A vida
num castro era muito monótona. Digo isto por experiência própria:
Acordávamos
ao alvorecer, assim que o galo que o meu pai criava cantava. A
minha mãe punha o meu pequeno almoço à minha frente, assim
como o meu pai: queijo a acompanhar pão e frutos secos (era
Outono), sem contar com o vinho (indispensável mas, na minha
opinião, muito pouco gostoso)!
Depois
a minha mãe ia moer os cereais com as amigas, bem no centro do
castro, em cinco grandes pedras. O
meu pai ia levar os rebanhos a pastar, acompanhado por uns
quantos homens, todos com grandes músculos. Eu, como seria de
esperar, ia ter com os meus amigos, e juntos, íamos para a casa
do Phineas (filho do chefe daquela cividade), que era totalmente
diferente das nossas!
Enquanto
as nossas, em forma circular ou quadrangular, feitas de pedra e
cobertas de colmo ou giestas eram pequenas e a única abertura
era a porta, a dele era oval, feita de gigantes pedregulhos e
coberta por uma absurda camada de colmo bem alisado, para além
do espaço enorme e muitas janelas, tapadas com uma cortina de
musgo.
Jogávamos
ao guerreiros e aos chefes, até o sol já ir alto. Nessa altura
recolhíamo-nos às nossas casas, depois dos nossos pais já
terem ido à caça e terem mostrado a toda a gente os veados
que tinham morto para o almoço.
Depois
de nos regalarmos com o almoço (veado com pão de bolotas e
cereais -
os restos do pequeno almoço -
e o incomparável vinho), íamos cada um para seu lado: o meu
pai ia treinar ao alvo, fazer o seu turno de vigia nas muralhas
da citânia e levar mais animais a pastar; a minha mãe ia
fazer pão, tirar o leite às cabras, tecer linho, cultivar as
terras e recolher alimentos.
Eu,
como sempre, ia para casa do Phineas. Só que, nesse dia, ia
acontecer uma coisa inesperada, embora frequente.
Era
trinta e um de Outubro, no século X a.
C. e eu, que
nada previra, bati numa pedra da casa do Phineas, como
combinado.
Foi
o pai dele que espreitou pela cortina de musgo que cobria a
porta. Estranhei que vestisse uma armadura, mas nada disse.
-
Vieste brincar com o Phineas?l Então não sabes que o inimigo
se aproxima? Se eu fosse a ti, rapaz, ia para casa. Mas cada um
faz da sua vida o que quiser!
Não
foi preciso dizer duas vezes. Corri para casa e só parei quando
lá cheguei.
Não
me sentia nada seguro, apesar das grandes e fortes muralhas do
castro.
Caí
em mim. Tinha acabado de entrar em casa quando reparei que os
meus pais não estavam lá.
“Talvez
os guardas tenham tirado as tábuas de cima do fosso que
circunda as muralhas e assim eles não conseguem entrar!”
Pensei. Não, que ideia estúpida. Eles mal tiveram tempo de
sair!.”
Decidi
ir ao templo. Quando lá cheguei, vi mais duas pessoas que, como
estavam de costas para mim, não reconheci.
Passei
por elas e fui-me ajoelhar à frente das figuras de pedra que se
dispunham no fundo do templo: o Sol e a Lua, o bosque e o monte,
o rio e o cadáver.
-
Filho!?
Voltei-me.
Como estava contra o Sol, não distingui as silhuetas das duas
pessoas que ali estavam: os meus pais.
-
Pai? Mãe?!
-
Sentes-te bem?
Acordei.
Estava deitado em casa, com os meus pais debruçados sobre mim.
Já escurecera, de forma que não podia ver as suas expressões.
Levantei-me
e abracei-os.
Ouvi
um ruído no recinto. E então lembrei-me:
-
Como correu a batalha?
-
Que batalha ? -
Perguntou a mãe.
-
Aquela história que te contava quando eras pequeno? -
Perguntou o pai.
Percebi
que também tinha sonhado com a guerra.
-
Pruaaaarr!!...
-
O que é isto?! - A minha mãe parecia assustada.
-
O meu... aaa... estômago... -
Estava receoso e divertido.
-
Vamos comer. -
O meu pai, como sempre, teve uma ideia fabulosa.
Aquele
jantar pareceu um manjar.
A carne
suculenta de um javali enorme estava na fogueira.
A
acompanhar, um fabuloso pão de cereais e bolotas. Até o vinho
me pareceu uma “Bebida dos Deuses”!
Como
podem ver, a vida num castro é um pouco monótona, embora haja
sempre surpresas!!
Trabalho
realizado por:
JOÃO MIGUEL LOPES VALE CARDOSO MONTEIRO
N.º 15 – 5º Ano – Turma A
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