Pormenor do retrato a óleo de José Estêvão existente na sala de professores.

Escola Secundária José Estêvão
Departamento de Língua Portuguesa e Clássicas
GRAMÁTICA


NOMES PÁTRIOS E GENTÍLICOS

 

I — FORMAÇÃO

Os nomes gentílicos, étnicos ou pátrios exprimem «procedência» ou «naturalidade». Há variadíssimas maneiras de os constituir. Recorre-se à utilização de uma grande diversidade de sufixos e desinências e, frequentes vezes, às formas latinas ou latinizadas das respectivas localidades.

Não se pode estabelecer uma regra única e rígida, porque o uso e a tradição impõem os seus direitos, forçando até o emprego de vocábulos sem nenhuma analogia mórfica com a denominação das terras ou lugares.

Sufixo «aco» — Ex.: austríaco, da Áustria; egipcíaco, do Egipto; etc.

Sufixo «ano» — Ex.: africano, de África; alentejano, do Alentejo; alagoano, de Alagoas, Brasil; goisiano, de Góis; mexicano, do México; murciano, de Múrcia; etc.

Sufixo «io» — Ex.: barrosão, do Barroso; brabanção, de Brabante; bretão, da Bretanha; etc.

Sufixo «ato» — Ex.: maiato, da Maia; etc.

Sufixo «ego» — Ex.: manchego, da Mancha; etc.

Sufixo «eiro» — berlengueiro, das Berlengas; cartaxeiro, do Cartaxo; brincheiro, de Brinches; etc.

Sufixo «ejo» — Ex.: alcoutenejo, de Alcoutim; colarejo, de Colares; etc.

Sufixo «cubo» — Ex.: barranquenho, de Barranco; estremenho, da Estremadura; rifenho, do Rife; etc.

Sufixo «eno» — Ex.: antioqueno, da Antioquia; chileno, do Chile; madrileno, de Madrid; nazareno, da Nazaré; romeno, da Roménia; etc.

Sufixo «case» — O elemento mais vulgar nesta espécie de normas é o sufixo ense, derivado do latim ensis (raiz ens e determinativo is). Ex.: alcobacense, de Alcobaça; almeiriense, de Almeirim; estremocense, de Estremoz; montemorense, de Montemor; etc.

Sufixo «ês» — O sufixo ense deu por contracção o sufixo popular ês, como em albanês, da Albânia; chinês, da China; cordovês, de Córdova; tirolês, do Tirol; etc.

Sufixo ico» — Ex.: minderico, de Minde.

Sufixo «inho» — Ex.: biscainho, da Biscaia.

Sufixo «ino» — Ex.: argelino, de Argel; argentino, da Argentina; gibraltino, de Gibraltar; maiorquino, de Maiorca; minorquino, de Minorca; ovarino (forma popular varino por aférese do o inicial, de Ovar); oliventino, de Olivença; etc.

Sufixo «io» — Ex.: algarvio, do Algarve; boémio, da Boémia; assírio, da Assíria; etc.

Sufixo «ista» — Ex.: ambaquista, de Ambaca; macaísta, de Macau; etc.

Sufixo «ita» — Ex.: israelita, de Israel; moabita, do antigo país de Moab; etc.

Sufixo «ota» — Ex.: epirota, de Epiro; candiota, de Cândia; minhota, do Minho; penaguiota, de Penaguião; romeliota, da Romélia.

 

Expressões múltiplas

Não surpreende, portanto, que, perante a variedade de elementos para a formação de gentílicos, tivessem aparecido, em relação a muitas localidades, expressões múltiplas, umas de carácter erudito, outras de feição popular. Vamos dar alguns exemplos:

Braga — Antigo nome Bracara Augusta; o latim bracarensis deu em português bracarense, a par de brácaro e de braguês.

Coimbra — Da forma hipotética Conimbrica, de Conimbriga, nome céltico, fez-se conimbricense; do arcaico Colimbria saiu colimbriense, forma empregada por Herculano; e o povo emprega coimbrão e coimbrense.

Évora — O nome lusitano-romano era Ebora; de aí o gentílico eborense.

Lisboa — Da forma arcaica Lisbona fez-se lisbonense, lisbonês, e até lisbonino. Mas Lisboa, forma actual, gerou lisboês e lisboeta. Olisipona, outra forma anterior, produziu o latim olisiponensis, de onde proveio o português olisiponense.

 

Topónimos com aparência de plural

Quando os topónimos têm aparência de plural, o gentílico forma-se do singular hipotético. Ex.: asturiense (de Astúrias) e asturiano; caldense (das Caldas); cascalense (de Cascais) e também cascalejo, que se corrompeu em cascarejo; vinhalense (de Vinhais).

 

Topónimos compostos

Os topónimos compostos formam os gentílicos geralmente do primeiro nome: Cercal do Alentejo, cercalense. Mas há também gentílicos formados de todo o composto e grafam-se com hífen, embora este não exista no topónimo: Belo Horizonte, belo-horizontino.

 

Formação analítica

Quando não há forma particular para os gentílicos, determinam-se analiticamente, antecedendo o nome da terra por os de, as de: os de Maçãs de D. Maria.

 

II — VOCABULÁRIO DE NOMES GENTÍLICOS

Açores — açoriano, açorense
África — africano
Alagoas (Brasil) — alagoano
Alcácer do Sal — alcacerense
Alcoutim — alcoutenejo
Alemanha — alemão, germânico, germano
Alentejo — alentejano
Algarve — algarviense, algarvio
Alter do Chão — alterense
Ambaca — ambaquista
Angola — angolense, angolano
Angra do Heroísmo — angrense
Antioquia — antioqueno, antioquense, antioquiano
Arcos de Valdevez — arcuense
Argel — argelino
Argentina — argentino
Arouca — arouquense, arouquês
Atenas — ateniense
Áustria — austríaco

 

Baía — baiano, balão

Barrancos — barranquenho

Barroso — barrosão, barrosinho

Beja — bejense, pacense

Belém — belenense

Belo Horizonte — belo-horizontino

Betleem (Palestina) — betlemita

Bilbau — bilbaíno

Birmânia — birmã, birmane, birmanês

Biscaia — biscainho, biscaio

Bolívia — boliviano

Bolonha — bolonhês

Bordéus — bordelês, bordalês

Braga — bracarense, brácaro, braguês

Bragança — bragançano, braganção, brigantino, bragantino, bragancês

Brasil — brasiliano, brasileiro, brasílico, brasilense

Bretanha — bretão

 

Cabeceiras de Basto — cabeceirense

Cabo Verde — cabo-verdiano

Cádis — gaditano

Caldas da Rainha — caldense

Canadá — canadiano, canadense, canadiense

Cartaxo — cartaxeiro, cartaxense

Cartuxa — cartuxo

Castelo Branco — albicastrense

Castelo de Vide — castelo-vidense

Ceilão — cingalês

Chaves — flaviense

Chile — chileno

Chipre — cipriota

Cister — cisterciense

Coimbra — conimbricense, coimbrão

Colômbia — colombiano

Congo — conguês, congolês

Costa Rica — costa-riquenho

 

Damão — damanense

Diu — diuense, diense

Douro — duriense

 

Entre Douro e Minho — interamnense

Equador — equatoriano

Escócia — escocês

Espírito Santo (Brasil) — espírito-santense

Estremadura — estremenho

Évora — eborense

 

Figueira da Foz — figueirense

Finlândia — finlandês, finês

Flandres — flamengo

França — francês, franco, gaulês, gálio

Freixo de Espada à Cinta — freixenista

 

Gafanha — gafanhão

Genebra — genebrense, genebrino, genebrês

Génova — genovês, genovense, genuense

Gerês — geresiano, geresão, geresino, geresano

Goa — goano, goense, goês

Granada — granadino

Grécia — grego, heleno, helénico

Guatemala — guatemalteco, guatemalense

Guarda — guardense, egitaniense, egitoniano, egitanense

Guimarães — vimaranense

Guiné — guineense, guinéu

 

Holanda — holandês, neerlandês, nederlandês

Honduras — hondurenho

 

Idanha-a-Velha — egitano, egitanense, egitaniense

Ílhavo — ilhavense

Inglaterra — inglês, britânico

Irlanda — irlandês, hibérnico

Irão — iraniano

Itu — ituano

 

Japão — japonês, niponense, nipónico

Jerusalém — jerosolimitano, hierosolimitano, hierosolimita

Juiz de Fora (Brasil) — juiz-forano, juiz-forense

 

Lagos — lacobrigense

Lamego — lamecense

Leão (Espanha) — leonês

Leiria — leiriense

Lião (França) — lionês, lugdunense

Lisboa — lisboeta, lisbonense, lisboês, lisbonês, lisbonino, olisiponense

Lorvão — laurbanense

Loulé — louletano

 

Macau — macaísta, macaense

Madagáscar — madagascarense, malgaxe

Madeira — madeirense

Madrid — madrileno, madrilense, matritense

Maia — maiano

Malta — maltês

Mancha — manchego

Maranhão (Brasil) — maranhense, maranhão

Marão — maronês

Marco de Canaveses — marcoense

Marinha Grande — marinhense

Mato Grosso (Brasil) — mato-grossense

Mértola — mertolense
México — mexicano
Minho — minhoto
Miranda do Corvo — mirandense

Miranda do Douro — mirandense, mirandês

Moçambique — moçambicano
Mónaco — monegasco
Múrcia — murciano

 

Navarra — navarrês, navarrino, navarro
Nazaré — nazareno
Nicarágua — nicaraguano
Normandia — normando

Nova Iorque (Nova York) — noviorquino, nova-iorquino
Núbia — nubiano, núbio

 

Olhão — olhanense

 

País de Gales — galês

 

Japão — japonês, nipão, nipónico

Jerusalém — jerosolimitano, hierosolimitano, hierosolimita

 

Paraná (Brasil) — paranaense

Paris — parisiense

Penafiel — penafidelense

Penaguião — penaguiota

Peniche — penichense, penicheiro

Pernambuco — pernambucano

Ponta Delgada — micaelense

Ponte de Lima — ponte-limense, limarense

Portalegre — portalegrense

Porto Alegre (Brasil) — porto-alegrense

Porto de Mós — porto-mosense

Porto Rico — porto-riquenho

Portugal — português, portugalense, portugalês, lusitano, luso, lusíada

Rio de Janeiro — carioca, fluminense

Rio Grande (Brasil) — rio-grandense

Roménia — romeno

 

S.  Brás de Alportel — são-brasense

S. João da Madeira  — são-joanense, são-joanino

Salamanca — salamanquino, salamanquense, salmanticense, salmantino

Santarém — santareno, escalabitano

Santiago de Compostela — santiaguês, santiagueiro

Santo Tirso — são-tirsense

Santos (Brasil) — santista

São Luís do Maranhão (Brasil) — são-luisense

São Paulo (Brasil) — paulista, paulistano, são-pauleiro

São Tomé — são-tomense

Saragoça — saragoçano

Sardenha — sardo, sardónio

Seia — senense

Senegal — senegalês, senegalense

Setúbal — setubalense, sadino

Sevilha — sevilhano, hispalense

Sião — siame, siamês

Sines — siniense

Sintra — sintrense, sintrão

Suíça — suíço, helvécio

 

Tailândia — tailandês

Tânger — tangerina

Tomar — tomarense, nabantino

Torres Novas — torrejão, torrejano, torriense

Torres Vedras — torriano, torresão, torriense

Trento — tridentino

Tui — tudense

Turquia — turco, otomano

 

Veneza — veneziano

Venezuela — venezuelano

Vila Franca de Xira — vila-franquense

Vila Nova de Famalicão — famalicense

Vila Nova de Gaia — vila-novense

Vila Nova de Milfontes — milfontense

Vila Nova de Ourém — ouriense, ourenensa

Vila Nova de Paiva — paivense, paivoto

Vila Praia da Vitória — praiense

Vila Real de Trás-os-Montes — vila-realense

Vila Viçosa — calipolense

Viseu — visiense

 

Nota – Esta página acerca dos gentílicos foi construída com base nos elementos do Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, da autoria de Magnus Bergström e Neves Reis, publicado pela Editorial Notícias, 23ª ed., pp. 96 a 102.

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