Emanuel Verdade da Madalena, Plácida Loucura, 2005.

        Plácida Loucura

 

Que podes mais viver além deste momento?
Que te posso desejar mais que sofrimento?
Pragas de ódio, que grito à tua sepultura,
com a cara vermelha de sangue feito loucura.
Que sejas tu que apodreças nos infernos,
que vivas o mais frio dos invernos,
que sejas tu que ardas no mais quente fogo,
que percas para sempre no teu próprio jogo,
que te atem as mãos para que eu consiga
fazer com que te abram e te vazem a barriga,
que te mostrem de que és feito,
carne e sangue, como eu, sem defeito.
Que sejas tu que tenhas o mais podre dos tumores,
que sejas tu que vivas o maior dos horrores,
que te cortem as pernas e os braços,
que te batam e te queimem os inchaços
com cuidado para não morreres.
Que te deixem um olho para veres,
quando derem os membros aos teus inimigos,
e te derem ao riso de todos por ti atingidos,
aos que tu quiseste matar à fome,
aos que a necessidade consome,
a todos aqueles por quem tu nunca lutas,
refugiados, mendigos, órfãos e putas.
Que te arranquem a carne do osso,
que o atirem ao poço,
e ao que sobrar do teu corpo,
que seja enterrado e dado como morto.

 

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