse feito com
precisão tal que admirou o mundo inteiro», foi-lhe dado o nome de
«Almirante Gago Coutinho».
Cremos que o
funcionamento da Escola com instrução de pilotagem e de observação,
corresponde a uma nítida tendência a integrar a Aviação Naval na sua
função principal de Aviação Militar.
Efectuara-se o raid
ao Brasil, demonstrara-se brilhantemente as possibilidades da navegação
aérea científica. Missão naturalmente indicada à Aviação Naval, dela se
desempenhava com pleno êxito. Gago Coutinho fizera escola, e já a
Aviação do Exército se lançava também, em raids de grande envergadura.
Dados os modestos
recursos de que então dispunha a Aviação Naval, era mister enveredar por
um dos dois caminhos: continuar a tradição de Sacadura Cabral,
preparando raids a grande distância, ou cuidar especialmente do
apetrechamento militar dos centros e do adestramento do pessoal nos
vários ramos de utilização militar dos aviões. |
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Simulador
de voo existente na época para treino de pilotagem sem visibilidade. |
Embora mantendo o
elevado culto pelo homem: que dignificou ao mais alto grau a Aviação
Naval, impuseram-se a tarefa de transformar o espírito de então, num
sincero desejo de realizar obra talvez menos brilhante, mas certamente
mais de acordo com a finalidade militar da Aviação Naval. Os programas
da Escola são já elaborados com a preocupação de imprimir aos cursos uma
orientação de aplicação prática imediata, de forma a preparar pessoal
para o desempenho das funções que lhe competem: comando e utilização de
aviões para os aviadores; direcção técnica para os engenheiros
maquinistas; manutenção dos aviões e funções auxiliares de utilização
para o restante pessoal.
Os programas,
continuamente actualizados, são postos em vigor pela Superintendência
dos Serviços da Armada depois de aprovados pela Comissão de Comandantes
das Escolas de Marinha.
Professam-se
actualmente na Escola os cursos de aviadores, observadores-aeronáuticos,
pilotos-aeronáuticos e engenheiros maquinistas, que se destinam
exclusivamente a oficiais. Os cursos de mecânicos de aviação,
mecânicos-pilotos e radiotelegrafistas metralhadores-bombardeiros são
ministrados a praças.
Além destes cursos,
destinados propriamente à especialização do pessoal, é ministrada aos
cadetes do 1.º ano da Armada uma ligeira instrução de pilotagem e
observação, acompanhada de lições sobre conhecimentos gerais de Aviação,
orientadas segundo a sua especialidade.
Vista aérea da Escola de Aviação Naval
«Almirante Gago Coutinho» em S. Jacinto, em 1942.
Este estágio tem-se
revelado muito útil, despertando em geral um vivo interesse pelo serviço
de Aviação.
As ideias gerais nele
colhidas constituem uma boa iniciação aos cursos, quando, como oficiais,
os vêm frequentar.
Funcionou a Escola de
Aviação Naval provisoriamente em Lisboa, de 1925 a 1933; em 1934 passou
definitivamente para S. Jacinto, pequena povoação um pouco a norte do
farol de Aveiro.
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Este local, a
princípio satisfatório, pois dispunha de um vasto plano de água que
constituía uma bela pista de amaragem, está hoje muito prejudicado em
virtude de um contínuo assoreamento; daí o ter de ser feita a instrução
de pilotagem em local com melhores condições, situado 12 quilómetros
mais a norte, numa zona compreendida entre as povoações da Murtosa e S.
Paio da Torreira. |
Regressando da
instrução de pilotagem |
Acarretando este
sistema vários inconvenientes ao bom funcionamento dos cursos, foi
prevista a construção duma pista de aterragem junto à Escola para
iniciação dos cursos de pilotagem e uma estrada ligando S. Jacinto com a
Torreira para melhor garantir as comunicações entre estes locais.
Desde a sua
instalação em S. Jacinto tem a Escola sofrido um desenvolvimento
progressivo, e uma vez terminado o plano de obras superiormente
aprovado, ficará à altura de bem cumprir a sua missão.
In: “Defesa Nacional”, n.º 97, Maio de
1942, pp. 12-13. |