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Eduardo Manuel Maia Figueiredo


Quase, era o meu bastante

 

Eu queria ser quase só espírito.
não inteiramente, mas o bastante.
aquele suficiente para poder sentir o vento.
o vento roçando, suave, nos cabelos.
o que chegasse para espraiar o olhar no oceano,
e ver o longe da pradaria
e o ondulante distante do deserto.
só aquele pouco para tocar num leão,
e ele me sentir, tão leve, como mosca.
não mais do que o necessário.
só queria poder ainda ouvir,
do regato o murmúrio,
das folhas o roçagar.
mas tanto, tanto, que pudesse tocar na mulher,
sentir o redondo e o macio,
e ela sentir-me a mim. completos.
mas, ó Deus!,
queria tão pouco, tão pouco…
que para o meu quase ser matéria,
fosse ainda assim, coisa tão etérea,
que para comer, me bastasse,
um raio do sol polar
e pudesse a sede matar
só com o lento orvalhar.
tão pouco que não pudesse matar,
e continuasse ainda a estar.
quase, era o meu bastante.

Homenagem ao tenente Dunbar “dança com lobos”
emmf  – 1992

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