Odeio
A hipocrisia
A solidão das multidões
Que crescem
Em espaços vazios
Dispersos
Indiferentes…
O outro
Ali apostado
Atónito
Num mundo que não é mais só seu
As viagens são múltiplas
Os caminhos diversos
Os do Ser e os do não-Ser
Os do Nada…
A metamorfose
A mudança
Comandam o mundo
O Ser não permanece mais
Na sua imutabilidade originária
As sombras
As aparências
Ofuscam o olhar
Dos que querem ver
A essência
O miolo
De um pão bolorento…
A identidade perde-se
Somos o mesmo rebanho
Corremos na mesma direcção
E já nada identificamos com
precisão
A amalgama do mundo
Corre nas nossas veias
Do caos faz-se a ordem
Do império da Razão
Transmutamo-nos
Para o reino dos sentidos
Holisticamente conjugados
Numa teia emaranhada
De sendas e vendas
Num regresso à unidade primordial
Odeio
O “politicamente correcto”
A ausência de Ética…
O falso puritanismo
Dos não puritanos
A pretensa intelectualização
Dos pseudo-intelectuais
Os rótulos existenciais
Dos que ignoram a diferença
Dos que lutam em prol da
diversidade
Odeio
Os que vivem da vulgaridade
De um estar que não é o seu
Os que ultrapassam
As barreiras do humanismo
Odeio
Os discursos retóricos
As palavras que iludem a alma
E que nada dizem
Esses discursos demagógicos
Que ludibriam a Razão
Que enternece os inocentes
Com falsas promessa
Sempre adiadas…
Nunca cumpridas…
Odeio
A guerra
As matanças desenfreadas
Dos povos desprevenidos
Dos que vivem em paz perpétua
E não ficaram
Para escrever outros opúsculos
Odeio
O Mundo na sua prepotência
Os estados totalitários
Tirânicos
Opressores dos oprimidos
Odeio
A má fé
Os sorrisos abertos
Dissimulados
Que aniquilam os outros
Odeio
As gentes
Que não sabem distinguir
A realidade da aparência
A sombra do arquétipo
A cópia do modelo
As mentes transviadas,
Eternamente transviadas
Em pleno caos intelectual
Em permanente desvairo
Mergulhadas num espaço quadrado
Onde todas as ideias
Esbarram em todos os vértices…
Odeio
As pretensas acções morais
De todos os Narcisos
Esquecidos dos deveres para com o
outro
Odeio
A Humanidade
Pela ausência de solidariedade
Para com as causas mais nobres,
As menos vísseis
Pela propaganda enganosa
Que fez da caridade
Um verdadeiro momento de glória…
Odeio…
Odeio…
Odeio tanta coisa…
Neste Mundo que age
Inconsciente
Em nome de vã glória…
È tudo tão descartável
Que os Homens já não sabem mais
Qual o seu topos originário
Há muito perdido
No Labirinto do Minotauro
Sem nenhum fio de Ariana
Por perto…
Isabel Rosete
9/6/2007
(5:50h) |