Adriano Casqueira Pires

Previsão

 

Raspo a cara do retrato.
Comboio passa, a apitar.
Acendo a luz do alpendre…
Contemplo a luz do luar.
Uiva um cão… – é mau sinal.
É alguém que vai morrer.
Grasnam patos no quintal
E passa gente a correr.
A senhora do avental,
Vizinha de muitos anos,
Acendeu a luz do quarto…
Já são horas de deitar.
Mia o gato e ladra o cão
– É raposa, pela certa –
Ou talvez algum ladrão
Perto da casa deserta.
Soa o sino da Igreja:
Canta o galo – é meia-noite.
Surge um carro lentamente…
Mas será que vai parar?...
– Afrouxou suavemente.
Ouviu o cão a ladrar
E arrancou novamente.
O tempo vai devagar…
E são já duas da manhã…
E eu ainda sem dormir.
Amanhã é já o dia,
O dia em que vou partir –
– Disse-me a bruxa da aldeia.
(Ou estará ela enganada?)
Volta o carro…ouvi o tiro.
Ouvi o tiro – e mais nada.

                                               05-09-2005

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