Diana Luísa Matos Lopes




O Sol da Meia-Noite

Estava uma linda tarde de Primavera quando o avião que levou as três turmas do 9º ano de uma escola de Aveiro aterrou. A viagem de estudo tinha terminado, mas, para trás, todos deixavam grandes saudades do lindo país que tinham visitado: a Bulgária.

Ainda bem que, no avião, juntaram os alunos que tinham a mesma letra inicial, em grupos.

É verdade! Se não, nunca nos teríamos conhecido.

Pois é! Lara, lLeo, Lili, Lolita e Luís. La, le, li, lo, lu. E o melhor é que somos o único grupo com esta característica. 

Somos muito especiais!

E agora, vindo directamente da Bulgária, o grupo do grande, fabuloso, fantástico e sensacional L vai...

Entrar naquele café e comer até fartar!

Ei! Como te atreves a interromper o meu discurso, Luís? Ainda por cima para dizeres o que disseste! Não te basta teres acabado com toda a comida que havia no avião?

Que exagero, Lolita! Achas que eu como assim tanto? 

Não!...Claro que não! Foi por isso que quando perguntaram onde estavam as batatas fritas, as pizas e os doces, tu te encolheste todo! Por falar nisso...que estranho ter desaparecido somente a comida de que tu mais gostas...Muito estranho!...

Pronto, Lolita! Pronto! Não batas mais no ceguinho!...Mas é melhor irmos ao café porque estão todos os grupos a dirigir-se para lá. Deve ser uma espécie de ponto de encontro. explicou o Luís. 

Lolita é uma daquelas raparigas que dava tudo para ser rapaz. Gosta de todo o tipo de desportos e competições (talvez para imitá-los, quem sabe?). E, quanto ao resto, é tão boa, ou melhor, do que eles, o que a faz sentir-se muito orgulhosa.

A ida a um café próximo do aeroporto do Porto servia não só de ponto de encontro, mas também para os professores acalmarem os alunos mais excitados ou para animarem os que ainda estavam muito tristes com o fim da viagem, e que, em geral, eram os que nunca tinham saído do seu país.

Bem, meninos...Em primeiro lugar, vou-lhes fazer o ponto da situação: quando entrarmos nos autocarros, que nos levarão a Aveiro, alguns dos professores presentes dar-vos-ão um roteiro. Pois...porque depois desta viagem de duas semanas e dos incontáveis monumentos que vimos teremos que rever, pelo menos, o nosso querido Museu.

Entretanto, e a falarem muito baixinho para passarem despercebidos, o grupo L conversa sobre animais.

Acabei de ter uma ideia fantástica!

E qual é, Lara? 

Como todos nós temos animais de estimação, mas nunca falámos deles, poderíamos fazer um concurso...

Mas como, se eles estão em Aveiro?...

É assim: por ordem alfabética, vamos descrever cada um dos nossos animais, e o que for mais exótico ganha.

Ganha o quê?

Ganha...Olha, ganha o concurso!

E riem com a saída astuta da Lara. 

Então, vou dar a partida. Pronta, Lara? Já!

Tenho dois hamsters: o Cenourinha, porque é cor de cenoura, e o Malhadiço, porque é malhado. O Cenourinha já é adulto e o Malhadiço anda é bébé. Por isso, tudo o que o Cenourinha faz, o Malhadiço imita-o. Uma vez, o Cenourinha subiu para cima de um brinquedo que eles têm na gaiola e, ao vê-lo, o Malhadiço queria fazer o mesmo. Só que, como ele é pequenino, não conseguia subir. Então apoiou-se no bebedouro que estava mesmo ao lado. Lá em cima, o Cenourinha deixou-se escorregar, e o Malhadiço também, só que caiu dentro do bebedouro! Ficou todo encharcado! Acabei. És tu, Leo!

Eu tenho um cão que se chama Maroto. Faz tudo o que lhe peço: deita-se, rebola, senta-se e muitas outras coisas. Resumindo: em poucas palavras, parece um cão polícia. Só que, quando ele era ainda um cachorrinho, era muito maroto. Por isso é que se chama assim. Lili, és tu a seguinte.

Tenho uma gatinha chamada Ísis. É o nome de uma deusa que tem um filho que se chama Horus e o pai dele é Osíris. A minha gatinha é tão branquinha que o nome dela quase foi Neve. E é muito inteligente. Sabe muito bem a que horas saio e chego a casa, se bem que, agora, deve estar um pouco confusa, pois não me vê há duas semanas. E sabe também qual é a hora de cada refeição. Ah! Uma vez, quando assaltaram a minha casa, ela defendeu a minha família com unhas e dentes até o assaltante se ir embora. Além de esperta é fiel. É a tua vez, Lolita.

Eu tenho um papagaio que se chama Zacarias.

Que engraçado!

Pois é!...Mas ele só sabe fazer três coisas: falar, falar e falar. Repete tudo o que ouve. Antes, tinha um despertador que tocava de manhã, sempre à mesma hora. Acontece que foi só uma questão do meu papagaio lhe apanhar o jeito para o despertador passar a servir apenas como decoração!

Riem-se todos baixinho.

Faltas tu, Luís!
Eu tenho um...

Um...

Macaco.

A sério?!
Não! A brincar. responde o Luís ironicamente. Se combinámos que não mentíamos eu não o ia fazer.

Tens razão! Continua.

Ele chama-se Piolho. Não que eu queira, mas porque o destino assim o quis.

Porque dizes isso?

Encontrei o Piolho há cinco anos, na rua. Era bébé e, se eu não o tivesse acolhido, teria acabado por morrer. Nos primeiros dias em que esteve em minha casa era muito sossegado porque não estava habituado à minha família. Só que, mais tarde, tornou-se um diabrete. Era danado para a brincadeira!... Por isso a minha mãe começou a tratá-lo por Piolho. Devia eu ter uns nove anos e como não gostei nada do nome fiz birra! O problema é que ele ainda não tinha nome e, por isso, toda a minha família também começou a chamá-lo assim. Todos, menos eu! Ele foi-se acostumando a ouvir esse nome sempre que ia ter com alguma pessoa e quando me pareceu ter encontrado o nome ideal, - Francisco ,- foi a correr para o colo da minha mãe.

Porquê?

Não sei. Talvez não tenha gostado do nome e, por isso, deve ter pensado que eu o estava a castigar.

Risota geral! Só que agora não se conseguem controlar. Riem e riem cada vez mais alto. Entre dentes ainda conseguem dizer:

Luís, ganhaste!

Mas o que é que se passa aqui? pergunta uma professora, muito surpreendida e aborrecida Sou capaz de pôr a mão no fogo em como vocês não ouviram nada do que foi aqui dito. 

Ficam os cinco muito envergonhados e baixam a cabeça para ninguém ver como coram. Entretanto a professora continua o sermão:

Como castigo, assim que chegarmos a Aveiro, terão de ir à Biblioteca Municipal pesquisar uma curiosidade sobre Aveiro, enquanto os outros alunos irão visitar o Museu Municipal.

Quando chegam os autocarros, e a professora vai avisar os alunos de que
Poderiam começar a entrar, a Lolita murmura:

Visitar!? Revisitar! 

Quando chegam a Aveiro, vai cada um para sua casa descansar, matar saudades, desfazer as malas e esperar pelo dia seguinte para irem ao Museu.

Na manhã seguinte, todos os alunos do 9º ano, com os respectivos professores, encontram-se no largo que existe em frente ao portão da escola. É então que uma professora informa: 

Para melhor aproveitarmos a visita terão de ir quinze de cada vez. Enquanto isso, os restantes alunos irão ao Parque Municipal acompanhados por alguns dos professores.

Mostram-se todos contentes. 

Menos o grupo L, continua a professora, que vai à Biblioteca Municipal fazer umas pesquisas.

Oh!...E nós a pensarmos que se tinham esquecido! Sussurra o Leo.

Mas nós merecemos. É um castigo justo. Além disso até pode ser muito divertido! Tudo depende do nosso estado de espírito. Consola-o a doce Lili.

Talvez tenhas razão. 

Enquanto alguns professores e alunos visitam o Museu e outros passeiam pelo parque, o grupo L trabalha na Biblioteca.

Bom dia, meninos! O que procuram? pergunta uma senhora que lá trabalha ao vê-los um pouco perdidos.

Bem... começa a Lili Nós procuramos algo interessante sobre Aveiro para um trabalho da nossa escola.

Interessante...como assim? interroga a senhora.

O grupo entreolha-se, pois eles próprios não sabem. A professora que os castigara apenas mencionara que queria que pesquisassem uma curiosidade sobre Aveiro. Não especificara muito mais. É então que a Lara esclarece:

Queremos um livro, uma revista ou até um jornal que seja especial. Algo que não seja um alvo muito grande de pesquisa por passar despercebido, mas que, ao mesmo tempo, seja muito interessante. Não sei se me faço entender...

Sim! exclama a senhora entusiasmada Já percebi e tenho ali um exemplar de um jornal muito especial e interessante, mas como as pessoas normalmente preferem jornais mais actuais -(e este é muito antigo) - ainda quase ninguém o viu sequer. Muitos nem sabem da sua existência!

É exactamente isso que procurávamos. Muito obrigados!

Quantos anos tem esse jornal?

Para fazerem uma ideia foi o primeiro jornal que foi impresso em Aveiro. Chama-se "Campeão das Províncias". 

É perfeito para nós!

Então aguardem um momento que eu vou buscá-lo. Podem ir-se sentando numa daquelas mesas de trabalho.

Passam-se escassos minutos e a senhora volta com o jornal na mão. Mas este está de tal maneira velho e amarelo que parece que as folhas se vão desfazer a qualquer momento. A senhora pousa-o com cuidado e deseja-lhes um bom trabalho.

Realmente este jornal parece ser muito antigo! exclama a Lili surpreendida.

Vá, abre-o! Estou ansiosa por saber que tipo de notícias tem! grita a Lolita.

Chiu! Ainda nos expulsam daqui!

Desculpem! Entusiasmei-me. diz, agora, num murmúrio.

O Leo que, entretanto, pegara no jornal para o ler, fica com os olhos esbugalhados e começa a falar muito alto, tão alto que uma senhora idosa que por ali andava começa a olhar para eles fixamente.

Olhem! Olhem só para esta notícia!!!

Chiu!

Ups!...Desculpem! Mas oiçam isto sussurra. Diz aqui que foi roubado um quadro ao Presidente da Câmara de Aveiro. Ninguém sabe porquê, pois o quadro não tinha grande valor. Perguntaram ao Presidente, e este limitou-se a dizer que tinha sido roubado por ser muito caro. Só que o "Campeão das Províncias" descobriu que esse quadro não tinha sido pintado por nenhum pintor famoso, por isso não poderia ter sido tão caro ao ponto de vir a ser roubado.

Que esquisito! Porque terá mentido o Presidente da Câmara?

Talvez esse quadro fosse mais especial do que aparentava ser. começa a Lolita a dar asas à imaginação.

E o que diz mais?

Não sei...Tem as letras borratadas. Ficou completamente ilegível!

Oh!...Mas vamos perguntar à senhora que nos deu o jornal. Pode ser que saiba mais qualquer coisa. Se faz favor... pode vir aqui?

É para já, meninos. O que desejam?

Vimos, no jornal que nos deu, uma notícia muito interessante...

Que bom terem encontrado o que procuravam!

Só que metade dessa notícia está completamente ilegível. Por acaso não sabe o que aconteceu?

Penso que não, pois nunca tive tempo para ler esse jornal. Mas esperem... - começa a olhar em volta, só que de uma maneira tão esquisita que parecia um robô.

Sente-se bem? pergunta a Lili, que começava a ficar preocupada.

Sim, sim... Mas onde?... Ah! Está ali. Estão a ver aquele senhor velhinho que está sentado a ler? Vão ter com ele que saberá responder-vos.

Porque diz isso?

É um senhor muito sábio. Quem cá vem regularmente conhece-o bem, porque está cá todos os dias e estuda durante muitas horas. Parece que tem gosto em estudar.

Muito obrigados em nos ajudar.

De nada, meninos. Estou aqui para isso. 

Bem...Vamos lá falar com o tal senhor? 

Vamos!

Bom dia, senhor!

Bom dia, meninos. Desejam alguma coisa?

Sim. Gostaríamos de saber se o senhor nos poderia explicar uma notícia que vem no primeiro jornal que foi impresso em Aveiro. Chama-se "Campeão das Províncias" e a notícia é esta.

Quando lê a notícia, o senhor Eduardo Cerqueira (era este o seu nome)  diz-nos:

Lamento desapontar-vos, mas não posso explicar-vos aquilo que não aconteceu.

Como?!...

O que quer dizer com isso?

Afinal o que diz o resto da notícia?

Calma, meninos... É muito simples: os repórteres do "Campeão das Províncias", ao descobrirem esta notícia quiseram logo publicá-la no jornal, pois acharam-na bombástica. Só que não conseguiram desvendar o mistério. E como todas as notícias têm de ter um fim, limitaram-se a atirar areia para os olhos dos leitores, ou seja, inventaram o final da notícia de maneira que as pessoas acreditassem nela.

Mas, então... o que aconteceu realmente?

Há muitos anos, quando eu li o jornal, tal como vocês, fiquei muito entusiasmado e fui pesquisar.

Pesquisar o quê?

Tentei saber o máximo de informação sobre esse quadro que diziam ter sido roubado.

E encontrou alguma coisa?

Demorou muito tempo, pois comecei a pesquisar pelos pintores famosos.

Mas o jornal diz que foi descoberto que não tinham sido eles.

Pois diz, mas, ao princípio, desconfiei. Quando comecei a perceber que, nesse ponto, os repórteres não tinham inventado nada (mas isto passados muitos dias!...) comecei a perguntar às pessoas que trabalhavam nesta biblioteca, mas também foi tempo perdido! Então fui falar com uma pessoa que estivesse dentro do assunto e essa pessoa disse-me que ela própria tinha encomendado o quadro a um pintor desconhecido para o Sr. Bernardo Torres (que era o Presidente da Câmara desse tempo) e também tinha pedido para que esse pintor escrevesse um pequeno poema que ele mesmo criara, num cantinho do quadro, de modo que a moldura o tapasse. Se bem me lembro, o poema era assim:

Por entre cada peça antiga,
Uma caixa de mármore perdida.
Carregando com um dedo
Na pedra saliente,
Vindo do nada,
Um esplendor ardente.
Para lá do brilho parece Noite,
Chamei-lhe O Sol da Meia-Noite.

 

É lindo!...

Mais tarde descobri que o sr. Bernardo Torres tinha um problema...

Que problema?

Era muito, mas muito, esquecido. Presumo que ele se tenha esquecido do lugar onde escondeu o quadro e depois o tenha dado por roubado. Também penso que o poema seja uma pista para quando se esquecesse de algo que não queria, de maneira nenhuma, esquecer.

De repente a Lolita age de forma estranha, como se tivesse apanhado um choque e acordado de um sonho profundo.

Mais alguém sabia que existia um poema no quadro?

Não! responde o Sr. Eduardo muito espantado por a ver subitamente tão arrebitada. Esse senhor até me tinha pedido para que não contasse a ninguém. Só o Presidente, o pintor e esse senhor é que sabiam. Mais tarde eu e, agora, vocês.

Mas se o senhor tinha prometido que guardava segredo porque é que nos contou a nós? interpela a Lili.

Ora, minha filha, isto já lá vai há muitos anos. O Sr. Bernardo Torres até já faleceu e do pintor e do senhor que lhe encomendou o quadro nunca mais ouvi falar. Penso, portanto, que já não preciso manter mais o segredo.

Mas a Lolita continua:

Onde morava o Presidente da Câmara?

Hum... Não sei. Mas sei que tinha uma loja.

E onde era?

Nem os amigos, nem o Sr. Eduardo percebem onde é que ela quer chegar, e olham-na muito espantados e atentos.

Deixa ver se me lembro... Sei que li isso num livro desta biblioteca... Ah! Lembrei-me! A loja dele situava-se no centro da cidade, na ponte dos Arcos. Esta ponte vinha da Costeira, (hoje a rua de Coimbra), e desembocava nos Arcos, que eram ainda maiores que agora, porque, além da casa que há hoje no Arcada, havia outra casa: a de um senhor chamado Firmino Leite, que tinha, por baixo, a loja do Sr. Bernardo Torres. Era uma livraria e uma papelaria onde se reuniam muitos republicanos, homens, como ele, da maçonaria.


Essa loja já não existe? pergunta a Lolita, alarmada, pois lhe passara pela cabeça que o Sr. Bernardo Torres se teria esquecido do quadro lá.

Não.

Aquela cara entusiasmada envolve-se numa cortina de desinteresse.

Ah...Lembro-me também que o Sr. Bernardo Torres ia muitas vezes ao Museu Municipal.

Tantas vezes como aquelas que o Sr. Vem à biblioteca? - pergunta o Luís.
O Sr. Eduardo Cerqueira sorri, anuindo, e acrescenta:

Gostava particularmente do túmulo de Santa Joana. Ficava horas a fio a olhá-lo. A olhá-lo simplesmente, maravilhado.

O Museu! O Túmulo da Santa Joana! EUREKA! 

Ai! Que susto! exclama a Lara. Depois olha para os outros e continua:

Parece que assustaste toda a gente, mas só eu é que reagi.

Vamos ao Museu Municipal rapidamente ordena, empurrando os amigos e o Sr. Eduardo em direcção à saída.

Mas ainda não acabámos o trabalho lembra a Lili.

Vais ver que isto é muito mais interessante!

Enquanto se dirigem para o Museu todos vão perguntando à Lolita o que se passa, mas esta recusa-se a responder. Já cansados, desistem aos poucos. Quando chegam ainda está a visitar o túmulo o último grupo de quinze alunos e, entre eles, encontra-se, um pouco escondida, a professora que os castigara.

Mas o que fazem aqui, meninos? pergunta Já acabaram o trabalhinho que vos pedi?

Já vai ver o fruto do nosso trabalho! diz a Lolita, muito segura de si.

Os amigos, sem perceberem nada, ficam apavorados, pois se é uma brincadeira da Lolita, o castigo poderá vir a ser muito pior.

Que toda a gente me siga! ordena.

Todos a seguem, silenciosos, na ânsia de conseguirem compreender o que se passa. Até uns empregados que lá estavam a trabalhar os seguem também. A Lolita vai à frente, uns passos atrás o Sr. Eduardo Cerqueira, a segui-los os amigos, depois a professora juntamente com os outros alunos e, por fim, outros curiosos.

Quando a Lolita chega à sala onde se encontra o túmulo de Santa Joana, querem todos entrar ao mesmo tempo, de modo que parecem sardinhas em lata. Está toda a gente a olhar para a Lolita já com um ar desconfiado. Depois ouvem-na recitar o poema:

Por entre cada peça antiga,
Uma caixa de mármore perdida.
Carregando com um dedo
Na pedra saliente,
Vindo do nada,
Um esplendor ardente.
(...)

 

E, à medida que fala, percorre o túmulo com um dedo. Só os amigos e o Sr. Eduardo é que a entendem e começam a ajudá-la. Uma empregada, ao ver o que se passa, grita desesperadamente, mas em vão:

Não façam isso! Parem, se não podem estragar o túmulo! Olhem que não tem preço! Ai, meu Deus!

De repente todos ouvem um "clic" e, logo de seguida, um brilho muito forte fez com que a sala pareça que fica escura. E Lolita continua o poema:

(...)
Para lá do brilho parece noite,
Chamei-lhe O Sol da Meia-Noite.


Depois a Lolita põe a mão lá dentro e tira um punhado de...

Oh!... Mas são moedas de ouro! Vocês os cinco, e o senhor, estão ricos. É claro que terão de entregar as moedas ao Estado, mas receberão uma rica quantia em troca! informa a empregada que gritara.

Só que nem os cinco amigos, nem o Sr. Eduardo Cerqueira a ouvem. Aliás, nem ouvem nada. Estão completamente maravilhados. Nunca lhes passara pela cabeça que O Sol da Meia-Noite fossem moedas de ouro. E só alguns minutos mais tarde é que um deles pergunta:

E se em vez de sermos nós a ficar com o dinheiro, o entregássemos a alguém que precisasse mais dele?

Boa ideia! Poderíamos doá-lo a várias instituições de caridade concordam, cada na sua vez.

Mais tarde, o Leo desabafa:

Foi pena não termos encontrado o quadro!

Lá isso foi! - concorda o Luís.

Mas pode ser que...

Pode ser o quê, Lolita? perguntam a Lara e a Lili em uníssono.

...que, quando viermos de outra viagem de estudo e que outra professora nos mande pesquisar mais curiosidades sobre Aveiro, descubramos, por acaso, informação suficiente para encontrarmos possíveis esconderijos onde possa estar o quadro. Só que, enquanto essa viagem não chega, podemos puxar pela imaginação: se eu fosse um quadro onde é que vocês me esconderiam?

Lolita, se não existisses, tinhas de ser inventada!...

E riam-se a bandeiras despregadas.

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