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Adriano Casqueira Pires

1937 – 23-5-2010



Quando a tristeza não sabe chorar

por Helena Silva
24-5-2010

 
  Hoje há alguém que está comigo
Porque a barreira da morte o libertou.
Percorrendo a meu lado
E sempre
Os caminhos do sonho e da verdade
Libertando a luz dentro de si
Desvelando-se na ternura alvinitente
Que adormece a dor
No macerar triste da alma lassa, dolente...


Vou evocá-lo ao contemplar o mar
Que tanto amava
Ou sentindo a força do vento
Roçando bravo por sobre a ria
Que adorava
Escutando as canções da apanha do moliço
Ou olhando as proas altaneiras dos batéis
Reflectidas nas águas sujas da maré vazia –
– Inclinado sobre as águas marinhas onde o verei
A pescar sonhos com cheiro a maresia...


Evocá-lo-ei a olhar o longe, sempre mais longe,,
Com aquele espanto de quem não pode nunca
Conceber partir numa a ventura
Por saber ser pura loucura
Deixar o mundo da infância e as raízes
Profundas e ternas do lar, da paisagem,
Da mulher amada e dos rebentos felizes...


Ó meu amigo, com nome de filósofo
A quem polia levemente os versos,
A quem perscrutava o sentir
No vaivém das sensíveis rimas –
– Desabafos poéticos de uma vida...
Vida de amor à mãe, à terra, à mulher querida
E aos amigos que sempre fez por merecer,
Não te digo adeus, não, porque a partida
Nada representa para quem soube, como tu, viver.


Hoje o dia foi triste. Amanhã ...
... amanhã chorarei.
Esta dor, em choro desatada,
Será lembrança lenta,
Perene e condenada,
Recolhida num cofre que criei.

1937

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† 23/5/2010