Hierarquia superior

Só quero dormir

 

Só quero dormir,

Descansar os olhos

Da vasta podridão do mundo,

Um mundo que não é feito à minha medida

 

Paira o horror,

O egoísmo,

O des-humano,

O tédio

De uma existência animal,

Instintiva

E competitiva

 

O que vence não é o melhor,

Mas o que parece ser mais apto

Para aquela função,

Forjada por compadrio

 

É a hipocrisia camuflada

Que dita todas ad regras,

As do ser e as do não-ser,

As do parecer-ser,

As do cheio e as do vazio

 

E, depois, falam de Ética!

Mas que Ética,

Se não estão mais presentes

Os deveres para com o outro,

E os deveres para consigo mesmo?

 

O falso

Permanece nas relações humanas,

Repletas de vãs e ilusórias aparências

Aí plantadas,

No domínio do sensorial,

Do meramente visível

 

De olhos míopes,

Somos incapazes de ver

Para além do visível

 

De escutar os ultra-sons,

De saborear,

O amargo e o doce,

Como instantes existenciais

De um mesmo ser

 

De olhos e orelhas fechadas,

Vagueamos tacteando,

Procuramos todos os lugares,

E nada nos satisfaz

 

Nada fixamos como seguro,

A instabilidade corrói-nos

 

Mesmo assim,

Ainda somos capazes de rir,

Embora já não saibamos

O que é um sorriso…

 

Caminhamos entre as multidões,

Atónitos,

Completamente perdidos,

De nós e do Mundo

 

Somos nós e todos os outros

E não somos nada

Nem ninguém

Ao mesmo tempo

Permanecemos no glaciar da incógnita.

 

                                              09/05/2007 - (5h 50m)

 

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