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João Miguel Monteiro


O dia-a-dia num castro

A vida num castro era muito monótona. Digo isto por experiência própria:

Acordávamos ao alvorecer, assim que o galo que o meu pai criava cantava. A minha mãe punha o meu pequeno almoço à minha frente, assim como o meu pai: queijo a acompa­nhar pão e frutos secos (era Outono), sem contar com o vinho (indispensável mas, na mi­nha opinião, muito pouco gostoso)!

Depois a minha mãe ia moer os cereais com as amigas, bem no centro do castro, em cinco grandes pedras. O meu pai ia levar os rebanhos a pastar, acompanhado por uns quantos homens, todos com grandes músculos. Eu, como seria de esperar, ia ter com os meus amigos, e juntos, íamos para a casa do Phineas (filho do chefe daquela cividade), que era totalmente diferente das nossas!

Enquanto as nossas, em forma circular ou quadrangular, feitas de pedra e cobertas de colmo ou giestas eram pequenas e a única abertura era a porta, a dele era oval, feita de gigantes pedregulhos e coberta por uma absurda camada de colmo bem alisado, para além do espaço enorme e muitas janelas, tapadas com uma cortina de musgo.

Jogávamos ao guerreiros e aos chefes, até o sol já ir alto. Nessa altura recolhía­mo-nos às nossas casas, depois dos nossos pais já terem ido à caça e terem mostra­do a toda a gente os veados que tinham morto para o almoço.

Depois de nos regalarmos com o almoço (veado com pão de bolotas e cereais - os restos do pequeno almoço - e o incomparável vinho), íamos cada um para seu lado: o meu pai ia treinar ao alvo, fazer o seu turno de vigia nas muralhas da citânia e levar mais ani­mais a pastar; a minha mãe ia fazer pão, tirar o leite às cabras, tecer linho, cultivar as terras e recolher alimentos.

Eu, como sempre, ia para casa do Phineas. Só que, nesse dia, ia acontecer uma coi­sa inesperada, embora frequente.

Era trinta e um de Outubro, no século X a. C. e eu, que nada previra, bati numa pe­dra da casa do Phineas, como combinado.

Foi o pai dele que espreitou pela cortina de musgo que cobria a porta. Estranhei que vestisse uma armadura, mas nada disse.

- Vieste brincar com o Phineas?l Então não sabes que o inimigo se aproxima? Se eu fosse a ti, rapaz, ia para casa. Mas cada um faz da sua vida o que quiser!

Não foi preciso dizer duas vezes. Corri para casa e só parei quando lá cheguei.

Não me sentia nada seguro, apesar das grandes e fortes muralhas do castro.

Caí em mim. Tinha acabado de entrar em casa quando reparei que os meus pais não estavam lá.

“Talvez os guardas tenham tirado as tábuas de cima do fosso que circunda as mu­ralhas e assim eles não conseguem entrar!” Pensei. Não, que ideia estúpida. Eles mal ti­veram tempo de sair!.”

Decidi ir ao templo. Quando lá cheguei, vi mais duas pessoas que, como estavam de costas para mim, não reconheci.

Passei por elas e fui-me ajoelhar à frente das figuras de pedra que se dispunham no fundo do templo: o Sol e a Lua, o bosque e o monte, o rio e o cadáver.

- Filho!?

Voltei-me. Como estava contra o Sol, não distingui as silhuetas das duas pessoas que ali estavam: os meus pais.

- Pai? Mãe?!

- Sentes-te bem?

Acordei. Estava deitado em casa, com os meus pais debruçados sobre mim. Já es­curecera, de forma que não podia ver as suas expressões.

Levantei-me e abracei-os.

Ouvi um ruído no recinto. E então lembrei-me:

- Como correu a batalha?

- Que batalha ? - Perguntou a mãe.

- Aquela história que te contava quando eras pequeno? - Perguntou o pai.

Percebi que também tinha sonhado com a guerra.

- Pruaaaarr!!...

- O que é isto?! - A minha mãe parecia assustada.

- O meu... aaa... estômago... - Estava receoso e divertido.

- Vamos comer. - O meu pai, como sempre, teve uma ideia fabulosa.

Aquele jantar pareceu um manjar.

A carne suculenta de um javali enorme estava na fogueira.

A acompanhar, um fabuloso pão de cereais e bolotas. Até o vinho me pareceu uma “Bebida dos Deuses”!

Como podem ver, a vida num castro é um pouco monótona, embora haja sempre surpresas!!

 

Trabalho realizado por:
JOÃO MIGUEL LOPES VALE CARDOSO MONTEIRO
N.º 15 – 5º Ano – Turma A

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