Rui Grave - O Império do Horizonte - Aveiro (Alternativas 5) - 2002

TIMOR

De que vale o espaço infinito
Se já não temos asas para voar?
Para que serve a vida
Se te sentares na estrada e não a vires passar?
E o mar?
Pobre do mar, abandonado ao vento,
Sem navios de esperança para o navegar.
Para que serve a noite se o sono não vence?
E o coração, para quê, se não sabe mentir?
Às vezes queria ter saudades só de mim,
Esvaziar-me todo, deixar de te sentir...
Mas a minha cama é um mar encapelado
De emoções. O meu pensamento é louco
E desmedido - escuta!
Há um monstro insatisfeito, desesperado,
Que me salta no peito,
Que luta,
Vivo, incontrolado;
Que me revolve o leito, revoltado
De se não poder fingir amordaçado e ignorar...
Ah, minha pobre cama... tudo é mar!
Esse mar que não tem brilho nem espuma
E nem mais terras sequer para desvendar.
Mas ainda existes tu p’ra lá do mar.
O horizonte é sal, tormenta e bruma...
Desculpas...
Eu é que já não tenho forças para lutar.

                                     Portugal

 

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Alternativas 5

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Aveiro - Julho 2002